quinta-feira, 30 de março de 2017

Reflexões Quaresmais

Quaresma – 29ª Reflexão

E a temperança, Senhor?

Cheio de bondade, respondes-me:
Meu filho, está rodeado de mundo, dos prazeres do mundo, dos prazeres da carne, que continuamente te procuram e te tentam.
E o teu ser é chamado para esse mundo, porque faz parte também da tua existência, por isso, muitas vezes, perdes o domínio de ti próprio e deixaste levar a viver essas tentações.
Precisas então da temperança, fruto do Espírito Santo, para alcançares o domínio de ti próprio, quando o teu ser te chama ao mundo e aos seus prazeres efémeros.
O domínio da tua língua, ou seja, daquilo que dizes, sobretudo acerca dos outros. Lembra-te que a língua pode abençoar, mas também pode ser um “assassino camuflado” destruindo a dignidade de outrem, quando profere mentiras e maldições.
O domínio dos teus hábitos quotidianos, que por vezes desrespeitam o corpo que Eu te dei, na comida, na bebida, na sexualidade em tantas outras coisas.
O domínio da tua mente, onde tantas vezes principiam as tentações a que depois cedes, por tantas razões, entre elas, o que vês, (e não devias querer ver), o que ouves, (e não devias querer ouvir), e que depois se transformam em actos contra ti, contra os outros, contra Mim.
Mas não temas, meu filho, pois o Espírito Santo te dará a temperança necessária para resistires às tentações, dando-te a capacidade de dominares as tuas inclinações para o mundo e para a carne.

Sinto-me pecador, mas aliviado, e peço-Te:
Derrama, Senhor, continuamente o Espírito Santo sobre todos e sobre mim, para que seja Ele a fazer em nós a obra que por nós próprios não conseguimos.
Faz com que eu O invoque em todos os momentos e sobretudo quando me apercebo de que o mundo me chama e me quer seduzir, para que, pelo fruto da temperança eu tenha domínio sobre mim próprio.
Ensina-me a que com o Espírito Santo eu descubra as maravilhas do mundo que para nós criaste, e me afaste de tudo o que nele me quer afastar de Ti.

Obrigado, Senhor, pela temperança.

Monte Real, 10 de Março de 2016

Joaquim Mexia Alves na sua página no Facebook

São Josemaría Escrivá nesta data em 1925

Às 10.30 da manhã celebra a sua primeira Missa na capela da Virgem do Pilar, em Saragoça (Espanha), em sufrágio pela alma de seu pai, falecido havia poucos meses: “Na Santa capela, perante uma mão-cheia de pessoas, celebrei sem dar nas vistas a minha Missa Nova”. É a Segunda-feira anterior à Semana Santa desse ano.

Madrugada de Sexta-Feira Santa

A esta hora em que escrevo esta meditação já é Sexta-Feira.

O Senhor acaba de sair da casa do Sumo-Sacerdote depois de ser sujeito a um simulacro de julgamento sem qualquer base sólida de acusação nem direito a contestação.
Várias “testemunhas” acusam e inventam, inventam e acusam.
Como numa peça de teatro medíocre os actores prestam-se a desem­penhos lamentáveis.

Jesus é atacado na Sua honra, no Seu bom-nome, na Sua dignidade.
Mas cala-se, não se defende, não reage.

Está triste e abatido, acabou de ouvir cá fora, no páteo, Pedro – o Seu Cefas – a jurar que não O conhecia.
Está ansioso por sair dali para lhe lançar um olhar sereno e amigo que fará o pobre Pedro debulhar-se em lágrimas.

Acabando com o “teatro medíocre” o Sumo-Sacerdote tem um gesto teatral que, pensa ele, é definitivo: rasga as vestes.
Até este acto é falso porque as vestimentas têm um lugar especial para serem rasgadas, mas isso não importa, é assim mesmo e todos sabem que tal significa o reconhecimento da ”gravidade das culpas” assacadas ao prisioneiro.

A partir daqui tudo se precipita num crescendo de violências, desaca­tos, faltas de respeito. O Senhor é levado aos empurrões, com uma corda ao pescoço através das vielas da cidade em direcção ao Pretório de Pilatos.

Sinto-me chocado com estas cenas e não aceito que o meu Senhor, o meu Jesus, seja tratado assim.

Não culpo os “juízes”, os Seus inimigos porque não posso; Ele dirá no alto da Cruz: «Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem».

Culpo-me a mim que sei muito bem o que faço e com as minhas misé­rias e pecados sem conta o “obriguei” a passar por este transe.
Ele quis salvar-me, desejou que fosse Seu seguidor e partilhasse com Ele a vida eterna.

E… tenho de aceitar, tal como Ele aceitou, esta dor e remorso de ser como sou, de “fazer o mal que não quero e não fazer o bem que quero”.

E, aceitando rendidamente a Vontade do meu Senhor, seco as minhas lágrimas e vou pelo que resta da noite, procurar a Santíssima Virgem.

Quero estar com ela, aninhar-me nos seus braços e dizer-lhe que a amo muito, muito, muito.

Ah! E pedir-lhe que me abençoe e que me leve por um caminho seguro [1] o resto dos dias que me for concedido viver, para me encontrar finalmente com o seu querido Filho, o meu Irmão Jesus.

AMA, 25 Mar 2016


[1] Iter para tuto

O SIM MAIS DIFÍCIL DA HUMANIDADE

Será mais fácil dizer sim ou dizer não?

À primeira vista pareceria que seria bem mais fácil dizer sim.
Dizendo sim, faz-se a vontade do outro e portanto termina por aí tudo o que uma situação exige, ou seja, o outro fica contente, agradado, e nada mais exige de nós.
Ao dizer não, são precisas explicações, são precisos argumentos, para fundamentar o não a algo que nos é pedido, para além de que, apesar de tudo, ainda podermos incorrer no desagrado do outro e numa consequente frieza ou fim de uma relação.
Visto assim, poderíamos então inferir que é mais fácil dizer sim do que dizer não.

Pois, mas não foi assim com a Virgem Maria!

O sim que Ela disse foi bem mais difícil, foi bem mais complicado, do que o não que Ela poderia ter dito na sua liberdade.
Se dissesse não tudo terminaria ali para a sua pessoa, e como o outro neste caso era Deus, a sua relação com Ele continuaria exactamente a mesma, visto que Deus respeita a liberdade de cada um dos seus filhos, porque os ama com amor eterno.

Mas o sim de Maria foi bem mais difícil por muitas e variadas razões.

Primeiro, porque para dizer sim naquele momento, (a algo tão inverosímil), era preciso acreditar com fé firme que aquilo que o anjo Lhe dizia era possível, ou seja, que Deus queria e podia fazer aquilo para que Lhe pedia o sim.

Segundo, porque era preciso acreditar na sua humildade, que Ela era digna daquilo que Deus Lhe pedia, abandonando-se e aceitando a vontade de Deus, apesar de se reconhecer uma simples serva.

Terceiro, porque ficar grávida fora do casamento, quando se sabia que Ela «não conhecia homem» (Lc 1,34), era naquele tempo algo tão grave que podia levar à delapidação, à própria morte.

Quarto, porque perante esse estado de gravidez, aquele a quem Ela tinha sido entregue em casamento, José, podia repudiá-la com tudo o que isso significava naquela sociedade.

Quinto, porque o normal seria que a própria família a repudiasse.

Sexto, porque se fosse repudiada e sobrevivesse teria que, sozinha, alimentar, educar, tomar conta daquele Filho, que nunca seria aceite na sociedade.

Sétimo, porque se tentasse explicar a alguém o porquê do seu sim, apenas se ririam na sua cara e mais do que isso, condená-la-iam por blasfémia ao dizer que estava grávida do Filho de Deus.

E quantas razões mais poderíamos acrescentar, que à luz das nossas humanas fraquezas, “aconselhavam” um não à “proposta” feita.

Portanto, as razões para um não eram incomparavelmente “melhores” do que as razões que poderiam sustentar o sim naquele momento, e não nos esqueçamos que «Ela se perturbou», (Lc 1,29), pelo que não estava “fora de si”, mas sim perfeitamente consciente do momento e do que Lhe era pedido.

Sim, o Sim de Maria, foi o Sim mais difícil da humanidade e, ao mesmo tempo, o Sim mais importante da humanidade e para a humanidade.

Obrigado Mãe, porque «acreditaste, que se ia cumprir tudo o que te tinha sido dito da parte do Senhor.» (Lc 1, 45)

Obrigado Senhor por teres escolhido Maria como Mãe e obrigado Senhor por no-la teres dado como Mãe também.

Marinha Grande, 25 de Março de 2014

Joaquim Mexia Alves

A IGREJA TEM UM PROBLEMA COM AS MULHERES?

Há quem entenda que a Igreja católica tem um problema com as mulheres. O tópico, que não chega a ser sequer um argumento, era recorrente na voz das feministas de 68, que hoje são, pela certa, muito respeitáveis avós. Contudo, como o preconceito persiste, merece algumas sumárias considerações.

Desde os primórdios do Cristianismo que mulheres e homens gozam da mesma dignidade. A distinção funcional não obsta a esta fundamental igualdade de todos os fiéis porque, como ensina o Concílio Vaticano II, todos são chamados por igual à perfeição da vida cristã. Lucas enaltece a Mãe de Jesus e esclarece que, a par do grupo masculino dos doze apóstolos, também um conjunto de mulheres seguia o Mestre, com igual dedicação. Não estranha, portanto, que os relatos bíblicos da ressurreição de Cristo tenham, como protagonistas, as mulheres. Pelo facto de Maria Madalena a todos se ter antecipado no anúncio do ressuscitado, foi até cognominada “apóstola dos apóstolos”.

Na Igreja, desde sempre foi assim. São mulheres as superioras dos conventos e das ordens femininas, sem ingerência de nenhum poder masculino, salvo o do Papa, a que todos os católicos, sejam homens ou mulheres, estão sujeitos. Houve até abadessas que foram tidas por preladas, porque exerceram um poder quase episcopal. As rainhas cristãs, que o foram por direito próprio, exercitaram um poder em tudo igual ao dos reis. Note-se que, em pleno século XXI, a mulher do monarca marroquino não só não reina como nem sequer rainha é, mas apenas princesa e, como tal, inferior e subalterna ao seu augusto cônjuge. Mas isto não incomoda as feministas, que parecem mais interessadas em atacar a Igreja, do que em defender os direitos das mulheres de outras religiões.

Não consta que a religiosa Beata Teresa de Calcutá, a leiga C. Lubich, ou a médica Santa Joana Beretta Mola, casada e mãe de vários filhos, tivessem tido, por razão da sua condição feminina, nenhum problema com a Igreja do seu tempo, que é o nosso. Pelo contrário, mais e melhor do que muitos homens, enriqueceram a instituição eclesial com a alegria das suas vidas santas e, as duas primeiras, também com o dinamismo das entidades que originaram.

O movimento fundado por Chiara é até um caso de salutar feminismo cristão: embora misto, só as mulheres podem chegar à presidência. Seria caso para dizer que a Igreja católica tem um problema com os seus fiéis do sexo masculino, uma vez que nunca poderão ascender ao topo dessa meritória organização…

A questão da mulher na Igreja, como outras análogas, reporta-se a um aspecto para o qual o Papa Francisco tem chamado a atenção e que vai muito além do pormenor, significativo mas de somenos importância, de lavar os pés a duas adolescentes: a necessidade de entender a Igreja como serviço e não como poder. Quem vê ainda a Igreja como um poder, não pode compreender que, para um cristão coerente, seja homem ou mulher, o único que importa é o serviço e que, para esse efeito, tanto dá a condição masculina como a feminina, ser leigo ou sacerdote, viver vida contemplativa ou activa, ser religioso ou cidadão do mundo.

Decididamente, não é a Igreja que tem um problema com as mulheres, mas algumas mulheres que têm um problema com a Igreja. Umas quantas — Maria de Nazaré, Maria Madalena, Isabel de Portugal, Alexandrina de Balazar, Joana Beretta Mola, Teresa de Calcutá, Chiara Lubich, etc. — resolveram-no. Outras, pelos vistos, ainda não, mas estão a tempo de também serem, como alguém disse de Teresa de Lisieux, o rosto de Cristo na face de uma mulher.

P. Gonçalo Portocarrero de Almada - artigo publicado no PÚBLICO (Domingo, dia 14-4-2013)

Santidade

O segredo da santidade é a amizade com Cristo e a adesão fiel à sua vontade.

Bento XVI - Discurso aos seminaristas (19.Ago.05)

O Evangelho do dia 30 de março de 2017

«Se dou testemunho de Mim mesmo, o Meu testemunho não é verdadeiro. Outro é o que dá testemunho de Mim; e sei que é verdadeiro o testemunho que dá de Mim. Vós enviastes mensageiros a João e ele deu testemunho da verdade. Eu, porém, não recebo o testemunho dum homem, mas digo-vos estas coisas a fim de que sejais salvos. João era uma lâmpada ardente e luminosa. E vós, por uns momentos, quisestes alegrar-vos com a sua luz. «Mas tenho um testemunho maior que o de João: as obras que o Pai Me deu que cumprisse, estas mesmas obras que Eu faço dão testemunho de Mim, de que o Pai Me enviou. E o Pai que Me enviou, Esse mesmo deu testemunho de Mim. Vós nunca ouvistes a Sua voz nem vistes a Sua face e não tendes em vós, de modo permanente, a Sua palavra, porque não acreditais n'Aquele que Ele enviou. «Examinai as Escrituras, visto que julgais ter nelas a vida eterna: elas são as que dão testemunho de Mim. E não quereis vir a Mim, para terdes vida. A glória, não a recebo dos homens, mas sei que não tendes em vós o amor de Deus. Vim em nome de Meu Pai e vós não Me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis. Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros e não buscais a glória que só de Deus vem? Não julgueis que sou Eu que vos hei-de acusar diante do Pai; Moisés, em quem confiais, é que vos acusará. Se acreditásseis em Moisés, certamente acreditaríeis também em Mim, porque ele escreveu de Mim. Porém, se não dais crédito aos seus escritos, como haveis de dar crédito às Minhas palavras?».

Jo 5, 31-47