quinta-feira, 30 de junho de 2016

Audiência Jubilar (resumo)

Locutor: Neste Ano Jubilar somos convidados a nos perguntar se para nós a misericórdia é uma palavra abstrata ou um verdadeiro estilo de vida, ou seja, se mais do que falar, procuramos viver as obras de misericórdia. Tais obras são acima de tudo o testemunho concreto de quem se sabe objeto do amor misericordioso de Deus. Por isso, é preciso estar atentos para não cair na indiferença, pois a verdadeira misericórdia tem olhos para ver, ouvidos para escutar e mãos para ajudar àqueles que precisam, sobretudo os mais pequeninos com quem Jesus quis se identificar. Hoje, com o multiplicar-se de novas formas de pobreza material e espiritual, é preciso dar espaço à criatividade da caridade para ir ao encontro de todo aquele que precisa. O Santo Padre também comentou sobre a sua recente viagem à Armênia, nação que abraçou o cristianismo já no início do século quarto e que ao longo da história testemunhou a sua fé em Cristo, mesmo com o derramamento de sangue. Esta viagem quis reforçar a nossa comunhão fraterna para que como cristãos possamos ser fermento de uma sociedade mais justa e solidária.

Santo Padre:
Cari pellegrini di lingua portoghese, presenti a quest’Udienza: benvenuti! Saluto tutti voi, in particolare i professori e gli studenti di Guimarães e Viseu, incoraggiandovi a non stancarvi mai di servire tutte le persone bisognose, come veri testimoni della Misericordia nel mondo. Su di voi e sulle vostre famiglie scenda la Benedizione del Signore.

Locutor: Queridos amigos de língua portuguesa, que hoje tomais parte nesta Audiência: sede bem-vindos! A todos saúdo, especialmente aos professores e alunos de Guimarães e de Viseu, encorajando-vos a nunca vos cansardes de servir as pessoas necessitadas, como verdadeiras testemunhas da Misericórdia no mundo. Sobre vós e vossas famílias desça a Bênção do Senhor!

O Evangelho do dia 30 de junho de 2016

Subindo para uma pequena barca, tornou a passar o lago, e voltou para a Sua cidade. Eis que Lhe apresentaram um paralítico que jazia no leito. Vendo Jesus a fé que eles tinham, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, são-te perdoados os teus pecados». Então, alguns dos escribas disseram para consigo: «Este blasfema». Tendo Jesus visto os seus pensamentos, disse: «Porque pensais mal nos vossos corações? Que coisa é mais fácil de dizer: “São-te perdoados os teus pecados”, ou dizer: “Levanta-te e caminha”? Pois, para que saibais que o Filho do Homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados» , disse então ao paralítico: «Levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa». E ele levantou-se, e foi para sua casa. Vendo isto, as multidões ficaram possuídas de temor, e glorificaram a Deus por ter dado tal poder aos homens.

Mt 9, 1-8

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Homilia Papa Francisco celebração eucarística na solenidade de S. Pedro e S.Paulo

Nesta liturgia, a Palavra de Deus roda à volta dum binómio central: fechamento/abertura. E, relacionado com esta imagem, está também o símbolo das chaves, que Jesus promete a Simão Pedro para que ele possa, sem dúvida, abrir às pessoas a entrada no Reino dos Céus, e não fechá-la como faziam alguns escribas e fariseus hipócritas que Jesus censura (cf. Mt 23, 13).

A leitura dos Atos dos Apóstolos (12, 1-11) apresenta-nos três fechamentos: o de Pedro na prisão; o da comunidade reunida em oração; e – no contexto próximo da nossa perícope – o da casa de Maria, mãe de João chamado Marcos, a cuja porta foi bater Pedro depois de ter sido libertado.

E vemos que a principal via de saída dos fechamentos é a oração: via de saída para a comunidade, que corre o risco de se fechar em si mesma por causa da perseguição e do medo; via de saída para Pedro que, já no início da missão que o Senhor lhe confiara, é lançado na prisão por Herodes e corre o risco de ser condenado à morte. Enquanto Pedro estava na prisão, «a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele» (At 12, 5). E o Senhor responde à oração com o envio do seu anjo para o libertar, «arrancando-o das mãos de Herodes» (cf. v. 11). A oração, como humilde entrega a Deus e à sua santa vontade, é sempre a via de saída dos nossos fechamentos pessoais e comunitários.

O próprio Paulo, ao escrever a Timóteo, fala da sua experiência de libertação, de saída do perigo de ser ele também condenado à morte; mas o Senhor esteve ao seu lado e deu-lhe força para poder levar a bom termo a sua obra de evangelização dos gentios (cf. 2 Tm 4, 17). Entretanto Paulo fala duma «abertura» muito maior, para um horizonte infinitamente mais amplo: o da vida eterna, que o espera depois de ter concluído a «corrida» terrena. Assim é belo ver a vida do Apóstolo toda «em saída» por causa do Evangelho: toda projetada para a frente, primeiro, para levar Cristo àqueles que não O conhecem e, depois, para se lançar, por assim dizer, nos seus braços e ser levado por Ele «a salvo para o seu Reino celeste» (v. 18).

Mas voltemos a Pedro... A narração evangélica (Mt 16, 13-19) da sua confissão de fé e consequente missão a ele confiada por Jesus mostra-nos que a vida do pescador galileu Simão – como a vida de cada um de nós – se abre, desabrocha plenamente quando acolhe, de Deus Pai, a graça da fé. E Simão põe-se a caminhar – um caminho longo e duro – que o levará a sair de si mesmo, das suas seguranças humanas, sobretudo do seu orgulho misturado com uma certa coragem e altruísmo generoso. Decisiva neste seu percurso de libertação é a oração de Jesus: «Eu roguei por ti [Simão], para que a tua fé não desapareça» (Lc 22, 32). E igualmente decisivo é o olhar cheio de compaixão do Senhor depois que Pedro O negou três vezes: um olhar que toca o coração e liberta as lágrimas do arrependimento (cf. Lc 22, 61-62). Então Simão Pedro foi liberto da prisão do próprio eu orgulhoso e medroso, e superou a tentação de se fechar à chamada de Jesus para O seguir no caminho da cruz.

Como já aludi, no contexto próximo da passagem lida dos Atos dos Apóstolos, há um detalhe que pode fazer-nos bem considerar (cf. 12, 12-17). Quando Pedro, miraculosamente liberto, se vê fora da prisão de Herodes, vai ter à casa da mãe de João chamado Marcos. Bate à porta e, de dentro, vem atender uma empregada chamada Rode, que, tendo reconhecido a voz de Pedro, em vez de abrir a porta, incrédula e cheia de alegria corre a informar a patroa. A narração, que pode parecer cómica, deixa intuir o clima de medo em que estava a comunidade cristã, fechada em casa e fechada também às surpresas de Deus. Este detalhe fala-nos duma tentação que sempre existe na Igreja: a tentação de fechar-se em si mesma, à vista dos perigos. Mas mesmo aqui há uma brecha por onde pode passar a ação de Deus: Lucas diz que, naquela casa, «numerosos fiéis estavam reunidos a orar» (v. 12). A oração permite que a graça abra uma via de saída: do fechamento à abertura, do medo à coragem, da tristeza à alegria. E podemos acrescentar: da divisão à unidade. Sim, digamo-lo hoje com confiança, juntamente com os nossos irmãos da Delegação enviada pelo amado Patriarca Ecuménico Bartolomeu para participar na festa dos Santos Padroeiros de Roma. Uma festa de comunhão para toda a Igreja, como põe em evidência também a presença dos Arcebispos

Metropolitas que vieram para a bênção dos Pálios, que lhes serão impostos pelos meus Representantes nas respetivas Sedes.

Os Santos Pedro e Paulo intercedam por nós para podermos realizar com alegria este caminho, experimentar a ação libertadora de Deus e a todos dar testemunho dela.

Brevíssimo comentário ao Evangelho de hoje...

Bem-aventurados que somos porque o Senhor nos deu conhecer a resposta de Pedro que nos narra o Evangelho de hoje (Mt 16, 13-19) e assim com amor e fé também o reconhecemos como o Filho de Deus que habitou entre nós.

Louvado seja o Pai pelo Filho que nos enviou e que é Deus com Ele na unidade do Espírito Santo!

"Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16)

O que era difícil aceitar, para as pessoas às quais Jesus falava? O que continua a sê-lo também para muitas pessoas de hoje? Difícil de aceitar é o facto de que Ele pretende ser não somente um dos profetas, mas o Filho de Deus, e reivindica para si a mesma autoridade de Deus. Ouvindo-o pregar, vendo-o curar os doentes, evangelizar os pequeninos e os pobres e reconciliar os pecadores, gradualmente os discípulos conseguiram compreender que Ele era o Messias, no sentido mais elevado deste termo, ou seja, não apenas um homem enviado por Deus, mas o próprio Deus que se fez homem. Claramente, tudo isto era maior do que eles, ultrapassava a sua capacidade de compreender. Podiam expressar a sua fé com os títulos da tradição judaica: "Cristo", "Filho de Deus", "Senhor". Mas para aderir verdadeiramente à realidade, aqueles títulos deviam de alguma forma ser redescobertos na sua verdade mais profunda: o próprio Jesus, com a sua vida, revelou o seu significado integral, sempre surpreendente, até mesmo paradoxal em relação às concepções correntes. E a fé dos discípulos teve que se adaptar progressivamente. Ela apresenta-se-nos como uma peregrinação que tem o seu momento fontal na experiência do Jesus histórico, encontra o seu fundamento no mistério pascal, mas depois deve progredir ainda mais, graças à ação do Espírito Santo. Esta foi também a fé da Igreja ao longo da história; além disso, esta tem sido inclusive a nossa fé, de nós cristãos de hoje. Solidamente alicerçada na "rocha" de Pedro, é uma peregrinação rumo à plenitude daquela verdade que o Pescador da Galileia professou com uma convicção apaixonada: "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16).

Caros irmãos e irmãs, na profissão de fé de Pedro, podemos sentir-nos e ser todos um só, não obstante as divisões que, ao longo dos séculos, dilaceraram a unidade da Igreja, com consequências que perduram até aos dias de hoje. Em nome dos Santos Pedro e Paulo, renovemos hoje, juntamente com os nossos Irmãos provenientes de Constantinopla aos quais volto a agradecer a presença nesta nossa celebração o compromisso a cumprir até ao fim o desejo de Cristo, que nos quer plenamente unidos. Com os Arcebispos concelebrantes, acolhamos o dom e a responsabilidade da comunhão entre a Sé de Pedro e as Igrejas Metropolitanas confiadas aos seus cuidados pastorais. Que nos oriente e nos acompanhe sempre com a sua intercessão a Santa Mãe de Deus: a sua fé indefectível, que sustentou a fé de Pedro e dos outros Apóstolos, continue a apoiar também a fé das gerações cristãs, a nossa própria fé: Rainha dos Apóstolos, rogai por nós!

Amém.

Bento XVI - Excerto homilia pronunciada na Basílica de São Pedro a 29 de Junho de 2007

O Evangelho do dia 29 de junho de 2016 - Solenidade de São Pedro e São Paulo

Tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus interrogou os Seus discípulos, dizendo: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». Eles responderam: «Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». Jesus disse-lhes: «E vós quem dizeis que Eu sou?». Respondendo Simão Pedro, disse: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo». Respondendo Jesus, disse-lhe: «Bem-aventurado és, Simão filho de João, porque não foi a carne e o sangue que to revelaram, mas Meu Pai que está nos céus. E Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus».

Mt 16, 13-19

terça-feira, 28 de junho de 2016

Reflexão no Ano Jubilar da Misericórdia

Próximos do próximo

Não vou revelar o meu nome, direi apenas que sou um dos servos que constatou a tristíssima cena daquele nosso compatriota apertando o pescoço a um outro que lhe devia uma quantia que, depois vim a saber, somava cerca de cem denários.

Não revelo o meu nome porque, confesso, tenho receio daquele sujeito, homem de “maus fígados” que toda a gente sabe é um usurário que “explora” as necessidades dos outros revelando-se um intransigente sem dó nem piedade, exigindo por qualquer meio a devolução do emprestado aos que tiveram a desdita de lhe caírem nas “garras”.

Mas, todos sabíamos que esse dinheiro que emprestava a elevados juros vinha directamente das mãos do nosso Senhor e Rei que nunca recusava nada a quem a ele recorria.

Espantava-nos como podia continuar a emprestar-lhe enormes quantias que – todos o sabíamos – atingiam um valor absurdamente grande, sem exigir que prestasse contas como seria de esperar.

Mas, finalmente chegou o dia em que o nosso Senhor e Rei se inteirou da situação e resolveu chamá-lo à sua presença.

Estávamos todos naturalmente suspensos do que se iria passar e ficamos cá fora no átrio do palácio à espera do desfecho.

Para nosso espanto, o homem sai do palácio com um sorriso rasgado no rosto como que animado de grande contentamento para, logo depois, completamente alterado o semblante e a atitude, proceder como a princípio relatei.

Que se teria passado?

Logo tudo se esclareceu porque imediatamente surgiu no cimo da escadaria o escrivão do Rei levantando os braços ao céu e mostrando toda uma surpresa e descontentamento que não pudemos ignorar.

Então contou-nos o que se passara:

Em resumo disse que depois de o Rei lhe ter exigido que pagasse quanto lhe devia e tendo obtido como resposta que não o podia fazer, que lhe desse um pouco mais de tempo… prometendo pagar logo que possível, o nosso excelente Rei que o ameaçara com a prisão e a venda de todos os seus bens incluindo a mulher e os filhos, encheu-se de compaixão e simplesmente mandou-o embora perdoando-lhe toda a enorme dívida.

Ficámos, naturalmente, espantados com a atitude do nosso Senhor que, embora conhecendo a sua bondade para com os seus súbditos, perdoava assim – sem mais nem menos – uma quantia exorbitante.

Evidentemente que o Rei pode fazer com o seu dinheiro o que muito bem entender e só nos competia dar graças por tão excelente Senhor.

Mas sabíamos que sendo extremamente generoso era, também, absolutamente justo e que, seguramente, e deveria ficara saber que o servo a quem perdoara tão grande dívida acabava de praticar um acto exactamente oposto para com um colega e, por isso mesmo, fomos – todos - à sua presença contar o que se passara.

Note-se que não fomos apresentar uma “queixa” mas tão só procedemos como achávamos que era de absolutamente correcto fazer.

Caberia ao nosso Rei e Senhor julgar conforme o seu superior critério.

(ama, reflexões no Ano Jubilar da Misericórdia – 6)


[i] Mt 18, 21-35

21 Então, aproximando-se d'Ele Pedro, disse: «Senhor, até quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?». 22 Jesus respondeu-lhe: «Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 «Por isso, o Reino dos Céus é comparável a um rei que quis fazer as contas com os seus servos. 24 Tendo começado a fazer as contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos.25 Como não tivesse com que pagar, o seu senhor mandou que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo o que tinha, e se saldasse a dívida. 26 Porém, o servo, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu te pagarei tudo”. 27 E o senhor, compadecido daquele servo, deixou-o ir livre e perdoou-lhe a dívida. 28 «Mas este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários e, lançando-lhe a mão, sufocava-o dizendo: “Paga o que me deves”. 29 O companheiro, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu te pagarei”. 30 Porém ele recusou e foi mandá-lo meter na prisão, até pagar a dívida. 31 «Os outros servos seus companheiros, vendo isto, ficaram muito contristados e foram referir ao seu senhor tudo o que tinha acontecido. 32 Então o senhor chamou-o e disse-lhe: “Servo mau, eu perdoei-te a dívida toda, porque me suplicaste. 33 Não devias tu também compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”. 34 E o seu senhor, irado, entregou-o aos guardas, até que pagasse toda a dívida. 35 «Assim também vos fará Meu Pai celestial, se cada um não perdoar do íntimo do seu coração ao seu irmão»

Nota: Este trecho do Evangelho escrito por São Mateus também poderia ser o Evangelho “oficial” do Ano Jubilar da Misericórdia.

De facto, a parábola proferida por Jesus Cristo, põe-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais[i]

É isso mesmo que me proponho fazer.

Sob o Título: “Próximos do próximo (sugerido por um bom amigo) vou tentar personificar alguns dos personagens da parábola e, também, introduzir-me nela como observador directo.

O Evangelho do dia 28 de junho de 2016

Subindo para uma barca, seguiram-n'O os Seus discípulos. E eis que se levantou no mar uma grande tempestade, de modo que as ondas alagavam a barca; Ele, entretanto, dormia. Aproximaram-se d'Ele os discípulos, e acordaram-n'O, dizendo: «Senhor, salva-nos, que perecemos!». Jesus, porém, disse-lhes: «Porque temeis, homens de pouca fé?». Então, levantando-Se, ordenou imperiosamente aos ventos e ao mar, e seguiu-se uma grande bonança. Eles admiraram-se, dizendo: «Quem é Este, a quem até os ventos e o mar obedecem?».

Mt 8, 23-27

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O Evangelho do dia 27 de junho de 2016

Vendo-Se Jesus rodeado por uma grande multidão, ordenou que passassem para a outra margem do lago. E, aproximando-se um escriba, disse-Lhe: «Mestre, eu seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus disse-lhe: «As raposas têm tocas, e as aves do céu ninhos; porém, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». Um outro dos Seus discípulos disse-Lhe: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Jesus, porém, respondeu-lhe: «Segue-Me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos».

Mt 8, 18-22

domingo, 26 de junho de 2016

«Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus» Lc 9, 62

Deito as mãos ao arado,
e não olho para trás.

Quero,
com a tua graça, Senhor,
abrir sulcos na terra,
e neles semear a paz,
para que nasça o amor.

Para isso,
também me faço semente,
em que Tu possas habitar,
para que deitado à terra,
por onde o arado passar,
o Teu fruto em mim cresça,
e eu o saiba testemunhar.

Deito as mãos ao arado,
e não olho para trás.


És Tu quem me guias,
Senhor,

se eu me deixar guiar!

Marinha Grande, 26 de Junho de 2016

Joaquim Mexia Alves
http://queeaverdade.blogspot.com.es/2016/06/quem-tiver-lancado-as-maos-ao-arado-e.html

PARTICIPAÇÃO À DIVINA LITURGIA NA CATEDRAL APOSTÓLICA ARMÉNIA DISCURSO SANTO PADRE

Santidade, caríssimos Bispos, Queridos irmãos e irmãs!

No ponto culminante desta visita tão desejada e, para mim, já inesquecível, desejo elevar ao Senhor a minha gratidão, que uno ao grande hino de louvor e agradecimento que sobe deste altar. Vossa Santidade, nestes dias, abriu-me as portas da sua casa e experimentamos «como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos» (Sal 133, 1). Encontramo-nos, abraçamo-nos fraternalmente, rezamos juntos, partilhamos os dons, as esperanças e as preocupações da Igreja de Cristo, da qual notamos em uníssono as pulsações do coração, e que acreditamos e sentimos ser una. «Há um só Corpo e um só Espírito, assim como (…) uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos» (Ef 4, 4-6): verdadeiramente podemos, com alegria, fazer nossas estas palavras do apóstolo Paulo. Foi precisamente sob o signo dos Santos Apóstolos que nos encontramos. Os Santos Bartolomeu e Tadeu, que proclamaram pela primeira vez o Evangelho nestas terras, e os Santos Pedro e Paulo, que deram a vida pelo Senhor em Roma, ao mesmo tempo que reinam com Cristo no céu, certamente se alegram ao ver o nosso afeto e a nossa aspiração concreta à plena comunhão. Por tudo isto agradeço ao Senhor, por vós e convosco: Glória a Deus!

Nesta Divina Liturgia, elevou-se ao céu o canto solene do triságio, louvando a santidade de Deus; desça, abundante, a bênção do Altíssimo sobre a terra, pela intercessão da Mãe de Deus, dos grandes Santos e Doutores, dos Mártires, especialmente da multidão de mártires que aqui canonizastes no ano passado. «O Unigénito que aqui desceu» abençoe o nosso caminho. O Espírito Santo faça dos crentes um só coração e uma só alma: venha refundar-nos na unidade. Por isso, gostaria de invocá-Lo novamente, fazendo minhas algumas palavras esplêndidas que entraram na vossa Liturgia: Vinde, ó Espírito! Vós «que sois, com gemidos incessantes, o nosso intercessor junto do Pai misericordioso, Vós que guardais os santos e purificais os pecadores»; derramai sobre nós o vosso fogo de amor e unidade, e «sejam desfeitos por este fogo os motivos do nosso escândalo» (Gregório de Narek, Livro das Lamentações, 33, 5), a começar pela falta de unidade entre os discípulos de Cristo.

Que a Igreja arménia caminhe em paz, e a comunhão entre nós seja plena. Surja em todos um forte anseio de unidade, uma unidade que não deve ser «submissão de um ao outro, nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um para manifestar ao mundo inteiro o grande mistério da salvação realizado por Cristo Senhor através do Espírito Santo» (Palavras no fim da Divina Liturgia, Igreja Patriarcal de São Jorge, Istambul, 30 de novembro de 2014).

Acolhamos o apelo dos Santos, ouçamos a voz dos humildes e dos pobres, das inúmeras vítimas do ódio que sofreram e sacrificaram a vida pela fé; prestemos ouvidos às gerações mais jovens, que pedem um futuro livre das divisões do passado. Que, deste lugar santo, se difunda novamente uma luz radiosa; e à luz da fé, que desde São Gregório, vosso pai segundo o Evangelho, iluminou estas terras, una-se a luz do amor que perdoa e reconcilia.

Tal como os Apóstolos na manhã de Páscoa, apesar das dúvidas e incertezas, correram até ao lugar da ressurreição, atraídos pela aurora feliz duma esperança nova (cf. Jo 20, 3-4) assim também nós, neste domingo santo, sigamos a chamada de Deus à plena comunhão e aceleremos o passo rumo a ela.

E agora, Santidade, em nome de Deus, peço-vos que me abençoeis, que abençoeis a mim e à Igreja Católica, que abençoeis esta nossa corrida rumo à plena unidade.

Bom Domingo do Senhor!

Respondamos aos pedidos do Senhor sem hesitações como fizeram aqueles de que nos fala o Evangelho de hoje (Lc 9, 51-62) se o fizermos ao contrário deles estaremos a amá-Lo acima de todas as coisas.

Que o nosso amor a Jesus Cristo Nosso Senhor seja um fonte inesgotável!

«Hei-de seguir-Te para onde quer que fores»

São João XXIII (1881-1963), papa
Diário da Alma, junho de 1957 [antes da eleição para a cátedra papal]


«Ao cair da tarde, dá-nos a luz.» Senhor, já chegou o cair da tarde. Cheguei ao septuagésimo sexto ano da minha vida, desta vida que é dom absoluto do Pai do Céu. Três quartos dos meus contemporâneos já passaram à outra margem e eu devo agora preparar-me para o grande momento. A ideia da morte não me traz inquietude. [...] Gozo de excelente e ainda robusta saúde, se bem que não possa fiar-me nela. Quero preparar-me para responder pronto! seja a que chamamento for, mesmo inesperado. Quero que a velhice – outro grande dom de Deus – seja para mim motivo de silenciosa alegria interior, de abandono quotidiano ao Senhor, para quem me volto como uma criança que se lança nos braços abertos do seu pai.A minha vida simples e (posso dizê-lo agora) longa desenrolou-se como um novelo sob o signo da humildade e da pureza. Não tenho custo nenhum em reconhecer e repetir que não sou nem valho absolutamente nada. Foi o Senhor que me fez nascer de gente modesta e pensou em tudo; eu apenas em tudo consenti. [...] É bem verdade que «a vontade do Senhor é a minha paz». E ponho toda a minha esperança na misericórdia de Jesus. [...]

Suponho que o Senhor me reserve, para minha mortificação e purificação e para poder ser admitido na alegria eterna, qualquer grande pena ou aflição do corpo ou do espírito antes de morrer. Pois bem, aceitá-la-ei por completo e de bom grado, contanto que tudo seja para glória de Deus, o bem da minha alma e o dos meus queridos filhos espirituais. Receio apenas a fraqueza da minha resistência e peço-Lhe que me ajude na minha pouca e quase nula confiança própria, antes a pondo toda no Senhor.

Há duas portas para entrar no Paraíso, a inocência e a penitência. Quem poderá presumir, homens fracos que somos, poder encontrar a primeira aberta de par em par? Quanto à segunda, é certa. Jesus passou por ela com a cruz aos ombros para pagar pelos nossos pecados e convida-nos a todos a segui-Lo.

sábado, 25 de junho de 2016

Papa discuro encontro ecuménico de oração pela Paz

Venerado e caríssimo Irmão, Patriarca Supremo e Catholicos de Todos os Arménios, Senhor Presidente, Queridos irmãos e irmãs!
A bênção e a paz de Deus estejam convosco!

Desejei ardentemente visitar esta amada terra, o vosso país, o primeiro que abraçou a fé cristã. É uma graça para mim poder encontrar-me nestas alturas, onde, sob a vista do Monte Ararat, o próprio silêncio parece falar-nos; onde os khatchkar – as cruzes de pedra – narram uma história única, permeada de fé rochosa e de sofrimento imenso; uma história rica de magníficas testemunhas do Evangelho, de quem vós sois os herdeiros. Vim peregrino de Roma para vos encontrar e exprimir um sentimento que me vem do fundo do coração: é o afeto do vosso irmão, é o abraço fraterno da Igreja Católica inteira, que vos ama e está solidária convosco.

Nos anos passados, graças a Deus, foram-se intensificando as visitas e os encontros entre as nossas Igrejas, sempre muito cordiais e frequentemente memoráveis; quis a Providência que, precisamente no dia em que aqui se recordam os santos Apóstolos de Cristo, estejamos de novo juntos para reforçar a comunhão apostólica entre nós. Estou muito grato a Deus pela «real e íntima unidade» entre as nossas Igrejas [cf. João Paulo II, Homilia na Celebração Ecuménica, Ierevan, 26 de setembro de 2001: Insegnamenti, XXIV/2 (2001), 466) e agradeço-vos pela vossa fidelidade ao Evangelho, muitas vezes heroica, que é um dom inestimável para todos os cristãos. Ao encontrarmo-nos, não temos uma troca de ideias, mas uma troca de dons (cf. Idem, Carta enc. Ut unum sint, 28): recolhemos aquilo que o Espírito semeou em nós, como um dom para cada um (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 246). Partilhamos com grande alegria os numerosos passos dum caminho comum já muito adiantado, e olhamos verdadeiramente com confiança para o dia em que, com a ajuda de Deus, estaremos unidos junto do altar do sacrifício de Cristo, na plenitude da comunhão eucarística. Rumo a esta meta tão desejada «somos peregrinos, e peregrinamos juntos (...) abrindo o coração ao companheiro de estrada sem medos, nem desconfianças» (ibid., 244).

Neste trajeto, precedem-nos e acompanham-nos muitas testemunhas, nomeadamente tantos mártires que selaram com o sangue a fé comum em Cristo: são as nossas estrelas no céu, que brilham sobre nós e indicam o caminho que nos falta percorrer na terra, rumo à plena comunhão. Dentre os grandes Padres, gostaria de referir o santo Catholicos Nerses Shnorhali. Nutria um amor extraordinário pelo seu povo e as suas tradições e, ao mesmo tempo, sentia-se inclinado para as outras Igrejas, incansável na busca da unidade, desejoso de atuar a vontade de Cristo: que os crentes «sejam um só» (Jo 17, 21). Realmente a unidade não é uma espécie de vantagem estratégica que se deve procurar por interesse mútuo, mas aquilo que Jesus nos pede, sendo nossa obrigação cumpri-lo com boa vontade e todas as nossas forças para se realizar a nossa missão: oferecer ao mundo, com coerência, o Evangelho.

Para realizar a unidade necessária, não basta, segundo São Nerses, a boa vontade de alguém na Igreja: é indispensável a oração de todos. É bom estar aqui reunidos para rezarmos uns pelos outros, uns com os outros. E o que vim pedir-vos nesta tarde é, antes de tudo, o dom da oração. Pela minha parte, asseguro-vos que, ao oferecer o Pão e o Cálice no altar, não deixo de apresentar ao Senhor a Igreja da Arménia e o vosso querido povo.

São Nerses sentia também a necessidade de aumentar o amor mútuo, porque só a caridade é capaz de sanar a memória e curar as feridas do passado: só o amor cancela os preconceitos e permite reconhecer que a abertura ao irmão purifica e melhora as convicções próprias. Para este santo Catholicos, no caminho rumo à unidade, é essencial imitar o estilo do amor de Cristo, que, «sendo rico» (2 Cor 8, 9), «humilhou-Se a Si próprio» (Flp 2, 8). Seguindo o seu exemplo, somos chamados a ter a coragem de deixar as convicções rígidas e os interesses próprios, em nome do amor que se humilha e entrega, em nome do amor humilde: este é o óleo abençoado da vida cristã, o unguento espiritual precioso que cura, fortalece e santifica. «Às faltas, suprimos com uma caridade unânime», escrevia São Nerses (Cartas do senhor Nerses Shnorhali, Catholicos dos Arménios, Veneza 1873, 316), e mesmo – dava a entender – com uma particular doçura de amor, que abranda a dureza dos corações dos cristãos, também eles não raro fechados sobre si mesmos e os seus próprios interesses. Não são os cálculos nem as vantagens mas o amor humilde e generoso que atrai a misericórdia do Pai, a bênção de Cristo e a abundância do Espírito Santo. Rezando e «amando-nos intensamente uns aos outros do fundo do coração» (cf. 1 Ped 1, 22), com humildade e abertura de espírito, disponhamo-nos a receber o dom divino da unidade. Continuemos, decididos, o nosso caminho, ou melhor, corramos para a plena comunhão entre nós!

«Dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo que Eu vo-la dou» (Jo 14, 27). Ouvimos estas palavras do Evangelho, que nos predispõem a implorar de Deus aquela paz que o mundo sente tanta dificuldade em encontrar. Como são grandes, hoje, os obstáculos no caminho da paz, e trágicas as consequências das guerras! Penso nas populações forçadas a abandonar tudo, especialmente no Médio Oriente onde muitos dos nossos irmãos e irmãs sofrem violências e perseguição por causa do ódio e de conflitos sempre fomentados pelo flagelo da proliferação e do comércio de armas, pela tentação de recorrer à força e pela falta de respeito pela pessoa humana, especialmente os vulneráveis, os pobres e aqueles que pedem apenas uma vida digna.

Não consigo deixar de pensar nas provações terríveis que o vosso povo experimentou: completou-se há pouco um século do «Grande Mal» que se abateu sobre vós. Este «enorme e louco extermínio» (Francisco, Saudação no início da Santa Missa para os fiéis de rito arménio, 12 de abril de 2015), este trágico mistério de iniquidade que o vosso povo provou na própria carne, permanece impresso na memória e queima no coração. Quero reiterar que os vossos sofrimentos são nossos: «são os sofrimentos dos membros do Corpo místico de Cristo» (João Paulo II, Carta Apostólica por ocasião do 1700° aniversário do Batismo do povo arménio, 4: Insegnamenti, XXIV/1 (2001), 275); recordá-los é não só oportuno, mas também forçoso: são uma advertência em todo o tempo, para que o mundo não volte jamais a cair na espiral de tais horrores.

Ao mesmo tempo desejo lembrar, com admiração, como a fé cristã, «também nos momentos mais trágicos da história arménia, foi a mola propulsora que assinalou o início do renascimento do povo provado» (ibid., 276). A fé é a vossa verdadeira força, que permite abrir-se à via misteriosa e salvífica da Páscoa: as feridas ainda abertas, causadas pelo ódio feroz e insensato, podem de algum modo assemelhar-se às de Cristo ressuscitado, as feridas que Lhe foram infligidas e que traz ainda impressas na sua carne. Mostrou-as, gloriosas, aos discípulos na tarde de Páscoa (cf. Jo 20, 20): aquelas chagas terrivelmente dolorosas recebidas na cruz, transfiguradas pelo amor, tornaram-se fontes de perdão e paz. Assim, mesmo a dor maior, transformada pela força salvífica da Cruz de que os Arménios são arautos e testemunhas, pode tornar-se uma semente da paz para o futuro.

Realmente a memória, permeada pelo amor, torna-se capaz de encaminhar-se por sendas novas e surpreendentes, onde as tramas de ódio se transformam em projetos de reconciliação, onde se pode esperar num futuro melhor para todos, onde são «felizes os obreiros da paz» (Mt 5, 9). Fará bem a todos comprometer-se por colocar as bases dum futuro que não se deixe absorver pela força ilusória da vingança; um futuro, onde nunca nos cansemos de criar as condições para a paz: um trabalho digno para todos, a solicitude pelos mais necessitados e a luta sem tréguas contra a corrupção que deve ser extirpada.

Queridos jovens, este futuro pertence-vos: valorizando a grande sabedoria dos vossos idosos, aspirai a tornar-vos construtores de paz: não notários do status quo, mas ativos promotores duma cultura do encontro e da reconciliação. Deus abençoe o vosso futuro e «conceda que se retome o caminho de reconciliação entre o povo arménio e o povo turco, e possa a paz surgir também no Nagorno Karabakh» (Mensagem aos Arménios, 12 de abril de 2015).

Nesta perspetiva, gostaria enfim de evocar outra grande testemunha e artífice da paz de Cristo, São Gregório de Narek, que proclamei Doutor da Igreja. E poderia ser chamado também «Doutor da paz». Assim escrevia ele naquele Livro extraordinário, que me apraz pensar como a «constituição espiritual do povo arménio»: «Recordai-Vos [Senhor] daqueles que, na estirpe humana, são nossos inimigos, mas para seu bem: cumpri neles perdão e misericórdia. (...) Não extermineis aqueles que me mordem: transformai-os! Extirpai a conduta terrena viciosa, e enraizai a boa em mim e neles» (Livro das Lamentações, 83, 1-2). Narek, «fazendo-se participante profundamente consciente de cada necessidade» (ibid., 3, 2), quis mesmo identificar-se com os vulneráveis e os pecadores de todo o tempo e lugar, para interceder em favor de todos (cf. ibid., 31, 3; 32, 1; 47, 2): fez-se «o “oferece-oração” de todo o mundo» (ibid., 28, 2). Esta sua solidariedade universal com a humanidade é uma grande mensagem cristã de paz, um grito ardente que implora misericórdia para todos. Os arménios, presentes em muitos países e que daqui desejo abraçar fraternalmente, sejam mensageiros deste anseio de comunhão, «embaixadores de paz» [João Paulo II, Carta Apostólica por ocasião do 1700° aniversário do Batismo do povo arménio, 7: Insegnamenti, XXIV/1 (2001), 278]. O mundo inteiro precisa deste vosso anúncio, precisa desta vossa presença, precisa do vosso testemunho mais puro.

Kha’ra’rutiun amenetzun! [A paz esteja convosco!]

O Evangelho de Domingo dia 26 de junho de 2016

Aconteceu que, aproximando-se o tempo da Sua partida deste mundo, dirigiu-Se resolutamente para Jerusalém, e enviou adiante de Si mensageiros, que entraram numa aldeia de samaritanos para Lhe prepararem pousada. Não O receberam, por dar mostras de que ia para Jerusalém. Vendo isto, os Seus discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu que os consuma?». Ele, porém, voltando-Se para eles, repreendeu-os. E foram para outra povoação. Indo eles pelo caminho, veio um homem que Lhe disse: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, porém, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». A um outro disse: «Segue-Me». Mas ele disse: «Senhor, permite-me que eu vá primeiro sepultar meu pai». Mas Jesus replicou: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu vai anunciar o reino de Deus». Um outro disse-Lhe: «Senhor, seguir-Te-ei, mas permite que vá primeiro dizer adeus aos de minha casa». Jesus respondeu-lhe: «Ninguém que, depois de ter metido a mão no arado olha para trás, é apto para o reino de Deus».

Lc 9, 51-62

Homilia do Santo Padre na Praça Vartanants em Gyumri

«Levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas» (Is 61, 4). Nestes lugares, amados irmãos e irmãs, podemos dizer que se realizaram as palavras do profeta Isaías, que ouvimos. Depois das devastações terríveis do terremoto, estamos aqui hoje para dar graças a Deus por tudo o que foi reconstruído.

Mas poderíamos também questionar-nos: Que nos convida o Senhor a construir hoje na vida? E sobretudo: Sobre que alicerce nos chama a construir a nossa vida? Procurando responder a esta pergunta, gostaria de propor-vos três alicerces estáveis sobre os quais podemos, incansavelmente, edificar e reedificar a vida cristã.

O primeiro alicerce é a memória. Uma graça que devemos pedir é a de saber recuperar a memória, a memória daquilo que o Senhor realizou em nós e por nós: trazer à mente que Ele, como diz o Evangelho de hoje, não nos esqueceu, mas «recordou-Se» (Lc 1, 72) de nós: escolheu-nos, amou-nos, chamou-nos e perdoou-nos; na nossa história pessoal de amor com ele, houve grandes acontecimentos que se devem reavivar com a mente e o coração. Mas há também outra memória a salvaguardar: a memória do povo. De facto, os povos têm uma memória, como as pessoas. E a memória do vosso povo é muito antiga e preciosa. Nas vossas vozes, ressoam as dos Santos sábios do passado; nas vossas palavras, há o eco de quem criou o vosso alfabeto, com a finalidade de anunciar a Palavra de Deus; nos vossos cânticos, misturam-se os gemidos e as alegrias da vossa história. Pensando em tudo isto, certamente podereis reconhecer a presença de Deus: Ele não vos deixou sozinhos. Mesmo no meio de adversidades tremendas, poderemos dizer, com o Evangelho de hoje, que o Senhor visitou o vosso povo (cf. Lc 1, 68): recordou-Se da vossa fidelidade ao Evangelho, das primícias da vossa fé, de todos aqueles que testemunharam, mesmo à custa do sangue, que o amor de Deus vale mais que a vida (cf. Sal 63, 4). É bom para vós poderdes lembrar, com gratidão, que a fé cristã se tornou a respiração do vosso povo e o coração da sua memória.

a fé constitui também a esperança para o vosso futuro, a luz no caminho da vida, sendo ela o segundo alicerce de que gostaria de vos falar. Há sempre um perigo que pode fazer esmorecer a luz da fé: é a tentação de a reduzir a algo do passado, algo importante mas próprio de outros tempos, como se a fé fosse um belo livro de miniaturas que se deve conservar num museu. Mas ela, se for encerrada nos arquivos da história, perde a sua força transformadora, a sua vivacidade, a sua abertura positiva aos outros. Ao contrário, a fé nasce e renasce do encontro vivificante com Jesus, da experiência da sua misericórdia que ilumina todas as situações da vida. Far-nos-á bem reavivar cada dia este encontro vivo com o Senhor. Far-nos-á bem ler a Palavra de Deus e abrir-nos, em silenciosa oração, ao seu amor. Far-nos-á bem deixar que o encontro com a ternura do Senhor acenda a alegria no coração: uma alegria maior do que a tristeza, uma alegria que perdura mesmo no meio da dor, transformando-se em paz. Tudo isto renova a vida, torna-a livre e dócil às surpresas, pronta e disponível para o Senhor e para os outros. E pode acontecer também que Jesus nos chame a segui-Lo mais de perto, a entregar a vida a Ele e aos irmãos: se vos convidar, especialmente a vós jovens, não tenhais medo, dizei-Lhe «sim». Ele conhece-nos, ama-nos de verdade, e deseja libertar o coração dos fardos do medo e do orgulho. Abrindo espaço a Ele, tornamo-nos capazes de irradiar amor. Desta forma, podereis dar continuidade à vossa grande história de evangelização, de que a Igreja e o mundo precisam nestes tempos conturbados, mas que são também os tempos da misericórdia.

O terceiro alicerce, depois da memória e da fé, é precisamente o amor misericordioso: é sobre esta rocha, a rocha do amor recebido de Deus e oferecido ao próximo, que se baseia a vida do discípulo de Jesus. E é vivendo a caridade que rejuvenesce e se torna atraente o rosto da Igreja. O amor concreto é o cartão-de-visita do cristão: outras maneiras de se apresentar podem ser enganadoras e até inúteis, pois todos saberão que somos seus discípulos por isto: se nos amarmos uns aos outros (cf. Jo 13, 35). Somos chamados, antes de mais nada, a construir e reconstruir incansavelmente vias de comunhão, a edificar pontes de união e a superar as barreiras de separação. Que os crentes deem sempre o exemplo, colaborando entre si no respeito recíproco e no diálogo, sabendo que «a única competição possível entre os discípulos do Senhor é a de verificar quem é capaz de oferecer o amor maior» [João Paulo II, Homilia, 27 de setembro de 2001Insegnamenti, XXIV/2 (2001), 478].

Na primeira leitura, o profeta Isaías recordou-nos que o espírito do Senhor repousa sobre quem leva a boa-nova aos miseráveis, cura as chagas dos corações despedaçados e consola os aflitos (cf. 61, 1-2). Deus habita no coração de quem ama; Deus habita onde se ama, especialmente onde se cuida, com coragem e compaixão, dos frágeis e dos pobres. Há tanta necessidade disto: há necessidade de cristãos que não se deixem abater pelas fadigas nem desanimem com as adversidades, mas estejam disponíveis e abertos, prontos a servir; há necessidade de homens de boa vontade que efetivamente, e não apenas em palavras, ajudem os irmãos e as irmãs em dificuldade; há necessidade de sociedades mais justas, onde cada um possa gozar de vida digna a começar por um trabalho justamente remunerado.

Entretanto poderíamos questionar-nos: Como é possível tornar-se misericordioso, com todos os defeitos e misérias que cada um vê dentro de si e ao seu redor? Gostaria aqui de me inspirar num exemplo concreto, num grande arauto da misericórdia divina, que propus à atenção de todos ao incluí-lo entre os Doutores da Igreja universal: São Gregório de Narek, palavra e voz da Arménia. É difícil encontrar alguém como ele, capaz de medir as misérias abissais que se podem esconder no coração do ser humano. Mas ele sempre colocou em diálogo as misérias humanas e a misericórdia de Deus, elevando uma ardente súplica feita de lágrimas e confiança no Senhor, «dador dos dons, a bondade por natureza (...), voz de consolação, anúncio de conforto, impulso de alegria, (...) ternura incomparável, misericórdia transbordante, (...) beijo de salvação» (Livro das lamentações, 3,1), na certeza de que «jamais é ofuscada pelas trevas da ira a luz da [sua] misericórdia» (ibid., 16, 1). Gregório de Narek é um mestre de vida, porque nos ensina que é importante, em primeiro lugar, reconhecermo-nos necessitados de misericórdia e depois, perante as misérias e as feridas que individuarmos, não nos fecharmos em nós mesmos mas abrir-nos, com sinceridade e confiança, ao Senhor, «Deus vizinho, ternura de Bondade» (ibid., 17, 2), «cheio de amor pelo homem, (...) fogo que queima o restolho do pecado» (ibid., 16, 2).

Por fim gostaria de invocar, com as suas palavras, a misericórdia divina e o dom de nunca nos cansarmos de amar: Espírito Santo, «poderoso protetor, intercessor e pacificador, nós Vos dirigimos as nossas súplicas (...). Concedei-nos a graça de nos estimularmos à caridade e às boas obras (...). Espírito de doçura, de compaixão, de amor pelo ser humano e de misericórdia, (...) Vós que nada mais sois senão misericórdia, (...) tende piedade de nós, Senhor nosso Deus, segundo a vossa grande misericórdia» (Hino de Pentecostes).

O Evangelho do dia 25 de junho de 2016

Tendo entrado em Cafarnaum, aproximou-se d'Ele um centurião, e fez-Lhe uma súplica, dizendo: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre muito». Jesus disse-lhe: «Eu irei e o curarei». Mas o centurião, respondeu: «Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; diz, porém, uma só palavra, e o meu servo será curado. Pois também eu sou um homem sujeito a outro, mas tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: “Vai”, e ele vai; e a outro: “Vem”, e ele vem; e ao meu servo: “Faz isto”, e ele o faz». Jesus, ouvindo estas palavras, admirou-Se, e disse para os que O seguiam: «Em verdade vos digo: Não achei fé tão grande em Israel. Digo-vos, pois, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaac e Jacob no Reino dos Céus, enquanto que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá pranto e ranger de dentes». Então disse Jesus ao centurião: «Vai, seja feito conforme tu creste». E naquela mesma hora ficou curado o servo. Tendo chegado Jesus a casa de Pedro, viu que a sogra dele estava de cama com febre; e tomou-a pela mão, e a febre deixou-a, e ela levantou-se e pôs-se a servi-los. Pela tarde apresentaram-se muitos possessos do demónio, e Ele com a Sua palavra expulsou os espíritos e curou todos os enfermos; cumprindo-se deste modo o que foi anunciado pelo profeta Isaías, quando diz: “Ele mesmo tomou as nossas fraquezas e carregou com as nossas enfermidades”.

Mt 8, 5-17

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Brevíssimo comentário ao Evangelho de hoje ...

Demos graças ao Senhor por não termos a necessidade de nos interrogar quem viria a ser João conforme nos narra o Evangelho de hoje (Lc 1, 57-66.80) pois o próprio Senhor nos deixou narrado por Mateus que «entre os nascidos de mulher não veio ao mundo outro maior que João Batista» (11,11).

Louvado seja Deus Nosso Senhor pelo nascimento do filho de Isabel e Zacarias!

O Evangelho do dia 24 de junho de 2016

Completou-se para Isabel o tempo de dar à luz e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes ouviram falar da graça que o Senhor lhe tinha feito e congratulavam-se com ela. Aconteceu que, ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e chamavam-lhe Zacarias, do nome do pai. Interveio, porém, sua mãe e disse: «Não; mas será chamado João». Disseram-lhe: «Ninguém há na tua família que tenha este nome». E perguntavam por acenos ao pai como queria que se chamasse. Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu assim: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. E logo se abriu a sua boca, soltou-se a lingua e falava bendizendo a Deus. O temor se apoderou de todos os seus vizinhos, e divulgaram-se todas estas maravilhas por todas as montanhas da Judeia. Todos os que as ouviram as ponderavam no seu coração, dizendo: «Quem virá a ser este menino?». Porque a mão do Senhor estava com ele. Ora o menino crescia e se fortificava no espírito. E habitou nos desertos até ao dia da sua manifestação a Israel.

Lc 1, 57-66.80

O Evangelho do dia 23 de junho de 2016

«Nem todo o que Me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos Céus, mas só o que faz a vontade de Meu Pai que está nos céus. Muitos Me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizámos nós em Teu nome, e em Teu nome expulsámos os demónios, e em Teu nome fizemos muitos milagres?”. E então Eu lhes direi bem alto: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade”. «Todo aquele, pois, que ouve estas Minhas palavras e as observa será semelhante ao homem prudente que edificou a sua casa sobre rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram e investiram os ventos contra aquela casa, mas ela não caiu, porque estava fundada sobre rocha. Todo aquele que ouve estas Minhas palavras e não as pratica será semelhante a um homem insensato que edificou a sua casa sobre areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram e investiram os ventos contra aquela casa, e ela caiu, e foi grande a sua ruína». Quando Jesus acabou estes discursos, estavam as multidões admiradas com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem tinha autoridade, e não como os seus escribas.

Mt 7, 21-29

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Audiência geral na Praça de S. Pedro (resumo)

Locutor«Senhor, se quiseres, podes purificar-me!»: assim falou a Jesus um leproso; um leproso que não se resignava com a sua doença, nem com as normas sociais que faziam dele um excluído: devia manter-se separado, longe de todos. Este homem, porém, viola aquelas normas, entrando na cidade e aproximando-se de Jesus. Na sua súplica, o leproso mostra-se certo de que Jesus tem poder para curá-lo; tudo depende da vontade d’Ele. Profundamente impressionado com a fé daquele homem, o Senhor toca-o e diz-lhe: «Quero, fica purificado!» Quantas vezes encontramos um pobre que se aproxima de nós, conseguimos sentir compaixão e até dar-lhe uma esmola, mas habitualmente não tocamos a sua mão. Esquecemo-nos de que aquele é o corpo de Cristo! Jesus ensina-nos a não ter medo de tocar o pobre e o marginalizado, porque naquela pessoa está Ele próprio. Creio eu nisto ou não? Sim; mas… E começam as desculpas para não nos envolvermos. Tocar o pobre pode purificar-nos da hipocrisia e levar-nos a preocupar-nos com a sua condição. Mas pensemos em nós, nas nossas misérias… com sinceridade. Quantas vezes as cobrimos com a hipocrisia das «boas maneiras». É precisamente então que é preciso estar a sós, ajoelharmo-nos diante de Deus e rezar: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!»

Santo Padre
Cari amici di lingua portoghese, che oggi prendete parte a quest’Incontro, grazie per la vostra presenza e soprattutto per le vostre preghiere! Saluto tutti voi, in particolare i membri della Comunità brasiliana Doce Mãe de Deus e il gruppo di Escuteiros di Leiria, incoraggiandovi a scommettere sui grandi ideali di servizio, che allargano il cuore e rendono fecondi i vostri talenti. Su di voi e sulle vostre famiglie scenda la Benedizione del Signore.

LocutorQueridos amigos de língua portuguesa, que hoje tomais parte neste Encontro, obrigado pela vossa presença e sobretudo pelas vossas orações! A todos saúdo, especialmente aos membros da Comunidade brasileira Doce Mãe de Deus e ao grupo de Escuteiros de Leiria, encorajando-vos a apostar em ideais grandes de serviço, que engrandecem o coração e tornam fecundos os vossos talentos. Sobre vós e vossas famílias desça a Bênção do Senhor!