São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de S. Mateus, n°38, 1
«Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos.» Como? Regozijar-Se-á com a perda daqueles que não acreditam n'Ele? Nada disso: são admiráveis os desígnios do Senhor para a salvação dos homens! Quando eles se opõem à verdade, e se recusam a recebê-la, Deus nunca os contraria, deixa-os na sua vontade. A perdição em que caem leva-os a encontrar o caminho; entrando em si mesmos, procuram com ardor a graça da chamada à fé que num primeiro momento haviam desprezado. Quanto aos que continuaram fiéis, mais forte ainda se revela, então, o seu ardor. Cristo regozija-Se, portanto, por estas coisas serem reveladas a alguns, mas atormenta-Se por ficarem escondidas a outros; percebe-se bem que é assim quando, ao aproximar-Se da cidade, Ele chora sobre ela (Lc 19,41). No mesmo espírito, escreve São Paulo: «Demos graças a Deus: éreis escravos do pecado, mas obedecestes de coração ao ensino que vos foi transmitido como norma de vida» (Rm 6,17).
A que sábios está Jesus a referir-Se? Aos escribas e aos fariseus. Diz isto para encorajar os discípulos, mostrando-lhes os privilégios de foram julgados dignos; os simples pescadores receberam as luzes que os sábios e os entendidos desdenharam. Sábios, estes são-no só de nome; crêem-se sábios mas não passam de falsos eruditos. É por isso que Cristo não diz: «Revelaste-as aos insensatos» mas «aos pequeninos», isto é, a pessoas simples e sem argúcia. [...] Ensina-nos assim a renunciar à loucura das grandezas e a procurar a simplicidade. São Paulo vai mais longe: «Se algum de entre vós se julga sábio à maneira deste mundo, torne-se louco para ser sábio» (1Co 3,18).