terça-feira, 26 de maio de 2015

A natureza é sábia, democracia limitada

Não sou amigo de gatos. Quando miúdo divertia-me a metê-los em barris de água da chuva para os ver saltar como uma mola e fugir como uma seta. Mas da última vez que estive em Goa, um gato deixou-me intranquilo e pensativo, trazendo à mente um fluxo interminável de ideias e imagens.

A gata-mãe tinha uma cria de 2 meses, que foi dada a uma pessoa amiga. A mãe desatou a miar sem cessar, procurando o filhote. Com um miar lancinante e contínuo, nada a parava e a lembrança do filho não a largava.

Para a calar ou distrair deram-lhe comida; nada comeu, nada! E apenas retirou um peixinho, agarrando-o com os dentes e continuou a miar mais forte, como na ânsia de dá-lo ao filhote. Ao observar esta cena, comovi-me e ainda sugeri que a cria voltasse para junto da mãe ou fosse ela para junto do filhote…

Impressionou-me esta cena de angústia e sofrimento pelo filho desaparecido, que procurava sem parar, sem se cansar, sem comer. Veio-me à mente um filme Amazing Grace, uma Graça espantosa, sobre o fim da escravatura no Reino Unido. E desfilaram na imaginação, acompanhados do miar suplicante, uma série infinda de factos tenebrosos:

Talvez 16 milhões de escravos, indefesos, apanhados numa cilada, organizada pelos senhores anafados, locais, sem escrúpulos nem sentimentos, desumanizados com o dinheiro ganho com o tráfico dos seus conterrâneos, tráfico intensamente alimentado pelos compradores estrangeiros, em busca de ‘robots’ humanos, de mão-de-obra. Os estrangeiros, que lá foram para levar a ‘sua civilização’, superior…

16 milhões de mães inconsoláveis, à procura do filho que não deixara rasto; que dariam tudo para o voltar a ver. Será que o branco civilizado o raptou?

16 milhões de famílias desfeitas, perdendo todo o interesse pela vida, porque quem muito amavam desapareceu. Onde estará? Nalguma reserva à espera de encher o barco para terras da América? Poderá ser libertado? Como, se só branco civilizado tem armas de fogo… mortíferas?

…Toda a organização social africana desmoronada, em completo desabamento, com o desaparecer de pessoas valiosas e fortes, muitos com capacidades de chefia que viriam a dar unidade e coesão à sociedade!

De cada barco com escravos, transportados em condições horrorosas, como gado, boa parte morria pelo caminho, com disenterias e outras doenças não tratadas, chegando menos de um terço ao destino.

Porque pensavam os colonizadores que pessoas de pele escura eram seres sem alma, inferiores, quase animais? Eram eles tão ignorantes? De facto, quem são os marinheiros/colonizadores ingleses? Muitos, piratas, que roubavam e matavam e, por isso, eram feitos ‘sirs’. Gananciosos, em busca de riqueza a qualquer preço.

É precisa ‘mão-de-obra’ para trabalhar em plantações de algodão e cana-de-açúcar, de tabaco e café, nas minas das Américas e da África do Sul? Fácil: aprova-se uma lei – feita em Londres, ou qualquer capital europeia –, a tornar legal a escravatura, votando, por maioria, que os não-brancos são animais, como em muitos documentos dos colonizadores ingleses, que apresentam os indianos com cabeça de cão!…. Não custa nada votar e dá fabulosos lucros!

É a mesma atitude de hoje: legaliza-se o aborto, por voto da maioria, fazendo convencer que ‘aquilo’ que se esquarteja não é vida humana. Porque assim convém, para exterminar vidas indefesas, sem que ‘pese’ na consciência.

A natureza, os gatos, dão soberbas lições de vida. Quando não se quer entender surgem, sem saber donde e por vezes por vias democráticas, os hitlers, stalins, maos, pol-pots, etc. que saltam para o topo da governação, aterrorizando e liquidando vidas inocentes aos milhões.

EUGÉNIO VIASSA MONTEIRO
Professor da AESE e Dirigente da AAPI

Deixar tudo para O seguir

Tomás de Celano (c. 1190-v. 1260), biógrafo de São Francisco e de Santa Clara
Vida de Santa Clara, §§ 25-28 

Havia já quarenta anos que Clara, segundo a comparação utilizada por São Paulo (1Cor9, 24), corria no estádio da grande pobreza. Ela aproximava-se da meta da sua vocação celeste e da recompensa prometida ao vencedor. [...] A Divina Providência apressava-Se a cumprir o que havia previsto para Clara: Cristo quer introduzir a pobrezinha no Seu palácio real no termo da sua peregrinação. Quanto a ela, aspirava com todo o arrebatamento do seu desejo [...] contemplar, reinando no alto em toda a Sua glória, o Cristo que imitara na Terra na sua pobreza. [...]

Todas as suas filhas estavam reunidas em torno do leito da mãe. [...] Dirigindo-se então a si mesma, Clara disse à sua alma: «Parte com toda a segurança, pois tens um bom guia para o caminho. Parte, pois Aquele que te criou também te santificou; Ele sempre te protegeu e amou com um amor terno, como uma mãe ama o seu filho. Abençoado sejas, Senhor, Tu que me criaste!» Uma irmã perguntou-lhe a quem se dirigia ela. Clara respondeu: «À minha alma abençoada». O seu guia para o caminho não estava longe. Com efeito, voltando-se para uma das suas filhas, perguntou-lhe: «Estás a ver o Rei de glória que eu entrevejo?» [...]

Bendita seja a sua saída deste vale de misérias, uma saída que foi para ela a entrada na vida bem-aventurada! Em recompensa dos seus jejuns neste mundo, conhece agora a alegria que reina à mesa dos santos; em troca dos andrajos e das cinzas, entrou na posse da beatitude do Reino dos Céus onde está vestida com as vestes da glória eterna.

O Evangelho do dia 26 de maio de 2015

Pedro começou a dizer-Lhe: «Eis que deixámos tudo e Te seguimos». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Ninguém há que tenha deixado a casa, os irmãos, as irmãs, o pai, a mãe, os filhos, ou as terras, por causa de Mim e do Evangelho, que não receba o cêntuplo, mesmo nesta vida, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, e terras, juntamente com as perseguições, e no tempo futuro a vida eterna. Porém, muitos dos primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros». 

Mc 10, 28-31