sábado, 23 de maio de 2015

«Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco»

Santo Ireneu de Lião (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, livro III, 17, 2

Depois de o Senhor ter dado aos Seus discípulos o poder de fazer renascer os homens para Deus (Jo 3,3 ss.), disse-lhes: «Ide, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt28,19). Com efeito, Deus havia prometido pelos Profetas que nos últimos tempos derramaria o Seu Espírito sobre os Seus servos e servas, para que recebessem o dom da profecia (Jl 3,1). [...] Assim fez Nosso Senhor com a Samaritana, a quem prometeu dar «água viva» para que nunca mais tivesse sede nem se visse obrigada a tirar com esforço água do poço, mas que nela se tornasse «fonte de água que dá a vida eterna» (Jo 4,10-14). Trata-se da mesma água que o próprio Senhor recebeu de Deus e que, por seu turno, o Senhor dá a todos os que permanecerem n'Ele, ao enviar-lhes o Espírito Santo sobre a terra inteira. [...]

Gedeão havia profetizado que por sobre toda a terra se espalharia o orvalho, ou seja, o Espírito de Deus (Jz 6,39). Foi precisamente este Espírito que desceu sobre o Senhor como «Espírito de sabedoria e de enten¬dimento, espírito de conselho e de forta¬leza, espírito de ciência e de piedade, Espírito de temor de Deus» (Is 11,2) e que, por sua vez, o Senhor deu à Igreja, ao enviar do alto dos Céus o Paráclito sobre toda a terra, de onde também Satanás fora precipitado como o relâmpago, segundo a palavra do Senhor (Lc10,18). É por isso que nos é necessário esse orvalho de Deus, para que não sejamos tornados estéreis nem consumidos pelo fogo e para que tenhamos também um Advogado onde temos um Acusador (Ap 12,10).

Com efeito, o Senhor encomendou ao Espírito Santo o cuidado da Sua criatura, daquela humanidade que caíra nas mãos dos ladrões e a quem Ele, cheio de compaixão, vendou as feridas, entregando dois denários reais (Lc10, 30 ss.) para que nós, recebendo pelo Espírito a «efígie e a inscrição» (Lc20,23) do Pai e do Filho, façamos frutificar esse denário que nos foi confiado e o restituamos com bons rendimentos ao Senhor (Mt 25,14 ss.)

O Evangelho de Domingo dia 24 de maio de 2015

Quando, porém, vier o Paráclito, que Eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio. Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não as podeis compreender agora. Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, Ele vos guiará no caminho da verdade total, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é Meu e vo-lo anunciará. Tudo quanto o Pai tem é Meu. Por isso Eu vos disse que Ele receberá do que é Meu e vo-lo anunciará.

Jo 15, 26-27.16, 12-15

Arrogância e vaidade ...

«A arrogância de querer fazer de Deus um objecto e de Lhe aplicar as nossas condições laboratoriais, não é capaz de O encontrar. Por si mesmo, isso pressupõe que nós negamos Deus enquanto Deus, na medida em que nos colocamos acima d’Ele. Também porque, assim, perdemos a dimensão total do amor e da escuta interior, ao ponto de não reconhecermos como verdadeiro nada que não seja experimentável e que possamos manipular».

(Joseph Ratzinger - A Caminho de Jesus Cristo)

O vaidoso é egocêntrico, o arrogante também o é, mas sobretudo é opressor, pois pela sua atitude visa condicionar terceiros. O Senhor nos livre de o ser e nos faça sempre humildes e mansos de coração.

JPR

Dois apóstolos, duas vidas, uma Igreja

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja

A Igreja conhece duas vidas louvadas e recomendadas por Deus. Uma é na fé, a outra na visão; uma na peregrinação do tempo, a outra na morada da eternidade; uma no trabalho, a outra no repouso; uma no caminho, a outra na pátria; uma no esforço da acção, a outra na recompensa da contemplação. [...] A primeira é simbolizada pelo apóstolo Pedro, a segunda por João. [...] E não são só eles, mas toda a Igreja, Esposa de Cristo, que o realiza, ela que há-de ser libertada das provações deste mundo e permanecer na beatitude eterna.

Pedro e João simbolizaram, cada um, uma destas duas vidas. Mas ambos passaram juntos a primeira, no tempo, pela fé; e juntos desfrutarão a segunda, na eternidade, pela visão. Foi portanto para todos os santos unidos inseparavelmente ao corpo de Cristo, e a fim de os conduzir no meio das tempestades desta vida, que Pedro, o primeiro dos apóstolos, recebeu as chaves do reino dos céus, com o poder de reter ou absolver os pecados (Mt 16, 19). Foi também por todos os santos, e a fim de lhes dar acesso à profundidade serena da sua vida mais íntima, que Cristo deixou João repousar no Seu peito (Jo 13, 23.25). Pois o poder de reter ou absolver os pecados não pertence somente a Pedro, mas a toda a Igreja; e João não é o único a beber na fonte do peito do Senhor, o Verbo que desde o início é Deus junto de Deus (Jo 7, 38;1, 1), [...] mas o próprio Senhor dedica o Seu Evangelho a todos os homens do mundo inteiro, para que cada um o beba consoante a sua capacidade.

O Evangelho do dia 23 de maio de 2015

Pedro, tendo-Se voltado, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava, aquele mesmo que na ceia estivera reclinado sobre o Seu peito e Lhe perguntara: «Senhor, quem é que Te vai entregar?». Pedro, vendo-o, disse a Jesus: «Senhor, e deste, que será?» Jesus disse-lhe: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso? Tu, segue-Me». Correu então entre os irmãos que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse a Pedro: «Não morrerá», mas: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso?». Este é aquele discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Muitas outras coisas fez Jesus. Se se escrevessem uma por uma, creio que nem todo o mundo poderia conter os livros que seria preciso escrever.

Jo 21, 20-25