domingo, 26 de abril de 2015
«Pecadores sim, corruptos não»
Já é a terceira vez em poucos anos. Nos momentos menos inspirados da galhofa política, o Governo francês entretém-se a brincar com o Vaticano.
Nicolas Sarkozy escolheu para embaixador no Vaticano um divorciado, recasado. Fartou-se de insistir, até se convencer de que o Papa nunca o aceitaria. Escolheu em alternativa um homem que vivia com o seu marido (devo pôr aspas?). Fartou-se outra vez de esperar… Até que, finalmente, compreendeu que era melhor seguir uma estratégia diferente.
Agora, o Governo de François Hollande volta ao jogo, nomeando um homossexual para embaixador junto do Papa. Os jornais franceses noticiaram que o núncio em Paris teve uma conversa pessoal com o indigitado, pedindo-lhe para desistir. Passaram 4 longos meses e o impasse já é escândalo nos jornais de todo o mundo. Inclusivamente, alguns jornalistas asseguram que o próprio Papa Francisco recebeu o nomeado, num encontro muito discreto, para lhe fazer ver a situação. Perante as críticas, o Governo francês louva o currículo do indigitado e informa que ele é muito recatado acerca das suas tendências. O facto é que o Papa terá diligenciado aquele contacto reservado com ele, mas não recebe as suas cartas credenciais.
Não se sabe quanto tempo é que o Governo francês precisa para resolver o impasse, nem sabemos em que medida aprendeu alguma coisa. Com três episódios em poucos anos, tem material abundante para estudo e revisão de matéria.
O Papa Francisco tem sido muito claro a explicar a diferença entre «pecadores e corruptos», entre aquele mal que devemos ajudar a superar e aquele outro que, mantendo o respeito por todos, não podemos aceitar.
Fraquezas, todos temos. Por isso, em vez de nos acusarmos mutuamente, devemos apoiar-nos. Às vezes, a amizade pode consistir em elogiar, outras vezes requer a coragem de dizer uma verdade incómoda. Em qualquer caso, os outros têm direito a ser estimados, com as suas qualidades e os seus defeitos. Deus não nos pede para os julgar, mas para os amar e, se for preciso, para perdoar. Deus e os outros têm muito que nos perdoar… oxalá não nos falte a humildade de o reconhecer.
Ser corruptos, como diz o Papa Francisco, é outra coisa. É organizar-se para fazer o mal, gostar de estar errados e trabalhar para isso. Um ladrão pode ser um pecador que sucumbe ao vício, mas gostaria de não ser fraco. Um explorador da injustiça, com regulamentos em dia e contabilidade organizada, está mais próximo da figura do corrupto. Analogamente, um marido infiel ou um sujeito violento podem ser aquele tipo de pecadores que o Papa não quer julgar, mas compreender e ajudar. O dono de uma clínica de aborto, ou um vendedor de armas ou de drogas, correspondem provavelmente ao conceito de corrupto, que o Papa classifica como uma degradação mais terrível.
Jesus também fazia esta distinção. Chegou a dizer que as prostitutas iam chegar primeiro ao Céu (Mt 21, 31) e há casos desses, bem documentados no Evangelho.
Por outro lado, não poupou uns certos justos, aparentemente certinhos, mas contentes com o mal. «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade» (Mt 23, 23).
O nosso Papa Francisco tem sido exemplar a abrir-nos os olhos e o coração para acolher todos os que precisam de apoio. Instituiu mesmo um Ano de Misericórdia, para nos reconciliarmos uns com os outros e sobretudo com Deus, em particular por meio do Sacramento da Confissão. Ao mesmo tempo, é firme. Não admite ligeirezas a brincar com o mal. Todos recordam aquele «quem sou eu para julgar?» e a continuação dessa frase: «O problema não é ter essa orientação [homossexual]. Devemos ser irmãos. O problema é fazer lóbi por essa orientação, ou lóbis de avarentos, lóbis políticos, lóbis maçons, tantos lóbis. Esse é o pior problema». De vez em quando, o Papa recorda o Inferno e a realidade do Demónio, para percebermos aonde vai parar a reinação.
José Maria C.S. André
«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», «ABC Portuguese Canadian Newspaper», 26-IV-2015
N. Spe Deus: este texto ainda não está disponível no ‘Correio dos Açores’ online, tendo-nos sido facultado pelo seu autor. Obrigado!
N. Spe Deus: este texto ainda não está disponível no ‘Correio dos Açores’ online, tendo-nos sido facultado pelo seu autor. Obrigado!
Sentimentos aparentemente contraditórios
Quando o Senhor chama alguém que nos é querido, ficamos humanamente tristes e choramos a sua partida, mas num aparente paradoxo, ao dirigirmo-nos a Ele e sabendo que o mais provável é que tenha sido admitida na Sua casa quem partiu, a nossa fé permite que o coração se alegre, pois sabemos que o Seu Reino só tem coisas boas.
Obrigado Senhor pela Tua infinita misericórdia.
JPR
Deus marginalizado
Onde
está Deus na sociedade contemporânea?
Está muito
marginalizado. Na vida política, parece quase indecente falar de Deus, como se
fosse um ataque à liberdade de quem não crê. O mundo político segue as suas
normas e os
seus caminhos, excluindo Deus como uma realidade que não pertence a esta terra.
O mesmo
acontece no mundo do comércio, da economia e da vida privada. Deus fica à margem.
No entanto, parece-me necessário voltar a descobrir [...] que também a esfera política
e económica têm necessidade de uma responsabilidade moral, de uma responsabilidade
que nasce do coração do homem e que, em última análise, tem a ver com a
presença ou a ausência de Deus. Uma sociedade em que Deus esteja absolutamente
ausente autodestrói-se.
(Cardeal
Joseph Ratzinger em ‘El laicismo está poniendo en peligro la libertad
religiosa’, entrevista a La Reppublica, repr.
por Zenit, 19.11.2004)
«Eu sou o bom pastor; conheço as Minhas ovelhas e as Minhas ovelhas conhecem-Me»
Basílio de Seleuceia (? -c. 468), bispo
Oratio 26
Olhemos para o nosso pastor: Cristo. [...] Ele alegra-Se com as Suas ovelhas que estão perto de Si e vai à procura das que se perderam. Não Lhe fazem medo as montanhas nem as florestas; percorre as ravinas para chegar até à ovelha perdida. Mesmo que a encontre em mau estado, não Se encoleriza mas, tocado pela compaixão, põe-na aos ombros e, com a Sua própria fadiga, cura a ovelha fatigada (cf. Lc 15,4ss). [...]
É com razão que Cristo proclama: Eu Sou o Bom Pastor, «procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei a que se tinha tresmalhado; cuidarei da que está ferida e tratarei da que está doente (Ez 34,16). Eu vi o rebanho dos homens acabrunhado pela doença; vi os meus cordeiros irem para onde moram os demónios; vi o Meu rebanho despedaçado pelos lobos. Vi tudo isto e não foi do alto. Foi por isso que tomei a mão dissecada pelo mal como se tivesse sido mordida por um lobo; libertei aqueles que a febre tinha aprisionado; ensinei a ver aquele que tinha os olhos fechados desde o seio da sua mãe; retirei Lázaro do túmulo onde jazia já há quatro dias (Mc 3,5; 1,31; Jo 9; 11). «Porque Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a vida pelas Suas ovelhas». [...]
Os profetas conheceram este pastor visto que, bem antes da Sua Paixão, já Ele anunciava o que estaria para vir: «Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador» (Is 53,7). Como uma ovelha, o pastor expôs a sua garganta pelas suas ovelhas. [...] Pela Sua morte, remediou a morte; pelo Seu túmulo, esvaziou os túmulos. [...] Os túmulos estão tristes e a prisão está fechada enquanto o pastor, descido da cruz, não vem trazer às Suas ovelhas encarceradas a alegre notícia da libertação. Vemo-Lo nos infernos, onde dá a ordem de libertação (1Pe 3,19); vemo-Lo chamar de novo as Suas ovelhas, chamá-las como as chamou da morada dos mortos para a vida. «O bom pastor dá a vida pelas Suas ovelhas.» É assim que Ele Se propõe ganhar a afeição das Suas ovelhas e aquelas que sabem ouvir a Sua voz amam a Cristo.