segunda-feira, 30 de março de 2015

«Uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço»

São João Paulo II (1920-2005), papa

Exortação apostólica «Vita Consecrata», §§ 104-105

Diversos são aqueles que hoje se interrogam perplexos: Porquê a vida consagrada? Porquê abraçar este género de vida, quando existem tantas urgências [...] às quais se pode responder igualmente sem assumir os compromissos peculiares da vida consagrada? A vida consagrada não será uma espécie de desperdício de energias humanas que podiam ser utilizadas, segundo critérios de eficiência, para um bem maior da humanidade e da Igreja? [...] Sempre existiram interrogações semelhantes, como demonstra eloquentemente o episódio evangélico da unção de Betânia: «Maria, tomando uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume» (Jo 12,3). A Judas que, tomando como pretexto as necessidades dos pobres, se lamentava por tão grande desperdício, Jesus respondeu: «Deixa-a fazer!» (Jo 12,7).

Esta é a resposta, sempre válida, à pergunta que tantos, mesmo de boa fé, colocam acerca da atualidade da vida consagrada: [...] «Deixa-a fazer!» Para aqueles a quem foi concedido o dom de seguir mais de perto o Senhor Jesus, é óbvio que Ele pode e deve ser amado com coração indiviso, que se Lhe pode dedicar a vida toda e não apenas alguns gestos, alguns momentos ou algumas atividades. O perfume de alto preço, derramado como puro ato de amor e, por conseguinte, fora de qualquer consideração utilitária, é sinal de uma superabundância de gratuidade, como a que transparece numa vida gasta a amar e a servir o Senhor, a dedicar-se à Sua Pessoa e ao Seu Corpo Místico. Mas é desta vida derramada sem reservas que se difunde um perfume que enche toda a casa. A casa de Deus, a Igreja, é adornada e enriquecida hoje, não menos que outrora, pela presença da vida consagrada. [...] A vida consagrada é importante precisamente por ser superabundância de gratuidade e de amor, o que se torna ainda mais verdadeiro num mundo que se arrisca a ficar sufocado na vertigem do efémero.

Brevíssimo comentário ao Evangelho de hoje

Imitemos a mulher de que nos fala o Evangelho de hoje (Jo 12, 1-11) oferecendo ao Senhor hoje e sempre o nosso melhor perfume, na oração, na devoção, na participação na vida da Igreja, durante as celebrações e nos Sacrários aonde o acolhemos, pois ainda que ele esteja sempre connosco merece todo o nosso amor e cuidado.

Senhor ajuda-nos a viver permanentemente apaixonados por Ti!

A casa encheu-se com a fragrância do perfume

Bento XVI
Homilia de 02/04/2007 por ocasião do 2º aniversário do desaparecimento de João Paulo II 

A narração evangélica confere um clima pascal intenso para a nossa meditação: a ceia de Betânia é prelúdio para a morte de Jesus, no sinal da unção que Maria fez em homenagem ao Mestre e que Ele aceitou em previsão da Sua sepultura (cf. Jo 12, 7). Mas é também anúncio da ressurreição, mediante a própria presença do redivivo Lázaro, testemunho eloquente do poder de Cristo sobre a morte. Além da plenitude do significado pascal, a narração da ceia de Betânia tem em si uma ressonância pungente, repleta de afecto e devoção; um misto de alegria e de sofrimento [...].

Para nós, reunidos em oração na recordação do meu venerado Predecessor, o gesto da unção de Maria de Betânia é rico de ecos e de sugestões espirituais. Evoca o testemunho luminoso que João Paulo II ofereceu de um amor a Cristo sem reservas e sem se poupar. O «perfume» do seu amor «encheu toda a casa» (cf. Jo 12, 3), isto é, toda a Igreja. Sem dúvida, quem beneficiou dele fomos nós que lhe estivemos próximos, e por isto agradecemos a Deus, mas dele puderam gozar também todos os que o conheceram de longe, porque o amor do Papa Wojtyla por Cristo superabundou, poderíamos dizer, em todas as regiões do mundo, porque era muito forte e intenso. A estima, o respeito e o afecto que crentes e não-crentes lhe manifestaram por ocasião da sua morte não é porventura um testemunho eloquente? [...] O intenso e frutuoso ministério pastoral, e ainda mais o calvário da agonia e a morte serena do nosso amado Papa, fizeram conhecer aos homens do nosso tempo que Jesus Cristo era verdadeiramente o seu «tudo». [...]

«E a casa encheu-se com o cheiro do perfume» (Jo 12, 3). Voltemos a esta anotação, tão sugestiva do evangelista João. O perfume da fé, da esperança e da caridade do Papa encheu a sua casa, encheu a Praça de São Pedro, encheu a Igreja e propagou-se no mundo inteiro. O que aconteceu depois da sua morte foi, para quem crê, efeito daquele «perfume» que alcançou todos, próximos e distantes, e os atraiu para um homem que Deus tinha progressivamente conformado com o Seu Cristo. [...] Que o «Totus tuus» do amado Pontífice nos estimule a segui-lo pelo caminho da doação de nós próprios a Cristo por intercessão de Maria.

O Evangelho do dia 30 de março de 2015

Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde se encontrava Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado. Ofereceram-Lhe lá uma ceia. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele. Então, Maria tomou uma libra de perfume feito de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e Os enxugou com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume. Judas Iscariotes, um dos Seus discípulos, aquele que O havia de entregar, disse: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários para se dar aos pobres?». Disse isto, não porque se importasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que nela se deitava. Mas Jesus respondeu: «Deixa-a; ela reservou este perfume para o dia da Minha sepultura; porque pobres sempre os tereis convosco, mas a Mim nem sempre Me tereis». Uma grande multidão de judeus soube que Jesus estava ali e foi lá, não somente por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, a quem Ele tinha ressuscitado dos mortos. Os príncipes dos sacerdotes deliberaram então matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus.

Jo 12, 1-11