sábado, 21 de março de 2015
«Se o grão de trigo morrer, dá muito fruto»
São Cirilo de Alexandria (380-444), Bispo, Doutor da Igreja
Cristo, primícias da nova criação [...], depois de ter vencido a morte, ressuscitou e sobe para o Pai como oferenda magnífica e esplendorosa, como as primícias do género humano, renovado e incorruptível. [...] Podemos considerá-Lo o símbolo do feixe das primícias da colheita que o Senhor exigiu a Israel que oferecesse no Templo (Lev 23, 9). O que representa este sinal?
Podemos comparar o género humano às espigas de um campo, que nascem da terra, ficam à espera de crescer e, depois de amadurecerem, são apanhadas pela morte. Era por isso que Cristo dizia aos Seus discípulos: «Não dizeis vós que, dentro de quatro meses, chegará o tempo da ceifa? Pois bem, Eu digo-vos: erguei os olhos e vede. Os campos estão brancos para a ceifa. O ceifeiro já recebe o salário e recolhe o fruto para a vida eterna» (Jo 4, 35-36). Ora, Cristo nasceu entre nós, nasceu da Virgem Santa como as espigas brotam da terra. Aliás, não hesita em dizer de Si próprio que é o grão de trigo: «Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.» Deste modo, ofereceu-Se por nós ao Pai, à maneira de um feixe e como primícias da terra.
Porque a espiga de trigo, como aliás nós próprios, não pode ser considerada isoladamente. Vemo-la num feixe, constituído por numerosas espigas de um mesmo braçado. Cristo Jesus é único, mas aparece-nos como um feixe, e constitui efectivamente uma espécie de braçado, no sentido em que contém em Si todos os crentes, em união espiritual, evidentemente. Se assim não fosse, como poderia São Paulo escrever: «Com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar lá nos céus» (Ef 2, 6)? Com efeito, uma vez que Se fez um de nós, nós formamos com Ele um mesmo corpo (Ef 3, 6). [...] Aliás, é Ele quem dirige estas palavras a Seu Pai: «Que todos sejam um como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti» (Jo 17, 21). O Senhor constitui, pois, as primícias da humanidade, que está destinada a ser armazenada nos celeiros do céu.
O Evangelho de Domingo dia 22 de março de 2015
Ora havia lá alguns gregos, entre aqueles que tinham ido adorar a Deus durante a festa. Estes aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, desejamos ver Jesus» Filipe foi dizê-lo a André; André e Filipe disseram-no a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do Homem será glorificado. Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quer servir, siga-Me e, onde Eu estou, estará ali também o que Me serve. Se alguém Me servir, Meu Pai o honrará. «Agora a Minha alma, está turbada. E que direi Eu? Pai, livra-Me desta hora? Mas é para isso que cheguei a esta hora. Pai, glorifica o Teu nome». Então veio do céu esta voz: «Eu O glorifiquei e O glorificarei novamente». Ora o povo, que ali estava e ouvira, dizia que tinha sido um trovão. Outros diziam: «Um anjo Lhe falou». Jesus respondeu: «Esta voz não veio por causa de Mim, mas por vossa causa. Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo. E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos os homens a Mim». Dizia isto para designar de que morte havia de morrer.
Jo 12, 20-33
«Queremos ver Jesus»
Proclo de Constantinopla (c. 390-446), bispo
Sermão para o Domingo de Ramos; PG 65, 772
Em Jerusalém, a multidão gritava: «Hosana nas alturas. Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel» (cf Mc 11,10). E é acertado que se diga «Aquele que vem» porque Ele vem incessantemente, nunca nos falta: «O Senhor está perto de todos os que O invocam com sinceridade. Bendito seja o que vem em nome do Senhor» (Sl 144,18; 117,26). O Rei doce e pacífico está à nossa porta. [...] Os soldados na terra, os anjos nos céus, os mortais e os imortais [...] gritavam: «Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel». Mas os fariseus punham-se à parte (Jo 12,19) e os sacerdotes estavam ultrajados. As vozes que cantavam louvores a Deus ecoavam sem cessar: a criação estava feliz. [...]
Foi por isso que, naquele dia, alguns gregos, levados por aquela magnífica aclamação a honrar Deus com fervor, se aproximaram de um apóstolo chamado Filipe e lhe disseram: «Queremos ver Jesus». Reparai: é toda a multidão que desempenha o papel de arauto e incita os gregos a converterem-se. De imediato, dois deles dirigem-se aos apóstolos de Cristo: «Queremos ver Jesus». Estes pagãos imitam Zaqueu; não sobem para um sicómoro [para ver jesus] mas apressam-se a elevar-se no conhecimento de Deus (Lc 19,3). «Queremos ver Jesus»: não tanto para contemplar o Seu rosto, mas para carregar a Sua cruz. Porque Jesus, ao ver o desejo deles, anunciou sem rodeios aos que ali se encontravam: «Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem», chamando glória à conversão dos pagãos.
E deu à cruz o nome de «glória». Porque desde esse dia até hoje a cruz é glorificada; com efeito, é a cruz que ainda hoje consagra os reis, adorna os padres, protege as virgens, dá força aos ascecetas, reforça os elos dos esposos, dá ânimo às viúvas. É a cruz que fecunda a Igreja, ilumina os povos, guarda o deserto, abre o paraíso.
O Evangelho do dia 21 de março de 2015
Entretanto, alguns daquela multidão, tendo ouvido estas palavras, diziam: «Este é verdadeiramente o profeta». Outros diziam: «Este é o Messias». Alguns, porém, diziam: «Porventura é da Galileia que há-de vir o Messias? Não diz a Escritura: “Que o Messias há-de vir da descendência de David e da aldeia de Belém, donde era David”?». Houve, portanto, desacordo entre o povo acerca d'Ele. Alguns deles queriam prendê-l'O, mas nenhum pôs as mãos sobre Ele. Voltaram, pois, os guardas para os príncipes dos sacerdotes e fariseus, que lhes perguntaram: «Porque não O trouxestes preso?». Os guardas responderam: «Nunca homem algum falou como Este homem». Os fariseus replicaram: «Porventura, também vós fostes seduzidos? Houve, porventura, algum dentre os chefes do povo ou dos fariseus que acreditasse n'Ele? Quanto a esta plebe, que não conhece a Lei, é maldita». Nicodemos, que era um deles, o que tinha ido de noite ter com Jesus, disse-lhes: «A nossa Lei condena, porventura, algum homem antes de o ouvir e antes de se informar sobre o que ele fez?». Responderam: «És tu também galileu? Examina as Escrituras, e verás que da Galileia não sai nenhum profeta». E foi cada um para sua casa.
Jo 7, 40-53