sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

“Para superar a letargia” (brevíssimos excertos conferência D. Gerhard Müller)


«Uma Igreja que apenas girasse em torno dos seus problemas estruturais, seria terrivelmente anacrónica e alheada do mundo, pois no seu ser e missão não poderá ser senão a Igreja de Deus Trinitário, origem e destino de cada homem e de todo o universo.»

«A Igreja Católica é communio ecclesiarum e não uma federação de Igrejas estatais ou uma aliança mundial de comunidades eclesiais religiosamente relacionadas, que respeita por tradição humana ao Bispo de Roma, como presidente honorário. Nação, língua, cultura, não são princípios constitutivos para a igreja, que testifica e realiza a unidade dos povos em Cristo, mas sim meios essenciais, nos quais é exibida toda a riqueza e a plenitude de Cristo nos redimidos.»

«No entanto a Igreja não é uma organização puramente humana, a pergunta sobre a sua fundação sociojurídica através de um Jesus "histórico", é objectivamente inapropriado e resulta anacrónica a partir de uma hermenêutica teológica da revelação histórica. A igreja, pelo contrário, foi fundada como uma comunidade de vida com Jesus, na Sua natureza divina e na Sua relação filial com o Pai, revelando-se historicamente na Sua atuação enquanto homem, pois na sua pessoa foi anunciado o Reino de Deus.»

(D. Gerhard Ludwig Müller – Perfeito da Congregação da Doutrina da Fé in ‘L’Osservatore Romano’ em 2014 com tradução de JPR a partir da edição em língua espanhola AQUI)

Deus é Pai porque nos escolheu e abençoou antes da criação do mundo

Nem sempre é fácil falar hoje de paternidade, disse o Papa. Sobretudo no mundo ocidental, as famílias desagregadas, os compromissos de trabalho sempre mais exigentes, as preocupações e frequentemente a dificuldade de enquadrar as contas familiares, a invasão dos meios de comunicação de massa são alguns dos factores que podem impedir uma relação serena e construtiva entre pais e filhos.

Muitas vezes a comunicação é difícil, falta confiança e a relação com a figura paterna pode-se tornar problemática; e problemático se torna imaginar Deus como um pai, não tendo modelos adequados de referência. Quem teve a experiência de um pai demasiado autoritário e inflexível, ou indiferente e pouco afetuoso, ou até mesmo ausente, não é fácil pensar com serenidade a Deus como Pai e abandonar-se a Ele em confiança.

Mas a revelação bíblica ajuda-nos a compreender esta relação paterna. Deus é Pai porque nos escolheu e abençoou antes da criação do mundo; nos fez realmente seus filhos em Jesus; porque acompanha nossa existência, dando-nos a sua Palavra, os seus ensinamentos a sua graça e o seu Espírito, e porque podemos confiar no seu perdão quando erramos o caminho. Ele é um Pai bom, que não abandona, mas que ampara, ajuda e salva com uma fidelidade que supera infinitamente a dos homens. Ele deu-nos o seu Filho para que sejamos seus filhos e nos oferece o Espírito Santo para que possamos chamá-lo «Abbá, Pai».

(Bento XVI - Audiência geral de 30.01.2013)

«Estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra»

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja 
Sermão 98; CCL 24A, 602


Como diz Cristo, o Reino de Deus é como um grão de mostarda. […] Cristo é o Reino: como um grão de mostarda, foi deitado à terra num jardim, o corpo da Virgem. Cresceu e tornou-Se a árvore da cruz que cobre toda a terra. […] Cristo é o Reino, pois nele reside toda a glória do seu reino. E Cristo é o homem, pois o homem na sua totalidade é renovado nele. Cristo é o grão de mostarda, o instrumento de que Deus Se serve para fazer descer toda a sua grandeza em toda a pequenez do homem. Ele próprio Se tornou todas as coisas, para renovar todos os homens nele. Enquanto homem, Cristo recebeu o grão de mostarda que é o Reino de Deus […]; enquanto Deus, possuía-o desde sempre. Ele deitou a semente à terra no seu jardim. […]

O jardim é esta terra cultivada que se estendeu por todo o mundo, lavrada pela charrua da Boa Nova, encerrada pelos limites da sabedoria; os Apóstolos penaram para arrancar todas as ervas daninhas. Dá gosto contemplar as jovens plantas que são os crentes, os lírios que são as virgens e as rosas que são os mártires: flores que dão constantemente o seu perfume.

Cristo semeou, pois, o grão de mostarda no seu jardim. A semente criou raízes quando Ele prometeu o seu Reino aos patriarcas, germinou com os profetas, cresceu com os Apóstolos e tornou-se a árvore imensa que estende os seus longos ramos sobre a Igreja, e lhe prodiga os seus dons. […] Toma as asas de prata da pomba de que fala o Profeta (Sl 67,14). […] Levanta voo para usufruir de um repouso sem fim, fora do alcance dos laços (Sl 90,3), por entre folhagens magníficas. Sê suficientemente forte para assim levantares voo, e vai habitar em segurança nesta vasta morada.

O Evangelho do dia 30 de janeiro de 2015

Dizia também: «O reino de Deus é como um homem que lança a semente à terra. Dorme e se levanta, noite e dia, e a semente germina e cresce sem ele saber como. Porque a terra por si mesma produz, primeiramente a haste, depois a espiga, e por último a espiga cheia de grãos. E, quando o fruto está maduro, mete logo a foice, porque chegou o tempo da ceifa». Dizia mais: «A que coisa compararemos nós o reino de Deus? Com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda que, quando se semeia no campo, é a menor de todas as sementes que há na terra; mas, depois que é semeado, cresce e torna-se maior que todas as hortaliças, e cria ramos tão grandes que “as aves do céu podem vir abrigar-se à sua sombra”». Assim lhes propunha a palavra com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de compreender. Não lhes falava sem parábolas; porém, em particular explicava tudo aos Seus discípulos.

Mc 4, 26-34