Homilia da Santa Missa no aeroporto de Tacloban debaixo de condições atmosféricas adversas

Que belas palavras de consolação acabámos de ouvir! Uma vez mais foi-nos dito que Jesus Cristo é o Filho de Deus, o nosso Salvador, o nosso Sumo Sacerdote que nos oferece misericórdia, graça e apoio em tudo o que precisamos (cf. Heb 4, 14-16). Cura as nossas feridas, perdoa os nossos pecados e chama-nos para sermos seus discípulos, como fez com São Mateus (cf. Mc 2, 14). Louvemo-Lo pelo seu amor, a sua misericórdia e a sua compaixão. Louvemos o nosso grande Deus! Dou graças ao Senhor Jesus por podermos estar juntos nesta manhã. Vim para estar convosco, nesta cidade que, há catorze meses, foi devastada pelo tufão Yolanda. Trago-vos o amor de um pai, as orações da Igreja inteira, a promessa de que não estais esquecidos enquanto procedeis à reconstrução. Aqui a tempestade mais forte de quantas já registadas no planeta foi vencida pela força mais poderosa do universo: o amor de Deus. Estamos aqui, nesta manhã, para dar testemunho deste amor, do seu poder de transformar morte e destruição em vida e comunidade. A ressurreição de Cristo, que celebramos nesta Missa, é a nossa esperança e uma realidade que experimentamos mesmo agora. E sabemos que a ressurreição só ocorre depois da cruz, aquela cruz que vós carregastes com fé, dignidade e força dada por Deus. Estamos aqui congregados, antes de mais nada, para rezar por aqueles que morreram, por quantos ainda estão desaparecidos e pelos feridos. Elevemos a Deus as almas dos mortos, as nossas mães, os nossos pais, filhos e filhas, família, amigos e vizinhos. Temos confiança de que eles, tendo chegado à presença de Deus, encontraram misericórdia e paz (cf. Heb 4, 16). Mas resta muita tristeza por causa da sua ausência. Para vós que os conhecestes e amastes – e que ainda os amais –, a dor por tê-los perdido é real. Mas, contemplemos o futuro com os olhos da fé. A nossa tristeza é uma semente que um dia desabrochará na alegria que o Senhor prometeu a quantos acreditam nas suas palavras: «Felizes os que choram, porque serão consolados» (Mt 5, 4).

Além disso estamos aqui hoje congregados para dar graças a Deus pelo seu auxílio em tempo de necessidade. Ele foi a nossa força nestes meses verdadeiramente difíceis. Perderam-se tantas vidas, houve tanto sofrimento e destruição. E, no entanto, ainda somos capazes de nos reunir para Lhe agradecer. Sabemos que Deus cuida de nós; sabemos que em Jesus, seu Filho, temos um sumo sacerdote capaz de Se compadecer da nossa dor (cf. Heb 4, 15) e sofrer connosco. A com-paixão de Deus, o seu sofrer juntamente connosco, dá um significado e um valor eternos aos nossos esforços. O vosso desejo de Lhe agradecer por todas as graças e bênçãos, mesmo quando perdestes assim tanto, não é apenas um triunfo da capacidade de recuperação e da força do povo filipino; mas é também um sinal da bondade de Deus, da sua proximidade, da sua ternura, do seu poder salvífico.

Demos graças ao Deus Altíssimo também por tudo o que se fez para ajudar, reconstruir, prestar assistência nestes meses de necessidade sem precedentes. Penso em primeiro lugar naqueles que acolheram e deram guarida ao grande número de famílias deslocadas, aos idosos, à juventude. Como é duro deixar a própria casa e os meios próprios de subsistência! Agradecemos a quantos se ocuparam dos desabrigados, dos órfãos e dos desamparados. Sacerdotes, religiosos e religiosas que deram tudo o que podiam. A quantos de vós deram hospedagem e alimento às pessoas em busca de segurança nas igrejas, conventos, casas paroquiais e continuam a assistir aqueles que estão ainda em dificuldade, eu vos agradeço. Sois uma honra para a Igreja, sois o orgulho da vossa nação. Eu agradeço pessoalmente a cada um de vós, pois tudo o que fizestes pelo último dos irmãos e irmãs de Cristo, foi feito a Ele (cf. Mt 25, 40).

Nesta Missa, queremos também agradecer a Deus pelos bons homens e mulheres que prestaram serviço como operadores de salvamento e socorristas. Agradecemos a Ele pelas inúmeras pessoas de todo o mundo que ofereceram generosamente o seu tempo, dinheiro e bens. Estados, organizações e pessoas individuais de toda a terra colocaram em primeiro lugar os necessitados; trata-se de um exemplo que deveria ser seguido. Peço aos líderes de governo, às agências internacionais, aos benfeitores e às pessoas de boa vontade que não se cansem. Resta ainda tanto por fazer. Embora as primeiras páginas dos noticiários tenham mudado, as necessidades permanecem. A primeira leitura de hoje, tirada da Carta aos Hebreus, incita-nos a permanecer firmes na nossa confissão, a perseverar na fé, a aproximar-nos com confiança do trono da graça de Deus (cf. Heb 4, 16). Estas palavras ganham uma ressonância especial neste lugar: no meio de tanto sofrimento, não cessastes jamais de confessar a vitória da cruz, o triunfo do amor de Deus. Vistes a força deste amor revelada na generosidade de muitíssimas pessoas, em inúmeros pequenos milagres de bondade. Mas constatastes também, nomeadamente na depredação, nas pilhagens e na falta de respostas a este grande drama humano, tantos trágicos sinais do mal, do qual Cristo nos vem salvar. Rezamos para que isto nos leve a uma maior confiança no poder que tem a graça de Deus de vencer o pecado e o egoísmo. Rezamos de modo particular para que cada um se torne cada vez mais sensível ao grito dos nossos irmãos e irmãs necessitados. Rezamos para que nos leve a rejeitar todas as formas de injustiça e corrupção, que, ao roubar aos pobres, envenenam as próprias raízes da sociedade.

Amados irmãos e irmãs, nesta grande provação sentistes de uma maneira especial a graça de Deus, através da presença e amorosa solicitude da Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. É a nossa mãe. Que Ela vos ajude a perseverar na fé e na esperança e a ir ter com quantos estão necessitados. Com São Lorenzo Ruiz, São Pedro Calungsod e todos os Santos, que Ela continue a implorar de Deus a sua misericórdia e amorosa compaixão para este país e para todos os amados filipinos. Amen.

Discurso do Papa lido aos sobreviventes do Yolanda devida à proximidade de um tufão que obrigou ao encurtamento do programa

Queridos irmãos e irmãs!

Saúdo-vos a todos com grande afecto no Senhor. Sinto-me feliz pelo facto de nos podermos encontrar nesta catedral da Transfiguração do Senhor. Esta casa de oração, a par de muitas outras, foi restaurada graças à notável generosidade de tantas pessoas. Ergue-se como sinal eloquente do imenso esforço de reconstrução, que vós, com os vizinhos, empreendestes depois da devastação causada pelo tufão Yolanda. Mas é também um memorial concreto, para todos nós, de que o nosso Deus actua continuamente, mesmo nos desastres e nas tribulações, fazendo novas todas as coisas.

Muitos de vós sofreram enormemente não só pela destruição causada pelo tufão, mas também pela perda de membros da família e amigos. Hoje confiamos à misericórdia de Deus aqueles que morreram e invocamos a sua consolação e a sua paz para aqueles que ainda choram. Recordamos de maneira especial a quantos de nós, anuviados pelo sofrimento, sentem dificuldade em ver o caminho a seguir. Ao mesmo tempo agradecemos ao Senhor por aqueles que trabalharam nestes meses para retirar os escombros, visitar os doentes e os moribundos, confortar os atribulados e enterrar os mortos. A sua bondade e a ajuda generosa recebida de muitíssimas pessoas de todo o mundo são um sinal real de que Deus nunca nos abandona. De modo especial quero agradecer aqui a tantos sacerdotes e religiosos que corresponderam, com enorme generosidade, às desesperadas carências das pessoas dos locais mais intensamente atingidos. Através da vossa presença e da vossa caridade, destes testemunho da beleza e verdade do Evangelho. Tornastes presente a Igreja como fonte de esperança, cura, misericórdia. Juntamente com muitíssimos vizinhos, demonstrastes também a profunda fé e a capacidade de renascimento do povo filipino. As inúmeras histórias pessoais de bondade e sacrifício, surgidas daqueles dias escuros, devem ser recordadas e transmitidas às gerações futuras.

Há pouco, benzi o novo Centro para os Pobres, que se destaca como mais um sinal do cuidado e solicitude da Igreja pelos nossos irmãos e irmãs necessitados. E são tantos! Oh como Deus os ama! Hoje, a partir deste lugar que experimentou um sofrimento e uma carência humana tão profundos, peço que se faça mais pelos pobres. Peço sobretudo que os pobres do país inteiro sejam tratados de forma equitativa, que a sua dignidade seja respeitada, que as abordagens políticas e económicas sejam justas e inclusivas, que as oportunidades de emprego e educação sejam desenvolvidas e que sejam removidos os obstáculos na prestação dos serviços sociais. O critério com que tratarmos os pobres será o mesmo com que seremos julgados (cf. Mt 25, 40.45). Peço a todos vós e a quantos são responsáveis pelo bem da sociedade que reafirmem o compromisso com a justiça social e o resgate dos pobres, tanto aqui como em toda a nação filipina.

Por fim, quero deixar uma palavra de sincero agradecimento aos jovens presentes, incluindo os seminaristas e os jovens consagrados. Muitos dentre vós mostraram uma generosidade heróica nas circunstâncias subsequentes ao tufão. Espero que sempre vos deis conta de que a verdadeira felicidade provém de ajudar os outros, oferecendo-nos nós mesmos em sacrifício por eles com misericórdia e compaixão. Então sereis uma força poderosa para a renovação da sociedade, não só na obra de reconstrução dos edifícios, mas também, e muito mais importante, na edificação do Reino de Deus, reino de santidade, justiça e paz na vossa terra natal.

Queridos sacerdotes e consagrados, queridas famílias e amigos, nesta catedral da Transfiguração do Senhor, peçamos que as nossas vidas continuem a ser sustentadas e transfiguradas pela força da sua ressurreição. Confio-vos todos à protecção amorosa de Maria, Mãe da Igreja. Que Ela alcance, para vós e para todos os amados habitantes destas terras, as bênçãos da consolação, da alegria e da paz do Senhor. Deus vos abençoe a todos.

Deus não nos criou para ficarmos sós, fechados em nós mesmos

Papa Francisco
Liturgia da Palavra em 23 de novembro de 2013 - Rito de admissão de novos catecúmenos

A narração do Evangelho (cf. Jo 1,35-42) apresenta-nos João Batista que indica Jesus aos seus discípulos como o Cordeiro de Deus. Dois deles seguem o Mestre e depois, por sua vez, se tornam “mediadores”, que permitem aos outros encontrarem o Senhor, conhecê-lo e segui-lo.

Há três momentos nesta narração que se referem à experiência do catecumenato: em primeiro lugar, a escuta. Os dois discípulos ouviram o testemunho de Batista. Vocês também, queridos catecúmenos, escutaram aqueles que lhes falaram sobre Jesus e lhes propuseram segui-Lo, tornando-se, assim, seus discípulos por meio do Batismo. No tumulto de tantas vozes que ressoam em torno de nós e dentro de nós, vocês ouviram e aceitaram a voz que lhes indicava Jesus como o único que pode dar pleno sentido às suas vidas.

O segundo momento é o encontro. Os dois discípulos encontram o Mestre e permanecem com Ele. Depois de encontrá-Lo, sentem logo uma coisa nova em seus corações: a exigência de transmitir a sua alegria também aos outros, para que todos O possam encontrar. De facto, André encontra o seu irmão Simão e o conduz a Jesus. Quão bem faz contemplar esta cena!

Recorda-nos que Deus não nos criou para ficarmos sós, fechados em nós mesmos, para poder encontrá-Lo e para nos abrir ao encontro com os outros. Deus vem primeiramente junto a cada um de nós; e isto é maravilhoso! Na Bíblia, aparece sempre como aquele que toma a iniciativa do encontro com o homem: é Ele que procura o homem, e normalmente o procura justamente enquanto o homem vive a amarga e trágica experiência de trair Deus e fugir Dele. Deus não espera para ir procurá-lo: vai imediatamente. É um descobridor paciente o nosso Pai! Ele nos precede e nos espera sempre. Não se afasta de nós, mas tem a paciência para aguardar o momento favorável ao encontro com cada um de nós. E quando o encontro acontece, nunca é apressado, porque Deus quer ficar muito tempo connosco para nos apoiar, consolar, para doar-nos a sua alegria. Como nós rumamos a Ele e o desejamos, Ele também tem desejo de estar connosco porque pertencemos a Ele, somos uma sua “coisa”, somos suas criaturas. Ele também, podemos dizer, tem sede de nós, de nos encontrar.

O último trecho da narração é o caminhar. Os dois discípulos caminham rumo a Jesus e depois percorrem um pouco da estrada junto com Ele. É um ensinamento importante para todos nós. A fé é um caminho com Jesus... e dura toda a vida. No fim, estará lá. Certo, em alguns momentos deste caminho, nós nos sentimos cansados e confusos. A fé, porém, nos dá a certeza da presença constante de Jesus em toda situação, até mesmo na mais dolorosa ou difícil de entender. Somos chamados a caminhar para entrar sempre mais no profundo do mistério do amor de Deus, que é maior que nós, e nos permite viver com serenidade e esperança.

O Evangelho de Domingo dia 18 de janeiro de 2015

No dia seguinte, João lá estava novamente com dois dos seus discípulos. Vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Ouvindo as suas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus, voltando-Se para trás, e vendo que O seguiam, disse-lhes: «Que buscais?». Eles disseram-Lhe: «Rabi (que quer dizer Mestre), onde habitas?». Jesus disse-lhes: «Vinde ver». Foram, viram onde habitava e ficaram com Ele aquele dia. Era então quase a hora décima. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido o que João dissera e que tinham seguido Jesus. Encontrou ele primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias», que quer dizer Cristo. Levou-o a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: «Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas», que quer dizer Pedra.

Jo 1, 35-42

«Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos»

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja 
Comentário sobre Lucas 5, 23.27


O apóstolo Paulo disse: «Despi-vos do homem velho, com as suas obras, e revesti-vos do homem novo» (Col 3,9-10). […] Tal foi a obra que Cristo realizou ao chamar Levi: refê-lo, fez dele um homem novo. É também a título de criatura nova que o antigo publicano oferece um festim a Cristo, pois Cristo regozijou-Se nele e ele mereceu ter parte na alegria de Cristo. […] E desde então seguiu-O feliz, alegre, transbordando de alegria.

«Já não farei mais figura de publicano», disse ele; «já não tenho em mim o velho Levi; Despi-me de Levi e revesti-me de Cristo. Fugi da minha primeira vida. Não quero senão seguir-Te, Senhor Jesus, a Ti que curaste as minhas feridas. “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome?” (Rom 8,35) Estou ligado a Ti pela fé, como se estivesse pregado com pregos, estou preso pelos liames do amor. Todos os teus mandamentos serão como um cautério que aplicarei sobre as minhas feridas; o remédio arde, mas tira a infecção da úlcera. Corta pois, Senhor Jesus, com a tua espada poderosa, a podridão dos meus pecados; vem depressa fazer uma incisão nas paixões escondidas, secretas, variadas. Purifica todas infecções com o banho novo.

Escutai-me, homens apegados à terra, vós que tendes o pensamento inebriado pelos vossos pecados: também eu, Levi, fui ferido por paixões semelhantes; mas encontrei um Médico que mora no céu e espalha os seus remédios pela terra. Só Ele pode curar as minhas feridas, Ele que as não tem; só Ele pode tirar a dor do coração e o langor da alma, pois Ele conhece tudo o que é oculto.»

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 17 de janeiro de 2015

Foi outra vez para a beira mar. Todo o povo ia ter com Ele e Ele ensinava-os. Ao passar viu Levi, filho de Alfeu, sentado no banco dos cobradores de impostos, e disse-lhe: «Segue-Me». Ele, levantando-se, seguiu-O. Aconteceu que, estando Jesus sentado à mesa em casa dele, estavam também à mesma mesa com Jesus e os Seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos que também O seguiam. Os escribas e fariseus, vendo que Jesus comia com os pecadores e publicanos, diziam aos discípulos: «Porque come e bebe o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?». Ouvindo isto, Jesus disse-lhes: «Não têm necessidade de médico os sãos, mas os doentes; Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores».

Mc 2, 13-17