segunda-feira, 31 de agosto de 2015

«Não é este o filho de José?»

São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja 
Meditações sobre a vida de Cristo; Opera omnia, t. 12, pp. 530ss.

Parecem ter alcançado o grau mais elevado esses que, com todo o coração e sem fingimento, são de tal maneira senhores de si, que nada mais procuram do que ser desprezados, não ser tidos em conta e viver na humildade. [...] Enquanto não chegardes aí, pensai que nada fizestes. Com efeito, como somos todos «servos inúteis», nas palavras do Senhor (Lc 17, 10), mesmo que façamos tudo bem, enquanto não alcançarmos este grau de humildade não estaremos na verdade, mas estaremos e caminharemos na vaidade. [...]

Sabes também que o Senhor Jesus começou por fazer antes de ensinar. Mais tarde, haveria de dizer: «Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). E quis praticá-lo realmente, sem fingimento. Fê-lo de todo o coração, como era manso e humilde de todo o coração e em verdade. N'Ele não havia dissimulação (cf. 2Cor 1, 19). Estava de tal maneira mergulhado na humildade, no desprezo e na abjecção, aniquilara-Se de tal maneira aos olhos de todos, que quando começou a pregar e a anunciar as maravilhas de Deus, e a fazer milagres e coisas admiráveis, ninguém Lhe dava valor, antes O desprezavam e troçavam Dele dizendo: «Não é este o filho do carpinteiro?», e outras coisas parecidas. Assim se cumpre a palavra de São Paulo: «Aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo» (Fil 2, 7), e não apenas de servo comum, pela encarnação, mas de um servo inútil, através da Sua vida humilde e desprezada.

O Evangelho do dia 31 de agosto de 2015

Foi a Nazaré, onde Se tinha criado, entrou na sinagoga, segundo o Seu costume, em dia de sábado, e levantou-Se para fazer a leitura. Foi-Lhe dado o livro do profeta Isaías. Quando desenrolou o livro, encontrou o lugar onde estava escrito: “O Espírito do Senhor repousou sobre Mim; pelo que Me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres; Me enviou para anunciar a redenção aos cativos, e a recuperação da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a pregar um ano de graça da parte do Senhor”. Tendo enrolado o livro, deu-o ao encarregado, e sentou-Se. Os olhos de todos os que se encontravam na sinagoga estavam fixos n'Ele. Começou a dizer-lhes: «Hoje cumpriu-se este passo da Escritura que acabais de ouvir». E todos davam testemunho em Seu favor, e admiravam-se das palavras de graça que saíam da Sua boca, e diziam: «Não é este o filho de José?». Então disse-lhes: «Sem dúvida que vós Me aplicareis este provérbio: “Médico, cura-te a ti mesmo”. Todas aquelas grandes coisas que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, fá-las também aqui na Tua terra». Depois acrescentou: «Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Em verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando foi fechado o céu durante três anos e seis meses e houve uma grande fome por toda a terra; e a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma mulher viúva de Sarepta, do território de Sidónia. Muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu; e nenhum deles foi curado, senão o sírio Naaman». Todos os que estavam na sinagoga, ouvindo isto, encheram-se de ira. Levantaram-se, lançaram-n'O fora da cidade, e conduziram-n'O até ao cume do monte sobre o qual estava edificada a cidade, para O precipitarem. Mas, passando no meio deles, retirou-Se.

Lc 4, 16-30

domingo, 30 de agosto de 2015

Bom Domingo do Senhor!

Façamos como o Senhor nos recomenda no Evangelho de hoje (Mc 7, 1-8.14-15.21-23) recordando o profeta Isaías e louvemo-Lo sobretudo com a pureza das nossas intenções e não com manifestações exteriores vazias de sentido e que são meros preceitos humanos.

Louvado seja Deus Nosso Senhor pela correção dos nossos atos e pelo bem que fizermos!

Está o Google a tornar-nos estúpidos?

O motor de pesquisa mais popular do planeta revolucionou a forma como acedemos à informação. Mas parece também ter ajudado a mudar a forma como a lemos e processamos.

Nelson Marques

Está o Google a estupidificar-nos?" A inquietação, explorada pelo ensaísta Nicholas Carr na última edição da revista americana 'The Atlantic', fez soar o alarme. Como pode ser isso possível se, graças à extraordinária invenção de Larry Page e Sergey Brin, até mesmo os menos cultos têm à distância de um clique as respostas para se sentirem capazes de ganhar o 'Quem Quer Ser Milionário?'. Como se, graças ao mais famoso motor de pesquisa do mundo, deixou hoje de fazer sentido saber menos que uma criança de 10 anos desde que haja um computador à mão? Como, se pesquisas que antes poderiam levar dias numa qualquer biblioteca pública podem ser agora realizadas em apenas minutos. Como?

O Expresso foi ouvir alguns especialistas sobre a forma como a Internet tem afectado os nossos cérebros e as conclusões são preocupantes: quanto mais tempo passamos na Internet, maior dificuldade temos em nos concentrar numa leitura mais vasta e profunda, como a de um livro. Da sociedade da informação nasceu um novo tipo de leitores: mais contemplativos e menos interpretativos. Onde é que já ouvimos isto?

A pergunta de Carr é, naturalmente, provocatória. O autor não pretende demonizar o Google, antes usá-lo como exemplo da forma como, apesar das suas vantagens inequívocas, a afirmação da Web como o "media" universal representa um elevado preço a pagar pelos nossos mecanismos cognitivos. "Não me consigo concentrar se não houver gratificação instantânea", admite Edson Medina, programador informático há 10 anos, o que, nas suas próprias palavras, o coloca "no grupo dos mais expostos" ao problema. "Tenho de reler inúmeras vezes as páginas porque me distraio constantemente e perco-me. Muitas vezes, talvez a maioria, acabo por desistir antes de terminar o livro. A minha capacidade de concentração ruiu nos últimos anos e quer-me parecer que não estou sozinho nisto".

Não está, de facto. Celso Martinho, co-criador do Sapo, o primeiro motor de busca português, admite que a Internet também alterou a forma como encara a leitura, bem como outras actividades que requerem "concentração, atenção e dedicação". "Leio hoje de forma completamente diferente do que fazia há cinco ou 10 anos. Faço-o em busca da satisfação imediata, pulo capítulos ou partes desinteressantes, leio-o na diagonal, adultero o livro".

Este tipo de comportamento foi identificado num dos poucos estudos que relacionam o uso intensivo da Internet com alterações ao nível da cognição. Investigadores do University College de Londres apontaram algumas pistas sobre as mudanças que estão a ocorrer na forma como lemos e pensamos. Os cientistas analisaram o comportamento dos visitantes de dois sítios populares que permitem o acesso a livros electrónicos, artigos e outras formas de informação escrita e concluíram que os internautas efectuavam uma leitura superficial da informação, saltando entre uma fonte e outra. Em média, não liam mais de uma ou duas páginas de um livro ou artigo e raramente regressavam a alguma fonte que já tivessem consultado.

"A consulta na Internet é geralmente feita de uma forma acelerada. Muitas vezes, a leitura é feita na diagonal. O próprio modelo de escrita é mais curto e, muitas vezes, menos cuidado. Está a ler-se mais, mais rápido e em períodos mais curtos. A frase longa, tal como o texto longo, não sobrevive", reconhece o neurologista António Freire. O especialista admite também que as novas gerações, "com uma exposição mais precoce e prolongada à Internet", possam estar a desenvolver "novos modelos de formatação da leitura", rejeitando os hábitos de leitura das gerações mais antigas, "que exigem uma enorme disponibilidade, uma concentração mais prolongada e dirigida, e uma reflexão mais profunda".

Apesar de não existirem ainda estudos aprofundados que explorem as implicações cognitivas da nova sociedade da informação, parece inegável que a Internet e invenções como o Google vieram alterar as formas tradicionais de leitura. Os jovens de hoje não lêem necessariamente menos que a geração anterior. Com o "instant messaging" e o SMS dos telemóveis, lêem até provavelmente mais, mas fazem-no de forma diferente, mais contemplativa e menos interpretativa, uma revolução semelhante à que o advento da televisão provocou. "O problema", alerta Celso Martinho, "é o tipo de informação que a Internet dá, e que os motores de busca privilegiam, que é em grande parte desinformação, efémera, sensacional, barata. É o "fast-food" dos conteúdos".

Para o professor universitário José Manuel N. Azevedo, o desenvolvimento da sociedade da informação teve, pelo menos, uma vantagem óbvia, ainda que esta tenha também um lado menos positivo. "Sou um viciado em livros e se alguma coisa o Google e a Amazon, por exemplo, fizeram foi facilitar a localização de livros interessantes e, consequentemente, diminuir a minha conta bancária. Leio, por isso, tanto ou mais do que lia há 10 anos".

Em particular no caso dos mais jovens, explica Azevedo, o reverso da medalha está na dispersão, provocada por dois excessos: um de informação e outro de solicitações. O primeiro faz com que os estudantes tenham dificuldade "em separar o trigo do joio, isto é, ajuizar a informação que encontram". O segundo, torna a concentração muito mais difícil. "O computador junta muitos ambientes que antigamente estavam separados. Estudávamos na biblioteca, trabalhávamos nas salas de aula, conversávamos na cantina, ouvíamos música em casa ou nos bares e discotecas. Agora está tudo reunido num único local. E há tanta coisa interessante à distância de um clique..."

(Fonte: Expresso online em http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/397363)

Pessoalmente entendo que se deverá aplicar a máxima anglo-saxónica “if you can’t beat them, join them”, ou seja, devemos utilizar estas novas formas de comunicação para divulgarmos os nossos valores e a nossa fé.

JPR

Os africanos estão loucos?

A notícia é extravagante, mas o contexto não fazia prever nada de especial.

No momento em que escrevo, terminou há pouco o encontro e o comunicado final está a ser distribuído em Kinshasa. De 21 a 25 de Agosto de 2015, centenas de jovens, representantes de todos os países de África, debateram a «Educação para uma cultura de paz e de reconciliação». Reconheço que nunca dei nada por estas jornadas, promovidas pela Assembleia das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM) e acolhidas em Kinshasa pela Conferência Episcopal da República Democrática do Congo (CENCO).

Nunca se viu uma confusão de centenas de jovens surpreenderem o mundo com conclusões geniais. E o tema, desta vez, era coisa meio chocha. Tinha tudo para ser previsível. Parecia óbvio, o que havia que dizer, e realmente foi dito: é preciso acabar com a vaga de violência que tem assolado a África, fruto de sectarismos ideológicos ou de raça, outras vezes relacionada com a prática semilegal da escravatura.

Para que é que esta pequena multidão de jovens africanos, do Egipto até à África do Sul, precisou de tantos dias para discutir o assunto? Que mais nos reserva este pontificado?

Inspirada na revolução em curso, desencadeada pelo Papa, aquela gente saiu-se com a seguinte equação. Se queremos paz, temos de procurar a reconciliação; quem quer a reconciliação, tem de começar por se confessar.

Esta dinâmica, instaurada por Francisco está a ter impacto em zonas importantes do mundo. Em vários países da Europa, as estatísticas registaram uma redescoberta do sacramento da Confissão e do hábito de pedir perdão na família, mas, de acordo com as informações de que disponho, ainda não é claro se esta mensagem está a ter um efeito comparável noutras regiões do globo. Aos poucos, chegam indícios surpreendentes, que mostram que algo muito profundo está mesmo a acontecer.

Não é uma teoria, ou um movimento de entusiasmo, é uma nova forma de olhar a vida. É descobrir que se pode recomeçar sempre, porque Deus ama sem medida e perdoa sempre.

Antes, lamentávamo-nos: «tenho pena, mas agora tenho de viver assim, não posso voltar atrás». A perspectiva agora é a oposta: «vale a pena o esforço. Nada está perdido. Deus perdoa e eu confio em que Ele me vai ajudar. Porque Deus quer que eu seja muito feliz».

De uma maneira geral, em Portugal não estamos muito atentos à mensagem da Igreja. Não temos tempo. Depois, Portugal está longe de Roma e a língua é diferente. Acresce que já sabemos tudo, ou julgamos que sabemos (o que vai dar ao mesmo). Por outro lado, habituámo-nos a um tal frenesim de novidades que ficamos sem disponibilidade para repensar a vida. Para a Igreja chegar ao cabeçalho da página, é preciso que um padre abuse de uma criança ou haja uma troca de insultos de proporções graves, documentada com fotografias. Abaixo desse clímax emocional, tudo é desinteressante e banalidade.

Entretanto, lá longe, centenas de jovens de todos os países da África, talvez porque já viram cadáveres a escorrer sangue, chegaram à conclusão de que é altura de voltar no sacramento da Confissão.

Que o Papa fale nisso, não seria a primeira vez. Que de uma multidão de jovens saia esta conclusão... algo está mesmo a mudar à nossa frente.

José Maria C.S. André
Correio dos Açores, Verdadeiro Olhar, ABC Portuguese Canadian Newspaper, Spe Deus
30-VIII-2015

«O seu coração está longe de Mim»

São Maximiliano Kolbe (1894-1941), franciscano, mártir
Escritos espirituais inéditos

A vida interior é primordial. A vida activa é uma consequência da vida interior, e só tem valor se dela depender. Queremos fazer tudo o melhor possível, com perfeição. Mas, se o que fazemos não estiver ligado à vida interior, de nada serve. O valor da nossa vida e da nossa atividade releva por completo da vida interior, da vida de amor a Deus e à Virgem Maria, a Imaculada; não de teorias e doçuras, mas da prática de um amor que consiste na união da nossa vontade com a vontade da Imaculada.

Antes de tudo e sobretudo, devemos aprofundar esta vida interior. Tratando-se de uma vida espiritual, é necessário accionar os meios sobrenaturais. A oração, a oração e apenas a oração é necessária para manter e fazer desabrochar a vida interior; o recolhimento interior é imprescindível.

Não nos preocupemos com coisas desnecessárias, antes procuremos, em paz e com suavidade, manter o recolhimento de espírito e estar preparados para a graça de Deus. É isso que o silêncio nos ajuda a conseguir.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

sábado, 29 de agosto de 2015

Axioma que afecta muita gente “Os alemães são sempre maus”

Declaração prévia: o signatário fez a educação pré escolar (infantil) e o ensino primária em alemão na Escola Alemã de Lisboa.

No raciocínio dos detratores da Alemanha tudo o que de negativo sucede na Grécia é culpa dos alemães que tudo impuseram para espoliar e humilhar o povo grego, se há fome, falta de medicamentos, etc., etc., etc. os alemães personificados na Chanceler Merkel seriam os culpados.

A recente privatização dos aeroportos na Grécia foi ganha por uma empresa alemã, não conhecendo o detalhe da decisão nem as propostas concorrentes, nada me permite dizer que Tsipras cedeu aos interesses germânicos e que portanto não estamos perante um caso de colonialismo económico.

Pouco se falou por enquanto, mas os alemães numa demonstração inequívoca de povo que planeia e não improvisa abriu as suas fronteiras a todos os refugiados oriundos da Síria, portanto sem limite falando-se em cerca de 800.000 pessoas. Entre os diferentes países de origens, a Alemanha escolheu o país com maiores níveis de escolaridade e aonde o islamismo não é vivido de uma forma radical, a pobreza sim tem crescido exponencialmente devido à guerra ocupando a Síria a 173ª posição em 187 países segundo dados da ONU de março de 2015.

Quando o resto da Europa acordar da sua habitual letargia, irá cair o Carmo e a Trindade, porque os alemães escolheram a parte que melhor integração poderá ter na sociedade, esquecendo-se que a dar respostas concretas à gravíssima crise humanitária é uma prioridade absoluta, mas entretanto vão discutindo quem paga, quem subsidia e depois se verá, quanta hipocrisia.

Os chavões anti germânicos proliferam, ganham muito e trabalham menos horas, omitindo-se que são muito mais produtivos, a Sra. Merkel vingou-se do Syriza impondo ao povo grego condições draconianas, quando na verdade foram os países Bálticos, a Eslováquia e a Finlândia que os não queriam ajudar e outros “piropos” que são fruto de ignorância e má fé.

Ajudar a Grécia é um risco, mas tinha que ser tentado, se vai funcionar não sei e até poderei ter dúvidas, mas reconhecer o papel da Alemanha para se encontrar uma solução e os esforços envidados pela Chanceler para convencer a opinião publica alemão é de elementar justiça.

Resumindo, a Alemanha está na linha frente da ajuda ao fluxo migratório assim como esteve na aprovação do 3º resgate económico-financeiro à Grécia, no fundo fez e faz jus às suas raízes cristãs e correspondeu afirmativamente aos apelos do Santo Padre com atos concretos.

JPR

P.S. – Há 22 anos que tenho como sócia uma organização alemã e nunca me vi confrontado com qualquer forma de arrogância ou tentativa de imposição de alguma medida, já o mesmo não posso dizer de um outro sócio , também europeu, de nacionalidade diferente.

«É do interior do coração dos homens»: o coração de cada homem é fonte de paz ou de guerra?

Concílio Vaticano II
Constituição dogmática sobre a Igreja no mundo de hoje «Gaudium et spes» § 82

É, portanto, claro, que nos devemos esforçar por todos os meios por preparar os tempos em que, por comum acordo das nações, se possa interditar absolutamente qualquer espécie de guerra. [...] E dirijam-se a Deus instantes preces, para que lhes dê [aos responsáveis políticos] a força necessária para empreender com perseverança e levar a cabo com fortaleza esta obra de imenso amor aos homens, que é construir virilmente a paz. Hoje em dia, isto exige certamente deles que alarguem o espírito para além das fronteiras da própria nação, deponham o egoísmo nacional e a ambição de dominar os outros países, fomentem um grande respeito por toda a humanidade que já avança tão laboriosamente para uma maior unidade. No entanto, evitem os homens entregar-se apenas aos esforços de alguns, sem se preocuparem com a própria mentalidade. Pois os governantes, responsáveis pelo bem comum da própria nação e, ao mesmo tempo, promotores do bem de todo o mundo, dependem muito das opiniões e sentimentos das populações.

De nada lhes aproveitará dedicarem-se à edificação da paz enquanto os sentimentos de hostilidade, desprezo e desconfiança, os ódios raciais e os preconceitos ideológicos dividirem os homens e os opuserem uns aos outros. Daqui a enorme necessidade duma renovação na educação das mentalidades e na orientação da opinião pública. Aqueles que se consagram à obra de educação, sobretudo da juventude, ou que formam a opinião pública, considerem como gravíssimo dever o procurar formar as mentalidades de todos para novos sentimentos pacíficos. Todos nós temos, com efeito, de reformar o nosso coração, com os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade.

O Evangelho de Domingo dia 30 de agosto de 2015

Reuniram-se à volta de Jesus os fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém; e notaram que alguns dos Seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, por lavar; ora os fariseus e todos os judeus aferrados à tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; e, quando vêm da praça pública, não comem sem se purificar; e praticam muitas outras observâncias tradicionais, como lavar os copos, os jarros, os vasos de metal, e os leitos. Os fariseus e os escribas interrogaram-n'O: «Porque não se conformam os Teus discípulos com a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?». Ele respondeu-lhes: «Com razão profetizou Isaías de vós, hipócritas, quando escreveu: “Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, ensinando doutrinas que são preceitos humanos”. Pondo de lado o mandamento de Deus, observais cuidadosamente a tradição dos homens». Convocando novamente o povo, dizia-lhes: «Ouvi-Me todos e entendei: não há coisas fora do homem que, entrando nele, o possam manchar; mas as que saem do homem, essas são as que tornam o homem impuro. Porque do interior, do coração do homem, é que procedem os maus pensamentos, os furtos, as fornicações, os homicídios, os adultérios, as avarezas, as perversidades, as fraudes, as libertinagens, a inveja, a maledicência, a soberba, a insensatez. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem».

Mc 7, 1-8.14-15.21-23

«E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo» (Lc 1,76)

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo
Sermão 36

De entre os títulos de glória do santo e bem-aventurado João Baptista, cuja festa hoje celebramos, não sei qual prefiro: se o seu nascimento milagroso ou a sua morte, ainda mais milagrosa. O seu nascimento trouxe uma profecia (Lc 1,67ss.), a sua morte a verdade; o seu nascimento anunciou a chegada do Salvador, a sua morte condenou o incesto de Herodes. Este santo homem [...] mereceu, aos olhos de Deus, não desaparecer da mesma forma que os outros homens deste mundo: deixou este corpo recebido do Senhor confessando-O. João cumpriu em tudo a vontade de Deus, uma vez que a sua vida e a sua morte correspondem aos Seus desígnios. [...]

Ainda se encontrava no ventre de sua mãe e já celebrava a chegada do Senhor com os seus movimentos de alegria, uma vez que não podia fazê-lo com a voz. Isabel diz a Santa Maria: «Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio» (Lc 1,44). João exulta antes de nascer e, antes de os seus olhos verem o mundo, o seu espírito reconhece já Aquele que é o seu Senhor. Penso que é este o sentido da frase do profeta: «Antes que fosses formado no ventre de tua mãe, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, Eu te consagrei» (Jr 1,5). Não é de surpreender que, encarcerado na prisão para onde Herodes o enviara, tenha continuado a pregar por intermédio dos seus discípulos (Mt 11,2), uma vez que, ainda no ventre de sua mãe, anunciara já com os seus movimentos a vinda do Senhor.

O Evangelho do dia 29 de agosto de 2015

Porque Herodes tinha mandado prender João, e teve-o a ferros numa prisão por causa de Herodíades, mulher de Filipe, seu irmão, com a qual tinha casado. Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter a mulher de teu irmão». Herodíades odiava-o e queria fazê-lo morrer; porém, não podia, porque Herodes, sabendo que João era varão justo e santo, olhava-o com respeito, protegia-o e quando o ouvia ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. Chegou, porém, um dia oportuno, quando Herodes, no seu aniversário natalício, deu um banquete aos grandes da corte, aos tribunos e aos principais da Galileia. Tendo entrado na sala a filha da mesma Herodíades, dançou e agradou a Herodes e aos seus convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei». E jurou-lhe: «Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino». Ela, tendo saído, perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?». Ela respondeu-lhe: «A cabeça de João Baptista». Tornando logo a entrar apressadamente junto do rei, fez este pedido: «Quero que me dês imediatamente num prato a cabeça de João Baptista». O rei entristeceu-se, mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis desgostá-la. Imediatamente mandou um guarda com ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi degolá-lo no cárcere, levou a sua cabeça num prato, deu-a à jovem, e esta deu-a à mãe. Tendo sabido isto os seus discípulos, foram, tomaram o corpo e o depuseram num sepulcro.

Mc 6, 17-29

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

«Eis o Esposo! Ide ao Seu encontro»

Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein]
A mulher e o seu destino

A união da alma com Cristo não é o mesmo que a comunhão entre duas pessoas humanas: começa com o baptismo e é constantemente reforçada com os outros sacramentos, é uma integração e um impulso de seiva – como nos diz o símbolo da videira e dos ramos (Jo 15). Este acto de união com Cristo provoca uma aproximação membro a membro entre todos os cristãos. Assim, a Igreja toma a figura do Corpo Místico de Cristo. Este corpo é um corpo vivo e o espírito que o anima é o Espírito de Cristo que, partindo da cabeça, se comunica a todos os membros; o espírito que emana de Cristo é o Espírito Santo, e por conseguinte a Igreja é o templo do Espírito Santo (cf 1Co 6, 19).

Mas, apesar da real unidade orgânica da cabeça e do corpo, a Igreja encontra-se ao lado de Cristo como uma pessoa independente. Enquanto Filho do Pai Eterno, Cristo vivia antes do início dos tempos e antes de qualquer existência humana. Pelo acto da criação, a humanidade vivia antes de Cristo tomar a natureza humana e ser integrado nela. Pela Sua incarnação, Ele trouxe à humanidade a Sua vida divina. Pela Sua obra de redenção, tornou a humanidade capaz de receber a graça. [...] A célula primitiva desta humanidade resgatada é Maria: é nela que se realiza pela primeira vez a purificação e a santificação operadas por Cristo, é Ela a primeira a ser cheia do Espírito Santo. Antes de nascer da Santíssima Virgem, o Filho de Deus criou esta Virgem cheia de graça e, nela e com ela, a Igreja. É por isso que, sendo uma criatura distinta d'Ele, a Igreja se encontra a Seu lado, embora indissoluvelmente ligada a Ele.

Qualquer alma purificada pelo baptismo e elevada ao estado de graça é, por essa mesma razão, criada por Cristo e nascida para Cristo. Mas é criada na Igreja e nasce pela Igreja. [...] Assim, a Igreja é a mãe de todos aqueles a quem se destina a redenção É-o pela sua união íntima com Cristo, e porque se realiza a Seu lado na qualidade de Esposa de Cristo, para colaborar na Sua obra de redenção.

O Evangelho do dia 28 de agosto de 2015

«Então, o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. Cinco delas eram néscias, e cinco prudentes. As cinco néscias, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo; as prudentes, porém, levaram azeite nas vasilhas juntamente com as lâmpadas. Tardando o esposo, começaram todas a cabecear e adormeceram. À meia-noite, ouviu-se um grito: “Eis que vem o esposo! Saí ao seu encontro”. Então levantaram-se todas aquelas virgens, e prepararam as suas lâmpadas. As néscias disseram às prudentes: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas apagam-se”. As prudentes responderam: “Para que não suceda que nos falte a nós e a vós, ide antes aos vendedores, e comprai para vós”. Mas, enquanto elas foram comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele a celebrar as bodas, e foi fechada a porta. Mais tarde, chegaram também as outras virgens, dizendo: “Senhor, Senhor, abre-nos”. Ele, porém, respondeu: “Em verdade vos digo que não vos conheço”. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

Mt 25, 1-13

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

«Vós sois a luz do mundo» (Mt 5,14)

São Columbano (563-615), monge, fundador de mosteiros
Instruções espirituais, n° 12, 2

Como são felizes, como são dignos de inveja «aqueles servos que o senhor, quando vier, encontrar vigilantes» (Lc 12,37). Vigilância ditosa que os mantém despertos para a vinda de Deus, o Criador do universo, cuja majestade abarca tudo e tudo ultrapassa.

Quanto a mim – que, apesar da minha indignidade, sou Seu servo –, que Deus queira despertar-me do sono da minha indolência. Que faça arder em mim o fogo do amor divino; que a chama do Seu amor suba mais alto que as estrelas; que arda sem cessar dentro de mim o desejo de responder à Sua ternura infinita. Ah, se eu pudesse ter a minha candeia acesa no templo do Senhor durante a noite! Se ela iluminasse todos aqueles que penetram na casa do meu Deus! (cf Mt 5,15) Senhor, concedei-me este amor que se defende de qualquer afrouxamento, que eu consiga ter a minha candeia sempre iluminada sem jamais a deixar apagar-se; que em mim ela seja fogo e luz para o meu próximo.

O Evangelho do dia 27 de agosto de 2015

«Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor. Sabei que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, sem dúvida, e não deixaria arrombar a sua casa. Por isso estai vós também preparados, porque virá o Filho do Homem na hora em que menos pensais. «Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor colocou à frente da sua família para lhe distribuir de comer a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo, a quem o seu senhor, quando vier, achar a proceder assim. Na verdade vos digo que lhe confiará o governo de todos os seus bens. Mas, se aquele servo mau disser no seu coração: “O meu senhor tarda em vir”, e começar a bater nos seus companheiros, a comer e beber com os ébrios, virá o senhor daquele servo no dia em que não o espera, e na hora que não sabe, e mandará açoitá-lo e dar-lhe-á a sorte dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Mt 24, 42-51

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Papa Francisco na Audiência geral (resumo em português)

Locutor: Na vida da família, além das horas de trabalho e dos momentos de festa, há também o tempo da oração. Sabemos como o tempo é sempre pouco; nunca chega para tudo. É frequente ouvir este lamento: «Devia rezar mais…, mas não tenho tempo». Quem tem uma família, aprende a resolver uma equação que nem os grandes matemáticos conseguem: dentro das vinte e quatro horas do dia, fazem entrar o dobro. Há pais e mães que merecem o Prémio Nobel por isso! O segredo está no afecto que provam pelos seus. Daí a pergunta: Pensamos em Deus apenas como um Ser imenso, o Omnipotente que tudo criou, o Juiz que tudo vê e controla? Ou vemos Deus como uma carícia que nos dá e mantém a vida, uma carícia da qual nem a morte nos pode separar. Só neste caso nos sentimos felizes, senão mesmo confusos, porque Deus pensa em nós e nos ama. Um coração possuído pelo afecto de Deus é capaz de tornar oração até um pensamento sem palavras, uma invocação diante duma Imagem sacra, um beijo para Jesus na Igreja. É belo ver as mães ensinando aos filhos pequeninos a mandar um beijo a Jesus ou à sua Mãe bendita. Está aqui o espírito da oração, que nos leva a arranjar tempo para Deus, fazendo-nos sair da obsessão duma vida onde sempre falta tempo, para encontrar a paz das coisas necessárias. E a coisa verdadeiramente essencial, a «parte melhor» do tempo é aquela em que se escuta o Senhor, como fez Maria de Betânia. O Evangelho, lido e meditado em família, é como um pãozinho bom que nutre o coração de todos.

Santo Padre:
Carissimi pellegrini di lingua portoghese, benvenuti! Saluto cordialmente i fedeli presenti delle diverse parrocchie del Portogallo e il gruppo dei nuovi studenti del Collegio Pio Brasiliano. Il Signore vi benedica, perché siate dovunque per tutti faro di luce del Vangelo. Possa questo pellegrinaggio rinvigorire nei vostri cuori il sentire e il vivere con la Chiesa. La Madonna accompagni e protegga voi tutti e i vostri cari!

Locutor: Queridos peregrinos de língua portuguesa, bem-vindos! Saúdo cordialmente os fiéis presentes das diversas paróquias de Portugal e o grupo dos novos estudantes do Colégio Pio Brasileiro. O Senhor vos abençoe, para serdes em toda a parte farol de luz do Evangelho para todos. Possa esta peregrinação fortalecer nos vossos corações o sentir e o viver com a Igreja. Nossa Senhora acompanhe e proteja a vós todos e aos vossos entes queridos.

Sofrimento

«Se um homem, se torna participante dos sofrimentos de Cristo, isso acontece porque Cristo abriu o seu sofrimento ao homem, porque Ele próprio, no seu sofrimento redentor, se tornou, num certo sentido, participante de todos os sofrimentos humanos. Ao descobrir, pela fé, o sofrimento redentor de Cristo, o homem descobre nele, ao mesmo tempo, os próprios sofrimentos, reencontra-os, mediante a fé, enriquecidos de um novo conteúdo e com um novo significado».

(São João Paulo II - Salvifici doloris, nº 20)

«Com Cristo estou cravado na Cruz; e já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. E, enquanto eu vivo a vida mortal, vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim»

(S. Paulo - Gálatas 2,20)

Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!

+ Rev. D. Lluís ROQUÉ i Roqué (Manresa, Barcelona, Espanha)

Hoje, assim como nos dias anteriores e nos que seguiram, contemplamos Jesus fora de si, condenando atitudes incompatíveis com um viver digno, não somente cristão, mas também humano: «Por fora, pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça» (Mt 23,28). Vem confirmar que a sinceridade, a honestidade, a lealdade, a nobreza..., são virtudes amadas por Deus, e também, muito valorizadas pelo homem.

Para evitar, portanto, a hipocrisia, devo ser muito sincero. Em primeiro lugar com Deus, porque me quer limpo de coração, e que eu deteste toda mentira por ser Ele totalmente puro, a Verdade absoluta. Em segundo lugar, comigo mesmo, para não ser eu o primeiro a ser enganado, expondo-me a cometer um pecado contra o Espírito Santo por não reconhecer meus próprios pecados nem deixá-los de manifestar claramente no sacramento da Penitência, ou por não confiar suficientemente em Deus, que nunca condena quem faz como o filho pródigo, nem perde ninguém por ser um pecador, mas por não reconhecer-se como tal. Em terceiro lugar, com os outros, já que também — como a Jesus — a todos coloca fora de si, a mentira, o engano, a falta de sinceridade, de honradez, de lealdade, de nobreza..., e, por isso mesmo, havemos de nos aplicar o princípio: «O que não quer para você, não o deseje para ninguém».

Essas três atitudes — que são do senso comum — as temos que tornar nossas para evitar cair na hipocrisia, e devemos tomar consciência da necessidade da graça santificante, por causa do pecado original provocada pelo “pai da mentira”: o diabo. Por isso levaremos em conta o conselho de São Josemaría: «Na hora da prova, ide prevenido contra o demónio mudo»; teremos também presente a Origines, que diz: «Uma falsa santidade jaz morta, porque não trabalha movida por Deus», e nós nos regeremos sempre, pelo princípio elementar e simples proposto por Jesus: «Seja o vosso ‘sim, sim ’; e o vosso ‘não, não’» (Mt 5,37).

Maria não se esvai em palavras, mas o seu sim ao bem, à graça, foi único e verdadeiro; seu não ao mal, ao pecado, foi rotundo e sincero.

(Fonte: Evangeli.net)

O Evangelho do dia 26 de agosto de 2015

«Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que sois semelhantes aos sepulcros branqueados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de podridão! Assim também vós por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e iniquidade. «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os túmulos dos justos, e dizeis: “Se nós tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no derramamento do sangue dos profetas!”. Assim dais testemunho contra vós mesmos de que sois filhos daqueles que mataram os profetas, e acabais de encher a medida de vossos pais.

Mt 23, 27-32

terça-feira, 25 de agosto de 2015

«Limpa antes o interior do copo»

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre Josué, n°5, 2

Partamos para a guerra como Josué; tomemos de assalto a cidade mais importante deste mundo, a malícia, e destruamos as muralhas orgulhosas do pecado. Olhando ao teu redor, vês o caminho que é preciso seguir, que campo de batalha precisas de escolher? As minhas palavras vão surpreender-te; no entanto, são verdadeiras: limita a tua procura a ti mesmo. Em ti está o combate a que deves entregar-te; dentro de ti está o edifício da malícia que é preciso destruir; o teu inimigo vem do fundo do teu coração.

Não sou eu que o digo, mas Cristo; escuta-O: «Do coração procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias» (Mt 15, 19). Conheces o poder deste exército inimigo que avança contra ti do fundo do teu coração? Ei-los, os inimigos a massacrar no primeiro combate, a arrasar na primeira linha. Se formos capazes de derrubar as suas muralhas e destruí-los até que não reste nenhum para o contar, nenhum com vida (Jos 11, 14), nem um só que possa recuperar o fôlego e reaparecer nos nossos pensamentos, então Jesus dar-nos-á o grande descanso.

O Evangelho do dia 25 de agosto de 2015

«Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã e do endro e do cominho, e descuidais as coisas mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! São estas coisas que era preciso praticar, sem omitir as outras. Condutores cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais o que está por fora do copo e do prato, e por dentro estais cheios de rapina e de imundície! Fariseu cego, purifica primeiro o que está dentro do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.

Mt 23, 23-26

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Tintim co-adoptado?

Os clássicos são, por definição, aquelas obras de literatura a que sempre se regressa. Por isso, todos os verões, é certo e sabido que releio algum velho álbum do Tintim, recordando os bons velhos tempos da minha infância.
Hergé é, de facto, um autor de culto: os seus livros de aventuras são uma referência, não apenas da literatura juvenil, mas mundial. É verdade que os seus primeiros textos pecavam ainda por alguma ingenuidade, como o anticomunismo primário de Tintim no país dos sovietes, o colonialismo paternalista de Tintim no Congo, ou o simplismo sociológico de Tintim na América. Mas, depois de ultrapassada essa fase inicial, a obra de Georges Remi ganhou maturidade. Quer o protagonista, quer os seus amigos, apesar dos seus inevitáveis defeitos humanos, eram amáveis exemplos de virtude. Tintim é, por assim dizer, o herói que encarna os valores humanistas da Europa de meados do século XX. Mas, em pleno século XXI, estas aventuras e os seus princípios éticos ainda são válidos?

A questão tem alguma razão de ser. A evolução, ou involução, moral destas últimas décadas, obrigou a que Lucky Luke, uma personagem da banda desenhada criada por Morris, substituísse o cigarro, que sempre tinha ao canto da boca, por uma inócua palhinha. Tintim não fuma, mas o tabagismo está presente no capitão Haddock que, apesar de presidente da Liga dos Marinheiros Antialcoólicos, é um bêbado crónico. Mas, para alguns leitores actuais, essa não seria, nem de longe, a pior pecha da obra de Hergé que, a bem dizer, lhes parece ser machista, xenófoba, discriminatória das minorias, anti-ecológica e homofóbica.

De facto, Tintim e todos os protagonistas das suas aventuras são do sexo masculino. Nem sequer, que eu saiba, Milou é cadela! O machismo desta banda desenhada acentua-se também pelo carácter ridículo de algumas personagens femininas, de que é protótipo a estridente Bianca Castafiore.

De alguns anos a esta parte, as realizações cinematográficas norte-americanas integram geralmente algum actor de raça não-branca, ou algum portador de deficiência, mas não há nenhum representante das minorias étnicas, ou descapacitado, nos papéis principais das aventuras do xenófobo e eugénico repórter. Pior, a sua pele rosada e o seu penacho loiro encaixam perfeitamente no tipo ariano, de tão nefasta memória.

Outra ausência significativa é a ecológica: as aventuras contra o mal nunca contemplam a defesa do habitat natural, pois não há nenhuma estória do juvenil herói contra o buraco do ozono, a extinção das focas, ou o aquecimento global. Infelizmente, tanto a gripe das aves como a gripe A não sobreviveram às manchetes que preconizavam os seus efeitos pestíferos, dignos de uma catástrofe mundial e… de uma aventura sensacional.

Outra grave omissão é a que parece indiciar uma atitude homofóbica. Já não há telenovela em que não haja quem namore, ou viva, com uma pessoa do mesmo sexo, mas esta realidade social está ausente das aventuras de Tintim. Num universo predominantemente masculino, a questão até não seria de difícil solução: bastaria que os cómicos detectives Dupond e Dupont fossem apresentados como um felicíssimo casal.

Noutro âmbito, o das perversões sexuais, em que também são pródigas as modernas produções literárias e cinematográficas juvenis, Hergé também é omisso. Para este efeito, Néstor, o mordomo, deveria ser um viciado em práticas sadomasoquistas, à conta dos maléficos irmãos Pardal, os anteriores proprietários de Moulinsart.

Urge uma actualização moral das aventuras de Tintim, para que esta obra continue a ser uma referência da moderna literatura juvenil. Como? É fácil: basta que o herói principal seja filho do Capitão Haddock, o qual, na ausência de uma mãe, recorre, para o efeito, a uma anónima barriga de aluguer. O velho lobo do mar, que entretanto troca o vício da bebida pelas virtudes do crack, também se pode consorciar matrimonialmente com o seu amigo e companheiro, o Professor Tournesol que, por via desta união, poderia co-adoptar Tintim. Eis o que, com toda a propriedade, se poderia considerar, segundo os actuais padrões morais laicos, um happy end!

Perdoem-me a inocência de ter lido e apreciado, durante tantos anos, umas estórias tão politicamente incorrectas! Talvez os heróis de antanho parecessem machistas, xenófobos, discriminadores, anti-ecológicos e homofóbicos, mas eram tipos normais e simpáticos, que estimulavam a amizade, a lealdade e a prática das virtudes morais. Também a eles devo uma infância muito feliz.

P. Gonçalo Portocarrero de Almada in 'Observador' AQUI

O Evangelho do dia 24 de agosto de 2015

Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos Aquele de Quem escreveu Moisés na Lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José». Natanael disse-lhe: «De Nazaré pode porventura sair coisa que seja boa?». Filipe disse-lhe: «Vem ver». Jesus viu Natanael, que vinha ter com Ele, e disse dele: «Eis um verdadeiro israelita em quem não há fingimento». Natanael disse-lhe: «Donde me conheces?». Jesus respondeu-lhe: «Antes que Filipe te chamasse, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira». Natanael respondeu: «Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel». Jesus respondeu-lhe: «Porque te disse que te vi debaixo da figueira, acreditas?; verás coisas maiores que esta». E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do Homem».

Jo 1, 45-51

domingo, 23 de agosto de 2015

Bom Domingo do Senhor!

Imitemos Pedro como nos narra o Evangelho de hoje (Jo 6, 60-69) e com total confiança e fé sigamos o Senhor, pois só Ele nos oferece palavras de vida eterna e Ele é o verdadeiro e único Filho de Deus Pai.

Louvado seja Deus Nosso Senhor pela Encarnação do seu amado Filho que é Deus com Ele em unidade com o Espírito Santo!

«As palavras que vos disse são espírito e são vida»

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o evangelho de Mateus n° 82; PG 58, 743

«Tomai e comei, disse Jesus, isto é o Meu corpo entregue por vós» (cf 1Co 11,24). Porque é que os discípulos não ficaram perturbados quando ouviram estas palavras? Foi porque Cristo lhes havia já dito muitas coisas sobre este assunto (Jo 6). [...] Tenhamos, nós também, plena confiança em Deus. Não apresentemos objecções, mesmo quando o que Ele diz parece contrário aos nossos raciocínios e ao que vemos. Que a Sua palavra seja dona da nossa razão e mesmo da nossa vista. Assumamos esta atitude perante os mistérios sagrados: não vejamos neles apenas o que é apreendido pelos nossos sentidos, mas tenhamos sobretudo em conta as palavras do Senhor. A Sua palavra nunca nos pode enganar, ao passo que os nossos sentidos nos enganam facilmente; Ela nunca erra, mas eles erram frequentemente. Quando o Verbo diz: «Isto é o Meu corpo», confiemos n'Ele, acreditemos e contemplemo-Lo com os olhos do espírito. [...]

Quantas pessoas dizem hoje em dia: «Gostaria de ver Cristo em pessoa, o Seu rosto, as Suas vestes, as Suas sandálias». Pois bem, na Eucaristia, é Ele que tu vês, que tocas, que recebes! Desejavas ver as Suas vestes; e é Ele que Se dá a ti, não apenas para O veres, mas para O tocares, O receberes, O acolheres no teu coração. Que ninguém se aproxime, pois, com indiferença ou frouxidão, mas que todos venham a Ele animados de um amor ardente.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

sábado, 22 de agosto de 2015

«Tu tens palavras de vida eterna!»

São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo, doutor da Igreja
Comentário sobre o evangelho de João, 4, 4; PG 73, 613


«A quem iremos nós, Senhor?» pergunta Pedro, querendo dizer: «Quem nos ensinará como Tu os mistérios divinos?», ou ainda: «Junto de quem encontraríamos melhor?  Tu tens palavras de vida eterna!» Não são palavras intoleráveis, como dizem outros discípulos. Pelo contrário, são palavras que conduzem à realidade mais extraordinária de todas, a vida sem fim, a vida imperecível. Estas palavras mostram-nos realmente que devemos sentar-nos aos pés de Cristo, tomando-O como nosso único mestre, e mantendo-nos constantemente junto dele. […]

O Antigo Testamento também nos ensina que é preciso seguir Cristo, sempre unidos a Ele. Com efeito, no tempo em que os israelitas, libertos da opressão dos egípcios, se apressavam a ir para a Terra Prometida, Deus não permitiu que avançassem desordenadamente. Aquele que lhes deu a sua Lei não lhes permitiria ir a qualquer lado, à sua vontade; com efeito, sem guia, ter-se-iam dispersado completamente. […] Os israelitas encontraram a salvação permanecendo com o seu guia. Também nós fazemos hoje o nosso caminho recusando-nos a separarmo-nos de Cristo, pois foi Ele que Se manifestou aos antigos sob as aparências duma tenda, da nuvem e do fogo (cf Ex 13,21; 26,1ss) […]

«Se alguém Me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo» (Jo 12,26). […] Ora o caminho em companhia e no seguimento de Cristo Salvador não se faz num sentido material, mas através de obras de virtude; nelas se empenharam firmemente e de todo o coração os discípulos mais sábios […], que com razão diziam: «A quem iremos ?» Por outras palavras: «Ficaremos sempre contigo, apegar-nos-emos aos teus mandamentos, acolhendo as tuas palavras, sem nunca recalcitrar. Não acharemos, como os ignorantes, que os teus ensinamentos sejam difíceis de entender. Pelo contrário, diremos: “Como são doces ao meu paladar, as tuas palavras! Mais doces do que o mel para a minha boca”» (Sl 119,103).