terça-feira, 31 de março de 2015

«Não cantará o galo, antes de Me teres negado três vezes!»

São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra, doutor da Igreja
Obras Completas, vol. 10

São Pedro, Apóstolo, foi muito injusto para com o seu Senhor porque O negou, jurando que não O conhecia e, não contente com isso, foi maldizente e blasfemo, asseverando não saber Quem Ele era (Mt 26,69 ss). Este incidente magistral partiu o coração de Nosso Senhor. Que fazeis e que dizeis vós, pobre São Pedro? Não sabeis quem Ele é, não O conheceis?, vós que fostes chamado pela Sua própria boca ao Apostolado e que haveis confessado ser Ele o Filho do Deus vivo? (Mt 16,16) Ah, homem miserável, como ousais dizer que não O conheceis? Não foi Ele Quem vos lavou outrora os pés (Jo 13,6), Ele Quem vos alimentou com o Seu Corpo e o Seu Sangue? [...]

Portanto, que ninguém presuma das suas boas obras e pense não ter nada a temer, uma vez que São Pedro, que tantas graças recebeu, que prometeu acompanhar Nosso Senhor até à prisão e até à morte, se prontificou a negá-lo ao mais pequeno reparo duma criada.

Ao cantar do galo, São Pedro lembrou-se do que acabara de fazer e do que lhe havia dito o seu Bom Senhor; então, reconhecendo a sua falta, saiu a chorar tão amargamente que só por isso recebeu indulgência plenária e remissão de todos os seus pecados. Bem-aventurado São Pedro, que através de tal contrição recebestes o perdão de tão grande deslealdade [...] Bem sei que foi o sagrado olhar de Nosso Senhor que lhe calou fundo no coração e lhe abriu os olhos para reconhecer o seu pecado (Lc 22,61) [...], pois a partir daí não deixou jamais de chorar, em especial sempre que ouvia o galo cantar [...] Assim, de grande pecador tornou-se um grande santo.

Evangelho do dia 31 de março de 2015

Tendo Jesus dito estas coisas, perturbou-Se em Seu espírito e declarou abertamente: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós Me há-de entregar». Olhavam, pois, os discípulos uns para os outros, não sabendo de quem falava. Ora um dos Seus discípulos, aquele que Jesus amava, estava recostado sobre o peito de Jesus. A este, Simão Pedro fez sinal, para lhe dizer: «De quem fala Ele?». Aquele discípulo, pois, tendo-se reclinado sobre o peito de Jesus, disse-Lhe: «Quem é, Senhor?». Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o bocado que vou molhar». Molhando, pois, o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Atrás do bocado, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe então: «O que tens a fazer, fá-lo depressa». Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu por que lhe dizia isto. Alguns, como Judas era o que tinha a bolsa, julgavam que Jesus lhe dissera: «Compra as coisas que nos são precisas para o dia da festa», ou: «Dá alguma coisa aos pobres». Ele, pois, tendo recebido o bocado, saiu imediatamente; era noite. Depois que ele saiu, Jesus disse: «Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado n'Ele. Se Deus foi glorificado n'Ele, também Deus O glorificará em Si mesmo; e glorificá-l'O-á sem demora. Filhinhos, já pouco tempo estou convosco. Buscar-Me-eis, mas, assim como disse aos judeus: Para onde Eu vou, vós não podeis vir, também vos digo agora. Simão Pedro disse-Lhe: «Senhor, para onde vais?». Jesus respondeu-lhe: «Para onde Eu vou, não podes tu agora seguir-Me, mas seguir-Me-ás mais tarde». Pedro disse-lhe: «Porque não posso eu seguir-Te agora? Darei a minha vida por Ti». Jesus respondeu-lhe: «Darás a tua vida por Mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo sem que Me tenhas negado três vezes. 

Jo 13, 21-33.36-38

segunda-feira, 30 de março de 2015

«Uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço»

São João Paulo II (1920-2005), papa

Exortação apostólica «Vita Consecrata», §§ 104-105

Diversos são aqueles que hoje se interrogam perplexos: Porquê a vida consagrada? Porquê abraçar este género de vida, quando existem tantas urgências [...] às quais se pode responder igualmente sem assumir os compromissos peculiares da vida consagrada? A vida consagrada não será uma espécie de desperdício de energias humanas que podiam ser utilizadas, segundo critérios de eficiência, para um bem maior da humanidade e da Igreja? [...] Sempre existiram interrogações semelhantes, como demonstra eloquentemente o episódio evangélico da unção de Betânia: «Maria, tomando uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume» (Jo 12,3). A Judas que, tomando como pretexto as necessidades dos pobres, se lamentava por tão grande desperdício, Jesus respondeu: «Deixa-a fazer!» (Jo 12,7).

Esta é a resposta, sempre válida, à pergunta que tantos, mesmo de boa fé, colocam acerca da atualidade da vida consagrada: [...] «Deixa-a fazer!» Para aqueles a quem foi concedido o dom de seguir mais de perto o Senhor Jesus, é óbvio que Ele pode e deve ser amado com coração indiviso, que se Lhe pode dedicar a vida toda e não apenas alguns gestos, alguns momentos ou algumas atividades. O perfume de alto preço, derramado como puro ato de amor e, por conseguinte, fora de qualquer consideração utilitária, é sinal de uma superabundância de gratuidade, como a que transparece numa vida gasta a amar e a servir o Senhor, a dedicar-se à Sua Pessoa e ao Seu Corpo Místico. Mas é desta vida derramada sem reservas que se difunde um perfume que enche toda a casa. A casa de Deus, a Igreja, é adornada e enriquecida hoje, não menos que outrora, pela presença da vida consagrada. [...] A vida consagrada é importante precisamente por ser superabundância de gratuidade e de amor, o que se torna ainda mais verdadeiro num mundo que se arrisca a ficar sufocado na vertigem do efémero.

Brevíssimo comentário ao Evangelho de hoje

Imitemos a mulher de que nos fala o Evangelho de hoje (Jo 12, 1-11) oferecendo ao Senhor hoje e sempre o nosso melhor perfume, na oração, na devoção, na participação na vida da Igreja, durante as celebrações e nos Sacrários aonde o acolhemos, pois ainda que ele esteja sempre connosco merece todo o nosso amor e cuidado.

Senhor ajuda-nos a viver permanentemente apaixonados por Ti!

A casa encheu-se com a fragrância do perfume

Bento XVI
Homilia de 02/04/2007 por ocasião do 2º aniversário do desaparecimento de João Paulo II 

A narração evangélica confere um clima pascal intenso para a nossa meditação: a ceia de Betânia é prelúdio para a morte de Jesus, no sinal da unção que Maria fez em homenagem ao Mestre e que Ele aceitou em previsão da Sua sepultura (cf. Jo 12, 7). Mas é também anúncio da ressurreição, mediante a própria presença do redivivo Lázaro, testemunho eloquente do poder de Cristo sobre a morte. Além da plenitude do significado pascal, a narração da ceia de Betânia tem em si uma ressonância pungente, repleta de afecto e devoção; um misto de alegria e de sofrimento [...].

Para nós, reunidos em oração na recordação do meu venerado Predecessor, o gesto da unção de Maria de Betânia é rico de ecos e de sugestões espirituais. Evoca o testemunho luminoso que João Paulo II ofereceu de um amor a Cristo sem reservas e sem se poupar. O «perfume» do seu amor «encheu toda a casa» (cf. Jo 12, 3), isto é, toda a Igreja. Sem dúvida, quem beneficiou dele fomos nós que lhe estivemos próximos, e por isto agradecemos a Deus, mas dele puderam gozar também todos os que o conheceram de longe, porque o amor do Papa Wojtyla por Cristo superabundou, poderíamos dizer, em todas as regiões do mundo, porque era muito forte e intenso. A estima, o respeito e o afecto que crentes e não-crentes lhe manifestaram por ocasião da sua morte não é porventura um testemunho eloquente? [...] O intenso e frutuoso ministério pastoral, e ainda mais o calvário da agonia e a morte serena do nosso amado Papa, fizeram conhecer aos homens do nosso tempo que Jesus Cristo era verdadeiramente o seu «tudo». [...]

«E a casa encheu-se com o cheiro do perfume» (Jo 12, 3). Voltemos a esta anotação, tão sugestiva do evangelista João. O perfume da fé, da esperança e da caridade do Papa encheu a sua casa, encheu a Praça de São Pedro, encheu a Igreja e propagou-se no mundo inteiro. O que aconteceu depois da sua morte foi, para quem crê, efeito daquele «perfume» que alcançou todos, próximos e distantes, e os atraiu para um homem que Deus tinha progressivamente conformado com o Seu Cristo. [...] Que o «Totus tuus» do amado Pontífice nos estimule a segui-lo pelo caminho da doação de nós próprios a Cristo por intercessão de Maria.

O Evangelho do dia 30 de março de 2015

Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde se encontrava Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado. Ofereceram-Lhe lá uma ceia. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele. Então, Maria tomou uma libra de perfume feito de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e Os enxugou com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume. Judas Iscariotes, um dos Seus discípulos, aquele que O havia de entregar, disse: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários para se dar aos pobres?». Disse isto, não porque se importasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que nela se deitava. Mas Jesus respondeu: «Deixa-a; ela reservou este perfume para o dia da Minha sepultura; porque pobres sempre os tereis convosco, mas a Mim nem sempre Me tereis». Uma grande multidão de judeus soube que Jesus estava ali e foi lá, não somente por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, a quem Ele tinha ressuscitado dos mortos. Os príncipes dos sacerdotes deliberaram então matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus.

Jo 12, 1-11

domingo, 29 de março de 2015

Homilia integral do Santo Padre na Celebração Eucarística da Solenidade do Domingo de Ramos

No centro desta celebração, que se apresenta tão festiva, está a palavra que ouvimos no hino da Carta aos Filipenses: «Humilhou-Se a Si mesmo» (2, 8). A humilhação de Jesus.

Esta palavra desvenda-nos o estilo de Deus e do cristão: a humildade. Um estilo que nunca deixará de nos surpreender e pôr em crise: não chegamos jamais a habituar-nos a um Deus humilde!

Humilhar-se é, antes de mais nada, o estilo de Deus: Deus humilha-Se para caminhar com o seu povo, para suportar as suas infidelidades. Isto é evidente, quando se lê o livro do Êxodo: que humilhação para o Senhor ouvir todas aquelas murmurações, aquelas queixas! Embora dirigidas contra Moisés, no fundo eram lançadas contra Ele, o Pai deles, que os fizera sair da condição de escravatura e os guiava pelo caminho através do deserto até à terra da liberdade.

Nesta Semana, a Semana Santa, que nos leva à Páscoa, caminharemos por esta estrada da humilhação de Jesus. E só assim será «santa» também para nós!

Ouviremos o desprezo dos chefes do seu povo e as suas intrigas para O fazerem cair.

Assistiremos à traição de Judas, um dos Doze, que O venderá por trinta denários. Veremos ser preso o Senhor e levado como um malfeitor; abandonado pelos discípulos; conduzido perante o Sinédrio, condenado à morte, flagelado e ultrajado. Ouviremos que Pedro, a «rocha» dos discípulos, O negará três vezes. Ouviremos os gritos da multidão, incitada pelos chefes, que pede Barrabás livre e Ele crucificado. Vê-Lo-emos escarnecido pelos soldados, coberto com um manto de púrpura, coroado de espinhos. E depois, ao longo da via dolorosa e junto da cruz, ouviremos os insultos do povo e dos chefes, que zombam de Ele ser Rei e Filho de Deus.

Este é o caminho de Deus, o caminho da humildade. É a estrada de Jesus; não há outra. E não existe humildade, sem humilhação.

Percorrendo até ao fim esta estrada, o Filho de Deus assumiu a «forma de servo» (cf. Flp 2, 7).

Com efeito, a humildade quer dizer serviço, significa dar espaço a Deus despojando-se de si mesmo, «esvaziando-se», como diz a Escritura (v. 7). Esta é a maior humilhação.

Há outro caminho, contrário ao caminho de Cristo: o mundanismo. O mundanismo oferece-nos o caminho da vaidade, do orgulho, do sucesso... É o outro caminho. O maligno propôs-lo também a Jesus, durante os quarenta dias no deserto. Mas Jesus rejeitou-o sem hesitação. E, com Ele, também nós podemos vencer esta tentação, não só nas grandes ocasiões mas também nas circunstâncias ordinárias da vida.

Nisto, serve-nos de ajuda e conforto o exemplo de tantos homens e mulheres que cada dia, no silêncio e escondidos, renunciam a si mesmos para servir os outros: um familiar doente, um idoso sozinho, uma pessoa deficiente...

Pensamos também na humilhação das pessoas que, pela sua conduta fiel ao Evangelho, são discriminadas e pagam na própria pele. E pensamos ainda nos nossos irmãos e irmãs perseguidos porque são cristãos, os mártires de hoje: não renegam Jesus e suportam, com dignidade, insultos e ultrajes. Seguem-No pelo seu caminho. Podemos falar de uma «nuvem de testemunhas» (cf. Heb 12, 1).

Com eles, emboquemos também nós decididamente esta estrada, com tanto amor por Ele, o nosso Senhor e Salvador. Será o amor a guiar-nos e a dar-nos força. E, onde Ele estiver, estaremos também nós (cf. Jo 12, 26).
Amen.

Bom Domingo do Senhor!

Imitemos a mulher de que nos fala o início do longo, mas belo, Evangelho de hoje (Mc 14, 1-72.15, 1-47) e o de amanhã (Jo 12, 1-11) oferecendo ao Senhor hoje e sempre o nosso melhor perfume, na oração, na devoção, na participação na vida da Igreja, durante as celebrações e nos Sacrários aonde o acolhemos, pois ainda que ele esteja sempre connosco merece todo o nosso amor e cuidado.

Senhor ajuda-nos a viver permanentemente apaixonados por Ti!

«Aí vem o noivo, ide ao seu encontro» (Mt 25,6)

Homilia atribuída a Santo Epifânio de Salamina (? - 403), bispo
Homilia para o Domingo de Ramos

«Exulta de alegria, filha de Sião!» (Za 9,9), alegra-te e exulta, Igreja de Deus, pois eis que o teu Rei vem a ti, eis o Esposo que chega, sentado num burro como num trono! Vamos depressa ao Seu encontro para contemplar a Sua glória. Eis a salvação do mundo: Deus avança para a cruz. Também nós, os povos, gritamos hoje com o povo: «Hossana ao Filho de David! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!» (Mt 21,9; Sl 118,26) [...]

A Igreja celebra um dia de festa à sombra de Cristo, oliveira carregada de azeitonas na casa de Deus (Sl 52,10); celebra um dia de Festa com Cristo, lírio primaveril do Paraíso em flor. Porque Cristo está no meio da Igreja como verdadeiro lírio florido, raiz de Jessé que não julga o mundo mas o serve (Is11,1.3). Ele está no meio da Igreja, fonte eterna donde jorram, não já os rios do paraíso (cf. Gn 2,10), mas Mateus, Marcos, Lucas e João, que regam os jardins da Igreja de Cristo. Hoje, nós, que somos novos e fecundos rebentos (cf Sl 128,3), levando nas mãos os ramos da oliveira, supliquemos a misericórdia de Cristo. «Plantados na casa do Senhor», florescendo na Primavera nos «átrios do nosso Deus», celebremos um dia de festa: «que o Inverno já passou!» (Sl 92,14; Ct 2,11) [...]

Clamo com São Paulo, com voz santa e forte: «O que era antigo passou; eis que surgiram coisas novas» (2Co 5,17). [...] Um profeta, olhando para este rei, grita: «Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo» (Jo 1,29) [...]; e David, olhando para Cristo, saído da sua raça segundo a carne diz: «O Senhor é Deus; Ele tem-nos iluminado!» (Sl 118,27). Dia de festa admirável, pela sua novidade, surpreendente e estupenda: as crianças aclamam a Cristo como Deus e os sacerdotes maldizem-n'O, as crianças adoram-n'O e os doutores da lei desprezam-n'O e caluniam-n'O. As crianças dizem: «Hossana!» e os Seus inimigos gritam: «Crucifica-O!» Aquelas juntam-se ao redor de Cristo com palmas, estes atiram-se a Ele com espadas; aquelas cortam os ramos, estes preparam uma cruz.

O Evangelho de Domingo dia 29 de março de 2015

Dali a dois dias era a Páscoa e os Ázimos; os príncipes dos sacerdotes e os escribas andavam buscando o modo de O prender à traição, para O matar. Porém, diziam: «Não convém que isto se faça no dia da festa, para que não se levante nenhum motim entre o povo». Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão o leproso, enquanto estava à mesa, veio uma mulher trazendo um frasco de alabastro cheio de um perfume feito de verdadeiro nardo, de um grande valor e, quebrando o frasco, derramou-Lho sobre a cabeça. Alguns dos que estavam presentes indignaram-se e diziam entre si: «Para que foi este desperdício de perfume? Pois podia-se vender por mais de trezentos denários e dá-los aos pobres». E irritavam-se contra ela. Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque a molestais? Ela fez-Me uma boa obra, porque pobres sempre os tereis convosco, e quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; porém a Mim, não Me tereis sempre. Ela fez o que podia: ungiu com antecipação o Meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: Onde quer que for pregado este Evangelho por todo o mundo, será também contado, para sua memória, o que ela fez». Então, Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Eles ouvindo-o, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava ocasião oportuna para O entregar. No primeiro dia dos Ázimos, quando imolavam a Páscoa, os discípulos perguntaram-Lhe: «Onde queres que vamos preparar-Te a refeição da Páscoa?». Então, Ele enviou dois dos Seus discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade e encontrareis um homem levando uma bilha de água; ide atrás dele, e, onde entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre manda dizer: Onde está a Minha sala onde hei-de comer a Páscoa com os Meus discípulos?”. E ele vos mostrará uma sala superior, grande, mobilada e já pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e chegaram à cidade; encontraram tudo como Ele lhes tinha dito, e prepararam a Páscoa. Chegada a tarde, foi Jesus com os doze. Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: «Em verdade vos digo que um de vós, que come comigo, Me há-de entregar». Então começaram a entristecer-se, e a dizer-Lhe um por um: «Porventura sou eu?». Ele disse-lhes: «É um dos doze que se serve comigo do mesmo prato. O Filho do Homem vai, segundo está escrito d'Ele, mas, ai daquele homem por quem for entregue o Filho do Homem! Melhor fora a esse homem não ter nascido». Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciada a bênção, partiu-o, deu-lho e disse: «Tomai, isto é o Meu corpo». Em seguida, tendo tomado o cálice, dando graças, deu-lho, e todos beberam dele. E disse-lhes: «Isto é o Meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por todos. Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira, até àquele dia em que o beberei novo no reino de Deus». Cantados os salmos, foram para o monte das Oliveiras. Então Jesus, disse-lhes: «Todos vós vos escandalizareis, pois está escrito: “Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão”. Mas, depois de Eu ressuscitar, preceder-vos-ei na Galileia». Pedro, porém, disse-Lhe: «Ainda que todos se escandalizem a Teu respeito, eu não». Jesus disse-lhe: «Em verdade te digo que hoje, nesta mesma noite, antes que o galo cante a segunda vez, Me negarás três vezes». Porém, ele insistia ainda mais: «Ainda que seja preciso morrer contigo, não Te negarei». E todos diziam o mesmo. Chegando a uma herdade, chamada Getsemani, Jesus disse aos Seus discípulos: «Sentai-vos aqui enquanto vou orar». Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a sentir pavor e angústia. E disse-lhes: «A Minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai». Tendo-Se adiantado um pouco, prostrou-Se por terra e pedia que, se era possível, se afastasse d'Ele aquela hora. Dizia: «Abba, Pai, todas as coisas Te são possíveis; afasta de Mim este cálice; porém, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». Depois, voltou e encontrou-os a dormir, e disse a Pedro: «Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, na verdade, está pronto mas a carne é fraca». Tendo-Se retirado novamente, pôs-Se a orar, repetindo as mesmas palavras. Voltando, encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados pelo sono. Não sabiam que responder-Lhe. Voltou terceira vez, e disse-lhes: «Dormi agora e descansai. Basta!, é chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que Me há-de entregar». Ainda falava, quando chega Judas Iscariotes, um dos doze, e com ele muita gente armada de espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e pelos anciãos. O traidor tinha-lhes dado um sinal dizendo: «Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-O e levai-O com cuidado». Logo que chegou, aproximando-se imediatamente de Jesus, disse-Lhe: «Mestre!», e beijou-O. Então eles lançaram-Lhe as mãos e prenderam-n'O. Um dos presentes, tirando a espada, feriu um servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha. Jesus tomando a palavra, disse-lhes: «Como se Eu fosse um ladrão viestes prender-Me com espadas e varapaus? Todos os dias estava entre vós ensinando no templo e não Me prendestes. Mas isto acontece para que se cumpram as Escrituras». Então, os discípulos, abandonando-O, fugiram todos. Um jovem seguia Jesus coberto somente com um lençol e prenderam-no. Mas ele, largando o lençol, escapou-se-lhes nu. Levaram Jesus ao sumo sacerdote e juntaram-se todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro foi-O seguindo de longe, até dentro do pátio do sumo sacerdote. Estava sentado ao fogo com os criados, e aquecia-se. Os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para O fazerem morrer, e não o encontravam. Muitos depunham falsamente contra Ele, mas não concordavam os seus depoimentos. Levantaram-se uns que depunham falsamente contra Ele, dizendo: «Nós ouvimo-l'O dizer: “Destruirei este templo, feito pela mão do homem, e em três dias edificarei outro, que não será feito pela mão do homem”». Porém, nem estes testemunhos eram concordes. Então, levantando-se do meio da assembleia o sumo sacerdote, interrogou Jesus, dizendo: «Não respondes nada ao que estes depõem contra Ti?». Ele, porém, estava em silêncio e nada respondeu. Interrogou-O de novo o sumo sacerdote e disse-Lhe: «És Tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?». Jesus respondeu: «Eu sou, e vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, e vir sobre as nuvens do céu». Então, o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: «Que necessidade temos de mais testemunhas? Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?». E todos O condenaram como réu de morte. Então começaram alguns a cuspir-Lhe, a cobrir-Lhe o rosto e a dar-Lhe murros, dizendo-Lhe: «Profetiza!». Os criados receberam-n'O a bofetadas. Entretanto, estando Pedro em baixo no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Vendo Pedro, que se aquecia, encarando-o disse: «Tu também estavas com Jesus Nazareno». Mas ele negou: «Não sei, nem compreendo o que dizes». E saiu para fora, para a entrada do pátio, e o galo cantou. Tendo-o visto a criada, começou novamente a dizer aos que estavam presentes: «Este é daqueles». Mas ele o negou de novo. Pouco depois, os que ali estavam presentes diziam de novo a Pedro: «Verdadeiramente tu és um deles, porque também és galileu». Ele começou a fazer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem de quem falais». Imediatamente cantou o galo segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus tinha dito: «Antes que o galo cante duas vezes, Me negarás três». E começou a chorar. Logo pela manhã, os príncipes dos sacerdotes tiveram conselho com os anciãos, os escribas e todo o Sinédrio. Manietando Jesus, O levaram e entregaram a Pilatos. Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos Judeus?». Ele respondeu: «Tu o dizes». Os príncipes dos sacerdotes acusavam-n'O de muitas coisas. Pilatos interrogou-O novamente: «Não respondes coisa alguma? Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus não respondeu mais nada, de forma que Pilatos estava admirado. Ora ele costumava, pela Páscoa, soltar-lhes um dos presos que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás -  que estava preso com outros sediciosos - que, num motim, tinha cometido um homicídio. Juntando-se o povo começou a pedir o indulto que sempre lhes concedia. Pilatos respondeu-lhes: «Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?». Porque sabia que os príncipes dos sacerdotes O tinham entregue por inveja. Porém, os príncipes dos sacerdotes incitaram o povo a que pedisse antes a liberdade de Barrabás. Pilatos falando outra vez, disse-lhes: «Que hei-de fazer, então, d'Aquele que vós chamais o Rei dos Judeus?». Eles tornaram a gritar: «Crucifica-O!». Pilatos, porém, dizia-lhes: «Que mal fez Ele?». Mas eles cada vez gritavam mais: «Crucifica-O!». Então Pilatos, querendo satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás. Depois de fazer açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados conduziram-n'O ao interior do átrio, isto é, o Pretório, e ali juntaram toda a coorte. Revestiram-n'O de púrpura e cingiram-Lhe a cabeça com uma coroa entretecida de espinhos. E começaram a saudá-l'O: «Salve, Rei dos Judeus!». E davam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe no rosto, e, pondo-se de joelhos, faziam-Lhe reverências. Depois de O terem escarnecido, despojaram-n'O da púrpura, vestiram-Lhe os Seus vestidos e levaram-n'O para O crucificar. Obrigaram um certo homem que ia a passar, Simão de Cirene, que vinha do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a levar a cruz. Conduziram-n'O ao lugar do Gólgota, que quer dizer lugar do Crânio. Davam-Lhe a beber vinho misturado com mirra, mas Ele não o tomou. Tendo-O crucificado, dividiram os Seus vestidos, lançando sortes sobre eles, para ver que parte cada um levaria. Era a hora tércia quando O crucificaram. A causa da Sua condenação estava escrita nesta inscrição: «O Rei dos Judeus». Com Ele crucificaram dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda. Omitido pela Neo-Vulgata. Os que passavam blasfemavam, abanando a cabeça e dizendo: «Ah! Tu, que destróis o templo de Deus e o reedificas em três dias, salva-Te a Ti mesmo descendo da cruz». Do mesmo modo, escarnecendo-O os príncipes dos sacerdotes e os escribas, diziam entre si: «Salvou os outros, e não Se pode salvar a Si mesmo. O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz para que vejamos e acreditemos». Também os que tinham sido crucificados com Ele O insultavam. Chegando a hora sexta, toda a terra se cobriu de trevas até à hora nona. E, à hora nona, exclamou Jesus em alta voz: «Eli, Eli, lemá sabachtani?». Que quer dizer: «Meu Deus, Meu Deus, porque me desamparaste?». Ouvindo isto, alguns dos presentes diziam: «Eis que chama por Elias». Correndo um e ensopando uma esponja em vinagre e atando-a a uma cana, dava-Lhe de beber, dizendo: «Deixai, vejamos se Elias vem tirá-l'O». Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. O centurião, que estava em frente d'Ele, vendo que Jesus expirara dando este brado, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus». Encontravam-se ali também algumas mulheres olhando de longe, entre as quais estava Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, as quais já O seguiam e serviam quando Ele estava na Galileia, e muitas outras que, juntamente com Ele, tinham subido a Jerusalém. Ao cair da tarde, pois era a Preparação, isto é, a véspera do sábado, chegou José de Arimateia, membro ilustre do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus. Apresentou-se corajosamente a Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se que já estivesse morto; mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se já estava morto. Informado pelo centurião, deu o corpo a José. José, tendo comprado um lençol e tirando-O da cruz, envolveu-O no lençol, depositou-O num sepulcro, que estava aberto na rocha, e rolou uma pedra para diante da entrada do sepulcro. Entretanto Maria Madalena e Maria, mãe de José, estavam observando onde era depositado.

Mc 14, 1-72.15, 1-47

‘Só’ de Patrícia Reis (selecção de imagens da responsabilidade deste blogue)

A imagem não é da autora deste
poema / oração
Senhor
hoje perdi o chão
vacilei
a  fé abandonou-me o corpo
a cabeça ficou vazia
fiquei sozinha

Senhor
hoje, perante a dor,
achei-me tão pequena
que não te mereço como consolo
e por isso
fiquei sozinha

Senhor
se a exigência de viver sem fé é solidão
eu estou sozinha
não me resta nada

Senhor
se a fé regressar
entrar em cada poro da minha pele
preenchendo o coração
então estarei sozinha
mas tu estarás comigo

Patrícia Reis AQUI

«Para congregar na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos»

São Leão Magno (?-c. 461), papa, doutor da Igreja
Oitava homilia sobre a Paixão, 7; SC 74 bis

«Uma vez levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12,32). Admirável poder da cruz! Indescritível glória da Paixão! Aí se encontra o tribunal do Senhor, o julgamento do mundo e a vitória do Crucificado. Sim, Tu atraíste todos a Ti, Senhor, e quando «estendias continuamente as mãos para um povo incrédulo e rebelde» (Is 65,2; Rom 10,21), o mundo inteiro percebeu que devia glorificar a Tua majestade. [...] Tu atraíste todos a Ti, Senhor, porque, quando o véu do templo se rasgou (Mt 27,51), a imagem do Santo dos Santos manifestou-se na verdade, a profecia foi completamente cumprida, e a Lei antiga foi substituída pelo Evangelho. Tu atraíste todos a Ti, Senhor, para que o culto de todas as nações seja celebrado em plenitude pelo mistério que, até então envolto em símbolos num só templo na Judeia, seja finalmente expresso abertamente. [...]

Porque a Tua cruz é a fonte de todas as bênçãos, a causa de toda a graça. Da fraqueza da cruz os crentes recebem a força; da sua vergonha, a glória; de Tua morte, a vida. Agora, de facto, acabaram os múltiplos sacrifícios: a oferenda única do Teu corpo e do Teu sangue leva ao seu cumprimento todos os sacrifícios oferecidos nas diferentes partes do mundo, porque Tu és o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado o mundo (Jo 1,29). Tu realizas em Ti todas as religiões de todos os homens, para que todos os povos formem um só Reino.

O Evangelho do dia 28 de março de 2015

Então, muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera, acreditaram n'Ele. Porém, alguns deles foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus tinha feito. Os pontífices e os fariseus reuniram-se então em conselho e disseram: «Que fazemos, já que Este homem faz muitos milagres? Se O deixamos proceder assim, todos acreditarão n'Ele; e virão os romanos e destruirão a nossa cidade e a nossa nação!». Mas um deles, chamado Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não sabeis nada, nem considerais que vos convém que morra um homem pelo povo e que não pereça toda a nação!». Ora ele não disse isto por si mesmo, mas, como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para unir num só corpo os filhos de Deus dispersos. Desde aquele dia tomaram a resolução de O matar. Jesus, pois, já não andava em público entre os judeus, mas retirou-Se para uma terra vizinha do deserto, para a cidade chamada Efraim e lá esteve com os Seus discípulos. Estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa para se purificarem. Procuravam Jesus e diziam uns para os outros, estando no templo: «Que vos parece, não virá Ele à festa?».

Jo 11, 45-56

Acreditar em Cristo

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de João, n°48, 9-11; CCSL 36, 417

«Se a Lei chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus, porque dizeis Àquele a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo: 'Tu blasfemas', por Eu ter dito: 'Sou Filho de Deus'?» De facto, se Deus falou aos homens para que eles fossem chamados deuses, como poderia a Palavra de Deus, o Verbo que está em Deus, não ser Deus? Se os homens, porque Deus lhes fala, se tornam participantes da Sua natureza e se tornam deuses, como poderia esta Palavra, por onde lhes chega esta dádiva, não ser Deus? [...] Quando te aproximas da Luz e a recebes, tornas-te filho de Deus; se te afastares, tornas-te obscuro e filho das trevas (cf 1Th 5,5). [...]

«Acreditai nas obras. Assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em Mim e Eu no Pai.» O Filho de Deus não diz «o Pai está em Mim e eu no Pai» no sentido em que os homens o podem dizer. De facto, se os nossos pensamentos forem bons, estamos em Deus; se a nossa vida for santa, Deus está em nós. Quando participamos na Sua graça e somos iluminados pela Sua luz, estamos Nele e Ele em nós. Mas [...] reconhece o que é próprio do Senhor e o que é uma dádiva feita ao Seu servo: o que é próprio do Senhor é a igualdade com o Pai; a dádiva atribuída ao servo é participar no Salvador.

«Eles procuravam prendê-Lo.» Se ao menos O tivessem prendido – mas pela fé e pela inteligência, não para O atormentar e O matar! Neste momento em que vos falo [...], todos, vós e eu, queremos prender Cristo. Que significa prender? Vós prendeis quando compreendeis. Mas os inimigos de Cristo procuravam outra coisa. Vós prendestes para possuir, eles queriam prendê-Lo para se desembaraçarem Dele. E, porque queriam prendê-Lo desta forma, que faz Jesus? «Escapou-Se-lhes das mãos.» Não conseguiram prendê-Lo porque não tinham as mãos da fé. [...] Nós prendemos verdadeiramente a Cristo se o nosso espírito captar o Verbo.

O Evangelho do dia 27 de março de 2015

Jesus disse então aos judeus que creram n'Ele: «Se vós permanecerdes na Minha palavra sereis verdadeiramente Meus discípulos,  conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres». Eles responderam-Lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?». Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora o escravo não fica para sempre na casa, mas o filho é que fica nela para sempre. Por isso, se o Filho vos livrar, sereis verdadeiramente livres. Bem sei que sois descendentes de Abraão, mas procurais matar-Me porque a Minha palavra não penetra em vós. Eu digo o que vi em Meu Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai». Eles replicaram: «O nosso pai é Abraão». Jesus disse-lhes: «Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-Me, a Mim, que vos disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão nunca fez isto. Vós fazeis as obras do vosso pai». Eles disseram-Lhe: «Nós não somos filhos da prostituição, temos um pai que é Deus». Jesus disse-lhes: «Se Deus fosse vosso pai, certamente Me amaríeis porque Eu saí e vim de Deus. Não vim de Mim mesmo, mas foi Ele que Me enviou. 

Jo 8, 31-42

UM DOMINGO EM LONDRES

Estive em Londres quatro dias com a família, em férias.

No Domingo procurei, obviamente, uma igreja para participar na Missa Dominical.
O meu deficiente inglês ou a falta de precisão na pergunta, (se a Missa era Católica Romana ou Católica Anglicana), levaram-me ao “erro”, do qual só me apercebi quando reparei que quem presidia à celebração era uma mulher.
Podia ter percebido logo, visto que estava na Westminster Abbey e não na Westminster Cathedral.
Confusões de nomes!

Estava e deixei-me ficar.
Claro que tinha de fazer comparações!

Em primeiro lugar os fiéis foram acolhidos e levados aos lugares sentados que havia disponíveis, (chegavam para todos), e foi distribuído um “guião” com toda a liturgia que ia ser celebrada, Leituras e Evangelho, obviamente incluídas, bem como os cânticos da celebração.
Por esse “guião” pode perceber que as diferenças com a nossa liturgia eram mínimas.
Tal facto descansou-me um pouco mais.

A igreja estava cheia e a procissão inicial, (eram diversos clérigos), foi acompanhada pelas vozes de um extraordinário coro de vozes infantis e adultas, que ressoavam naquele ambiente como preces elevadas ao Céu.

Não posso deixar de dizer que a dignidade da celebração, não só por parte dos celebrantes, mas também dos fiéis em geral, me fez desejar que tal se passasse também na maior parte das nossas igrejas e celebrações.
Acreditam que nem um só telemóvel tocou durante a celebração?
Acreditam que praticamente não ouvi ninguém tossir ou conversar, durante a celebração?
Acreditam que a maioria dos fiéis, (ingleses, obviamente), respondiam e cantavam em voz alta, durante a celebração?
Acreditam que na fila para a Comunhão, (nas duas espécies), não vi ninguém falar, dar beijinhos, cumprimentar, ou andar de cabeça baixa, mas sim tudo com grande dignidade e silêncio correspondentes ao acto que iam fazer?
Acreditam, por fim, que no final da celebração, ainda antes da procissão final, se levantaram muito poucas pessoas, a quem no entanto, aquelas e aqueles que estavam a acolher pediram para permanecer nos seus lugares, e só no fim do cântico final os fiéis saíram da igreja?

Pois é, fiquei a pensar no que pensariam muitos daqueles fiéis, se participassem em algumas, (bastantes), das nossas celebrações dominicais?

Não o queria escrever como crítica, mas como chamada de atenção para cada um de nós, fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana em Portugal.

Marinha Grande, 26 de Março de 2015

Joaquim Mexia Alves

«Eu Sou»

São Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelhos, nº 18

«Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o Meu dia; viu-o e ficou feliz.» Abraão viu o dia do Senhor quando recebeu em sua casa os três anjos que representam a Santíssima Trindade: três hóspedes a quem se dirigiu como se fossem um só (cf Gn 18,2-3). [...] Mas o espírito terra-a-terra dos ouvintes do Senhor não eleva o olhar acima da carne [...], e eles dizem-Lhe: «Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?»  Então, o nosso Redentor desvia suavemente o seu olhar do corpo de carne para o elevar à contemplação da Sua divindade, declarando: «Em verdade, em verdade vos digo: antes de Abraão existir, Eu sou!» «Antes» indica o passado e «Eu sou» o presente. Uma vez que a Sua divindade não tem passado nem futuro, mas existe desde sempre, o Senhor não diz: «Antes de Abraão Eu era» mas sim: «Antes de Abraão existir, Eu sou!». Foi por isso que Deus declarou a Moisés: «Eu sou Aquele que sou.» [...] «Assim dirás aos filhos de Israel: “Eu sou” enviou-me a vós!» (Ex 3,14). 

Abraão teve um antes e um depois; veio a este mundo [...] e deixou-o, levado pelo decurso da sua vida.  Mas é próprio da Verdade de existir sempre (Jo 14,6), pois nem começa num primeiro tempo nem termina num tempo seguinte. Mas esses descrentes, que não conseguiam suportar as Suas palavras de vida eterna, foram recolher pedras para lapidar Aquele que não conseguiam compreender. [...]

«Jesus escondeu-Se e saiu do templo». É espantoso que o Senhor tenha escapado aos Seus perseguidores escondendo-Se, embora pudesse exercer o poder da Sua divindade. [...] Então porque Se escondeu? Porque, uma vez feito homem entre os homens, o nosso Redentor diz-nos umas coisas através da Sua palavra e outras através do Seu exemplo. E, pelo Seu exemplo, que nos diz Ele senão para fugirmos humildemente da cólera dos orgulhosos, mesmo quando podemos oferecer resistência? [...] Por isso, que ninguém proteste ao ouvir afrontas, que ninguém pague o insulto com o insulto. Pois é mais glorioso evitar uma injúria calando-se, como fez Deus, que tentar ganhar a discussão respondendo.

O Evangelho do dia 26 de março de 2015

Em verdade, em verdade vos digo: Quem guardar a Minha palavra não verá a morte eternamente». Os judeus disseram-Lhe: «Agora reconhecemos que estás possesso do demónio. Abraão morreu, os profetas também, e Tu dizes: Quem guardar a Minha palavra não provará a morte eternamente. Porventura és maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? Os profetas também morreram: Quem pretendes Tu ser?». Jesus respondeu: «Se Eu Me glorifico a Mim mesmo, a Minha glória não é nada; Meu Pai é que Me glorifica, Aquele que vós dizeis que é vosso Deus. Mas vós não O conhecestes; Eu sim, conheço-O; e, se disser que não O conheço, seria mentiroso como vós. Mas conheço-O e guardo a Sua palavra. Abraão, vosso pai, regozijou-se com a esperança de ver o Meu dia; viu-o e ficou cheio de gozo». Os judeus, por isso, disseram-Lhe: «Tu ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?». Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão existisse, “Eu sou”». Então pegaram em pedras para Lhe atirarem; mas Jesus ocultou-Se e saiu do templo.

Jo 8, 51-59

Liturgia da Palavra de Sexta-feira da Paixão do Senhor

Liturgia da Palavra

Completas

V/ Deus vinde em nosso auxílio.
R/ Senhor socorrei-nos e salvai-nos.
V/ Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo:
R/ Como era no princípio, agora e sempre. Amen.

Façamos uma paragem e passemos em revista o nosso dia. Façamos um exame de consciência, sobre o caminho que nos temos dedicado ao serviço dos outros.

Hino

Clara Luz do Cordeiro,
Já a noite me invade,
Mas fique em mim de vela
A tua claridade.
Dia e noite, Senhor,
Teu braço me sustente:
Que todo o mal se afaste
E todo o bem se aumente.
Enquanto os olhos dormem,
Vigie o coração;
Teu Anjo me acompanhe
E arrede a tentação.
Cai a noite; a tua graça
Nas trevas me alumia,
Até que venha a aurora
Trazer-me o eterno dia.

Salmo dia

Antífona 1

Senhor, sede o meu refúgio e a fortaleza da minha salvação.

Salmo 30, 1-6 

Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Inclinai para mim os vossos ouvidos,
apressai-Vos em libertar-me.
Sede a rocha do meu refúgio
e a fortaleza da minha salvação;
porque Vós sois a minha força e o meu refúgio,
por amor do vosso nome, guiai-me e conduzi-me.
Livrai-me da armadilha que me prepararam,
porque Vós sois o meu refúgio.
Em vossas mãos entrego o meu espírito,
Senhor, Deus fiel, salvai-me.

Antífona 2

Do abismo profundo chamo por Vós, Senhor.

Salmo 129

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor:
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.
Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão,
para serdes temido com reverência.
Eu confio no Senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor,
mais do que as sentinelas pela aurora.
Mais do que as sentinelas pela aurora,
Israel espera pelo Senhor,
porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas.

Leitura Breve Ef 4, 26-27

Não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao
demónio.

Responsório Breve
V. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
V. Senhor, Deus fiel, meu Salvador.
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.

Benedictus

Bendito o Senhor, Deus de Israel
Que visitou e redimiu o seu povo
E nos deu um Salvador poderoso
Na casa de David, seu servo,
Conforme prometeu pela boca dos seus santos,
Os profetas dos tempos antigos,
Para nos libertar dos nossos inimigos
E das mãos daqueles que nos odeiam
Para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais,
Recordando a sua sagrada aliança
E o juramento que fizera a Abraão, nosso pai,
Que nos havia de conceder esta graça:
De O servirmos um dia, sem temor,
Livres das mãos dos nossos inimigos,
Em santidade e justiça na sua presença,
Todos os dias da nossa vida.
E tu, Menino, serás chamado Profeta do Altíssimo,
Porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos,
Para dar a conhecer ao seu povo a salvação 
Pela remissão dos seus pecados,
Graças ao coração misericordioso do nosso Deus,
Que das alturas nos visita como Sol Nascente,
Para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte
E dirigir os nossos passos no caminho da paz.

Glória ao Pai e ao Filho
E ao Espirito Santo,
Como era no princípio,
Agora e sempre. Amen.

Oração

Senhor Jesus Cristo, que sois manso e humilde de coração e ofereceis aos que Vos
seguem um jugo suave e uma carga leve, aceitai os desejos e as acções deste dia que
terminou, e fazei que possamos descansar durante a noite, para continuarmos fiéis e
constantes no vosso serviço. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.
Amen.

V. O Senhor omnipotente nos dê uma noite tranquila e no fim da vida uma santa morte.
R. Amen.

Magnificat

A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva:
De hoje em diante me chamarão bem aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.

A sua misericórdia se estende de geração em geração
Sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
E dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
E exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
E aos ricos despediu de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo,
Lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais,
A Abraão e à sua descendência para sempre

Glória ao Pai e ao Filho
E ao Espírito Santo,
Como era no princípio,
Agora e sempre. Amen.