segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

As trombetas de Jericó

Passaram 25 anos desde a queda do Muro de Berlim e dos acontecimentos que acompanharam a libertação dos milhões de pessoas enclausuradas por esse Muro. Em nome do marxismo, vários milhões de pessoas foram mortas e, a partir de 1961, os campos de concentração da Sibéria e toda a rede de prisões do bloco soviético completaram-se com este muro gigantesco, que fechou hermeticamente o Leste europeu.

Em meados de 1917, ainda antes de o comunismo tomar conta da Rússia, Nossa Senhora avisou os Pastorinhos de Fátima dos horrores deste programa ateu.

A história do Muro começou numa data que recorda Nossa Senhora de Fátima, a noite de 12 para 13 de Agosto de 1961. O objectivo era travar a fuga massiva da população em direcção à liberdade, mas o Governo comunista da Alemanha Oriental chamou-lhe «Antifaschistischer Schutzwall» (muro de protecção anti-fascista), como se se destinasse a proteger o bloco soviético do ataque do imperialismo ocidental. Curiosamente, as metralhadoras não estavam apontadas para Ocidente, mas contra o povo. O Chanceler alemão Willy Brandt chamou-lhe o Muro da Vergonha, outra expressão em voga foi Cortina de Ferro.

Na verdade, o Muro de Berlim não dividia apenas Berlim, estendia-se por 6.800 quilómetros, desde a Finlândia até à Grécia. Nem era apenas um muro, tinha sucessivas barreiras de arame farpado, electrificadas em várias zonas, torres de vigilância ao longo de todo o perímetro, uma faixa de terreno com minas escondidas e uma quantidade imensa de patrulhas militares e de cães. Sobretudo, o Muro vivia do medo, porque as tentativas de fuga pagavam-se com a morte, muitas vezes precedida pela tortura.

Era difícil imaginar poder mais absoluto e incontestado. Os comunistas faziam o que queriam à população dos países do bloco soviético e até no Ocidente poucos levantavam a voz. Centenas de milhões de pessoas permaneceram fechadas durante décadas. Quando pediam algum alívio da ditadura, eram reprimidas com banhos de sangue e as polícias políticas (KGB, STASI, etc.) eliminavam incessantemente os suspeitos. A propaganda comunista, recordada há poucos dias pelo PCP, assegurava que os povos fechados pelo Muro viviam na prosperidade mais completa e na mais ampla liberdade; o marxismo era o «Sol da Terra», declarava Álvaro Cunhal.

Lembro-me de um santo, canonizado por João Paulo II, que disse outra coisa: o Muro havia de cair, como todos os poderes que se levantam contra Deus; o poder da mentira viria abaixo, dizia ele, «como as muralhas de Jericó», porque Deus Se reserva a última palavra.

O Antigo Testamento conta (capítulo 5 do Livro de Josué) que a cidade injusta de Jericó vivia inexpugnável, até que Deus interveio: ao toque prolongado das trombetas e aos gritos do povo, a muralha veio abaixo sozinha e o grande império foi derrubado. Aquilo que a força das armas não conseguira, nem a estratégia dos generais, nem o poder económico, aconteceu de repente e sem esforço, ao som das trombetas. Por outras palavras, as vitórias do mal são sempre enganadoras, porque Deus não deixa que ele triunfe para sempre.

Faz agora 25 anos, os povos que tinham vivido aprisionados durante décadas aproximaram-se do Muro e começaram a cortar os arames, a abrir buracos nas muralhas e passado pouco tempo realizavam-se eleições livres naqueles países.

Afinal, o Muro não valia nada (começou a ser demolido no dia 9 de Novembro de 1989), excepto talvez uma pequenina peça desse Muro, com menos de 3 toneladas, que se pode ver num recanto de um dos caminhos de acesso ao Santuário de Fátima. O pequeno memorial foi inaugurado a 13 de Maio de 1994, em agradecimento a Nossa Senhora.

A alegria da população a escavacar o Muro e o desejo de levar uma recordação fizeram desaparecer grandes extensões. Parece que a peça de Fátima é uma das que se encontra em melhor estado de conservação.

José Maria C. S. André

«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», «ABC Portuguese Canadian Newspaper», 23-XI-2014

A alegria da multidão de santos que acompanham Cristo no Céu

Na cama de um hospital, nas tarefas da casa, no meio do trabalho mais absorvente, no silêncio de um laboratório ou dos campos, em qualquer lugar, com o espírito do Opus Dei, se unirmos tudo isso a Deus Nosso Senhor, estamos a colaborar ativamente com Ele na extensão do Seu Reino na Terra e a preparar essa vinda gloriosa que nos cumulará de felicidade.

Nos meses passados recordei-vos com frequência que já temos no Céu uma imensa multidão de bem-aventurados da Obra, que habitam na glória. Estamos intimamente unidos a todos pela Comunhão dos santos. Eles e elas fortalecem a nossa debilidade, fazem eco às nossas petições, ajudam-nos de tantas formas. O Papa Bento XVI recordava uma verdade que a Revelação nos transmite: «do regresso definitivo de Cristo, na Parusia, (…), foi-nos dito que Ele não virá sozinho, mas juntamente com todos os santos» [7].

Que alegria pensar que, entre a multidão de santos que acompanham Cristo no Céu, e que com Ele vão aparecer em cortejo glorioso, se encontram tantas e tantos com quem convivemos na Terra! Pela misericórdia de Deus, lá estaremos também cada uma e cada um de nós, se somos fiéis à nossa chamada. «Assim, cada santo que entra na História – prosseguia Bento XVI – constitui já uma pequena porção da vinda de Cristo, da Sua nova entrada no tempo, que nos mostra a Sua imagem de modo novo e nos dá a segurança da Sua presença. Jesus Cristo não pertence ao passado e não está confinado a um futuro distante, cujo advento nem sequer temos a coragem de pedir. Ele chega com um imenso cortejo de santos. E já está, juntamente com os Seus santos, sempre a caminho de nós, rumo ao nosso hoje» [8].

O Advento prepara-nos também para recebermos espiritualmente Jesus no Natal, tem¬po em que recordamos o Seu Nascimento segundo a carne. A isto nos convida a liturgia, especialmente a partir de 17 de dezembro. É sempre tempo de nos encontrarmos com Jesus, que vem muitas vezes à nossa alma, sobretudo na Comunhão diária e, espiritualmente, em tantos outros momentos. Este encontro dá-se de maneira muito especial no clima espiritual do Advento, que ganha mais intensidade conforme nos aproximamos do Natal.

[7]. Bento XVI, Discurso, 21-XII-2007.
[8]. Bento XVI, Discurso, 21-XII-2007.

D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na carta do mês de dezembro de 2014
© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei

A minha querida mulher, o pilar da minha passagem

Desculpem-me se hoje vos falo de alguém a quem me encontro profundamente ligado e que para a maioria de vós será apenas mais uma história de um casamento feliz.

Hoje festejamos o aniversário do nosso casamento perante Deus Nosso Senhor e permito-me acrescentar que debaixo do manto da Imaculada Conceição. Ao longo da nossa vida conjugal ela sempre foi o pilar de toda a família, sem a ajuda de Deus, da Sua Santíssima Mãe e da minha mulher tanta coisa boa que nos aconteceu ao longo de mais de 40 anos de união não teria acontecido.

Costumo dizer que ‘é uma santa’, o que ela não gosta nada que seja dito, mas se perguntarem aos netos, aos filhos, à sua Mãe, irmãos e primos, todos sem excepção estarão de acordo comigo, pois a sua permanente disponibilidade para ajudar próximo sem nada esperar em troca é verdadeiramente impressionante, que me seja perdoado antecipar o juízo do Senhor, mas estou absolutamente convicto que já lhe reservou um lugar em Jerusalém Celeste.

Defeitos, tê-los-á certamente, mas neste momento não me ocorre nenhum, pelo que seguramente que são irrelevantes em relação às qualidades.

Obrigado meu Deus pela maravilhosa companheira que ofereceste a este grande pecador, porque a Tua dávida de amor com tanto amor que ela me tem só pode ser fruto da Tua infinita misericórdia. Peço por intercessão da Imaculada Conceição que continues a nos proteger, bem como a toda a nossa família.

João Paulo Reis (texto escrito e publicado nesta mesma data em 2010, mas ao qual apenas tive de retirar o testemunho das tias, que já nos deixaram, e acrescentar um especial e carinhoso agradecimento ao Pe. ASL e ao Opus Dei que tanto me apoiam nesta caminhada. Bem-haja!)

«Cheia de graça»

Eadmero (c. 1060–c. 1128), monge inglês
A concepção de Santa Maria

Ó Maria, Senhora Nossa, o Senhor fez de ti Sua mãe singular, constituindo-te assim mestra e soberana do universo. Foi para isso que Ele te formou, pelo Seu Espírito operante, desde o primeiro instante da tua concepção no seio de tua mãe. Nossa Senhora, é essa a nossa alegria hoje. E perguntamos-te, mui doce Maria, rainha prudente e nobre: é possível colocar-te ao mesmo nível ou até a um nível inferior ao das outras criaturas?

O apóstolo da verdade pura afirma com certeza que todos os homens pecaram em Adão (Rm 5,12). [...] Mas, tomando em consideração a qualidade eminente da graça divina em ti, observo que tens uma posição inestimável; à excepção de teu Filho, estás acima de tudo o que foi criado. E concluo que, na tua concepção, não podes ter ficado ligada à mesma lei da natureza a que estão ligados os outros seres humanos. Pela graça eminente que te foi concedida, tu ficaste completamente fora do alcance de todo o pecado. Graça singular e acção divina impenetrável à inteligência humana!

Só o pecado poderia afastar os homens da paz de Deus. Para eliminar esse pecado, para trazer o ser humano de novo à paz de Deus, o Filho de Deus quis fazer-Se homem, mas de um modo tal que nada n'Ele existisse nem participasse daquilo que separa o homem de Deus. Para tal, convinha que Sua mãe fosse pura de todo o pecado. Se não, como poderia a nossa carne unir-se tão intimamente à pureza suprema e como poderia o homem assumir uma tão grande união com Deus, que tudo o que é de Deus pertencesse ao homem e tudo o que é do homem pertencesse a Deus?