Passaram 25 anos desde a queda do Muro de Berlim e dos acontecimentos que acompanharam a libertação dos milhões de pessoas enclausuradas por esse Muro. Em nome do marxismo, vários milhões de pessoas foram mortas e, a partir de 1961, os campos de concentração da Sibéria e toda a rede de prisões do bloco soviético completaram-se com este muro gigantesco, que fechou hermeticamente o Leste europeu.
Em meados de 1917, ainda antes de o comunismo tomar conta da Rússia, Nossa Senhora avisou os Pastorinhos de Fátima dos horrores deste programa ateu.
A história do Muro começou numa data que recorda Nossa Senhora de Fátima, a noite de 12 para 13 de Agosto de 1961. O objectivo era travar a fuga massiva da população em direcção à liberdade, mas o Governo comunista da Alemanha Oriental chamou-lhe «Antifaschistischer Schutzwall» (muro de protecção anti-fascista), como se se destinasse a proteger o bloco soviético do ataque do imperialismo ocidental. Curiosamente, as metralhadoras não estavam apontadas para Ocidente, mas contra o povo. O Chanceler alemão Willy Brandt chamou-lhe o Muro da Vergonha, outra expressão em voga foi Cortina de Ferro.
Na verdade, o Muro de Berlim não dividia apenas Berlim, estendia-se por 6.800 quilómetros, desde a Finlândia até à Grécia. Nem era apenas um muro, tinha sucessivas barreiras de arame farpado, electrificadas em várias zonas, torres de vigilância ao longo de todo o perímetro, uma faixa de terreno com minas escondidas e uma quantidade imensa de patrulhas militares e de cães. Sobretudo, o Muro vivia do medo, porque as tentativas de fuga pagavam-se com a morte, muitas vezes precedida pela tortura.
Era difícil imaginar poder mais absoluto e incontestado. Os comunistas faziam o que queriam à população dos países do bloco soviético e até no Ocidente poucos levantavam a voz. Centenas de milhões de pessoas permaneceram fechadas durante décadas. Quando pediam algum alívio da ditadura, eram reprimidas com banhos de sangue e as polícias políticas (KGB, STASI, etc.) eliminavam incessantemente os suspeitos. A propaganda comunista, recordada há poucos dias pelo PCP, assegurava que os povos fechados pelo Muro viviam na prosperidade mais completa e na mais ampla liberdade; o marxismo era o «Sol da Terra», declarava Álvaro Cunhal.
Lembro-me de um santo, canonizado por João Paulo II, que disse outra coisa: o Muro havia de cair, como todos os poderes que se levantam contra Deus; o poder da mentira viria abaixo, dizia ele, «como as muralhas de Jericó», porque Deus Se reserva a última palavra.
O Antigo Testamento conta (capítulo 5 do Livro de Josué) que a cidade injusta de Jericó vivia inexpugnável, até que Deus interveio: ao toque prolongado das trombetas e aos gritos do povo, a muralha veio abaixo sozinha e o grande império foi derrubado. Aquilo que a força das armas não conseguira, nem a estratégia dos generais, nem o poder económico, aconteceu de repente e sem esforço, ao som das trombetas. Por outras palavras, as vitórias do mal são sempre enganadoras, porque Deus não deixa que ele triunfe para sempre.
Faz agora 25 anos, os povos que tinham vivido aprisionados durante décadas aproximaram-se do Muro e começaram a cortar os arames, a abrir buracos nas muralhas e passado pouco tempo realizavam-se eleições livres naqueles países.
Afinal, o Muro não valia nada (começou a ser demolido no dia 9 de Novembro de 1989), excepto talvez uma pequenina peça desse Muro, com menos de 3 toneladas, que se pode ver num recanto de um dos caminhos de acesso ao Santuário de Fátima. O pequeno memorial foi inaugurado a 13 de Maio de 1994, em agradecimento a Nossa Senhora.
A alegria da população a escavacar o Muro e o desejo de levar uma recordação fizeram desaparecer grandes extensões. Parece que a peça de Fátima é uma das que se encontra em melhor estado de conservação.
José Maria C. S. André
«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», «ABC Portuguese Canadian Newspaper», 23-XI-2014