Imagens de 2006 nas quais se pode ver e ouvir excertos de D. Javier Echevarría a proferir um discurso em inglês
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (6)
Joaquim, «desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa».
Mas, Senhor, desço de onde?
Da árvore a que subiste!
Mas eu estou com os pés na terra, não estou em cima de nenhuma árvore!
Tens a certeza? Tenho que te explicar tudo? Não queres pensar um pouco?
Bem, Senhor, eu acho que já não preciso subir à árvore para Te ver. Já Te vejo bem na minha vida.
Pois Eu digo-te que estás em cima de uma árvore e assim não Me podes ver, como Eu gostaria que me visses.
Bem, Senhor, pões-me a pensar de que cimo de árvore Te verei eu.
Então pensa bem, (com a ajuda do Espírito Santo que te dou), e depois «desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.»
É verdade, Senhor, afinal estou em cima de uma árvore e não Te consigo ver bem! Está a imagem um pouco desfocada, não consigo alcançar todo o teu amor, toda a tua vontade.
Então e porquê, Joaquim?
Oh, Senhor, porque estes ramos me tapam a vista, aliás, percebo agora que esta ramagem me prende e não me deixa descer ao teu encontro.
Olha bem para esses ramos, analisa-os, e depois perceberás o que precisas fazer para deles te libertares.
Reconheço agora, Senhor, um ramo de orgulho, ali ao lado um outro ramo de vaidade, ainda outro de autoconvencimento, mais um de ânsia de protagonismo, ai, Senhor, e um ramo de crítica e maldizer que me agarra com tanta força que não me deixa mover.
Percebes agora em que árvore te encontras, que não te deixa ver-me como Eu quero que me vejas, e não te deixa descer ao meu encontro?
Percebo, Senhor, percebo! E agora, como faço para me libertar desta árvore em que me encontro?
Dar-te-ei o que precisas: Toma o meu amor, para que ames sem orgulho, toma a minha simplicidade, para que te sintas igual aos outros, toma o meu discernimento, para que saibas que tudo o que tens te vem de mim, toma a bacia em que lavei os pés dos meus Apóstolos, e serve-te dela para servires os outros, toma a minha humildade, para que vejas em ti primeiro todos os defeitos e ao rezares por eles, rezes também pelos dos outros.
Oh, Senhor, começam a desprender-se os ramos deixando-me descer da árvore para ir ao teu encontro! Mas alguns ainda vêm muito agarrados a mim.
Não te preocupes! «Desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa», e se nela me deixares fazer morada, todos esses ramos serão queimados no fogo que arde sem consumir.
Obrigado, Senhor, obrigado. Que a minha vida seja a tua morada para sempre.
Marinha Grande, 18 de Novembro de 2014
Joaquim Mexia Alves
Papa Francisco à FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores,
Com sentimento de respeito e apreço, apresento-me hoje aqui, na Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição. Agradeço-lhe, senhor Presidente, a calorosa acolhida e as palavras de boas-vindas que me dirigiu. Saúdo cordialmente o Diretor-Geral da FAO, o Prof. José Graziano da Silva, e a Diretora-Geral da OMS, a Dra. Margaret Chan, e alegra-me a sua decisão de reunir nesta Conferência representantes de Estados, instituições internacionais, organizações da sociedade civil, do mundo da agricultura e do setor privado, com a finalidade de estudar juntos as formas de intervenção para garantir a nutrição, assim como as mudanças necessárias que devem ser acrescentadas às estratégias atuais. A total unidade de propósitos e de obras, mas, sobretudo, o espírito de fraternidade, podem ser decisivos para soluções adequadas. A Igreja, como vocês sabem, sempre procura estar atenta e solícita em relação a tudo o que se refere ao bem-estar espiritual e material das pessoas, primeiramente das que vivem marginalizadas e estão excluídas, para que sua segurança e dignidade sejam garantidas.
1. Os destinos de cada nação estão mais do que nunca entrelaçados entre si, como os membros de uma mesma família, que dependem uns dos outros. Porém, vivemos numa época em que as relações entre as nações estão demasiadas danificadas pela suspeita recíproca, que às vezes se converte em formas de agressão bélica e económica, mina a amizade entre irmãos e rechaça ou descarta quem já está excluído. Conhece bem esta realidade quem carece do pão quotidiano e de um trabalho decente. Esta é a situação do mundo, em que é preciso reconhecer os limites de visões baseadas na soberania de cada um dos Estados, entendida como absoluta, e nos interesses nacionais, condicionados frequentemente por poucos grupos de poder. Isso está bem explicitado na leitura da agenda de trabalho dos senhores, para elaborar novas normas e maiores compromissos para alimentar o mundo. Nesta perspectiva, espero que, na formulação desses compromissos, os Estados se inspirem na convicção de que o direito à alimentação só será garantido se nos preocuparmos com o sujeito real, ou seja, com a pessoa que sofre os efeitos da fome e da desnutrição.
Hoje em dia se fala muito em direitos, esquecendo com frequência os deveres; talvez nos preocupemos muito pouco com os que passam fome. Além disso, dói constatar que a luta contra a fome e a desnutrição é dificultada pela «prioridade do mercado» e pela «preeminência da ganância», que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer, sujeita à especulação, inclusive financeira. E enquanto se fala de novos direitos, o faminto está aí, na esquina da rua, e pede um documento de identidade, ser considerado em sua condição, receber uma alimentação de base saudável. Pede-nos dignidade, não esmola.
2. Estes critérios não podem permanecer no limbo da teoria. Pessoas e povos exigem que a justiça seja colocada em prática; não apenas a justiça legal, mas também a contributiva e a distributiva. Por isso, os planos de desenvolvimento e de trabalho das organizações internacionais deveriam levar em consideração o desejo, tão comum em meio às pessoas comuns, de ver que se respeitam em todas as circunstâncias, os direitos fundamentais da pessoa humana e, no nosso caso, da pessoa faminta. Quando isso acontecer, as intervenções humanitárias, as operações urgentes de ajuda ou de desenvolvimento – verdadeiro e integral – terão maior impulso e darão os frutos desejados.
3. O interesse pela produção, a disponibilidade de alimentos e o acesso a eles, as mudanças climáticas, o comércio agrícola, devem certamente inspirar regras e medidas técnicas, mas a primeira preocupação deve ser a própria pessoa, aquelas que carecem de alimento quotidiano e que deixaram de pensar na vida, nas relações familiares e sociais e lutam apenas pela sobrevivência. O Santo Papa João Paulo II, na inauguração desta sala na Primeira Conferência sobre Nutrição, em 1992, alertou a comunidade internacional para o risco do “paradoxo da abundância”: existe comida para todos, mas nem todos podem comer, enquanto o desperdício, o descarte, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão sob nossos olhos. Infelizmente, este “paradoxo” continua sendo atual. Poucos temas apresentam tantos sofismas como os que se relacionam à fome; e poucos assuntos são tão susceptíveis de ser manipulados por dados, estatísticas, exigências de segurança nacional, a corrupção ou lamentos melancólicos sobre a crise económica. Este é o primeiro desafio a ser superado.
O segundo desafio que se deve enfrentar é a falta de solidariedade. Nossas sociedades se caracterizam por um crescente individualismo e pela fragmentação; isto termina privando os mais frágeis de uma vida digna e provocando revoltas contra as instituições. Quando falta a solidariedade num país, todos se ressentem. Com efeito, a solidariedade é a atitude que torna as pessoas capazes de ir ao encontro do próximo e fundar suas relações mútuas neste sentimento de fraternidade que vai além das diferenças e dos limites, e encoraja a procurarmos, juntos, o bem comum.
Se tomassem consciência de ser parte responsável do desígnio da Criação, os seres humanos seriam capazes de se respeitar reciprocamente, ao invés de combater entre si, danificando e empobrecendo o planeta. Também os Estados, concebidos como uma comunidade de pessoas e de povos, se fossem exortados a atuar de comum acordo, estariam dispostos a ajudar-se uns aos outros, mediante princípios e normas que o direito internacional coloca à sua disposição. Uma fonte inesgotável de inspiração é a lei natural, inscrita no coração humano, que fala uma linguagem que todos podem entender: amor, justiça, paz, elementos inseparáveis entre si. Como as pessoas, também os Estados e as instituições internacionais são chamadas a acolher e cultivar estes valores, no espírito de diálogo e escuta recíproca. Deste modo, o objetivo de nutrir a família humana torna-se realizável.
4. Cada mulher, homem, criança, idoso, deve poder contar em todas as partes com estas garantias. E é dever de todo Estado, atento ao bem-estar de seus cidadãos, subscrevê-las sem reservas, e preocupar-se com a sua aplicação. Isto requer perseverança e apoio. A Igreja Católica procura oferecer também neste campo sua contribuição, através de uma atenção constante à vida dos pobres em todos os lugares do planeta; nesta mesma linha se insere o envolvimento ativo da Santa Sé nas organizações internacionais e com seus múltiplos documentos e declarações. Pretende-se deste modo contribuir para identificar e assumir os critérios que o desenvolvimento de um sistema internacional equânime deve cumprir. São critérios que, no plano ético, se baseiam em pilares como a verdade, a liberdade, a justiça e a solidariedade; ao mesmo tempo, no campo jurídico, estes mesmos critérios incluem a relação entre o direito à alimentação e o direito à vida e a uma existência digna, o direito a ser protegidos pela lei, nem sempre próxima à realidade de quem passa fome, e a obrigação moral de partilhar a riqueza económica do mundo. Se se crê no princípio da unidade da família humana, fundado na paternidade de Deus Criador, e na fraternidade dos seres humanos, nenhuma forma de pressão política ou económica que se sirva da disponibilidade de alimentos pode ser aceitável. Mas, acima de tudo, nenhum sistema de discriminação, de facto ou de direito, vinculado à capacidade de acesso ao mercado dos alimentos, deve ser tomado como modelo das ações internacionais que se propõem a eliminar a fome.
Ao compartilhar estas reflexões com os senhores, peço ao Todo Poderoso, ao Deus rico em misericórdia, que abençoe todos aqueles que, com diferentes responsabilidades, se colocam a serviço dos que passam fome e sabem atendê-los com gestos concretos de proximidade. Peço também para que a comunidade internacional saiba escutar o apelo desta Conferência e o considere uma expressão da comum consciência da humanidade: dar de comer aos famintos para salvar a vida no planeta. Obrigado.
«Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz!»
São Rafael Arnaiz Baron (1911-1938), monge trapista espanhol
Escritos espirituais 23/02/1938
Escritos espirituais 23/02/1938
Debrucei-me um pouco da janela. […] O sol começava a levantar-se. Uma paz muito grande reinava sobre a natureza. Tudo começava a despertar, a terra, o céu, os pássaros. Tudo, pouco a pouco, começava a despertar sob as ordens de Deus. Tudo obedecia às suas leis divinas, sem queixas nem sobressaltos, suavemente, com mansidão, tanto a luz como as trevas, tanto o céu azul como a terra dura coberta pelo orvalho da alvorada. Que bom é Deus!, pensava eu. Há paz em todo o lado, excepto no coração humano.
E delicada, suavemente, Deus ensinou-me também, nessa madrugada suave e tranquila, a obedecer; uma grande paz preencheu a minha alma. Pensei que só Deus é bom, que tudo é ordenado por Ele, que nada no que os homens fazem ou dizem tem importância, e que, para mim, só uma coisa deve haver no mundo: Deus. Deus, que tudo vai ordenar para o meu bem. Deus, que faz que a cada manhã o sol se levante, que faz que a geada derreta, que faz que os pássaros cantem, e que transmuta as nuvens do céu em mil cores suaves. Deus, que me oferece um cantinho nesta Terra para eu orar, que me dá um cantinho onde poder ficar à espera daquilo em que ponho a minha esperança.
Deus, tão bom para comigo que, no silêncio, me fala ao coração, e me ensina aos poucos, talvez em lágrimas, sempre com a cruz, a desligar-me das criaturas; a não procurar a perfeição a não ser nele; que me mostra Maria e me diz: «Eis a única criatura perfeita; nela encontrarás o amor e a caridade que não encontras junto dos homens. De que te queixas tu, Irmão Rafael? Ama-Me, sofre comigo; sou eu, Jesus!»
E delicada, suavemente, Deus ensinou-me também, nessa madrugada suave e tranquila, a obedecer; uma grande paz preencheu a minha alma. Pensei que só Deus é bom, que tudo é ordenado por Ele, que nada no que os homens fazem ou dizem tem importância, e que, para mim, só uma coisa deve haver no mundo: Deus. Deus, que tudo vai ordenar para o meu bem. Deus, que faz que a cada manhã o sol se levante, que faz que a geada derreta, que faz que os pássaros cantem, e que transmuta as nuvens do céu em mil cores suaves. Deus, que me oferece um cantinho nesta Terra para eu orar, que me dá um cantinho onde poder ficar à espera daquilo em que ponho a minha esperança.
Deus, tão bom para comigo que, no silêncio, me fala ao coração, e me ensina aos poucos, talvez em lágrimas, sempre com a cruz, a desligar-me das criaturas; a não procurar a perfeição a não ser nele; que me mostra Maria e me diz: «Eis a única criatura perfeita; nela encontrarás o amor e a caridade que não encontras junto dos homens. De que te queixas tu, Irmão Rafael? Ama-Me, sofre comigo; sou eu, Jesus!»
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
O Evangelho do dia 20 de novembro de 2014
Quando chegou perto, ao ver a cidade, chorou sobre ela, dizendo: «Se ao menos neste dia que te é dado, tu também conhecesses o que te pode trazer a paz!... Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque virão para ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão, te apertarão por todos os lados, te deitarão por terra a ti e aos teus filhos que estão dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada».
Lc 19, 41-44