A missão evangelizadora da Igreja é essencialmente anúncio do amor

“O Senhor enxugará as lágrimas de todas as faces...” (Isaías 25,8). Estas palavras, plenas da esperança de Deus, indicam a meta, mostram o futuro em direção ao qual estamos a caminho. Nesta estrada os santos nos precedem e nos guiam. Estas palavras delineiam também a vocação dos missionários.

Os missionários são aqueles que, dóceis ao Espírito Santo, têm a coragem de viver o Evangelho. Também o Evangelho que acabamos de ouvir: “Ide às encruzilhadas do caminho”, disse o Rei aos seus servos (Mt 22,9). E os servos saíram e reuniram todos os que encontraram, bons e maus, para levá-los ao banquete de casamento do rei.

Os missionários acolheram este chamamento: saíram para chamar a todos, nas encruzilhadas do mundo; e assim fizeram tanto bem à Igreja, pois se a Igreja pára e se fecha, adoece, pode se corromper, quer com o pecado quer com a falsa ciência separada de Deus, que é o secularismo mundano.

Os missionários voltaram o seu olhar para Cristo Crucificado, acolheram a sua graça e não a guardaram para si. Como São Paulo, fizeram-se tudo para todos; souberam viver na pobreza e na abundância, na saciedade e na fome; tudo podiam naquele que dava a eles a força. Com esta força de Deus tiveram a coragem de “sair” pelas estradas do mundo com a confiança no Senhor que chama.

A missão evangelizadora da Igreja é essencialmente anúncio do amor, da misericórdia e do perdão de Deus, revelados aos homens mediante a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Os missionários serviram à Missão da Igreja, compartilhando com os menores e com os mais afastados o pão da Palavra e levando a todos o dom do inexaurível amor, que brota do coração do Salvador.

Assim foram São Francisco de Laval e Santa Maria da Encarnação. Gostaria de deixar a vocês neste dia, queridos peregrinos canadenses, dois conselhos, tirados da Carta aos Hebreus, que farão tanto bem às suas comunidades.

O primeiro é este: “Lembrem-se dos dirigentes, que vos ensinaram a Palavra de Deus. Imitem a fé que eles tinham, tendo presente como morreram” (13,7). A memória dos missionários nos sustenta no momento em que experimentamos a escassez dos operários do Evangelho. Os seus exemplos nos atraem, nos impulsionam a imitar a sua fé. São testemunhos fecundos que geram vida.

O segundo é este: ”Lembrem-se dos primeiros dias, depois que foram iluminados: tivestes que suportar uma longa e penosa luta...Portanto, não percam agora a coragem, à qual está reservada uma grande recompensa. Apenas necessitais da perseverança...” (10, 32.35-36). Prestar homenagem a quem sofreu para nos trazer o Evangelho significa levar em frente a boa batalha da fé, com humildade, brandura e misericórdia, na vida de cada dia. E isto produz fruto.

Eis a alegria e a entrega desta sua peregrinação: fazer memória dos testemunhos, dos missionários da fé na sua terra. Esta memória nos sustenta sempre no caminho em direção ao futuro, para a meta, quando “o Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces...”.

“Alegremo-nos, exultemos pela sua salvação” (Is 25,9).

Papa Francisco - Excerto homilia na Santa Missa de canonização de São Francisco de Laval e Santa Maria da Encarnação)

O Sínodo e o Papa

Várias coisas interessantes aconteceram neste Sínodo dos bispos, que começou em Roma no dia 5 de Outubro, para analisar com o Papa a evangelização das famílias.

A mais previsível foi que muitos meios de comunicação olharam a Igreja com simpatia, mas sem a compreenderem. Lê-se que a Igreja «tem de ouvir os homens», enquanto o Papa punha o acento em «ouvir Deus».

Os caminhos de Deus são sempre caminhos de felicidade, mas pode surgir uma perturbação quando os homens desconfiam que seja mesmo assim e se assustam porque a voz de Deus lhes parece incómoda. No Evangelho, isso aconteceu a Jesus, com uma debandada tão geral que Ele perguntou aos 12 discípulos «também quereis ir embora?». Pedro respondeu por todos: «A quem iremos?...». E os 12 ficaram.

Também neste Sínodo paira a ameaça de que a voz de Deus não coincida com as expectativas dos homens e por isso o Papa Francisco começou por lembrar que o Sínodo não é uma reunião de condóminos (a imagem é minha). Não: «o Sínodo decorre sempre “cum Petro et sub Petro” [juntamente com Pedro e sob a autoridade de Pedro] e a presença do Papa é garantia para todos».

O exemplo mais recente de rejeição generalizada do magistério da Igreja ocorreu em 1968, quando o Papa Paulo VI publicou a Encíclica «Humanae Vitae», reafirmando que o aborto e a contracepção são pecados. Grande parte da opinião pública tinha-se convencido de que a Igreja ia mudar e por isso a «Humanae Vitae» caiu como uma bomba. Os jornais diziam que toda a Igreja sabia o que queria, excepto o Papa que, em vez de ouvir o povo, seguia outra fonte.

Desta vez, para evitar mal-entendidos, o Papa Francisco e os bispos reunidos com ele em Roma sublinharam que a doutrina da Igreja não ia mudar, absolutamente em nada. Poucos jornais transcreveram esta parte, porque acharam a declaração irrelevante: se toda a gente sabe que a doutrina vai mudar, que importa que o Papa diga o contrário? O Papa Francisco, que não partilha essa opinião, decidiu que a cerimónia de encerramento desta etapa do Sínodo ia ser a solene beatificação do Papa Paulo VI, o tal Papa rejeitado pela opinião pública.

Por um acaso – ou porque Deus assim o quis –, o Evangelho da Missa de hoje, o Domingo exactamente a meio do Sínodo, é a parábola do grande casamento, das bodas do Filho de Deus. Há um banquete de um requinte insuperável, mas a história corre mal: os convidados não querem ir e são castigados; a seguir, o noivo convoca outros convidados, apanhados de surpresa, quase à força, e no final descobre que um deles não tem o traje próprio e manda aos seus servos: «Atai-o de pés e mãos e lançai-o nas trevas lá de fora, aí haverá choro e ranger de dentes».

Esta desgraça quase completa é uma forma viva, de um dramatismo surpreendente, de Jesus transmitir ensinamentos de extrema importância. Primeiro, que Deus apostou tudo num projecto fantástico de felicidade, simbolizado no convite para um grande banquete, para todos os homens. Em segundo lugar, que os homens não estão muito entusiasmados com a proposta de Deus, que acham algumas vezes demasiado difícil, ou menos atractiva que outras formas de viver. Resumindo, o problema é que, segundo Jesus, Deus é muito exigente, mesmo que nos aponte o caminho verdadeiro da felicidade.
Não é pequena tarefa para o Sínodo, explicar aos homens os méritos do plano de Deus para o casamento. Os jornais dizem que a opinião pública não está disponível para se deixar convencer, mas o Papa Francisco diz que a Igreja tem é de evangelizar mais e melhor. Ou seja, convocou este Sínodo sobre «Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização» e já marcou outro, para o ano, sobre o mesmo tema.

                                                      José Maria C.S. André
                                                     «Correio dos Açores», 12-X-2014

Bom Domingo do Senhor!

Que nunca nos suceda arranjar desculpas à semelhança dos convidados para o banquete de que nos fala o Evangelho de hoje (Mt 22, 1-14) para não atender ao convite do Senhor, pois Ele é o Bom Pastor, nada nos faltará (cfr. Sl, 23) e o Seu Reino espera por nós.

Obrigado Senhor pela Tua infinita bondade!

Vestir o traje nupcial

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja 
Sermão 90; PL 38, 559ss.


O que é o traje nupcial de que fala o Evangelho? Este traje é, certamente, algo que apenas os bons possuem, aqueles que vão participar no banquete. […] Serão os sacramentos? O baptismo? Sem o baptismo ninguém chega a Deus, mas há quem receba o baptismo e não chegue a Deus. […] Será talvez o altar ou o que se recebe no altar? Mas, ao receber o Corpo do Senhor, há quem coma e beba a sua própria condenação (1Cor 11,29). O que será, então? O jejum ? Os maus também jejuam. Frequentar a igreja ? Os maus vão à igreja como os outros. […]

O que é, então, este traje nupcial? O apóstolo Paulo diz-nos: «Esta recomendação só pretende estabelecer a caridade, nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera» (1Tim 1,5). Eis aqui o traje nupcial: não se trata de um amor qualquer, porque muitas vezes vemos homens desonestos amar outros […]; mas não vemos neles esta caridade «nascida de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera»; ora, é essa caridade que é o traje nupcial.

«Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos», diz o apóstolo Paulo, «se não tiver caridade sou como bronze que ressoa, ou como címbalo que tine. […] Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que possua a fé em plenitude ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade nada sou» (1Cor 13,1-2). […] Ainda que tenha tudo isto, diz ele, sem Cristo «nada sou». […] Como são inúteis todos os bens, se um só deles vier a faltar! Se não tiver caridade, ainda que distribua todos os meus bens em esmola e entregue o meu corpo a fim de ser queimado (v.3), de nada me aproveita, uma vez que posso agir deste modo por amor da glória. […] «Se não tiver caridade, de nada me aproveita». Eis o traje nupcial. Examinai-vos e, se o tiverdes, aproximai-vos com confiança do banquete do Senhor.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)