domingo, 11 de maio de 2014

Ai trabalha, trabalha!

O jornalista Andrea Tornielli conseguiu bisbilhotar a zona onde as câmaras da televisão já não entram e tirou a fotografia. A notícia tem três dias, no momento em que escrevo.

Junto à porta do quarto 201 da Casa de Santa Marta (o quarto do Papa Francisco), dorme um S. José de madeira, em cima de uma mesa. Entalados, por baixo, os bilhetinhos que o Papa lhe escreve.

Toda a gente sabe que o Papa Francisco tem uma confiança total em Nossa Senhora e em S. José. O entusiasmo acabou por contagiar toda a casa, dos monsenhores aos guardas suíços. Um dos colaboradores conta que o Papa lhe disse:

‒ «Sabes, é preciso ter paciência com estes carpinteiros: dizem que fazem um móvel em duas semanas e depois demoram um mês. Mas fazem-no e trabalham bem! É preciso é ter paciência...».

A imagem mede 40 cm e foi das poucas coisas que o Papa mandou vir de Buenos Aires. Aparentemente, S. José dorme, mas a imagem representa uma outra actividade, relatada no Evangelho: mais do que dormir, S. José escuta a voz de Deus durante a noite e dispõe-se a cumpri-la. É isso que interessa ao Papa.

Aliás, para uma figura que dorme, a imagem não pára quieta na sua mesa. Às vezes, quando o trabalho de S. José aperta, isto é, quando o número de bilhetinhos aumenta, a estátua fica empoleirada num monte de papelada.

‒ «O Santo Padre dá muito trabalho a S. José. A devoção já se pegou a todos os que trabalham à volta da residência de Francisco, incluindo os Guardas Suíços…».

Bento XVI tinha decidido introduzir em todas as orações eucarísticas uma referência a S. José, logo a seguir à invocação de Nossa Senhora, mas preferiu deixar o assunto ao seu sucessor. O Papa Francisco não perdeu tempo a confirmar a decisão.

No dia 5 de Julho de 2013, o Papa Francisco, acompanhado por Bento XVI, foi consagrar o Estado do Vaticano a S. José. A cerimónia também já estava programada no pontificado anterior, mas nem por isso teve menos significado:

‒ «S. José, (…) consagramos-te as fadigas e as alegrias de cada dia; consagramos-te as expectativas e as esperanças da Igreja; consagramos-te os pensamentos, os desejos e as obras: tudo se cumpra no Nome do Senhor Jesus».

O início deste pontificado deu-se a 19 de Março de 2013, festa de S. José, e, na homilia da Missa, o Papa Francisco sublinhou o significado dessa circunstância.

‒ «Nunca esqueçamos que o verdadeiro poder é o serviço e que, para exercer o poder, também o Papa se deve meter cada vez mais naquele serviço que culmina na Cruz. Deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de S. José e abrir os braços, como ele, para guardar todo o povo de Deus e acolher com afecto e ternura a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais débeis, os mais pequenos… só quem serve com amor sabe guardar!».

Há poucos dias, a crónica de Andrea Tornielli sobre o Primeiro de Maio no Vaticano centrou-se nesta mesa rústica, junto à porta 201 da Casa de Santa Marta, onde dorme um Papa e trabalha um S. José ‒ que parece dormir mas, afinal, trabalha bastante. Ai trabalha, trabalha!

José Maria C. S. André


«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar» (11-V-2014)

Bom Domingo do Senhor!

Reconheçamos que também nós somos ovelhas a precisar de seguir o Senhor, n’Ele estaremos protegidos conforme no-lo diz no Evangelho de hoje (Jo 10, 1-10).

Louvado seja Deus Nosso Senhor que nos assegura a Sua divina bondade!

«Não sabes de onde vem nem para onde vai»

Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa
Poesia Pentecostes 1942

Quem és, suave luz que me sacias
E que iluminas as trevas do meu coração?
Guias-me como a mão de uma mãe,
e se me soltasses
não mais poderia dar um só passo.
És o espaço
que envolve o meu ser e me protege.
Longe de Ti, naufragaria no abismo do nada
de onde me tiraste para me criar para a luz.
Tu, mais próximo de mim
do que eu própria,
mais intimo do que as profundezas da minha alma,
e contudo incompreensível e inefável,
para além de qualquer nome,
Espírito Santo, Amor Eterno!

Não és Tu o doce maná
que do coração do Filho
transborda para o meu,
o alimento dos anjos e dos bem-aventurados?
Aquele que Se elevou da morte à vida
também me despertou do sono da morte para uma vida nova.
E, dia após dia,
continua a dar-me uma nova vida,
de que um dia a plenitude me inundará por completo,
vida procedente da Tua vida, sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, Vida Eterna!

«Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância»

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja 
Sermão 46, sobre os pastores; CCL 41, 529


«Eis o que diz o Senhor: "Eis que Eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas"». […] Foi sem dúvida o que Ele fez, é o que voltará a fazer: «Eis que Eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas […] como o pastor se preocupa com o seu rebanho» (Ez 34,10-14). Os maus pastores não tiveram cuidado nenhum, pois não resgataram as ovelhas com o seu sangue. «As minhas ovelhas escutam a minha voz» (Jo 10,27). «Reconduzi-las-ei de todas as partes por onde tenha sido dispersas, num dia de nuvens e de trevas. Arrancá-las-ei de entre os povos e as reunirei dos vários países, a fim de as reconduzir à sua própria terra e as apascentar nos montes de Israel, nos vales e em todos os lugares habitados da região. Eu as apascentarei em boas pastagens; o seu pasto será nas montanhas elevadas de Israel» (cf Ez 34,10-14)

Essas «montanhas de Israel» são os autores das Sagradas Escrituras. Eis as pastagens onde precisais de vos alimentar, se quereis fazê-lo em segurança (Sl 80,2-3). Saboreai tudo o que por lá aprenderdes e rejeitai tudo o que lá não estiver. Não vos percais no ruído, escutai a voz do pastor. Reuni-vos nas montanhas da Sagrada Escritura. Lá encontrareis verdadeiras delícias para o vosso coração; não encontrareis nada de venenoso, nem de perigoso: são pastagens ricas; […] «levá-las-ei ao longo dos rios aos melhores lugares». Desses montes de que vos falamos escorrem os rios da pregação do Evangelho, uma vez que a sua palavra «ressoou por toda a terra» (Sl 19,5) e que todos os lugares da terra oferecem às ovelhas pastagens agradáveis e abundantes.

«Eu as apascentarei em boas pastagens» e aí será o seu redil, isto é, será aí que elas repousarão, aí poderão dizer: «Bom é estar aqui; é verdade, é muito claro, encontrámos a verdade.» Elas repousarão na glória de Deus, como no seu redil.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)