quinta-feira, 13 de março de 2014

TUDO ESTÁ CONSUMADO!

Naquele dia saiu de casa de cabeça baixa. Parecia que o mundo estava todo contra ele!
Parecia que tudo se tinha assanhado para o desprezar, para não permitir que uma simples boa notícia, uma simples alegria, tocasse a sua vida!
O emprego já era! Por causa disso mesmo a discussão em casa tinha sido violenta, e assim, até aquele refúgio que era sempre para si a sua mulher, os seus filhos, a sua simples casa, parecia-lhe agora também um lugar de martírio, de caras fechadas, de falta de ternura e entendimento!

Olhou para o passeio, para a rua, para as pessoas que passavam por ele, e pensou: Mas para onde raio é que eu vou? Não tenho sítio para onde ir!
Deixou-se andar por ali, perdido entre os homens, vagueando sem motivo, sem sentido, sem rumo. Uma tenaz de fogo apertava o seu peito, um peso enorme abatia-se nas suas costas, uma tristeza profunda tomava conta de si e o desânimo transformava-se rapidamente em desespero.

“O que ando eu aqui a fazer? Que sentido tem esta minha vida?”
As perguntas martelavam-lhe a consciência entorpecida por uma terrível frustração. E quanto mais se questionava, mais lhe voltava aquela ideia, que ao princípio lhe gelara o coração, mas que parecia agora ir fazendo sentido. Se não estava cá a fazer nada, mais valia morrer!

Os barulhos da rua, os carros a passar, as pessoas a falarem, o ruído da cidade, incomodavam-no! Precisava sair da rua para pensar um pouco.
Deu por si a passar em frente de uma igreja. Ele não era homem de Igreja, aliás, nem sequer era homem de Deus, embora tivesse sido educado catolicamente e percorrido todos os passos da catequese.

Lembrou-se, no entanto, que àquela hora ninguém estaria na igreja e por isso seria um bom sítio para se sentar e pensar um pouco, sem nada nem ninguém para o incomodar.
Entrou e nem sequer se deteve a olhar para o interior da igreja, mas apenas se sentou no primeiro banco e, debruçando-se para a frente, ali ficou a pensar.
Quanto mais analisava a sua vida e pensava no presente e no futuro, mais se tornava claro que a ideia de pôr fim à vida era o mais acertado e fazia todo o sentido.
Deixou-se ficar mais um pouco, enquanto a ideia ia ganhando força em si, de tal modo que deixou de ser ideia para se tornar decisão a cumprir.

Tomada a decisão, veio então ao seu pensamento uma frase: «Tudo está consumado!»
Um espanto atravessou-o! Já tinha ouvido aquela frase num qualquer sítio, num qualquer momento importante!
Levantou os olhos e o seu olhar fixou-se no enorme crucifixo que dominava toda a parte detrás do altar-mor da igreja. Lembrava-se agora onde tinha ouvido aquela frase!
Do pouco que ainda recordava da catequese, essa tinha sido a última frase de Jesus Cristo antes de morrer na Cruz.

Que coincidência! No momento em que ele decidia a sua morte, a frase que lhe vinha ao pensamento era a frase de Jesus Cristo ao morrer!
Ficou sem reacção e a cabeça voltou a recolher-se entre as suas mãos, sobre os joelhos.

Foi então que ouviu distintamente, (juraria em qualquer lugar que assim tinha ouvido), uma voz que lhe dizia: «Meu filho, morrer antes do tempo de cada um, só tem sentido se for para morrer pelos amigos!»

Levantou a cabeça, olhou para todos os lados, mas não viu ninguém.
Em voz baixa, com um sentimento de que estava a cometer uma loucura, perguntou: O que é isso de morrer pelos amigos?

Desta vez pareceu-lhe ouvir a voz no seu coração, o que ainda lhe causou mais admiração:
«Morrer pelos amigos é muitas coisas, mas no teu caso é deixares de pensar em ti próprio, nas tuas “desgraças”, nos teus desânimos, e perceberes que aqueles que estão à tua volta te amam e que não é por um momento mau, por uma discussão, que não deixam de te querer e de sentir profundamente a tua falta.»

Deu por si a responder à voz: Não me parece! Aliás se eu desaparecer tudo se torna mais fácil!

Mas a voz insistia: «Pensa um pouco. Com a tua morte constróis alguma coisa? Com a tua morte o amor vence a amargura e a tristeza? Com a tua morte fica alguém mais feliz? Sabes bem que não.»

Então ele respondeu: Sei quem Tu és! Esta voz só pode ser a voz de Jesus Cristo que ouço no meu coração. Por isso Te pergunto se não morreste Tu também? Não Te deste à morte também?

A voz enterneceu-se ainda mais: «Mas meu filho, não fui Eu que causei a minha própria morte! Mataram-me! Eu dei a vida pelos amigos, dos quais tu fazes parte. Repara quantos se unem à volta da minha morte e da minha ressurreição? Não trouxe Eu um bem maior quando morri e ressuscitei?»

Sim, é certo. Isso é verdade, Mas eu não tenho ninguém!, respondeu.

«Tens-me a Mim, que dei a vida por ti. Não dês a tua vida à morte! Se queres dar a vida, dá-a àqueles que te amam e precisam de ti e que em casa te esperam para te abraçar.»

Duas grossas lágrimas caíram-lhe pela face.
Levantou-se decidido a lutar pela vida e dirigiu-se à saída da Igreja.
Mas antes de sair, voltou-se, fixou a Cruz e disse a meia voz:
Nunca pensei falar assim contigo, nem sentir o que sinto. Fico admirado comigo mesmo, e por isso Te digo que se estás comigo, então já não tenho medo e a vida tem outro sentido. Obrigado, Senhor Jesus!

Marinha Grande, 13 de Março de 2014

Joaquim Mexia Alves

Telegrama do Santo Padre dirigido a D. Manuel Clemente manifestando o seu pesar pela morte de D. José Policarpo


Entristecido com a notícia da morte do Cardeal José da Cruz Policarpo desejo expressar a minha união na oração com o Patriarcado de Lisboa, a família do defunto e quantos choram a sua morte inesperada. Confio à misericórdia de Deus o amado Cardeal, recordando-me da sua preciosa colaboração nos diversos organismos da Santa Sé e dos meus encontros com este Pastor apaixonado pela busca da verdade. Era solícito ao colocar os dons recebidos ao serviço do povo de Deus e dos seus irmãos bispos, sobretudo nos anos que o viram presidente da Conferência episcopal. Dou graças ao Pai celeste pelo seu ministério episcopal no qual se prodigalizou com generosidade guiando pelas veredas do Evangelho o povo que lhe tinha sido confiado, com o mesmo zelo com que tinha realizado os seus serviços precedentes, sobretudo na universidade católica portuguesa. Ao recomendar à materna protecção da Virgem Maria quantos o choram, assim como o senhor Patriarca, quantos o ajudaram no seu ministério, e todos os fiéis do Patriarcado, concedo de coração a todos uma confortadora Bênção Apostólica, que faço extensiva a quantos participarem no funeral.

Franciscus pp.

O Papa imaginário e o Papa Francisco


Faz hoje um ano houve fumo branco na Capela Sistina. Jorge Bergoglio, o Papa Francisco acabava de ser eleito. De início, houve logo quem o acusasse de ter apoiado a ditadura argentina quando era Cardeal de Buenos Aires. Desfeito esse ataque, pela prova que, ao contrário, ajudara muitos perseguidos pela ditadura, Francisco tornou-se pop, 'cool', super-Papa, amigo dos homossexuais na revista Advocate (por ter citado um artigo do catecismo [i] ), capa da Rolling Stone, homem do ano na Time e figura mediática por tudo quanto é sítio.

Luke Coppen, na revista britânica The Spectator faz uma descrição deste fenómeno que eu, pessoalmente, subscrevo e cito: "pura e simplesmente pensam que ele é tão avesso aos dogmas católicos como eles próprios. Ou seja, pensam que ele não é católico".

Mas é. Se alguém é católico, ou melhor, cristão, é este Papa. Quando ele não cumprir a agenda mediática que os mediáticos esperam, não sei como será tratado. Para já, todos o amam e todos o querem ouvir, mesmo quando ele diz coisas que poderiam parecer desagradáveis acaso saíssem da boca de Ratzinger ou Wojtyla. Vou falar de uma delas. Diz o Papa que esta "economia mata" - a esquerda exulta, mas, parte dela, não ouve o resto. E o resto é que esta economia é fruto de um sistema relativista de valores, de uma hierarquia errada de prioridades que a mesma esquerda foi estabelecendo como norma. A outra parte é que o Papa nos incentiva - quase nos incomoda na maneira como fala nisso - a desinstalar-nos, para que a vida possa ser menos penosa para todos. Ora os defensores dos direitos adquiridos devem sentir-se tão incomodados como os milionários. Desinstalar-se quer dizer o que ninguém quer ouvir: mudar de vida, para uma forma mais frugal, mais espiritual, menos consumista e menos materialista.

Se Francisco é revolucionário, como alguns dizem, é de uma revolução que tem poucos adeptos na política. Aí temos um Papa imaginário que não segue o Papa real. Um Papa 'pop' que é o mesmo que condena "a espécie de progressismo adolescente que gira à sua volta" ou aquele que manda o Vaticano desmentir que tenha abolido o pecado, ao contrário do que chegou a noticiar o circunspecto La Reppublica. Do outro temos o Papa implacável que quer reformar o Vaticano, acabar com as mordomias excessivas e não ser refém daquela cúria onde encontrou muita corrupção. Politicamente, não agradará aos lados tradicionais. Mas, tal como Jesus, ele veio para incomodar os instalados - "Eu vim para pôr o fogo na terra (...) para trazer divisões"

Que tenha saúde e força para o fazer!

Henrique Monteiro in Expresso online AQUI

[i] Os homossexuais devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

D. Gerhard Müller: porque é que a misericórdia se pode tornar um argumento débil (e contraproducente)? (agradecimento ‘É o Carteiro!’)

Pergunta: responsabilidade de "É o Carteiro!"

44- A Igreja é Mãe e deve envolver as pessoas com o seu carinho e ternura. A forma estrita como afirma o seu claro pensamento – e quase sem parecer olhar para o caso concreto – não parece negar aquela atitude próxima e compreensível?
Uma ulterior tendência a favor da admissão dos divorciados recasados aos sacramentos é a que invoca o argumento da misericórdia.
Dado que o próprio Jesus se solidarizou com os sofredores doando-lhes o seu amor misericordioso, a misericórdia seria por conseguinte um sinal especial do autêntico seguimento.
Isto é verdade, mas é um argumento débil em matéria teológico-sacramentária, também porque toda a ordem sacramental é precisamente obra da misericórdia divina e não pode ser revogada invocando o mesmo princípio que a sustém.
Através daquela que objectivamente ressoa como uma falsa invocação da misericórdia incorre-se no risco da banalização da própria imagem de Deus, segundo a qual Deus mais não poderia fazer do que perdoar.
Pertencem ao mistério de Deus, além da misericórdia, também a santidade e a justiça; se se escondem estes atributos de Deus e não se leva seriamente a realidade do pecado, não se pode nem sequer mediar às pessoas a sua misericórdia. Jesus encontrou a mulher adúltera com grande compaixão, mas também lhe disse: «Vai, e doravante não voltes a pecar» (Jo 8, 11).
A misericórdia de Deus não é uma dispensa dos mandamentos de Deus e das instruções da Igreja; aliás, ela concede a força da graça para a sua plena realização, para se levantar depois de uma queda e para uma vida de perfeição à imagem do Pai celeste

A lógica da decadência

Não gosto de ser “profeta da desgraça” mas, infelizmente, creio que nem é preciso ser profeta. Basta, simplesmente, darmo-nos conta da realidade. No mundo ocidental, vivemos numa clara “lógica da decadência”. Em todos os âmbitos e de há vários anos a esta parte.

Na economia, a “ciência das ciências” sem a qual parece que ninguém pode sobreviver, o que importa são os números, as estatísticas, e particularmente o crescimento da riqueza. De tempos-a-tempos vem uma crise, uns quantos declaram falência, outros passam por momentos mais difíceis, mas como, depois, o mecanismo se reajusta por si mesmo, tudo parece acabar bem, como num qualquer romance cor-de-rosa. Só nos esquecemos dos dramas humanos que, entretanto, foram vividos, e daqueles outros criados pela nova situação.

Na vida social, impôs-se o “politicamente correcto” ditado pelos telejornais e respectivos comentadores. Basta que cada um viva de acordo com os padrões estéticos (muito mais importantes hoje que os valores éticos), tenha dinheiro suficiente, gaste bastante em roupa e produtos tecnológicos, e possa viver como egoisticamente lhe apetece. Deixámos de ser uma sociedade, para sermos um conjunto de indivíduos que vivem ao lado uns dos outros, na esperança que ninguém retire ao outro o sossego que lhe é devido. E o direito passou a tutelar esse modo de viver. A família deixou de ter qualquer valor. Tanto dá que possa ou não ser o berço da vida. A lei só tem que defender o egoísta e aquilo que lhe apetece no momento.

Aliás, há muito que a vida humana deixou, efectivamente, de contar. Somos capazes de defender com tenacidade a vida das baleias, dos golfinhos e das plantas raras ou em vias de extinção; mas só em Portugal o Estado patrocinou cerca de 80.000 abortos (80.000 portugueses que foram mortos com a cobertura da lei e das instituições, sem terem cometido qualquer crime), mesmo que, depois, se mostre preocupado com a crescente diminuição da população portuguesa. Não tardará a que surjam opiniões nacionais a defender, como aconteceu numa recente revista britânica, que é perfeitamente legítimo matar recém-nascidos que não se integrem nos padrões decididos pela sociedade.

A própria fé não raras vezes é olhada como sendo demasiado exigente. Por isso, cada um faz os “descontos” que lhe apraz – cada crente (infelizmente, mesmo alguns sacerdotes) acha que a deve viver de uma forma mais suave (leia-se: menos exigente), até para que não o chamem de “fundamentalista” (pecado mortal numa sociedade em decadência e onde tudo vale), e as suas incapacidades, pecados e falta de coragem se vejam pretensamente justificados aos olhos de Deus.

E poderíamos continuar… Mas recuso-me a ser profeta da desgraça. Até porque é neste mundo, que se encaminha a passos largos para a decadência, que Deus nos enviou a proclamar com ousadia a Boa Nova do Evangelho. E essa propõe a todos uma vida nova, “radicalmente nova” – ou seja, nova de raiz, não a partir do homem mas de Deus. Ou melhor, a partir de Jesus de Nazaré.

D. Nuno Brás em 2012 AQUI

«Pedi, e ser-vos-á dado»

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja 
Comentários sobre os Salmos: Salmo 37 (Ofício de Leitura de 6ª feira da 3ª semana do Advento)


Escuta o que diz [o Salmista]: «Diante de Vós, Senhor, estão os meus desejos» (Sl 37,10). Não estão diante dos homens, que não podem ver o coração, mas «diante de Vós, Senhor». […] Esteja o teu desejo sempre na sua presença; e o Pai, «que vê o [que está] oculto, há-de retribuir-te» (Mt 6,4). Porque o teu desejo é a tua oração. Se o teu desejo for contínuo, contínua será também a tua oração. Não foi em vão que disse o Apóstolo: «Orai sem cessar» (1Tess 5,17). Será preciso, então, estar continuamente de joelhos, prostrados, de mãos erguidas, para obedecer a este preceito: «orai sem cessar»? Se é isso que entendemos por orar, julgo que não podemos orar sem cessar.

Existe, porém, outra oração interior e contínua, que é o desejo. Nem que estejas ocupado a fazer outra coisa, se desejas o descanso eterno em Deus, não interrompes a oração. Se não queres interromper a oração, não interrompas o desejo. Se o teu desejo é contínuo, é contínua a tua voz. Calar-te-ás se deixares de amar. Quem é que se cala? Aqueles de quem foi dito: «Pela abundância da iniquidade resfriará o amor de muitos» (Mt 24,12). A frieza do amor é a mudez do coração, mas o fervor do amor é o clamor do coração. Se o amor permanece sempre (cf 1Cor 13,8), clamas sempre; se clamas sempre, desejas sempre; se desejas, recordas-te daquele descanso.

«Diante de Vós, Senhor, estão os meus desejos […] e não Vos são ocultos os meus gemidos» (Sl 37,10). […] A verdade é que, se permanece o desejo, permanece também o gemido. Nem sempre ele chega aos ouvidos dos homens, mas nunca deixa de chegar aos ouvidos de Deus.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 13 de março de 2014

«Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede, recebe, e quem busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á. Qual de vós dará uma pedra a seu filho, quando este lhe pede pão? Ou se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará coisas boas aos que lhas pedirem. «Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles; esta é a Lei e os Profetas. 

Mt 7, 7-12