sábado, 1 de março de 2014

DOR DE AMOR

Desde o passado dia 13 de Fevereiro é legalmente possível, na Bélgica, como já era na Holanda, a eutanásia de crianças e adolescentes. Do Reino Unido chega a triste notícia de que Reece Puddington, de onze anos e com cancro desde há seis, desistiu dos tratamentos médicos. Ele próprio declarou, nas redes sociais, ter decidido “ficar em casa”, para deixar a “natureza seguir o seu curso” inexorável. Também entre nós surgem vozes a reivindicar um pretenso direito a uma “morte digna”.

Não é muito de estranhar que assim aconteça. Com efeito, se se pode impunemente matar um ser humano saudável ainda por nascer, porque não abreviar a vida enferma de um velho, ou de uma criança que, por esse motivo, provavelmente nunca chegará à idade adulta? A sociedade neopagã, ao rejeitar o valor absoluto da vida humana inocente, que é um princípio básico da civilização cristã, é impotente ante as investidas furiosas da cultura da morte, sobretudo quando travestida de sentimentos supostamente humanitários. Eliminados os embriões, os doentes e os velhos, a utopia eugenista de recentes tiranos parece, agora, mais próxima da realidade.

A questão não é a dor, mas o amor: só não quer viver quem não se sente amado. Quem verdadeiramente quer aos seus, não desiste deles, qualquer que seja a sua idade ou o seu mal. Não se trata de promover o encarniçamento terapêutico, mas amar aqueles que, por alguma circunstância, mais carecem desse apoio. É isso que eles, graúdos e miúdos, pedem: mais do que a saúde, ou uma morte indolor, querem um afecto que os ajude a viver a experiência da dor, na alegria do amor. E é isso que a fé cristã a todos dá: a esperança certa de um amor maior, que é vida para além da vida.

Gonçalo Portocarrero de Almada

Jornal i - 1 março 2014 AQUI

«Porventura não é a vida mais do que o alimento?»

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja 
Catequeses baptismais, n° 8, 19-25; SC 50


Se dermos realmente o primeiro lugar às realidades espirituais, não teremos de nos preocupar com os bens materiais, pois Deus, na sua bondade, no-los dará em abundância. Se, pelo contrário, nos preocupamos unicamente com os nossos interesses materiais sem cuidarmos da nossa vida espiritual, a preocupação constante com os assuntos terrenos conduzir-nos-á à negligência da nossa alma. […] Não troquemos portanto a ordem das coisas. Conhecendo a bondade do nosso Senhor, confiar-Lhe-emos tudo e não nos deixaremos vencer pelas preocupações desta vida. […] «O vosso Pai Celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isto, mesmo antes que Lho tenhais pedido» (Mt 6,32.8).

Jesus quer que estejamos livres das preocupações deste mundo e que nos consagremos totalmente às obras espirituais. «Procurai pois, diz-nos Ele, os bens espirituais e Eu próprio zelarei amplamente por todas as vossas necessidades materiais. […] Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as» Dito de outra forma: «Se Eu tomo conta das aves do céu, que são irracionais, e lhes proporciono tudo aquilo de que elas necessitam, sem sementeiras nem trabalhos, tanto melhor o farei por vós, que sois dotados da razão, desde que escolhais preferir o espiritual ao corporal. Vendo que as criei para vós, tal como a todos os outros seres, dos quais tanto cuido, de que solicitude não vos julgarei dignos, vós para quem fiz tudo isto?»

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho de Domingo dia 2 de março de 2014

«Ninguém pode servir a dois senhores: porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou há-de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. «Portanto vos digo: Não vos preocupeis, nem com a vossa vida, acerca do que haveis de comer, nem com o vosso corpo, acerca do que haveis de vestir. Porventura não vale mais a vida que o alimento, e o corpo mais que o vestido? Olhai para as aves do céu que não semeiam, nem ceifam, nem fazem provisões nos celeiros, e, contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por mais que se afadigue, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? «E porque vos inquietais com o vestido? Considerai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam. Digo-vos, todavia, que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se, pois, Deus veste assim uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Não vos aflijais, pois, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Os gentios é que procuram com excessivo cuidado todas estas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.  Não vos preocupeis, pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia bastam os seus trabalhos. Não vos preocupeis, pois, pelo dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia bastam os seus trabalhos.

Mt 6, 24-34

"Carnaval"

Embora não dispense uma boa comédia, aprecie uma excelente anedota e tenha amigos de óptimo humor, não gosto do Carnaval. E nem sequer é pelo facto de ser o pórtico de acesso ao rigor penitencial da Quaresma.

Mesmo miúdo, não me disfarçava. Sempre detestei as bombinhas de mau cheiro, que alguns colegas faziam explodir na sala de aula, obrigando-nos a suportar o horroroso pivete. As bisnagas também não faziam o meu género: para além de não achar divertido molhar os outros, achava cobarde a atitude de atacar o próximo, com um esguicho de água, e depois bater em retirada.

Do Carnaval só se aproveitavam as férias, a meio do segundo período que, quando a Páscoa era alta, era longo de mais.

Num mundo em que a mentira parece ser a regra e a autenticidade a excepção, o Carnaval não faz sentido. Para quê pôr uma máscara, se tantas pessoas já andam escondidas atrás de uma careta falsa?! Para quê uma partida, se a regra parece ser a da irresponsabilidade? Qual a graça de uma fuga precipitada, se a impunidade campeia?

No dia primeiro de Abril, em que alguns festejam o dia das mentiras, outra lamentável efeméride do nosso calendário laico, há quem se divirta a enganar os outros. Jornais há que alinham com alguma notícia falsa, embora seja cada vez mais difícil saber qual é a que se pretende que o seja, para cumprir com a data.

Salvo melhor opinião, que tal marcar a diferença pela alegria da verdade, todos os dias, na autenticidade de se ser quem é e de se responder sempre, de caras, pelos próprios actos.

Gonçalo Portocarrero de Almada

(Fonte: ‘i’ online 09.02.2013 AQUI seleção de imagens do blogue)

Brevíssima meditação sobre o Evangelho de hoje...

Ambicionemos a ser e a comportarmo-nos como aquelas crianças que o Senhor acolhe no Evangelho de hoje (Mc 10, 13-16) e deixemo-nos guiar pela mão do Senhor na esperança de também nós sermos recebidos no Reino dos Céus.

Louvado seja Jesus Cristo Nosso Senhor, hoje e sempre, por todas as graças e bênçãos que nos oferece.

«Deixai vir a Mim os pequeninos»

Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja 
Manuscrito autobiográfico C, 2 v°-3 r° (Ed. Carmelo, 2000)


Bem sabeis, minha Madre, que sempre desejei ser santa. Mas, ai de mim!, sempre verifiquei, ao comparar-me com os Santos, que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre uma montanha, cujo cume se perde nos céus, e o obscuro grão de areia pisado pelos pés dos caminhantes. Em vez de desanimar, disse para comigo: «Deus não pode inspirar desejos irrealizáveis. Posso, portanto, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o céu por um caminhito muito direito, muito curto, um caminhito completamente novo.

Estamos num século de invenções. Agora já não se tem a maçada de subir os degraus de uma escada; em casa dos ricos, o ascensor substitui-a vantajosamente. Eu queria também encontrar um ascensor que me elevasse até Jesus, porque sou demasiado pequena para subir a rude escada da perfeição. Então, procurei nos Livros Sagrados a indicação do ascensor, objecto do meu desejo, e li estas palavras saídas da boca da Sabedoria eterna: “Se alguém for pequenino venha a mim!” (Prov 9,4).

Então aproximei-me, adivinhando que tinha encontrado o que procurava, e querendo saber, ó meu Deus!, o que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso apelo. Continuei as minhas buscas e eis o que encontrei: “Como uma mãe acaricia o seu filho, assim Eu vos consolarei; levar-vos-ei ao colo e embalar-vos-ei nos meus joelhos!” (Is 66,12-13) Ah! Nunca palavras tão ternas e tão melodiosas me vieram alegrar a alma! O ascensor que me deve elevar até ao céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena. Ó meu Deus!, excedestes a minha esperança e eu quero cantar as vossas misericórdias.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 1 de março de 2014

Apresentavam-Lhe umas criancinhas para que as tocasse mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam. Vendo isto, Jesus ficou muito desgostoso e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as crianças, não as estorveis, porque dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». Depois, abraçou-as e, impondo-lhes as mãos, as abençoava.

Mc 10, 13-16