domingo, 5 de janeiro de 2014

Abolido título de 'Monsenhor' para sacerdotes com menos de 65 anos

O Papa Francisco aboliu a concessão da honorificência pontifícia ‘Monsenhor’ para os sacerdotes seculares com menos de 65 anos. De agora em diante, a única honorificência pontifícia que poderá ser conferida aos padres seculares (não religiosos) será a de ‘Capelão de Sua Santidade’, e poderá ser atribuída apenas a sacerdotes com mais de 65 anos.

A Secretaria de Estado comunicou a decisão às Nunciaturas Apostólicas em todo o mundo, pedindo que fossem informados todos os bispos de seus países. A medida imposta por Francisco, no entanto, não é retroativa: quem já possui o título de ‘Monsenhor’ não o perde.

Ao tomar esta decisão, o Papa se inspirou nas reformas realizadas por Paulo VI em 1968, logo após o Concílio Vaticano II. Antes, existiam 14 ‘graus’ do título de ‘Monsenhor’; com Paulo VI, foram reduzidos a três: Protonotário Apostólico, Prelado de Honra de Sua Santidade e Capelão de Sua Santidade.

Os três reconhecimentos são concedidos pelo Papa, segundo indicação dos bispos, a sacerdotes cujo trabalho é particularmente importante para a Igreja.
(CM)

(Fonte: site da Rádio Vaticano)

2014 vai continuar a ser um tempo de mudança e de revitalização

A vaticanista Aura Miguel, da Rádio Renascença, acredita que 2014 vai continuar a ser um tempo de mudança e de revitalização para a Igreja Católica, proposto por um Papa “que sabe o que quer e não se deixa manipular”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a jornalista da emissora católica portuguesa destaca a eleição do Papa Francisco como o maior acontecimento do último ano, porque “veio sacudir” a todos os níveis “a rotina da Igreja”.

Uma das principais decisões do pontificado foi a criação de uma comissão de oito cardeais, dos cinco continentes, “para ajudar na reforma da Cúria Romana e no governo da Igreja Universal”.

Lutas de poder, suspeitas de corrupção em instituições como o Banco do Vaticano e casos de pedofilia e assédio sexual envolvendo representantes católicos em várias dioceses do mundo são alguns dos desafios que o Papa já mostrou querer enfrentar e resolver.

De acordo com Aura Miguel, “o que está agora a ser posto em prática tem a ver com o sentimento de que há muita coisa para arrumar e para limpar”.

Quanto ao relacionamento da Igreja Católica com os fiéis, a especialista em assuntos religiosos destaca a maneira de ser de Francisco, “forte mas terno, realista, pragmático, um Papa todo o terreno”.

“Há uma forma nova de dizer a doutrina”, como ficou patente na primeira exortação apostólica que o Papa publicou, intitulada ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), mas no geral “são as suas características pessoais é que fazem a diferença”.

“A forma próxima e afetiva como lida com as pessoas veio cortar com “a rigidez que carateriza e Europa”, salienta a vaticanista.

Aura Miguel conclui a sua análise recordando alguns dos pontos que vão estar na agenda de Francisco durante os próximos meses, como a viagem à Terra Santa em maio, uma visita ao continente asiático, que já estava no horizonte do seu antecessor, Bento XVI, e o Sínodo extraordinário dedicado aos desafios pastorais da família, marcado para outubro.

PR/JCP / Agência Ecclesia

Deus fez-se mortal, frágil como nós

Na habitual alocução antes das Ave Marias, o Papa comentou um versículo do Evangelho deste domingo, do Prólogo do Evangelho segundo São João, que condensa em poucas palavras o mais profundo significado do Natal de Jesus: “O Verbo fez-se carne e veio a habitar no meio de nós”.

“Nestas palavras, que sempre nos maravilham, está todo o cristianismo! Deus fez-se mortal, frágil como nós, partilhou a nossa condição humana, excepto o pecado (mas tomou sobre si os nossos pecados, como se fossem seus), entrou na nossa história, tornou-se plenamente Deus-connosco… Jesus é Deus connosco.”É esta a razão “do entusiasmo e da esperança de nós cristãos” que, “na nossa fragilidade, sabemos que somos amados, visitados, acompanhados por Deus”. E “encaramos o mundo e a história como o lugar por onde caminhar juntamente com Ele e entre nós, em direcção aos novos céus e à terra nova”.

“Com o nascimento de Jesus não só nasceu um mundo novo, mas também um mundo que pode ser sempre renovado. Deus está sempre presente a suscitar homens novos, a purificar o mundo do pecado que o envelhece, que o corrompe”.

A 5 de janeiro de 1964, há precisamente 50 anos, o Papa Paulo VI encontrava-se como peregrino na Terra Santa e encontrava-se com o Patriarca de Constantinopla Atenágoras. Recordando-o ao meio-dia, após a oração do Angelus dominical, na Praça de São Pedro, o Papa Francisco anunciou – “no clima de alegria típico deste tempo natalício” – que será de 24 a 26 de maio que, “se Deus quiser”, terá lugar a sua “peregrinação à Terra Santa”, tendo como “objectivo principal” comemorar o histórico encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras.

Três as etapas desta sua viagem, que começará da Jordânia para se concluir em Jerusalém, passando pelos Territórios Palestinianos: “Amã, Belém e Jerusalém”. O Santo Padre anunciou que junto do Santo Sepulcro haverá um encontro ecuménico com os representantes das Igrejas cristãs de Jerusalém, juntamente com o Patriarca Bartolomeu, de Constantinopla. E pediu a todos orações por esta peregrinação.

O Papa Francisco referiu também as muitíssimas mensagens de boas festas recebidas de todas as partes do mundo por ocasião do Natal e do Ano Novo. Impossível responder a todos e cada um. Agradeceu, portanto, “de todo o coração” a todos: “crianças, jovens, idosos, famílias, comunidades paroquiais e religiosas, associações, movimentos e diferentes grupos que lhe quiseram manifestar afecto e proximidade”. A todos, como sempre, pediu que continuem a rezar pelo seu serviço à Igreja.

(Fonte: 'news.va' com edição da responsabilidade do blogue)

Vídeos da ocasião em italiano

O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

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"Evangelii Gaudium" (40)

O acompanhamento pessoal dos processos de crescimento
169. Numa civilização paradoxalmente ferida pelo anonimato e, simultaneamente, obcecada com os detalhes da vida alheia, descaradamente doente de morbosa curiosidade, a Igreja tem necessidade de um olhar solidário para contemplar, comover-se e parar diante do outro, tantas vezes quantas forem necessárias. Neste mundo, os ministros ordenados e os outros agentes de pastoral podem tornar presente a fragrância da presença solidária de Jesus e o seu olhar pessoal. A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta «arte do acompanhamento», para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro (cf. Ex 3, 5). Devemos dar ao nosso caminhar o ritmo salutar da proximidade, com um olhar respeitoso e cheio de compaixão, mas que ao mesmo tempo cure, liberte e anime a amadurecer na vida cristã.

170. Embora possa soar óbvio, o acompanhamento espiritual deve conduzir cada vez mais para Deus, em quem podemos alcançar a verdadeira liberdade. Alguns crêem-se livres quando caminham à margem de Deus, sem se dar conta que ficam existencialmente órfãos, desamparados, sem um lar para onde sempre possam voltar. Deixam de ser peregrinos para se transformarem em errantes, que giram indefinidamente ao redor de si mesmos, sem chegar a lado nenhum. O acompanhamento seria contraproducente, caso se tornasse uma espécie de terapia que incentive esta reclusão das pessoas na sua imanência e deixe de ser uma peregrinação com Cristo para o Pai.

171. Hoje mais do que nunca precisamos de homens e mulheres que conheçam, a partir da sua experiência de acompanhamento, o modo de proceder onde reine a prudência, a capacidade de compreensão, a arte de esperar, a docilidade ao Espírito, para no meio de todos defender as ovelhas a nós confiadas dos lobos que tentam desgarrar o rebanho. Precisamos de nos exercitar na arte de escutar, que é mais do que ouvir. Escutar, na comunicação com o outro, é a capacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual não existe um verdadeiro encontro espiritual. Escutar ajuda-nos a individuar o gesto e a palavra oportunos que nos desinstalam da cómoda condição de espectadores. Só a partir desta escuta respeitosa e compassiva é que se pode encontrar os caminhos para um crescimento genuíno, despertar o desejo do ideal cristão, o anseio de corresponder plenamente ao amor de Deus e o anelo de desenvolver o melhor de quanto Deus semeou na nossa própria vida. Mas sempre com a paciência de quem está ciente daquilo que ensinava São Tomás de Aquino: alguém pode ter a graça e a caridade, mas não praticar bem nenhuma das virtudes «por causa de algumas inclinações contrárias» que persistem. Por outras palavras, as virtudes organizam-se sempre e necessariamente «in habitu», embora os condicionamentos possam dificultar as operações desses hábitos virtuosos. Por isso, faz falta «uma pedagogia que introduza a pessoa passo a passo até chegar à plena apropriação do mistério». Para se chegar a um estado de maturidade, isto é, para que as pessoas sejam capazes de decisões verdadeiramente livres e responsáveis, é preciso dar tempo ao tempo, com uma paciência imensa. Como dizia o Beato Pedro Fabro: «O tempo é o mensageiro de Deus».

172. Quem acompanha sabe reconhecer que a situação de cada pessoa diante de Deus e a sua vida em graça é um mistério que ninguém pode conhecer plenamente a partir do exterior. O Evangelho propõe-nos que se corrija e ajude a crescer uma pessoa a partir do reconhecimento da maldade objectiva das suas acções (cf. Mt 18, 15), mas sem proferir juízos sobre a sua responsabilidade e culpabilidade (cf. Mt 7, 1; Lc 6, 37). Seja como for, um válido acompanhante não transige com os fatalismos nem com a pusilanimidade. Sempre convida a querer curar-se, a pegar no catre (cf. Mt 9, 6), a abraçar a cruz, a deixar tudo e partir sem cessar para anunciar o Evangelho. A experiência pessoal de nos deixarmos acompanhar e curar, conseguindo exprimir com plena sinceridade a nossa vida a quem nos acompanha, ensina-nos a ser pacientes e compreensivos com os outros e habilita-nos a encontrar as formas para despertar neles a confiança, a abertura e a vontade de crescer.

173. O acompanhamento espiritual autêntico começa sempre e prossegue no âmbito do serviço à missão evangelizadora. A relação de Paulo com Timóteo e Tito é exemplo deste acompanhamento e desta formação durante a acção apostólica. Ao mesmo tempo que lhes confia a missão de permanecer numa cidade concreta para «acabar de organizar o que ainda falta» (Tt 1, 5; cf. 1 Tm 1, 3-5), dá-lhes os critérios para a vida pessoal e a actividade pastoral. Isto é claramente distinto de todo o tipo de acompanhamento intimista, de auto-realização isolada. Os discípulos missionários acompanham discípulos missionários.