Oração

Desde que a humanidade existe, as pessoas rezam. Sempre e em toda a parte têm tido consciência de não estarem sós no mundo, de que há Alguém que as escuta.

Sempre têm tido consciência de precisarem de um Outro que é maior do que elas, e de que precisam esforçar-se por alcançá-lo se quiserem que a sua vida seja o que deve ser.
Mas o rosto de Deus sempre esteve velado, e só Jesus nos mostrou a sua verdadeira face: quem o vê, vê o Pai (cfr. Jo 14, 9).

Se, por um lado, é natural que rezemos (que peçamos no momento da necessidade e agradeçamos no momento da alegria), por outro experimentamos também a nossa incapacidade de orar e de falar com um Deus oculto: Não sabemos pedir o que nos convém, diz São Paulo (Rom 8, 26). Portanto, sempre deveríamos dizer ao Senhor, como os discípulos: Senhor, ensina-nos a orar (Lc 11, 1).

O Senhor ensinou-nos o Pai-Nosso como modelo de autêntica oração, e deu-nos uma Mãe, a Igreja, que nos ajuda a rezar. A Igreja recebeu um enorme tesouro de orações da Sagrada Escritura, e ao longo dos séculos surgiram também, dos corações dos fiéis, inúmeras orações que nos permitem renovar sempre o modo como nos dirigimos a Deus. Rezando com a nossa Mãe, a Igreja, aprendemos a rezar.

(Cardeal Joseph Ratzinger em Introdução a ‘Chi prega se salva’, 30Giomi, Roma, 18.02.2005)

QUANTOS CRISTOS REJEITADOS!

Mais de 200 pessoas afogadas ao largo de Lampedusa!

Escrevo pessoas, e não emigrantes, para que percebamos bem que aqueles que pereceram são pessoas!
Pessoas como nós, pessoas que para nós, cristãos, são “à imagem e semelhança de Deus”!
São, têm que ser para nós, a face do Cristo Sofredor, que nelas tão bem representa a dor da rejeição, a dor que devia incomodar aqueles que não querem ser incomodados, (nos quais me incluo tantas vezes).

Claro que não queremos ser incomodados!

Pois se ao lado destas notícias sobre aqueles que morrem à procura da migalha de pão, se encontram as notícias daqueles que vivem na opulência, que têm ordenados multimilionários, a gerir isto ou aquilo, a “fazer” arte e músicas de gosto duvidoso, a dar chutos numa bola ou em tantos outros desportos, a receber reformas chorudas por escassos anos de trabalho, notícias que transmitem sempre a miragem de uma vida edílica, como podemos nós deixarmo-nos incomodar?

Claro que não queremos ser incomodados!

O assunto não é connosco! É com o Estado, com os Estados, porque esses é que devem tomar conta dos cidadãos, esses é que devem prover às suas necessidades. Nós nada temos a ver com isso. São emigrantes! É mais fácil assim! Dito assim nem parece que são pessoas!

Claro que não queremos ser incomodados!

Como não queremos ser incomodados com essa coisa do aborto! Até lhe chamamos “interrupção voluntária da gravidez”, porque é assim uma coisa mais “inócua”, uma coisa que não incomoda tanto.
Aliás, até parece dito assim, que não estamos a falar de vidas humanas, mas de umas “coisas” que, para nosso “descanso”, não vale a pena definir bem, não se vão incomodar as nossas consciências.
São mais outros tantos milhões de Cristos, rejeitados mesmo antes de poderem esboçar um sequer gesto de defesa!

Afinal, se me colocar presente nos momentos da Tua Paixão, Senhor, tenho que reconhecer que estou bastante mais no meio da multidão que grita “crucifica-O”, do que perto daqueles que se colocam prostrados junto à Tua Cruz.

Sinto-me tão pecador, tão pequeno, tão nada, perante a tragédia de um mundo que Te renega, que se afasta de Ti, e que por isso mesmo, cada vez mais leva os homens a olharem apenas para os “seus umbigos”, para as suas conveniências, para os seus prazeres, e assim se vão autodestruindo, porque onde não há amor, só pode reinar a dor.

Quando é que me acordas deste torpor, Senhor?
Quando é que nos acordas deste viver sem sentido, de costas voltadas uns para os outros, sobretudo, de costas voltadas para Ti?

Vem depressa, Senhor, não demores, que o tempo urge!
Encontra, Senhor, no Teu infinito amor, na Tua eterna misericórdia, a razão para nos dares a mão, e mais uma vez pede por nós ao Pai, nesse Teu grito de alma toda entregue por nós: «Perdoa-lhes, Pai, que eles não sabem o que fazem!»

Monte Real, 8 de Outubro de 2013

Joaquim Mexia Alves

O Pai celeste dá-nos o Espírito Santo que nos traz a novidade

Papa Francisco 
Homilia de 19/05/2013 para o Pentecostes (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana, rev)


A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se tivermos tudo sob controlo, se formos nós a construir, a programar, a projectar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. E isto verifica-se também quando se trata de Deus. Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas só até certo ponto; sentimos dificuldade em nos abandonarmos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo de que Deus nos faça seguir novas estradas, nos faça sair do nosso horizonte – frequentemente limitado, fechado, egoísta –, para nos abrir aos seus horizontes.

Mas, em toda a história da salvação, quando Deus Se revela traz novidade – Deus traz sempre novidade ─ transforma e pede para se confiar totalmente nele: Noé construiu uma arca, no meio da zombaria dos demais, e salvou-se (cf Gn 6-8); Abraão deixou a sua terra, tendo na mão apenas uma promessa (cf Gn 12); Moisés enfrentou o poder do Faraó e guiou o povo para a liberdade (cf Ex 3-14); os Apóstolos, antes temerosos e trancados no Cenáculo, saíram corajosamente para anunciar o Evangelho (cf At 2).

Não se trata de seguir a novidade pela novidade, a busca de coisas novas para se vencer o tédio, como sucede muitas vezes no nosso tempo. A novidade que Deus traz à nossa vida é verdadeiramente o que nos realiza, o que nos dá a verdadeira alegria, a verdadeira serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Perguntemo-nos hoje a nós mesmos: Permanecemos abertos às «surpresas de Deus»? Ou fechamo-nos, com medo, à novidade do Espírito Santo? Mostramo-nos corajosos para seguir as novas estradas que a novidade de Deus nos oferece, ou pomo-nos à defesa fechando-nos em estruturas caducas que perderam capacidade de acolhimento?

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 10 de outubro de 2013

Disse-lhes mais: «Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer: Amigo, empresta-me três pães, porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de uma viagem e não tenho nada que lhe dar; e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me incomodes, a porta está agora fechada, os meus filhos e eu estamos deitados; não me posso levantar para tos dar; digo-vos que, ainda que ele não se levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua impertinência se levantará e lhe dará tudo aquilo de que precisar. Eu digo-vos: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e ao que bate, se lhe abrirá. «Qual de entre vós é o pai que, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, em vez de peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião? Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que Lho pedirem».

Lc 11, 5-13