Foto 'Corriere della Sera' |
O Papa Francisco visitou na tarde desta terça-feira, 10, o Centro dos jesuítas para os refugiados na Itália – chamado Centro Astalli. A visita foi realizada de forma privada.
O Pontífice chegou ao refeitório no horário em que todos os dias existe uma fila de cerca de 400 pessoas que esperam para fazer uma refeição quente. O Pontífice saudou os refugiados e falou com alguns deles. No final da visita ao refeitório, o Santo Padre dirigiu-se à Igreja do Jesus, onde se encontra o túmulo do Padre Pedro Arrupe, fundador do Serviço dos Jesuítas para os Refugiados. O Papa Francisco foi acolhido pelos refugiados assistidos pelo Centro Astalli e escutou a história de Adam e Carol, dois refugiados.
Na sua alocução, inicialmente o Santo Padre saudou “sobretudo os refugiados e refugiadas”, agradecendo os testemunhos que havia acabado de escutar, ressaltando que cada um de vós “traz uma história que nos fala de dramas de guerra, de conflitos, muitas vezes ligados às políticas internacionais. Mas cada um traz consigo – sobretudo – uma riqueza humana e religiosa, uma riqueza a ser acolhida, não para ter medo”. Muitos de vós sois muçulmanos, de outras religiões, vêm de diversos países, de situações diferentes. “Não devemos ter medo das diferenças. Vivamos a fraternidade”, afirmou o Papa.
O Pontífice recordou que após Lampedusa e outros locais de chegada, Roma significa uma segunda etapa e deveria ser a cidade que permite reencontrar a dimensão humana, de recomeçar a sorrir. Mas observou: “Quantas vezes, ao invés disto, tantas pessoas que tem escrito na sua ‘permissão de estadia’ “proteção internacional” são obrigadas a viver em situações degradantes, sem poder iniciar uma vida com dignidade, de pensar num futuro”.
Ao agradecer a todos do Centro Astalli e a todos que se doam na acolhida aos refugiados com este projeto - entrando em relação com eles e reconhecendo-os como pessoas -, o Papa Francisco ressaltou que “o acolhimento e a fraternidade podem abrir uma janela pro futuro”. E ressaltou “o quanto é bonito” que junto aos jesuítas existam homens e mulheres cristãos, não-crentes e pessoas de outras religiões que trabalham pelo bem comum. “Para nós cristão isto “é a expressão do amor do Pai em Cristo Jesus”.
O Papa resumiu então, em três palavras o programa de trabalho dos jesuítas e seus colaboradores: Servir, acompanhar e defender.
Ao explicar o significado de servir, o Papa disse que é acolher a pessoa que chega com atenção, curvando-se sobre quem tem necessidade, estendendo-lhe a mão, sem cálculos, sem temor, com ternura e compreensão, como Jesus inclinou-se e lavou os pés dos apóstolos:
“Os pobres são também mestres privilegiados do nosso conhecimento de Deus; a sua fragilidade e simplicidade desmascaram os nossos egoísmos, as nossas falsas seguranças, as nossas pretensões de auto-suficiência e nos guiam à experiência da proximidade e da ternura de Deus, a receber na nossa vida o seu amor, a sua misericórdia de Pai que, com discrição e paciente confiança, cuida de nós, de todos nós”.
E interpelou a todos: ”Me curvo diante de quem está em dificuldades ou tenho medo de sujar as mãos? Sou fechado em mim mesmo, nas minhas coisas ou me dou conta daqueles que têm necessidade de ajuda? Sirvo somente a mim mesmo ou sei servir aos outros como a Cristo, que veio para servir até dar a sua vida? Olho nos olhos daqueles que pedem justiça ou viro o olhar para outro lado, para não olhar os olhos?
Ao deter-se no segundo ponto, acompanhar, Francisco destacou a evolução no caminho do Centro, que passou de um primeiro acolhimento ao acompanhamento das pessoas e inserção social:
“Não basta dar o pão se não vem acompanhado da possibilidade de aprender a caminhar com as próprias pernas. A caridade que deixa o pobre assim como é, não é suficiente. A misericórdia verdadeira, aquela que Deus nos dá e nos ensina, pede a justiça, pede que o pobre encontre o caminho para não ser como tal. Pede – e pede a nós Igreja, a nós cidade de Roma, às Instituições – que ninguém deva mais ter necessidade de uma refeição, de um alojamento por sorte, de um serviço de assistência legal, para ter reconhecido o próprio direito a viver e trabalhar e ser pessoa em plenitude. Isto é integração”.
Francisco disse que servir, acompanhar, quer dizer também defender, o terceiro ponto da sua reflexão. “Quantas vezes levantamos a voz para defender nossos direitos, e quantas vezes somos indiferentes para com os direitos dos outros!”
E ressaltou, que para a Igreja “é importante que a acolhida do pobre, a promoção da justiça, não seja confiado somente a ‘especialistas’, mas seja uma atenção de toda a pastoral, da formação dos futuros sacerdotes e religiosos, do compromisso normal de todas as paróquias, movimentos e agregações eclesiais:
“Em particular gostaria de convidar também os Institutos religiosos a ler seriamente e com responsabilidade este sinal dos tempos. O Senhor chama a viver com mais coragem e generosidade a acolhida nas comunidades, nas casas, nos conventos vazios. Caríssimos religiosos e religiosas, os conventos vazios não servem à Igreja para transformar-lhes em albergues e ganhar algum dinheiro. Os conventos vazios não são nossos, são para a carne de Cristo que são os refugiados. O Senhor chama a viver com generosidade e coragem a acolhida nos conventos vazios”.
O Santo Padre acrescentou saber que não é uma coisa simples, “devem existir critérios, responsabilidade, mas é necessário também coragem”. Devemos “superar a mundanidade espiritual para sermos próximos às pessoas simples e sobretudo aos homens. Temos necessidade de comunidades solidárias que vivam o amor de forma concreta”. (JE)
(Fonte: 'news.va' com adaptação de JPR)