quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Amar a Cristo...

Hoje rogamos-Te, querido Jesus, para que por intercessão da Virgem Santíssima protejas o Teu dileto filho Joseph na difícil viagem pastoral que amanhã se inicia ao conturbado Líbano, terra aonde os nossos irmãos cristãos há anos que professam a sua fé com acrescidas dificuldades.

Que o Teu inesgotável Amor e a Tua Paz cheguem aos povos daquela zona e que as feridas há muito abertas sejam saradas pela presença do Teu Vigário Bento XVI.

Senhor Jesus, Filho de Deus Pai, ouvi-nos e atendei as nossas preces!

JPR

Imitação de Cristo, 3, 11, 2 - Como devemos examinar e moderar os desejos do coração

Outras vezes, ao contrário, é preciso usar de violência e rebater varonilmente os apetites dos sentidos sem atender ao que a carne quer ou não quer, mas trabalhando por sujeitá-la ao espírito, ainda que se revolte. Cumpre castigá-la e curvá-la à sujeição, a tal ponto, que esteja disposta para tudo, sabendo contentar-se com pouco e deleitar-se com a simplicidade, sem resmungar por qualquer incómodo.

O Grande Amigo, que nunca atraiçoa

Procuras a companhia de amigos que, com a sua conversa e o seu afecto, com o seu convívio, te tornam mais tolerável o desterro deste mundo..., embora os amigos às vezes atraiçoem. – Não me parece mal. Mas... como é possível que não frequentes cada dia com maior intensidade a companhia, a conversa com o Grande Amigo, que nunca atraiçoa? (Caminho, 88)
 
A nossa vida é de Deus. Temos de gastá-la ao seu serviço, preocupando-nos generosamente com as almas e demonstrando, com a palavra e com o exemplo, a profundidade das exigências cristãs.

Jesus espera que alimentemos o desejo de adquirir essa ciência, para nos repetir: se alguém tem sede, venha a Mim e beba. E respondemos: ensina-nos a esquecermo-nos de nós mesmos, para pensarmos em Ti e em todas as almas. Deste modo, o Senhor far-nos-á progredir com a sua graça, como quando começávamos a escrever (lembrais-vos daqueles traços que fazíamos, guiados pela mão do professor?) e assim começaremos a saborear a dita de manifestar a nossa fé, que é já de si outra dádiva de Deus, também com traços inequívocos de uma conduta cristã, onde todos possam descobrir as maravilhas divinas.

É Amigo, o Amigo: vos autem dixi amicos, diz-nos Ele. Chama-nos amigos e foi Ele quem deu o primeiro passo, pois amou-nos primeiro. Contudo, não impõe o seu carinho: oferece-o. E prova-o com o sinal mais evidente da amizade: ninguém tem maior amor que o daquele que dá a vida pelos seus amigos. Era amigo de Lázaro e chorou por ele quando o viu morto. E ressuscitou-o. Por isso, se nos vir frios, desalentados, talvez com a rigidez de uma vida interior que se está a extinguir, o seu pranto será vida para nós: Eu te ordeno, meu amigo, levanta-te e anda, deixa essa vida mesquinha, que não é vida! (Cristo que passa, 93) 


São Josemaría Escrivá

“Quem está a morrer de fome não poderá esperar um ano, um mês, uma semana que seja até que se resolvam problemas estruturais”

D. Pio Alves, um dos bispos auxiliares do Porto, afirmou quarta-feira no Santuário de Fátima que é mais importante ajudar o próximo do que procurar responsáveis pela crise.

«Peço-vos que não comeceis a buscar já culpados, ou, melhor, corresponsáveis na culpa dos desastres sociais, que os há, certamente. Convido-vos a que tenteis, primeiro, responder à pergunta: que posso eu fazer pelo verdadeiro progresso daqueles que me são mais próximos?», disse na homilia da missa, enviada à Agência ECCLESIA.

Na primeira das duas celebrações a que vai presidir no âmbito da peregrinação de 12 e 13 de setembro, D. Pio Alves frisou que o cuidado pelos mais necessitados deve passar das palavras ao atos.

“Convido-vos (…) a não olhar para tão longe de nós próprios que fiquemos apenas por sentimentos genéricos de solidariedade; convido-vos a não olhar para tão longe de nós próprios que não consigamos já reconhecer as pessoas com nomes, apelidos e circunstâncias concretas”, afirmou.

Depois de sublinhar que os católicos devem ultrapassar os limites das suas “necessidades pessoais”, o responsável da Igreja em Portugal pela cultura, bens culturais e comunicações sociais pediu aos fiéis que tomem atenção às necessidades dos “portugueses”, em particular dos “familiares” e “vizinhos”.

O prelado refutou a “acusação indiscriminada de ‘assistencialismo’ feita a quem, no dia a dia responde, com obras, à fome, à sede, ao frio”, ação que é desempenhada por milhares de pessoas, voluntárias e profissionais, ao serviço de centenas de instituições católicas.

“Quem está a morrer de fome não poderá esperar um ano, um mês, uma semana que seja até que se resolvam problemas estruturais”, acentuou D. Pio Alves, acrescentando que a “atenção urgente a situações-limite não dispensa a reconsideração ponderada de modelos alternativos de sociedade”.

O bispo auxiliar deplorou a pobreza mas salientou que é ainda mais “lamentável” a existência de pessoas e organismos que “sub-repticiamente” vivem “à custa da pobreza alheia”, dado que “a dádiva verdadeira nunca pode ser nem parecer negócio”.

“Como cidadãos, temos o direito e o dever de, livremente, manifestar a nossa concordância ou discordância com o rumo traçado para a sociedade; como cristãos, temos obrigação de não nos alhearmos dos reais problemas da sociedade e de, com realismo, cooperarmos para alimentar a esperança”, observou.

O responsável vincou que “sem a caridade, feita de gestos concretos, de pouco ou nada servem práticas de cariz religioso” e deu como exemplo a mãe de Cristo, que a 13 de setembro de 1917 apareceu pela quinta vez na zona da Cova da Iria a Lúcia e aos beatos Francisco e Jacinta.

“Quem melhor do que a Virgem Maria, a discípula fiel, soube relacionar-se com todos e encontrar nos escassos bens materiais de que dispôs ocasião de serviço ao próximo e de louvor a Deus?”, questionou.

O bispo auxiliar do Porto preside esta manhã à principal missa da peregrinação de 12 e 13 de setembro ao santuário localizado na Diocese de Leiria-Fátima.

RJM

Agência Ecclesia (seleção do título da responsabilidade do blogue)

FILHOS SEM MÃE – Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada

«Eu e o David estamos à espera de gémeos. Esperamos que a imprensa respeite a nossa privacidade» – eis a declaração pública de Neil Patrick Harris, protagonista da série televisiva «How I met your mother» e, segundo as mesmas fontes, «corajoso» «homossexual assumido».

Tenho duas boas razões para me pronunciar sobre o caso: não só sou gémeo como, por ser trigémeo, fui com essas minhas duas irmãs notícia por esse motivo. Mas, esclareça-se, não por inconfidência familiar, pois os nossos pais teriam preferido manter a novidade no recato da família e dos amigos. Hoje seríamos notícia por mais uma razão: para além do insólito triplo nascimento, sem o truque da fertilização artificial, acresce a proeza de sermos filhos de um pai e de uma mãe, e não de dois homens ou de duas mulheres.

É caricato, se não mesmo absurdo, o anúncio mediático de um acontecimento que se pretende privado: se o interessado não respeita a intimidade da sua vida, que não só «assume» como também exibe, com que direito exige reserva aos meios de comunicação social?! Ao revelar o facto à imprensa, este deixa logicamente de ser do âmbito da sua privacidade, pelo que não faz sentido pedir que se respeite como particular uma notícia que já o não é, precisamente porque foi pelo próprio posta na praça pública. Só tem direito à discrição quem não faz alarde das suas circunstâncias pessoais e familiares.

Não deixa de ser curioso que o principal actor de «How I met your mother» espere, com outro homem, gémeos, porque, pelo menos na minha família, talvez excessivamente conservadora e tradicional, foram sempre as mães que ficaram à espera…

Supõe-se que quem aguarda os filhos são os respectivos pais, biológicos ou adoptivos. Mas não duas pessoas do mesmo sexo, que não são evidentemente os progenitores, nem podem, por esse motivo, fazer as suas vezes. Por isso, é logicamente defensável e eticamente exigível a proibição legal da adopção por dois indivíduos do mesmo sexo. Pode-se ser pai, sem mãe, ou mãe, sem pai, mas dois homens ou duas mulheres, mesmo sendo óptimas pessoas, nunca poderão ser pai e mãe de ninguém. Quanto muito dois «pais», ou duas «mães», mas não pai e mãe, que é o que se exige para o são desenvolvimento de um ser humano. Uma segunda «mãe» não substitui o pai, como um segundo «pai» não supre a ausência materna. Estes gémeos, não obstante os seus dois «pais», têm a desgraça de não serem, desculpe-se o termo, filhos da mãe.

A que título serão então acolhidos, por Neil e pelo seu amigo David, estes gémeos? Tudo leva a crer que mais não são do que um complemento da sua sui generis união, infecunda por natureza, de que não são a continuação natural, mas um artificial apêndice. Obtido, talvez, através de uma «proletária», ou seja, uma mulher anónima cuja maternidade fica reduzida à procriação da «prole», que depois enjeita em benefício de terceiros.

Neil Harris será muito valente ao «assumir» publicamente a sua tendência sexual, mas não o é quando se trata de arcar com uma consequência necessária a essa sua opção: a impossibilidade de geração. Pior: esquece que os «seus» gémeos não assumiram a infelicidade de serem órfãos de mãe viva, cuja identidade seguramente nunca conhecerão; que não escolheram o triste fado de nem sequer terem uma mãe adoptiva; que certamente nunca saberão qual dos seus dois «pais» foi o seu progenitor pois, nesse caso, o outro «pai» deixaria de o ser; que provavelmente nunca poderão ter outros irmãos, filhos dos mesmos progenitores; e que nem sequer tiveram direito à privacidade porque, antes até de nascerem, houve quem fizesse questão de se gabar publicamente da proeza da aquisição dos irmãos em gestação.

É de crer que as duas crianças sejam esperadas com amor, mas foram condenadas à infelicidade de nunca experimentarem a ternura de um colo materno. E, nos bastidores deste drama, é provável que haja uma mulher explorada, uma mãe silenciada, comprada, usada e, por fim, descartada. Esperemos que a Neil Patrick Harris não lhe falte a coragem, quando tiver que explicar aos gémeos «How I met your mother».

Gonçalo Portocarrero de Almada

Os consumidores e as suas associações

É bom que as pessoas ganhem consciência de que a acção de comprar é sempre um acto moral, para além de económico. Por isso, ao lado da responsabilidade social da empresa, há uma específica responsabilidade social do consumidor. Este há-de ser educado[145], sem cessar, para o papel que exerce diariamente e que pode desempenhar no respeito dos princípios morais, sem diminuir a racionalidade económica intrínseca ao acto de comprar.

[145] Cf. João Paulo II, Carta enc. Centesimus annus (1 de Maio de 1991), 36: AAS 83 (1991), 838-840.
 

Caritas in veritate [66] – Bento XVI

Insólita coleção de solidéus papais

O sacerdote Kevin Peek, um capelão militar que ostenta uma coleção de solidéus papais obtidas graças a uma pouco conhecida tradição eclesiástica.
 
"Há uma tradição muito antiga segundo a qual, se você compra um solidéu branco na alfaiataria do Papa e o mostra durante uma audiência papal, a Guarda a Suíça se encarregará de trocá-lo por aquele  que o Papa usa nesse momento", relatou o sacerdote.
 
O solidéu é o 
barretinho liso e em forma de calota com que o papa, os bispos e outros dignitários eclesiásticos cobrem a parte superior da cabeça.
 
A alfaiataria Gammarelli, estabelecida em 1798, já serviu a cinco Papas. Ela conta com uma ampla variedade de vestes religiosas, entre elas casulas e mitras, além disso do solidéu papal que vale 50 dólares.
 
O Padre Peek, sacerdote da Arquidiocese de Atlanta e que recentemente iniciou o serviço de capelão do exército no Afeganistão, pôde obter nos últimos 16 anos obteve três solidéus usados por três Papas diferentes, os quais conserva em uma urna de cristal.
 
O primeiro o obteve sendo ainda seminarista em dezembro de 1996. Sua classe viajou a Roma e pôde estar em uma Missa com o Beato João Paulo II. Enquanto seus companheiros passeavam por Roma, o Padre Peek comprou um solidéu na Gammarelli.
 
Durante a Missa na capela privada do Papa, esteve sentado na parte de trás para ser um dos últimos em sair da capela e terminar na parte dianteira da linha dos seminaristas à espera de reunir-se com o Papa. Depois que o Papa o saudou e lhe deu um terço, o Padre Kevin tirou o solidéu e o mostrou ao secretário do agora Beato.
 
O secretário por uns momentos pensou que todos os seminaristas tinham levado um solidéu, mas logo lembrou da tradição e se realizou o intercâmbio.
 
Ao final da audiência, o secretário pediu que devolvesse o solidéu e entregou-lhe o que tinha comprado. Para o Padre Kevin é um tesouro ter um solidéu que o Beato João Paulo II usou por 40 minutos.
 
Dez anos mais tarde, o Padre quis repetir a façanha com o Papa Bento XVI. Esta vez durante uma audiência geral das quartas-feiras no Vaticano. O sacerdote fez todo o possível para que a Guarda Suíça percebesse que levava um solidéu novo, mas não perceberam.
 
Vendo que estava perdendo sua oportunidade, o sacerdote ousou saltar as grades que separam o público da área onde o Papa Bento XVI se reunia com um pequeno grupo e conseguiu chamar a atenção do Pontífice.
 
O próprio Papa Bento XVI, que "ama este tipo de tradições", aproximou-se do Padre Peek, tomou o solidéu novo e entregou-lhe o que estava usando. A multidão que o rodeava ficou atónita, e todos queriam saber o que tinha acontecido.
 
O terceiro solidéu papal do Padre Peek chegou por uma rota diferente. Um sacerdote já ancião da arquidiocese de Atlanta tinha um solidéu usado pelo Papa Pio XII e se preocupava de que, uma vez morto, ninguém gostaria o suficiente da sua valiosa posse para cuidar dela. Quando ouviu a história do Padre Peek, o sacerdote enviou-lhe o solidéu por correio.
  
(Fonte: ‘ACI Digital’ com edição de JPR)

S. Josemaría Escrivá nesta data em 1932

“Tudo o que se faz por Amor adquire formosura e se engrandece”, anota hoje.

(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)

Catequeses de Bento XVI sobre São João Crisóstomo

AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007

Queridos irmãos e irmãs!
Celebra-se este ano o 16º centenário da morte de São João Crisóstomo (407-2007). Pode-se dizer que João de Antioquia, chamado Crisóstomo, isto é "Boca de ouro", ainda hoje está vivo devido à sua eloquência e também às suas obras. Um copista anónimo deixou escrito que elas "atravessam toda a terra como relâmpagos buliçosos". Os seus escritos permitem também a nós, como aos fiéis do seu tempo, que foram repetidamente privados dele por causa dos seus exílios, de viver com os seus livros, apesar da sua ausência. Foi quanto ele próprio sugeriu do exílio numa sua carta (cf. A Olimpiade, Carta 8, 45).

Nascido por volta de 349 em Antioquia da Síria (hoje Antakaya, no sul da Turquia), ali desempenhou o ministério presbiteral durante onze anos, até 397, quando, nomeado Bispo de Constantinopla, exerceu na capital do Império o ministério episcopal antes dos dois exílios, que foram um a pouco tempo do outro, entre 403 e 407. Limitamo-nos hoje a considerar os anos antioquenos de Crisóstomo.

Tendo ficado órfão de pai em tenra idade, viveu com a mãe, Antusa, que lhe transmitiu uma requintada sensibilidade humana e uma profunda fé cristã. Tendo frequentado os estudos primários e superiores, coroados pelos cursos de filosofia e retórica, teve como mestre Libânio, pagão, o mais célebre mestre de retórica da época. Na sua escola, João tornou-se o maior orador da antiguidade grega tardia. Baptizado em 368 e formado na vida eclesiástica pelo Bispo Melézio, foi por ele instituído leitor em 371. Este acontecimento marcou a entrada oficial de Crisóstomo no cursus eclesiástico. Frequentou, de 367 a 372, o asceterio, uma espécie de seminário de Antioquia, juntamente com um grupo de jovens, alguns dos quais se tornaram depois Bispos, sob a guia do famoso exegeta Diodoro de Tarso, que iniciou João na exegese histórico-literária, característica da tradição antioquena.

Retirou-se depois durante quatro anos entre os eremitas no vizinho monte Silpio. Prosseguiu aquele retiro por outros dois anos, que viveu sozinho numa gruta sob a orientação de um "idoso". Naquele período dedicou-se totalmente à meditação "das leis de Cristo", dos Evangelhos e especialmente das Cartas de Paulo. Tendo adoecido, encontrou-se impossibilitado de se curar sozinho, e por isso teve que regressar à comunidade cristã de Antioquia (cf. Palladio, Vita 5). O Senhor explica o biógrafo interveio com a enfermidade no momento justo para permitir que João seguisse a sua verdadeira vocação. De facto, escreverá ele mesmo que, colocado na alternativa de escolher entre as adversidades do governo da Igreja e a tranquilidade da vida monástica, teria preferido mil vezes o serviço pastoral (cf. Sul sacerdocio, 6, 7): precisamente para isto Crisóstomo se sentia chamado. E realiza-se aqui a mudança decisiva da sua história vocacional: pastor de almas a tempo inteiro! A intimidade com a Palavra de Deus, cultivada durante os anos da eremitério, tinha amadurecido nele a urgência irresistível de pregar o Evangelho, de doar aos outros o que tinha recebido nos anos da meditação. O ideal missionário lançou-o assim, alma de fogo, no cuidado pastoral.

Entre 378 e 379 regressou à cidade. Diácono em 381 e presbítero em 386, tornou-se célebre pregador nas igrejas da sua cidade. Pronunciou homilias contra os arianos, seguidas pelas comemorativas dos mártires antioquenos e por outras sobre as principais festas litúrgicas: trata-se de um grande ensinamento da fé em Cristo, também à luz dos seus Santos. O ano de 387 foi "o ano heróico" de João, o da chamada "revolta das estátuas". O povo derrubou as estátuas imperiais, em sinal de protesto contra o aumento das taxas. Naqueles dias de Quaresma e de angústia por causa das punições infligidas por parte do imperador, ele pronunciou as suas 22 vibrantes homilias sobre as estátuas, finalizadas à penitência e à conversão. Seguiu-se o período da serena actividade pastoral (387-397).

Crisóstomo coloca-se entre os Padres mais fecundos: dele chegaram até nós 17 tratados, mais de 700 homilias autênticas, os comentários a Mateus e a Paulo (Cartas aos Romanos, aos Coríntios, aos Efésios e aos Hebreus), e 241 cartas. Não foi um teólogo especulativo. Mas transmitiu a doutrina tradicional e segura da Igreja numa época de controvérsias teológicas suscitadas sobretudo pelo arianismo, isto é, pela negação da divindade de Cristo. Portanto, ele é uma testemunha credível do desenvolvimento dogmático alcançado pela Igreja nos séculos IV-V. A sua é uma teologia requintadamente pastoral, na qual é constante a preocupação da coerência entre o pensamento expresso pela palavra e a vivência existencial. É este, em particular, o fio condutor das maravilhosas catequeses, com as quais preparava os catecúmenos para receber o Baptismo.

Próximo da morte, escreveu que o valor do homem consiste no "conhecimento exacto da verdadeira doutrina e na rectidão da vida" (Carta do exílio). As duas coisas, conhecimento da verdade e rectidão na vida, caminham juntas: o conhecimento deve traduzir-se em vida. Cada uma das suas intervenções tinha sempre por finalidade desenvolver nos fiéis o exercício da inteligência, da verdadeira razão, para compreender e traduzir em prática as exigências morais e espirituais da fé.

João Crisóstomo preocupa-se por acompanhar com os seus escritos o desenvolvimento integral da pessoa, nas dimensões física, intelectual e religiosa. As várias fases do crescimento são comparadas a outros tantos mares de um oceano imenso: "O primeiro destes mares é a infância" (Homilia 81, 5sobre o Evangelho de Mateus). De facto "precisamente nesta primeira idade se manifestam as inclinações para o vício e para a virtude". Por isso a lei de Deus deve ser desde o início impressa na alma "como numa tábua de cera" (Homilia 3, 1 sobre o Evangelho de João): de facto esta é a idade mais importante. Devemos ter presente como é fundamental que nesta primeira fase da vida entrem realmente no homem as grandes orientações que dão perspectiva justa à existência. Por isso Crisóstomo recomenda: "Precavei as crianças desde a mais tenra idade com armas espirituais, e ensinai-lhes a persignar a fronte com a mão" (Homilia 12, 7 sobre a primeira Carta aos Coríntios). Vêm depois a adolescência e a juventude: "à infância segue-se o mar da adolescência, onde os ventos sopram violentos..., porque cresce em nós... a concupiscência" (Homilia 81, 5sobre o Evangelho de Mateus). Por fim, chegam o noivado e o matrimónio: "À juventude segue-se a idade da pessoa madura, na qual chegam os compromissos de família: é o tempo de procurar esposa" (ibid.). Do matrimónio, ele recorda as finalidades, enriquecendo-as com a referência à virtude da temperança de uma rica trama de relações personalizadas. Os esposos bem preparados impedem o caminho do divórcio: tudo se desenvolve com alegria e podem-se educar os filhos para a virtude. Depois, quando nasce o primeiro filho, ele é "como uma ponte; os três tornam-se uma só carne, porque o filho une as duas partes" (Homilia 12, 5 sobre a Carta aos Colossences), e os três constituem "uma família, pequena Igreja" (Homilia 20, 6 sobre a Carta aos Efésios).

A pregação de Crisóstomo realizava-se habitualmente durante a liturgia, "lugar" no qual a comunidade se constrói com a Palavra e com a Eucaristia. Nela, a assembleia reunida expressa a única Igreja (Homilia 8, 7 sobre a Carta aos Romanos), a mesma palavra dirige-se em qualquer lugar a todos (Homilia 24, 2 sobre a primeira Carta aos Coríntios), e a comunhão eucarística torna-se sinal eficaz de unidade (Homilia 32, 7 sobre o Evangelho de Mateus). O seu projecto pastoral estava inserido na vida da Igreja, na qual os fiéis leigos com o Baptismo assumem o ofício sacerdotal, real e profético. Ele diz ao fiel leigo: "Também a ti o Baptismo torna rei, sacerdote e profeta" (Homilia 3, 5 sobre a segunda Carta aos Coríntios). Provém daqui o dever fundamental da missão, porque cada um de certa forma é responsável da salvação dos outros: "Este é o princípio da nossa vida social... não nos interessarmos apenas de nós!" (Homilia 9, 2 sobre o Génesis). Tudo isto se desenvolve entre dois pólos: a grande Igreja e a "pequena Igreja", a família, em relação recíproca.

Como podeis ver, queridos irmãos e irmãs, esta lição de Crisóstomo sobre a presença autenticamente cristã dos fiéis na família e na sociedade, permanece ainda hoje actual como nunca. Rezemos ao Senhor para que nos torne dóceis aos ensinamentos deste grande Mestre da fé.

AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 26 de Setembro de 2007

Queridos irmãos e irmãs!
Continuamos hoje a nossa reflexão sobre São João Crisóstomo. Depois do período passado em Antioquia, em 397 ele foi nomeado Bispo de Constantinopla, a capital do Império romano do Oriente. Desde o início, João projectou a reforma da sua Igreja:  a austeridade do palácio episcopal devia servir de exemplo para todos clero, viúvas, monges, palacianos e ricos.
Infelizmente, muitos destes, atingidos pelos seus juízos, afastaram-se dele. Solícito pelos pobres, João foi chamado também "Esmoler". De facto, como administrador atento ele conseguiu criar instituições caritativas muito apreciadas. O seu arrojo nos vários âmbitos fez com que ele se tornasse para alguns um rival perigoso. Ele, contudo, como verdadeiro Pastor, tratava todos de modo cordial e paterno. Sobretudo, destinava considerações sempre ternas às mulheres e cuidados especiais ao matrimónio e à família. Convidava os fiéis a participar na vida litúrgica, por ele tornada esplendorosa e atraente com genial criatividade.

Não obstante o coração generoso, não teve uma vida tranquila. Pastor da capital do Império, viu-se com frequência envolvido em questões e intrigas políticas, devido aos seus contínuos relacionamentos com as autoridades e as instituições civis. Depois, a nível eclesiástico foi acusado de ter superado os confins da própria jurisdição, e tornou-se assim alvo de fáceis acusações. Outro pretexto contra ele foi a presença de alguns monges egípcios, excomungados pelo patriarca Teófilo de Alexandria que se refugiaram em Constantinopla. Uma acesa polémica foi depois originada pelas críticas feitas por Crisóstomo à imperatriz Eudóxia e às suas palacianas, que reagiram desacreditando-o e insultando-o. Chegou-se assim à sua deposição, no sínodo organizado pelo mesmo patriarca Teófilo em 403, com a consequente condenação ao primeiro breve exílio. Depois do seu regresso, a hostilidade suscitada contra ele desde o protesto contra as festas em honra da imperatriz que o Bispo considerava como festas pagãs, sumptuosas e a expulsão dos presbíteros encarregados dos Baptismos na Vigília pascal de 404 marcaram o início da perseguição de Crisóstomo e dos seus seguidores, os chamados "Joanitas".

Então João denunciou através de carta os factos ao Bispo de Roma, Inocêncio I. Mas já era demasiado tarde. No ano de 406 teve de novo que se refugiar no exílio, desta vez em Cucusa, na Arménia. O Papa estava convencido da sua inocência, mas não tinha o poder de o ajudar. Um Concílio, querido por Roma para uma pacificação entre as duas partes do Império e entre as suas Igrejas, não pôde ser realizado. O deslocamento extenuante de Cucusa para Pytius, meta nunca alcançada, devia impedir as visitas dos fiéis e interromper a resistência do exiliado extenuado:  a condenação ao exílio foi uma verdadeira condenação à morte! São comovedoras as numerosas cartas do exílio, nas quais João manifesta as suas preocupações pastorais com tonalidades de participação e de sofrimento pelas perseguições contra os seus. A marcha rumo à morte terminou em Comano no Ponto. Aqui, João moribundo, foi levado para a capela do mártir São Basilisco, onde rendeu a alma a Deus e foi sepultado, mártir ao lado do mártir (Palladio, Vita 119). Era o dia 14 de Setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. A reabilitação teve lugar em 438 com Teodósio II. As relíquias do santo Bispo, colocadas na igreja dos Apóstolos em Constantinopla, foram depois trasladadas em 1204 para Roma, para a primitiva Basílica constantiniana, e agora jazem na capela do Coro dos Cónegos da Basílica de São Pedro. A 24 de Agosto de 2004 uma considerável parte delas foi doada pelo Papa João Paulo II ao Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla. A memória litúrgica do santo celebra-se a 13 de Setembro. O beato João XXIII proclamou-o padroeiro do Concílio Vaticano II.

Foi dito acerca de João Crisóstomo que, quando foi colocado no trono da Nova Roma, isto é, Constantinopla, Deus mostrou nele um segundo Paulo, um doutor do Universo. Na realidade, em Crisóstomo há uma unidade substancial de pensamento e de acção tanto em Antioquia como em Constantinopla. Mudam só o papel e as situações. Meditando sobre as oito obras realizadas por Deus no suceder-se dos seis dias no comentário do Génesis, Crisóstomo deseja reconduzir os fiéis da criação ao criador:  "É um grande bem", diz, "conhecer o que é a criatura e o que é o Criador".

Mostra-nos a beleza da criação e a transparência de Deus na sua criação, a qual se torna assim quase que uma "escada" para subir a Deus, para o conhecer. Mas a este primeiro passo acrescenta-se um segundo:  este Deus criador é também o Deus da condescendência (synkatabasis). Nós somos débeis na "subida", os nossos olhos são débeis. E assim Deus torna-se o Deus da condescendência, que envia ao homem pecador e estrangeiro uma carta, a Sagrada Escritura, de modo que criação e Sagrada Escritura completam-se. À luz da Escritura, da carta que Deus nos deu, podemos decifrar a criação. Deus é chamado "pai terno" (philostorgios) (ibid.), médico das almas (Homilia 40, 3 sobre o Génesis), mãe (ibid.) e amigo afectuoso (Sobre a providência 8, 11-12). Mas a este segundo passo primeiro a criação como "escada" para Deus e depois a condescendência de Deus através duma carta que nos deu, a Sagrada Escritura acrescenta-se um terceiro passo. Deus não só nos transmite uma carta:  em definitiva, desce Ele mesmo, encarna-se, torna-se realmente "Deus connosco", nosso irmão até à morte na Cruz. E a estes três passos Deus é visível na criação, Deus dá-nos uma sua carta, Deus desce e torna-se um de nós acrescenta-se no final um quarto passo. No arco da vida e da acção do cristão, o princípio vital e dinâmico é o Espírito Santo (Pneuma), que transforma as realidades do mundo. Deus entra na nossa existência através do Espírito Santo e transforma-nos do interior do nosso coração.

Nesta panorâmica, precisamente em Constantinopla João, no comentário continuativo dos Actos dos Apóstolos, propõe o modelo da Igreja primitiva (Act 4, 32-37) como modelo para a sociedade, desenvolvendo uma "utopia" social (quase uma "cidade ideal"). De facto, tratava-se de dar uma alma e um rosto cristão à cidade. Por outras palavras, Crisóstomo compreendeu que não é suficiente dar esmola, ajudar os pobres sempre que precisem, mas é necessário criar uma nova estrutura, um novo modelo de sociedade; um modelo baseado na perspectiva do Novo Testamento. É a nova sociedade que se revela na Igreja nascente. Portanto João Crisóstomo torna-se assim realmente um dos grandes Padres da Doutrina Social da Igreja:  a velha ideia da "polis" grega é substituída por uma nova ideia de cidade inspirada na fé cristã. Crisóstomo defendia com Paulo (cf. 1 Cor 8, 11) a primazia de cada cristão, da pessoa como tal, também do escravo e do pobre. O seu projecto corrige assim a tradicional visão grega da "polis", da cidade, na qual amplas camadas de população eram excluídas dos direitos de cidadania, enquanto na cidade cristã todos são irmãos e irmãs com iguais direitos. A primazia da pessoa é também a consequência do facto que realmente partindo dela se constrói a cidade, enquanto que na "polis" grega a pátria era superior ao indivíduo, o qual estava totalmente subordinado à cidade no seu conjunto. Assim com Crisóstomo tem início a visão de uma sociedade construída pela consciência cristã. E ele diz-nos que a nossa "polis" é outra, "a nossa pátria está no céu" (Fl 3, 20) e esta nossa pátria também nesta terra nos torna iguais, irmãos e irmãs, e obriga-nos à solidariedade.


No final da sua vida, do exílio nos confins da Arménia, "o lugar mais remoto do mundo", João, voltando à sua primeira pregação de 386, retomou o tema que lhe era tão querido do plano que Deus prossegue em relação à humanidade:  é um plano "indizível e incompreensível", mas certamente guiado por Ele com amor (cf. Sobre a providência 2, 6). É esta a nossa certeza.

Mesmo se não podemos decifrar os pormenores da história pessoal e colectiva, sabemos que o plano de Deus se inspira sempre no seu amor. Assim, apesar dos sofrimentos, Crisóstomo reafirmava a descoberta de que Deus ama cada um de nós com um amor infinito, e por isso deseja que todos se salvem. Por seu lado, o santo Bispo cooperou nesta salvação generosamente, sem se poupar, ao longo de toda a sua vida. De facto ele considerava o fim último da sua existência a glória de Deus, que já agonizante deixou como extremo testamento:  "Glória a Deus por tudo!" (Palladio, Vita 11).

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S. João Crisóstomo, bispo, Doutor da Igreja

Nasceu em Antioquia, cerca do ano 349. Depois de ter recebido uma excelente educação, dedicou se à vida ascética; e, tendo sido ordenado sacerdote, consagrou se com grande fruto ao ministério da pregação. Eleito bispo de Constantinopla no ano 397, revelou grande zelo e competência nesse cargo pastoral, atendendo em particular à reforma dos costumes, tanto do clero como dos fiéis. A oposição da corte imperial e de outros inimigos pessoais levou o por duas vezes ao exílio. Perseguido por tantas tribulações, morreu em Comana (Ponto, Ásia Menor) no dia 14 de Setembro do ano 407. A sua notável diligência e competência na arte de falar e escrever, para expor a doutrina católica e formar os fiéis na vida cristã, mereceu lhe o cognome de Crisóstomo, «boca de ouro».

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

«Fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca»

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Não há maior amor

Pode acontecer que no apartamento ou na casa ao lado da tua viva um cego, que muito agradeceria que fosses visitá-lo e lhe lesses o jornal. Pode acontecer que haja uma família que tenha necessidade de alguma coisa, uma coisa que seja a teus olhos de pouca importância, uma coisa tão simples como tomares conta de um bebé durante meia hora. Há tantas coisas pequenas, que são tão pequenas, que muitos se esquecem delas.

Não penses que só os pobres de espírito podem trabalhar na cozinha. Não penses que levantares-te, sentares-te, ires e vires, que tudo quanto fazes é desprovido de importância aos olhos de Deus.

Deus não te perguntará quantos livros leste, quantos milagres fizeste. Há-de perguntar-te se fizeste o melhor que sabias, por amor a Ele. Podes dizer, com toda a sinceridade: «Fiz o melhor que sabia»? Mesmo que esse melhor seja um fracasso, tem de ser o melhor que sabemos. Se estás realmente apaixonado por Cristo, por muito modesta que seja uma tarefa, hás-de realizá-la o melhor que souberes, e com todo o coração. O teu trabalho será um testemunho do teu amor. Podes esgotar-te a trabalhar, podes mesmo matar-te a trabalhar, mas se não o fizeres por amor, esse trabalho será inútil.

O Evangelho do dia 13 de setembro de 2012

«Mas digo-vos a vós, que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lho tornes a pedir. O que quereis que vos façam os homens, fazei-o vós também a eles. Se amais os que vos amam, que mérito tendes? Porque os pecadores também amam quem os ama. Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tendes? Os pecadores também fazem o mesmo. Se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito tendes? Os pecadores também emprestam aos pecadores, para que se lhes faça outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos; fazei bem e emprestai sem daí esperardes nada; e será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai e dar-se-vos-á. Uma medida boa, cheia, recalcada e a transbordar vos será lançada nas dobras do vosso vestido. Porque, com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós».

Lc 6, 27-38