sábado, 5 de maio de 2012

Amar a Cristo...

Quão fracos somos sempre que buscamos o prazer imediato sem pensarmos primeiro em Ti que tudo sofreste pela nossa salvação. O pecado da gula, na alimentação, no desejo de obtenção de bens materiais dispensáveis em impulsos consumistas e irracionais, na vaidade ao nos sentirmos gratificados com actos e gestos esquecendo-nos que nada é nosso e tudo Te pertence.

Senhor Jesus Cristo, faz-nos humildes e simples, que os nossos pensamentos sejam sempre de amor e abnegação por Ti e pelo próximo!

JPR

Sem amor a ciência perde a sua humanidade

O Papa visitou a sede romana da Universidade Católica do Sagrado Coração

Só o amor garante a nobreza e a humanidade da ciência, protegendo-a do risco do relativismo que enfraquece o pensamento e ofusca os valores éticos. Afirmou Bento XVI durante a visita realizada na manhã de quinta-feira, 3 de Maio, à sede romana da Universidade Católica do Sagrado Coração por ocasião do cinquentenário de fundação da faculdade de medicina e cirurgia da policlínica Agostino Gemelli.

Falando às autoridades políticas, civis e religiosas, ao corpo académico, aos representantes dos recursos humanos, dos estudantes e dos doentes, o Papa recordou os fundamentos culturais e espirituais que estão na base da actividade de estudo e de ensino da Universidade Católica. Destinada a ser "lugar - frisou - no qual a relação educativa é colocada ao serviço da pessoa na construção de uma competência científica qualificada"; lugar onde "a relação de cura não é profissão, mas missão" e onde "a caridade do bom Samaritano é a primeira cátedra e o rosto do homem que sofre é o próprio Rosto de Cristo".

Missão nobre e comprometedora, que o Pontífice descreveu a partir da afirmação que "a investigação científica e a procura de sentido, mesmo se na fisionomia epistemológica e metodológica específica, jorram de uma única fonte, aquele Logos que preside à obra da criação e guia a inteligência da história". Compreende-se por isso a necessidade de que "a cultura redescubra o vigor do significado e o dinamismo da transcendência": numa palavra, que "abra com decisão o horizonte do quaerere Deum", a partir da consciência de que "o próprio impulso da pesquisa científica surge da sede de Deus que habita no coração humano". A fim de restituir à razão a sua dimensão integral, ciência e fé devem recuperar a sua "reciprocidade fecunda" e tornar-se assim as duas "asas" das quais a pesquisa haure impulso e estímulo. 

(© L'Osservatore Romano - 5 de maio de 2012)

A importância da educação católica para a nova evangelização no mundo de hoje

Campus Universidade de Navarra em Pamplona
A identidade própria das Escolas e Universidades Católicas e em geral “a questão da educação religiosa e da formação da fé da nova geração dos católicos”, com a orientação a imprimir, no atual momento histórico da sociedade dos Estados Unidos – foram aspetos sublinhados pelo Papa Bento XVI, recebendo neste sábado de manhã, em audiência conjunta, um grupo de bispos norte-americanos, na conclusão da respetiva visita “ad limina Apostolorum”. 


Começando por reconhecer “os grandes progressos” realizados nos últimos anos no que diz respeito ao incremento da catequese, com a revisão de textos, conformando-os com o “Catecismo da Igreja Católica”, o Santo Padre considerou que as Escolas católicas “permanecem um recurso essencial para a nova evangelização”. Evocando a norma canónica que exige um “mandato da autoridade eclesiástica competente” para os que ensinam disciplinas teológicas em quaisquer institutos de estudos superiores, Bento XVI observou que se trata de “uma expressão tangível da comunhão eclesial e solidariedade no apostolado educacional da Igreja”, aspeto que se torna ainda mais urgente “quando se considera a confusão criada por dissidências entre representantes de instituições católicas e a liderança pastoral da Igreja”. “Tais discordâncias ferem o testemunho da Igreja e, como a experiência mostra, pode ser facilmente explorado para comprometer a sua autoridade e a sua liberdade”.



"Não é exagerado dizer que assegurar aos jovens uma sólida educação na fé representa o maior desafio interno que a comunidade católica enfrenta no vosso país. O depósito da fé é um tesouro precioso que cada geração tem de transmitir à seguinte, conquistando corações para Jesus Cristo e formando os espíritos no conhecimento, na compreensão e no amor à sua Igreja”. 

“A visão cristã, apresentada no seu vigor e integridade, revela-se imensamente sugestiva para a imaginação, idealismo e aspirações dos jovens, que têm o direito de encontrar a fé em toda a sua beleza, riqueza intelectual e interpelações radicais”. 


Quanto à identidade católica dos estabelecimentos escolares da Igreja, nomeadamente de estudos superiores, o Papa advertiu que isso “significa muito mais do que o ensino da religião ou a mera existência de um capelão universitário”. 



“Em cada aspeto da sua educação, os estudantes precisam de ser encorajados a articular a visão da harmonia da fé e da razão, capaz de guiar uma permanente busca de conhecimento e de virtude”. 



“O empenho cristão no ensino, que esteve na origem das universidades medievais, baseava-se na convicção de que o Deus único, forte de toda a verdade e de todo o bem, é ao mesmo tempo a nascente do apaixonado desejo da razão de conhecer e da aspiração da vontade à plenitude do amor.

Só a esta luz se pode apreciar a contribuição específica da educação católica, que empenha numa “diaconia da verdade” inspirada por uma caridade intelectual que sabe que conduzir outras pessoas à verdade é, em última análise, um ato de amor”.


Rádio Vaticano

Imitação de Cristo, 1, 24, 3

Que outra coisa há de devorar aquele fogo senão os teus pecados? Quanto mais te poupas agora e segues a carne, tanto mais cruel será depois o tormento e tanto mais lenha ajuntas para a fogueira. Naquilo em que o homem mais pecou, será mais gravemente castigado. Ali os preguiçosos serão incitados por aguilhões ardentes, e os gulosos serão atormentados por violenta fome e sede. Os impudicos e voluptuosos serão banhados em pez ardente e fétido enxofre, e os invejosos uivarão de dor, à semelhança de cães furiosos.

Mãe! – Chama-a bem alto

Mãe! – Chama-a bem alto. – Ela, a tua Mãe Santa Maria, escuta-te, vê-te em perigo talvez, e oferece-te, com a graça do seu Filho, o consolo do seu regaço, a ternura das suas carícias. E encontrar-te-ás reconfortado para a nova luta. (S. Josemaría Escrivá - Caminho, 516) 


Intimidade com Maria

De uma maneira espontânea, natural, surge em nós o desejo de conviver com a Mãe de Deus, que é também nossa mãe; de conviver com Ela como se convive com uma pessoa viva, porque sobre Ela não triunfou a morte; está em corpo e alma junto a Deus Pai, junto a seu Filho, junto ao Espírito Santo.

Para compreendermos o papel que Maria desempenha na vida cristã, para nos sentirmos atraídos por Ela, para desejar a sua amável companhia com filial afecto, não são precisas grandes especulações, embora o mistério da Maternidade divina tenha uma riqueza de conteúdo sobre a qual nunca reflectiremos bastante.

Temos de amar a Deus com o mesmo coração com que amamos os nossos pais, os nossos irmãos, os outros membros da nossa família, os nossos amigos ou amigas. Não temos outro coração. E com esse mesmo coração havemos de querer a Maria.

Como se comporta um filho ou uma filha normal com a sua Mãe? De mil maneiras, mas sempre com carinho e confiança. Com um carinho que se manifestará em cada caso de determinadas formas, nascidas da própria vida, e que nunca são algo de frio, mas costumes muito íntimos de família, pequenos pormenores diários que o filho precisa de ter com a sua mãe e de que a mãe sente falta, se o filho alguma vez os esquece: um beijo ou uma carícia ao sair ou ao voltar a casa, uma pequena delicadeza, umas palavras expressivas... (S. Josemaría Escrivá - Cristo que passa, 142)

Dar fruto a seu tempo

Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sahara

Meditações sobre os salmos, Sl 1

«Feliz do homem que [...] medita na Lei dia e noite. É como uma árvore plantada à beira das correntes, que dá o seu fruto na estação própria» (Sl 1, 1-3). Meu Deus, vós dizeis-me que eu serei feliz, feliz com a verdadeira felicidade, feliz no último dia [...], que, por mais miserável que seja, sou uma palmeira plantada à beira das águas vivas, das águas vivas da vontade divina, do amor divino, da graça [...], e que darei o meu fruto a seu tempo. Dignai-Vos consolar-me; sinto-me sem fruto, sinto-me sem boas obras, digo a mim próprio: converti-me há onze anos, e que tenho feito? O que foram as obras dos santos e quais são as minhas? Vejo-me de mãos vazias de bem.

Dignai-Vos consolar-me: «Tu darás fruto no teu tempo», dizeis-me. [...] Qual é esse tempo? O tempo de todos nós é o dia do juízo final; e Vós prometeis-me que, se persistir na boa vontade e no combate, por mais pobre que me veja, terei frutos nessa hora derradeira.

O Evangelho de Domingo dia 6 de Maio de 2012

«Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o agricultor. Todo o ramo que não dá fruto em Mim, Ele o cortará; e todo o que der fruto, podá-lo-á, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos em virtude da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode por si mesmo dar fruto se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós os ramos. Aquele que permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em Mim, será lançado fora como o ramo, e secará; depois recolhê-lo-ão, lançá-lo-ão no fogo e arderá. Se permanecerdes em Mim, e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e ser-vos-á concedido. Nisto é glorificado Meu Pai: Em que vós deis muito fruto e sejais Meus discípulos.


Jo 15, 1-8

Ordenação em Roma de 35 sacerdotes da Prelatura do Opus Dei: transmissão em direto na internet

No próximo sábado, dia 5 de maio, a partir das 16h (15h de Portugal continental), será transmitida em direto no site do Opus Dei a cerimónia de ordenação de 35 sacerdotes em Roma.

Para acompanhar a cerimónia será apenas necessário conectar-se a www.opusdei.org e clicar na notícia que anuncia a cerimónia; ou diretamente em www.opusdei.org/live.

A transmissão terá início minutos antes das 16h00 (15h00 de Portugal continental)

Poderá também acompanhar-se a cerimónia no site da Fundação Beta Films (www.fbetafilms.org).


Os candidatos ao sacerdócio são:

Joaquín Belón González (Espanha)
Rafael Francisco Carrascosa Salmoral (Espanha)
Alejandro Córdova Suárez (México)
Eduardo Cortina Andrada (Espanha)
Augusto César Heluy Dantas (Brasil)
Santiago De Apellániz Sainz-Trápaga (Espanha)
Pablo Luis de Lecea Grávalos (Espanha)
Pablo Alfonso Fernández Fernández (Espanha)
José María García de Castro (Espanha)
Alberto García Marcos (Espanha)
Guillermo García-Pimentel Ruíz (México)
Gilberto Augusto Garrido Becerra (Colômbia)
Janvier Mahougnon Gbenou (Benim)
Kazimierz Franciszek Ginter (Polónia)
Adelardo González Forastero (Espanha)
Manuel Guillén Pascual (Espanha)
Enrique Hevia-Campomanes Bailly-Balliere (Espanha)
Joaquín Huarte Muniesa (Suíça)
Kinyanjui Crispus Kinuthia (Quénia)
Fernando López Arias (Espanha)
Nicolás de Luján Said (Espanha)
Luis Martín Ruiz de Gauna (Espanha)
Dean Johnpaul Dumlao Menchávez (Filipinas)
Ignacio Mora-Figueroa Monfort (Espanha)
Jorge Martín Montoya Camacho (Peru)
Mark Kimani Muhoro (Quénia)
Mario Alberto Pagani (Bolívia)
Rafael Perez Bret (Espanha)
Juan Carlos Pinasco (Argentina)
Jordi Taló Valls (Espanha)
José Javier Tapia Escudier (Espanha)

Consciência e verdade

A vida e a obra do Cardeal Newman poderiam ser realmente definidas como um extraordinário e extenso comentário ao problema da consciência [...]. Quem não se recorda [...] da famosa frase acerca da consciência na carta que dirigiu ao duque de Norfolk? Diz assim: "Se tivesse de brindar pela religião, o que é altamente improvável, fá-lo-ia pelo Papa. Mas em primeiro lugar pela consciência. Só depois o faria pelo Papa"[1]. Newman queria que a sua resposta fosse uma adesão clara ao Papado em face da contestação de Gladstone, mas também queria que fosse, em face das formas erróneas do "ultramontanismo", uma interpretação do Papado que só pode ser concebido adequadamente quando visto de forma conjunta com o primado da consciência, não como oposto a ela, mas como algo que a funda e lhe dá garantia. É difícil para o homem moderno, que pensa sempre na subjectividade como oposta à autoridade, entender este problema. Para ele, a consciência está do lado da subjectividade e é expressão da liberdade do sujeito, enquanto a autoridade aparece como urna limitação, e até como uma ameaça e negação, para essa liberdade. É preciso aprofundar mais em tudo isto para entender de novo a perspectiva em que essa oposição não é válida.

O conceito central de que Newman se serve para unir autoridade e subjectividade é o da verdade. Não tenho reparos em dizer que a verdade é a ideia central da sua luta espiritual. A consciência ocupa para ele um lugar central porque a verdade está no centro. Dito de outra maneira: em Newman, a importância do conceito de consciência está unida à excelência do conceito de verdade [...]. A presença constante da ideia de consciência não significa para ele a defesa, no século XIX e em contraposição à neo-escolástica "objetivista", de uma filosofia ou uma teologia da subjectividade. O sujeito merece, a seu ver, uma atenção como não havia despertado talvez desde Santo Agostinho. Mas é uma atenção na linha de Santo Agostinho, não na da filosofia subjectivista da modernidade. Ao ser elevado ao cardinalato, Newman confessou que toda a sua vida tinha sido uma luta contra o liberalismo. Poderíamos acrescentar: e também contra o subjectivismo cristão tal como o encontrou no movimento evangélico do seu tempo, e que constituiu o primeiro degrau de um caminho de conversão que duraria toda a sua vida.

A consciência não significa para Newman a norma do sujeito em oposição às exigências da autoridade num mundo sem verdade [...], mas, antes, a presença clara e imperiosa da voz da verdade no sujeito. A consciência é a anulação da mera subjectividade no ponto em que se tangenciam a intimidade do homem e a verdade de Deus. São significativos os versos que escreveu na Sicília em 1833: "Eu amava o meu próprio caminho. Agora Te peço, ilumina-me para Te seguir"[2]. A conversão ao catolicismo não foi para Newman uma questão de gosto pessoal ou uma necessidade anímica subjectiva. Já em 1844, no umbral de sua conversão, referia-se ao tema com estas palavras: "Ninguém pode ter uma opinião mais desfavorável que eu sobre a situação actual dos católicos"[3].

Mas importava-lhe mais obedecer à verdade, mesmo contra o seu próprio sentir, que seguir o seu gosto, os vínculos de amizade e os caminhos trilhados.

Parece-me muito significativo que ele tenha sublinhado a prioridade da verdade sobre o bem na hierarquia das virtudes [...]. Homem de consciência é aquele que não compra tolerância, bem-estar, êxito, reputação e aprovação públicas renunciando à verdade.

Nisso Newman coincide com outra grande testemunha britânica da consciência, com Thomas More, para quem a consciência nunca foi expressão de uma vontade obstinada nem de um heroísmo caprichoso. Thomas More contava-se a si mesmo entre os mártires timoratos, e dizia que só depois de muitos atrasos e inumeráveis questionamentos tinha conseguido levar a sua alma a obedecer à consciência, a essa obediência à verdade que deve estar acima das instâncias sociais e dos gostos pessoais. Aparecem então dois critérios para distinguir a presença de uma verdadeira voz da consciência: que não coincida com os desejos e gostos próprios, nem, por outro lado, com o que é mais benéfico para a sociedade, com o consenso do grupo ou as exigências do poder político ou social.

Chegados a este ponto, parece natural lançar um olhar sobre os problemas da nossa época. O indivíduo não deve trair a verdade reconhecida pela sua consciência para comprar o progresso e o bem-estar. A sua humanidade não o permite. Mas aqui tocamos o ponto verdadeiramente crítico da modernidade: o conceito de verdade foi praticamente abandonado e substituído pelo de progresso. O progresso "é" a verdade.

Mas, com essa aparente elevação, esse conceito de progresso desmente-se e anula-se a si próprio, pois quando não há uma direção, o mesmo movimento tanto pode ser progressivo como retrógrado. É assim que a teoria da relatividade formulada por Einstein vê o cosmos físico. Mas penso que também descreve com acerto a situação do cosmos espiritual do nosso tempo. A teoria da relatividade estabelece que não há nenhum sistema de referência fixo; cabe a nós considerar um ponto qualquer como referência e a partir dele tentar medir a totalidade, pois só assim poderemos obter resultados; da mesma maneira que escolhemos um, poderíamos ter escolhido qualquer outro.

O que se diz a respeito do cosmos físico reflecte também a segunda inversão "copernicana" que se deu na nossa relação fundamental com a realidade: a verdade, o absoluto, o ponto de referência do pensamento deixou de ser evidente. Por isso, já não há - tampouco do ponto de vista espiritual - nem Norte nem Sul. Não há direção num mundo sem pontos de referência fixos. O que consideramos direção não assenta numa medida verdadeira, mas numa decisão nossa e, em última análise, no ponto de vista da nossa utilidade pessoal. Em semelhante contexto "relativista", a ética teleológica ou consequencialista converte-se numa ética niilista, mesmo que não o percebamos. Numa cosmovisão como essa, aquilo a que chamamos "consciência" é, considerada em profundidade, apenas um modo de dissimular que não há autêntica consciência, isto é, unidade de conhecimento e verdade. Cada um cria os seus próprios critérios, e, nessa situação de relatividade geral, ninguém pode ajudar os outros, e menos ainda dar-lhes instruções.

Agora se compreende a enorme radicalidade do debate ético actual, cujo centro é a consciência. Penso que o paralelismo mais aproximado na história das ideias é a controvérsia entre Sócrates e Platão, por um lado, e os sofistas, por outro, na qual se confrontam duas atitudes fundamentais: a confiança na capacidade humana de atingir a verdade e uma visão do mundo na qual o homem cria os seus próprios critérios [de verdade].

O motivo pelo qual Sócrates, um pagão, se converteu em certo sentido num profeta de Jesus Cristo é, a meu ver, essa questão primordial: a sua disposição de acolher a verdade foi o que permitiu ao modo de fazer filosofia inspirado na sua figura o privilégio de ser de algum modo um elemento da História Sagrada, e o que fez dele um recipiente idóneo do Logos cristão, cuja finalidade é a libertação pela verdade e para a verdade. Se separarmos a luta de Sócrates das contingências históricas do seu momento, perceberemos rapidamente com que intensidade esse embate está presente - com outros argumentos e nomes - nos assuntos da polémica do presente. [...]

[Tal como ocorria com os sofistas,] em muitos lugares já não se pergunta o que um homem qualquer pensa. Basta-nos dispor de uma ideia sobre o seu modo de pensar para incluí-lo na categoria formal conveniente: conservador, reaccionário, fundamentalista, progressista ou revolucionário. A inclusão num esquema formal torna desnecessária qualquer explicação do seu pensamento. Algo parecido, mas reforçado, se observa na arte. O que expressa é indiferente: pode glorificar Deus ou o diabo. O único critério é que seja formalmente conhecido.

Com isto, chegamos ao verdadeiro núcleo do nosso assunto. Quando os conteúdos não contam e a pura fraseologia assume o comando, o poder converte-se em critério supremo, isto é, transforma-se em categoria - revolucionária ou reacionária - dona de tudo. Esta é a forma perversa de semelhança com Deus de que fala o relato do pecado original. O caminho do mero poder e da pura força é a imitação de um ídolo, não a realização da imagem de Deus. O traço essencial do homem enquanto homem não é perguntar pelo poder, mas pelo dever, e abrir-se à voz da verdade e suas exigências.

Esta é, a meu ver, a trama definitiva da luta de Sócrates. Também é o argumento mais profundo do testemunho dos mártires: os mártires manifestam a capacidade de verdade do homem como limite de qualquer poder e como garantia da sua semelhança com Deus. É assim que os mártires se constituem nas grandes testemunhas da consciência, da capacidade outorgada ao homem de perceber o dever acima do poder e de começar o progresso verdadeiro e a ascensão efetiva.

[1] Letter to Norfolk, pág. 261
[2]  Do conhecido poema Lead, kindly light
[3]  Correspondence of J.H. Newman with J, Kebk and Others, págs. 351 e 364

(Cardeal Joseph Ratzinger em "Se quiseres a paz, respeita a consciência de cada um. Consciência e verdade", em Wahrheit, Werte, Machí. Prufsteine der pluralistischen Gesellschaft, Herder, Friburgo, 1993; trad. esp. Verdad, valores, poder, Piedras de toque de Ia sociedad pluralista, Rialp, Madrid, 2000, págs. 56-64)

«Olhar para o Céu» do Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Passeavam há uns minutos sem dizerem nada. As relações entre ambos estavam um pouco tensas. Ela não compreendia como é que alguém que tinha levado nas suas entranhas, que era carne da sua carne e sangue do seu sangue, vinha agora falar-lhe assim. Era uma rebeldia própria da juventude e o entusiasmo acabaria por passar-lhe. Talvez aquelas ideias fossem somente um exacerbado sentimento religioso próprio da idade. Nada para preocupar-se em demasia. A juventude é assim. É um tempo em que se sonha com elevados ideais. Depois, a realidade encarrega-se de “esfriar” os ânimos e, os que foram jovens, acabam por viver como todos os outros viveram. Nem melhor, nem pior.

«Olha para onde pisas» aconselhou-o. «Ainda vais tropeçar nalguma pedra». «Sabe, mãe, assim é a vida sem sentido. Olhar somente para onde pisamos». Ela não esperava uma resposta destas. Voltou a fazer-se silêncio. Ficar calada seria admitir a “derrota”. «E para onde vais olhar então? Para as estrelas?» perguntou com um certo acento irónico de quem deseja finalizar uma conversa que não lhe parecia ter nenhuma saída. «Exactamente. Para as estrelas. Tenho a sensação de que alguém as pôs lá em cima por algum motivo. Talvez seja para que, quando está escuro, não nos esqueçamos de olhar para o Céu».

Será que um cristão deve olhar para o Céu? Não manifesta essa atitude um certo egoísmo da sua parte? Não manifesta essa atitude uma certa indiferença em relação à vida nesta Terra? Em relação aos problemas reais que a todos nos angustiam?

Há uns anos atrás, dizia o então Cardeal Ratzinger que falar do Céu hoje em dia parece exprimir uma certa “fuga da realidade”. Temos receio de o fazer. Temos medo de parecer covardes em relação aos problemas do dia a dia. Um autor pagão chegou mesmo a afirmar, com um certo desprezo pelo Cristianismo, que devemos olhar sobretudo para a Terra e deixar o Céu para os pardais.

O problema é que sem o Céu a vida nesta Terra perde o seu sentido. Se o Céu está escuro e encoberto por densas nuvens, a vida fica cinzenta e melancólica. As alegrias tornam-se algo passageiro assim como a própria vida. O máximo que nos podem desejar no dia de anos é que vivamos alguns mais. Que desejo tão raquítico e deprimente para alguém que anseia viver para sempre!

Um cristão, ao olhar para o Céu, tem já nesta Terra a alegria da vida eterna. Uma alegria que, como disse Jesus Cristo, nada nem ninguém lhe poderá tirar. Não é uma alegria que vem “depois”. É uma alegria que está dentro. É uma esperança segura de quem sabe que o seu caminhar tem um sentido porque tem uma meta. Olhar para a eternidade leva a dar muito mais importância aos problemas do dia a dia. Leva a sentir a responsabilidade de ajudar os outros de verdade, não só na aparência. Olhar para o Céu recorda-nos que, do modo como vivermos aqui, depende o modo como viveremos depois.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

«Quem Me vê, vê o Pai»

Bem-aventurado João Paulo II 
Encíclica « Dives in Misericordia » § 2 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana, rev.)


Em Cristo e por Cristo, Deus torna-Se particularmente visível na Sua misericórdia; isto é, põe-se em evidência o atributo da divindade a que já o Antigo Testamento, servindo-se de diversos conceitos e termos, tinha chamado «misericórdia». Cristo confere um sentido definitivo a toda a tradição do Antigo Testamento relativa à misericórdia divina. Não somente fala dela e a explica recorrendo comparações e parábolas, mas sobretudo encarna-a e personifica-a. Ele próprio é, em certo sentido, a misericórdia. Para quem a vê n'Ele — e n'Ele a encontra —, Deus torna-se particularmente «visível» como Pai «rico em misericórdia» (Ef 2,4).


A mentalidade contemporânea, talvez mais do que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia, e tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica, nunca antes verificado na história, se tornou senhor da terra, a subjugou e a dominou. Tal domínio sobre a terra, entendido por vezes de forma unilateral e superficial, parece não deixar espaço para a misericórdia. [...] A situação do mundo contemporâneo não só manifesta transformações que fazem esperar um futuro melhor do homem sobre a terra, mas apresenta também múltiplas ameaças, que ultrapassam largamente as conhecidas até agora. [...]


A verdade revelada por Cristo a respeito de Deus «Pai das misericórdias» (2 Cor 1,3) permite-nos vê-l'O particularmente próximo do homem, sobretudo quando este sofre, quando é ameaçado no próprio coração da sua existência e da sua dignidade. Por este motivo, na actual situação da Igreja e do mundo, muitos homens e muitos ambientes, guiados por um vivo sentido de fé, voltam-se quase espontaneamente, por assim dizer, para a misericórdia de Deus. São certamente impelidos a fazê-lo pelo próprio Cristo, o qual, mediante o seu Espírito, continua a operar no íntimo dos corações humanos.


(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 5 de Maio de 2012

Se Me conhecêsseis, também certamente conheceríeis Meu Pai; mas desde agora O conheceis e já O vistes». Filipe disse-Lhe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta». Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não Me conheces, Filipe? Quem Me viu, viu também o Pai. Como dizes, pois: Mostra-nos o Pai? Não acreditais que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim? As palavras que vos digo, não as digo por Mim mesmo. O Pai, que está em Mim, Esse é que faz as obras. Crede em Mim: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. Crede-o ao menos por causa das mesmas obras. «Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço. Fará outras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se Me pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu a farei.

Jo 14, 7-14