Porquê jejuar? - Jejum e cuidado com o corpo (reflexão de Bento XVI)

Nos nossos dias, a prática do jejum parece ter perdido um pouco do seu valor espiritual e ter adquirido antes, numa cultura marcada pela busca da satisfação material, o valor de uma medida terapêutica para a cura do próprio corpo. Jejuar sem dúvida é bom para o bem-estar, mas para os crentes é em primeiro lugar uma «terapia» para curar tudo o que os impede de se conformarem com a vontade de Deus. Na Constituição apostólica Paenitemini de 1966, o Servo de Deus Paulo VI reconhecia a necessidade de colocar o jejum no contexto da chamada de cada cristão a «não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e... também a viver pelos irmãos» (Cf. Cap. I). A Quaresma poderia ser uma ocasião oportuna para retomar as normas contidas na citada Constituição apostólica, valorizando o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40).

(Fonte: "Bento XVI, 11 de Dezembro de 2008", publicado em www.vatican.va através do site de São Josemaría Escrivá em http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/porquea-jejuar3f)

Imitação de Cristo, 1, 13, 2

São, todavia, utilíssimas ao homem as tentações, posto que sejam molestas e graves, porque nos humilham, purificam e instruem. Todos os santos passaram por muitas tribulações e tentações, e com elas aproveitaram; aqueles, porém, que não as puderam suportar foram reprovados e pereceram. Não há Ordem tão santa nem lugar tão retirado, em que não haja tentações e adversidades.

Tu és sal, alma de apóstolo

Tu és sal, alma de apóstolo. – "Bonum est sal" – o sal é bom, lê-se no Santo Evangelho; "si autem sal evanuerit" – mas se o sal se desvirtua... de nada serve, nem para a terra, nem para o esterco; deita-se fora como inútil. Tu és sal, alma de apóstolo. – Mas se te desvirtuas... (São Josemaría Escrivá - Caminho, 921)

Os católicos têm de andar pela vida como apóstolos: com luz de Deus, com sal de Deus. Sem medo, com naturalidade, mas com tal vida interior, com tal união com Nosso Senhor, que iluminem, que evitem a corrupção e as sombras, que repartam o fruto da serenidade e a eficácia da doutrina cristã. (São Josemaría Escrivá - Forja, 969)

Em momentos de desorientação geral, quando clamas ao Senhor pelas suas almas!, parece que não te ouve, que está surdo aos teus apelos. Inclusivamente chegas a pensar que o teu trabalho apostólico é vão.

– Não te preocupes! Continua a trabalhar com a mesma alegria, com a mesma vibração, com o mesmo afinco. Permite-me que insista: quando se trabalha por Deus, nada é infecundo! (São Josemaría Escrivá - Forja, 978)

– Filho: todos os mares deste mundo são nossos, e lá onde a pesca é mais difícil é também mais necessária. (São Josemaría Escrivá - Forja, 979)

Com a tua doutrina de cristão, com a tua vida íntegra e com o teu trabalho bem feito, tens que dar bom exemplo, no exercício da tua profissão e no cumprimento dos deveres do teu cargo, aos que te rodeiam: os teus parentes, os teus amigos, os teus companheiros, os teus vizinhos, os teus alunos... – Não podes ser um embusteiro. (São Josemaría Escrivá - Forja, 980)

Também a nós a transfiguração de Jesus ajuda a enfrentar, na fé, a experiência do mal

Bento XVI deslocou-se neste domingo a uma paróquia de Roma, de São João Batista de La Salle, onde saudou e dirigiu a palavra às crianças e celebrou a Missa paroquial. Na homilia, comentou naturalmente as leituras do dia, com o episódio da transfiguração de Jesus: 
“A transfiguração é um momento antecipado de luz que nos ajuda a encarar com o olhar da fé a paixão de Jesus. Esta é, sim, um mistério de sofrimento, mas é também a “bem-aventurada paixão”, porque é um mistério do extraordinário amor de Deus; é o êxodo definitivo que nos abre a porta para a liberdade e novidade da Ressurreição, da salvação do mal. Disso temos bem no nosso caminho quotidiano, muitas vezes marcado também pelo mal”.

A paróquia hoje visitada pelo Papa é de recente formação – criada no ano 2000 e com uma igreja moderna, consagrada em 2009. Congratulando-se com a gradual consolidação do sentido de pertença à comunidade paroquial, observou Bento XVI: 
“A fé há-de ser vivida em conjunto e a paróquia é um lugar onde se aprende a viver a própria fé no nós da Igreja. Desejo encorajar-vos para que cresça também a corresponsabilidade pastoral,, num perspetiva de autêntica comunhão entre todas as realidades presentes, que estão chamadas a caminhar conjuntamente, a viver a complementariedade na diversidade, a testemunhar o nós da Igreja, da família de Deus”.

Ao meio dia, na costumada alocução antes da recitação do Angelus, já da janela dos seus aposentos sobre a Praça de São Pedro, Bento XVI comentou de novo o evangelho da transfiguração, recordando que, “no itinerário quaresmal, a liturgia, depois de nos ter convidado (no domingo passado) a seguir Jesus no deserto, para enfrentar e vencer com Ele as tentações, propõe-nos (agora) que subamos juntamente com Ele ao monte da oração , para contemplar no seu rosto humano a luz gloriosa de Deus.”

Jesus quer que esta luz possa iluminar os corações dos Apóstolos quando estes atravessarem as trevas da sua paixão e morte, quando o escândalo da cruz for para eles insuportável. Deus é luz e Jesus quer dar aos seus amigos mais íntimos a experiência desta luz. Mesmo na noite mais obscura, Jesus é a lâmpada que nunca se extingue. Santo Agostinho resume este mistério com uma belíssima expressão: “O que para os olhos do corpo é o sol que vemos, é-o (Cristo) para os olhos do coração. Todos nós temos necessidade de luz interior para superar as provas desta vida. Esta luz vem de Deus e é Cristo que no-la dá, Ele no qual habita a plenitude da divindade. Subamos com Jesus ao monte da oração , contemplando o seu rosto cheio de amor e de verdade, deixemo-nos cumular interiormente da sua luz”.

Rádio Vaticano

Vídeos em italiano

Bom Domingo do Senhor!

Roguemos ao Senhor que nos faça gozar do esplendor do Seu Reino tal como nos narra o Evangelho de hoje (Mc 9, 2-10) e que fez ver a Pedro, João e Tiago. Permite-nos, Senhor, que um dia venhamos a montar a nossa tenda junto de Ti, de Elias e Moisés!

Jesus Cristo ouvi-nos e atendei-nos!

Amor ao próximo na Quaresma e sempre

Estamos em pleno tempo quaresmal e, certamente, porque queremos ser bons fiéis de Jesus Cristo, fizemos os nossos propósitos para viver muito bem este tempo litúrgico. A Paixão e Morte do Senhor, que surge como o cume da Redenção do homem, orienta a nossa vida, que deve ser mais abnegada na oração e na preocupação pelos outros. À oração vamos buscar a intimidade com Deus, que nos ilumina a inteligência, vigoriza a vontade e purifica os nossos afectos, incentivando-os a amar o bem, a fazermos o bem e a ter como nossos, tanto quanto nos for possível, os problemas das pessoas que convivem connosco todos os dias. Por obrigação de caridade devo dar-lhes mais atenção e tentar tornar a sua vida mais agradável.

Tanto quanto dependa de mim, é a elas que me obrigo a estar mais atento perante as suas necessidades. Mais e melhor as devo compreender. E sempre, ajudar no que precisem.

Para que esta atitude se torne realidade, tenho de saber que os meus juízos sobre elas só lhes são benéficos, em primeiro lugar, quando correspondem à verdade e jamais a algumas impressões superficiais, fáceis de aceitar e difíceis de dominar, quando vão unidas a algum mal-estar que o seu modo de ser me provoca. Rapidamente, confundo o que me choca com a sua realidade. E esta não pode ser positiva.

Em segundo lugar, quando o meu juízo está alicerçado na caridade, que é paciente, benigna e tudo suporta, como a define S. Paulo. Esta virtude, que deve caracterizar as atitudes dos filhos de Deus, não significa passividade ou indiferença perante os outros. Pelo contrário, é a mola do amor que lhes devo ter. E o amor quer o bem de quem sou amigo. Por isso, se algum aspecto do seu comportamento não é objectivamente adequado, devo, com suavidade e com fortaleza, fazer aquilo que Jesus Cristo nos ensinou com a correcção fraterna. Em privado, e depois de rezar longamente pela pessoa a quem a vou fazer, de me mortificar para que tudo corra da melhor forma, dir-lhe-ei com calma, suavidade e fortaleza, o que, em consciência, julgo que não está bem no seu procedimento.

Um cristão não critica: reza; não emite juízos fáceis sobre os outros, que podem ser temerários, se não são minimamente fundamentados e caluniosos se não correspondem à verdade. Além disso, a obrigação que temos é rezar pela santidade dos outros. Devo desejar, do fundo da minha alma, que os outros sejam verdadeiramente santos, isto é, bons cristãos que põem em prática o que Jesus nos legou como norma de conduta: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.

Não temos o mínimo dever de criticar os outros. É um vício que podemos ganhar facilmente, sempre que ao lidar com o próximo, me esqueço da sua condição de filho de Deus, que mereceu, tanto como eu, o Sangue que Cristo verteu no Calvário pela nossa Redenção. Criticar por futilidade ou por má-língua alguém é esquecer que ofendemos não apenas essa pessoa, mas sobretudo a Deus, que é seu Pai, Jesus Cristo, seu irmão, que deu a vida para que ela se salvasse e o Espírito Santo, que através do seu dom do conselho não nos inspira o juízo negativo, mas o que está de acordo com a caridade. Também Nossa Senhora, sua mãe desde a Cruz, se encherá de pena por ver um seu filho a maltratar com tanta falta de fraternidade um seu irmão.

Estamos na Quaresma, tempo de penitência e de conversão. Não será de fazer um propósito franco e corajoso para este período? Não criticar ninguém; antes, rezar por todos: por aqueles com quem simpatizo e com os que não tenho facilidade de relação.

Decerto que Deus Pai ficará contente por descobrir mais solidariedade entre os seus filhos, que Deus Filho verá com mais satisfação os resultados do Sacrifício da sua vida e Deus Espírito Santo sentirá uma maior liberdade para sugerir atitudes mais difíceis de tomar. Também a nossa Mãe, Nossa Senhora, a medianeira de todas as graças, regozijar-se-á pelas suas petições constantes pelos seus filhos que conduziram a tão salutares resoluções.

Sejamos corajosos, confiando mais na ajuda da graça de Deus do que nas nossas forças. Deus apoia todo o que quer fazer a sua vontade, mesmo que ela possa custar ou corresponder a uma espécie de marcha-atrás em relação a um vício muito assumido.  

(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de Março de 2012, selecção do título da responsabilidade do autor do blogue) 

S. Josemaría Escrivá nesta data em 1948

Escreve uma carta de Roma aos seus filhos de Espanha em que lhes conta, com uma ponta de humor, que sofre de alguns achaques por causa da fome, do frio, e da humidade que padecem nesses primeiros tempos romanos: “Ficais a saber que há dois dias acordei com todo o lado esquerdo da cara paralisado, com a boca torcida, sem poder fechar o olho esquerdo: uma carantonha! Pensei: será hemiplegia? Mas o resto do corpo está normal e ágil. O professor Faelli afirma que é uma brincadeira do clima de Roma: reumatismo. Agora mesmo estou a escrever-vos com alguma dificuldade, porque, como a sobrancelha descai sobre a vista, não vejo muito bem”.

(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)

Deus dono da história…


«A história humana, com todos os seus terrores, não se afundará na noite da autodestruição; Deus não deixa que Lhe seja arrancada das mãos».

(Olhar para Cristo – Joseph Ratzinger)

«'Este é o Meu Filho muito amado' [...] E temos assim mais confirmada a palavra dos profetas» (2Pe 1,17-19)

São João Damasceno (c. 675-749), monge, teólogo, doutor da Igreja
Homilia sobre a Transfiguração; PG 96, 545 


Hoje é o abismo da luz inacessível. Hoje, no monte Tabor, a efusão infinita do relâmpago divino resplandece diante dos apóstolos. Hoje, Jesus Cristo manifesta-Se como Senhor da Antiga e da Nova Aliança [...]. Hoje, no monte Tabor, Moisés, o legislador de Deus, o chefe da Antiga Aliança, assiste como um servo a seu mestre, Cristo, sendo ele o donatário da Lei. E reconhece o seu desígnio, a que outrora tinha sido iniciado por prefigurações; é o que significa, quanto a mim, ver Deus «por detrás» (Ex 33,23). Agora ele vê claramente a glória da divindade, abrigado «na cavidade do rochedo» (Ex 33,22), mas «esse rochedo era Cristo» (1Cor 10,4), como Paulo expressamente ensinou: o Deus encarnado, Verbo e Senhor [...].

Hoje, o chefe da Nova Aliança, que tinha proclamado Cristo como Filho de Deus ao dizer «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt16,16), vê o chefe da Antiga Aliança, que está junto do donatário de uma e de outra, e que lhe diz: «Está aqui Aquele que é. Aqui está Aquele de quem eu disse que suscitaria um Profeta como eu (Ex 3,14; Dt 18,15; Act 3,22) – como eu enquanto homem e enquanto chefe do povo novo, mas superior a mim e a toda a criatura, Ele que nos dá, a mim e a ti, as duas Alianças, a Antiga e a Nova» [...]

Vinde então, obedeçamos ao profeta David! Cantemos a nosso Rei, cantemos a nosso Rei, cantemos! «Ele é o Rei de toda a terra» (Sl46,7-8). Cantemos com sabedoria : cantemos com alegria [...]. Cantemos também ao Espírito «que tudo penetra, até às profundidades de Deus»  (1 Co 2,10), ao vermos, nesta luz do Pai que é o Espírito que tudo ilumina, a luz inacessível, o Filho de Deus. Manifesta-se hoje o que olhos de carne não podem ver: um corpo terrestre resplandecente de esplendor divino, um corpo mortal transbordante da glória da divindade. [...] As coisas humanas tornam-se as de Deus, e as coisas divinas, as do homem.