Esta é a tua tarefa de cidadão cristão: contribuir para que o amor e a liberdade de Cristo presidam a todas as manifestações da vida moderna: a cultura e a economia, o trabalho e o descanso, a vida de família e a convivência social.
(São Josemaría Escrivá – Sulco, 302)
As obras do Amor são sempre grandes, ainda que se trate, aparentemente, de coisas pequenas. Deus aproximou-se dos homens, pobres criaturas, e disse-nos que nos ama: Deliciae mea esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar entre os filhos dos homens. O Senhor mostra-nos que tudo tem importância: as acções que, com olhos humanos, consideramos grandes; aquelas outras que, pelo contrário, qualificamos de pouca categoria... Nada se perde. Nenhum homem é desprezado por Deus. Todos, seguindo cada um a sua vocação - no seu lar, na sua profissão ou no seu ofício, no cumprimento das obrigações que correspondem ao seu estado, nos seus deveres de cidadão, no exercício dos seus direitos - todos estão chamados a participar no Reino dos Céus.
(São Josemaría Escrivá – Cristo que passa, 44)
domingo, 12 de dezembro de 2010
Em Fátima, cerimónia simbólica de entrega da «Luz da Paz» em campanha de Natal da Cáritas marcada pelas sombras da crise. D. Carlos Azevedo pede «ética rigorosa» no controlo do Estado
D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, convidou os católicos a “pôr toda a criatividade e energia” no combate ao “flagelo do desemprego” e apelou a “uma ética rigorosa no controlo do Estado”.
O bispo auxiliar de Lisboa falava na homilia da cerimónia de distribuição da “Luz da Paz” pelas Cáritas Diocesanas, na igreja da Santíssima Trindade, de Fátima, que decorreu neste Domingo, 12 de Dezembro.
"O que nos permitirá não ser cana agitada por qualquer vento de crise será uma educação consistente, uma justiça eficaz e pronta, uma ética rigorosa no controlo do Estado", disse.
Este responsável desafiou a “repartir o trabalho, regressar à agricultura, optar pela austeridade no estilo de vida”.
Aos presentes, D. Carlos Azevedo pediu que acolham o apelo da Caritas Portuguesa, na sua campanha “10 milhões de Estrelas”, e acendam “uma vela, na noite de Natal”.
Pelo oitavo ano consecutivo, a Caritas promove a iniciativa “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, campanha de Natal da organização católica cujos fundos revertem, desta feita, em favor da população infantil.
O projecto consiste numa iniciativa de angariação de fundos a nível nacional, através da venda de velas pelo preço simbólico de um Euro, cujo resultado final reverte a favor dos mais necessitados.
Das verbas recolhidas com a venda das velas, 35% serão especialmente canalizadas para um projecto de apoio à pobreza infantil, em São Tomé e Príncipe; os restantes 65% serão aplicados, por cada uma das vinte Cáritas Diocesanas, em projectos nacionais.
Um centro de acolhimento infantil em Aveiro, o reforço do apoio social em Braga e em Portalegre ou um projecto de voluntariado em Coimbra são alguns dos destinos já escolhidos, a nível português.
Na celebração de entrega da “Luz da Paz”, D. Carlos Azevedo defendeu “uma política que não profane a dignidade de nenhum cidadão, que não crie desolação em quem constrói na proximidade dos pobres vias de promoção humana: no ensino, na saúde, no apoio às crianças e aos mais idosos”.
Para o bispo auxiliar de Lisboa, “o que endireitará o caminho do futuro será o afastamento firme de mentiras tortuosas da contabilidade, de contracurvas financeiras, de paraísos que são inferno para a economia real, de descrédito da poupança, da perda dramática da confiança, de atentados à criação.
Numa das intenções de oração, o presidente da Caritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, pediu que o gesto de acender as velas na noite de Natal “ilumine o coração de muitos para acolherem Jesus Cristo, Filho de Deus, e construírem, à luz do Evangelho, a justiça e a paz”.
A Manifestação Pública da operação “10 Milhões de Estrelas-Um Gesto Pela Paz” tem lugar a 18 de Dezembro, em cada diocese.
A Caritas Portuguesa convida cada português a acender uma vela no noite de 24 de Dezembro, véspera de Natal, e a colocá-la à janela da sua casa.
A eucaristia internacional na igreja da Santíssima Trindade, foi ainda marcada pela bênção das imagens do Menino Jesus que os peregrinos trouxerem consigo.
Segundo os responsáveis do Santuário, “trata-se de um pequeno gesto que quer evidenciar o Menino Jesus como verdadeiro centro e sinal do Natal Cristão”.
(Fonte: site Rádio Vaticano)
O bispo auxiliar de Lisboa falava na homilia da cerimónia de distribuição da “Luz da Paz” pelas Cáritas Diocesanas, na igreja da Santíssima Trindade, de Fátima, que decorreu neste Domingo, 12 de Dezembro.
"O que nos permitirá não ser cana agitada por qualquer vento de crise será uma educação consistente, uma justiça eficaz e pronta, uma ética rigorosa no controlo do Estado", disse.
Este responsável desafiou a “repartir o trabalho, regressar à agricultura, optar pela austeridade no estilo de vida”.
Aos presentes, D. Carlos Azevedo pediu que acolham o apelo da Caritas Portuguesa, na sua campanha “10 milhões de Estrelas”, e acendam “uma vela, na noite de Natal”.
Pelo oitavo ano consecutivo, a Caritas promove a iniciativa “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, campanha de Natal da organização católica cujos fundos revertem, desta feita, em favor da população infantil.
O projecto consiste numa iniciativa de angariação de fundos a nível nacional, através da venda de velas pelo preço simbólico de um Euro, cujo resultado final reverte a favor dos mais necessitados.
Das verbas recolhidas com a venda das velas, 35% serão especialmente canalizadas para um projecto de apoio à pobreza infantil, em São Tomé e Príncipe; os restantes 65% serão aplicados, por cada uma das vinte Cáritas Diocesanas, em projectos nacionais.
Um centro de acolhimento infantil em Aveiro, o reforço do apoio social em Braga e em Portalegre ou um projecto de voluntariado em Coimbra são alguns dos destinos já escolhidos, a nível português.
Na celebração de entrega da “Luz da Paz”, D. Carlos Azevedo defendeu “uma política que não profane a dignidade de nenhum cidadão, que não crie desolação em quem constrói na proximidade dos pobres vias de promoção humana: no ensino, na saúde, no apoio às crianças e aos mais idosos”.
Para o bispo auxiliar de Lisboa, “o que endireitará o caminho do futuro será o afastamento firme de mentiras tortuosas da contabilidade, de contracurvas financeiras, de paraísos que são inferno para a economia real, de descrédito da poupança, da perda dramática da confiança, de atentados à criação.
Numa das intenções de oração, o presidente da Caritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, pediu que o gesto de acender as velas na noite de Natal “ilumine o coração de muitos para acolherem Jesus Cristo, Filho de Deus, e construírem, à luz do Evangelho, a justiça e a paz”.
A Manifestação Pública da operação “10 Milhões de Estrelas-Um Gesto Pela Paz” tem lugar a 18 de Dezembro, em cada diocese.
A Caritas Portuguesa convida cada português a acender uma vela no noite de 24 de Dezembro, véspera de Natal, e a colocá-la à janela da sua casa.
A eucaristia internacional na igreja da Santíssima Trindade, foi ainda marcada pela bênção das imagens do Menino Jesus que os peregrinos trouxerem consigo.
Segundo os responsáveis do Santuário, “trata-se de um pequeno gesto que quer evidenciar o Menino Jesus como verdadeiro centro e sinal do Natal Cristão”.
(Fonte: site Rádio Vaticano)
O Advento convida-nos a esperar o Senhor com confiança . A bênção do Papa ás imagens do Menino Jesus que serão colocados nos presépios familiares e das paroquias
Unir de maneira equilibrada fé e razão sem ceder ao fatalismo e reforçando a constância e a paciência. Esta a mensagem contida nas palavras proferidas pelo Papa antes da recitação do Angelus com os milhares de pessoas congregadas na Praça de S. Pedro. Neste sentido Bento XVI propôs uma semelhança com o camponês, porque quem semeou no campo tem diante de si alguns meses de espera paciente e constante, mas sabe que a semente entretanto cumpre o seu ciclo. E acrescentou: O agricultor não é fatalista, mas é modelo de uma mentalidade que une de maneira equilibrada a fé e a razão, porque, dum lado conhece as leis da natureza e realiza bem o seu trabalho, e por outro, confia na Providencia , porque algumas coisas fundamentais não estão nas suas mãos, mas nas mãos de Deus. A paciência e a constância são precisamente síntese entre empenho humano e entrega a Deus.
Parece-me quanto mais importante nos nossos dias – disse ainda o Papa – sublinhar o valor da constância e da paciência, virtudes que faziam parte da bagagem normal dos nossos pais, mas que hoje são menos populares num mundo que exalta, sobretudo, a mudança e a capacidade de adaptar-se a sempre novas e diferentes situações. Sem nada tirar a estes aspectos que são também qualidades do ser humano, o Advento chama-nos a potenciar aquela tenacidade interior, aquela resistência de espírito que nos permitem não desesperar na espera de um bem que tarda a chegar mas a esperá-lo , ou melhor, preparar a sua vinda com confiança activa.
Tradicional encontro neste Domingo na Praça de S. Pedro de cerca de 2000 crianças de Roma com os seus pais e catequistas para a bênção das imagens do Menino Jesus que será colocados nos presépios de cada um e nas paroquias .
Queridos jovens amigos - disse o Papa – quando colocardes o Menino Jesus na Gruta ou na cabana, recitai uma oração pelo Papa e pelas suas intenções.
O Santo Padre recordou também um encontro que terá lugar na tarde da próxima quinta feira dia 16 na Basílica de S. Pedro, quando celebrará as Vésperas com os universitários dos ateneus de Roma em preparação para o Santo Natal.
Depois da recitação do Angelus do meio dia não faltou uma saudação de Bento XVI em língua portuguesa:
Saúdo com amizade os fiéis das paróquias de Barcarena e Milharado, no Patriarcado de Lisboa, e demais peregrinos de língua portuguesa. Agradecido pela presença orante, desejo que esta romagem confirme a vossa adesão a Cristo: confiai no seu poder, deixai agir a sua graça! Por modelo e protecção, tomai a Virgem Mãe.
(Fonte: site Rádio Vaticano)
O Papa em visita à Paroquia romana de S. Maximiliano Kolbe: só Deus muda o mundo, das ditaduras e falsos profetas só veio destruição
Vieram tantos falsos profetas, ideólogos, ditadores, dizendo: fomos nós que mudamos o mundo: Mas das suas ditaduras, destas promessas só veio um grande vazio e destruição. E hoje sabemos que não eram eles. Foi o que afirmou o Papa Bento XVI na homilia proferida durante a Missa celebrada neste III Domingo do Advento na paroquia de S. Maximiliano Kolbe na periferia de Roma. Partindo do trecho do Evangelho e referindo-se a S. Maximiliano Kolbe, ao qual é dedicada a paroquia, o Papa deteve-se sobre os males das ditaduras. O Evangelho deste Domingo apresenta a passagem na qual João Baptista, tendo sentido falar das obras de Cristo, da prisão, através dos seus discípulos manda-lhe a dizer: És tu Aquele que está para vir, ou devemos esperar outro?. Partindo daqui Bento XVI disse: Nos últimos dois, três séculos vieram tantos profetas, ideólogos ditadores que disseram não é ele, somos nós que mudamos o mundo. E fizeram as suas ditaduras. Mas de todas estas promessas ficou apenas um grande vazio e destruição: Hoje, sabemos que não eram eles.
E o Papa acrescentou: Cristo não fez revoluções cruentas. Não é a violência a verdadeira revolução que muda o mundo, mas a luz silenciosa da verdade é o sinal da presença de Cristo que nos dá a certeza de que somos amados e não somos o produto do caso mas de uma vontade de amor.
Dirigindo-se aos fiéis presentes nesta celebração eucarística Bento XVI exortou a dar o seu contributo na caridade, pilar da vida cristã, sendo constantes e pacientes na espera do Senhor que vem, evitando lamentações e juízos . E a não fazer desta paroquia de periferia uma célula isolada do contexto diocesano, mas uma célula viva
(Fonte: site Rádio Vaticano)
O dia de amanhã
A Europa caminha para que aquelas imagens que chegam de Inglaterra ou dos aeroportos espanhóis sejam o nosso triste dia de amanhã
Cheguei a casa, depois de um dia de trabalho, liguei a televisão e, subitamente, ouvi a notícia do dia: o Governo propunha criar um fundo para as empresas poderem despedir trabalhadores. Não acreditei. Achei que ouvi mal. Mantive-me em frente da televisão para ver a repetição de tão absurda ideia. Era mesmo verdade. Tratava-se de uma cópia de uma proposta vinda do governo espanhol.
Em crise, com as empresas a atravessar na sua maioria um momento muito difícil e com dificuldades reais em aguentar os postos de trabalho face à diminuição da sua actividade e à constante subida de impostos, a medida anunciada é a pior de todas e não lembra a ninguém. Ou melhor, só lembra a quem já não tem baias políticas e princípios éticos para governar o país em momentos muito difíceis como este.
Criar um fundo para despedir mais e melhor pessoas é uma imoralidade. Os trabalhadores não são recursos humanos ou números, ou postos de trabalho, mas são pessoas com vidas duras que dependem do seu salário para viver. Criar um fundo significa alocar verbas dos nossos impostos que não servirão para apoiar as vítimas, as pessoas despedidas, as famílias que vivem o drama do desemprego, ou os jovens que procuram trabalho, mas as empresas para poderem despedir colectivamente pessoas. Um fundo para despedimentos que vem no seguimento de cortes em direitos sociais que existiam para apoiar quem precisa na velhice, na infância, na doença, ou no desemprego. Por exemplo, cortou-se no abono de família de crianças filhas de jovens casais, independentemente do número de filhos, com o argumento de que não há possibilidade de os manter porque não temos os meios para aguentar esses fundos e anuncia-se agora outro fundo para despedimentos colectivos?
Tento perceber melhor o que dizem os membros do Governo de tão absurda ideia e ouço explicar que o fundo para despedir vai servir para criar postos de trabalho. Criar postos de trabalho através de um fundo público para despedir pessoas? Estranha coisa, raciocínio ousado e, sobretudo, estranha forma de criar emprego.
O país precisa de alterar a legislação de trabalho e de a simplificar. A legislação laboral que temos não é compatível com as necessidades das empresas e em muitos casos premeia a preguiça, o desleixo em vez de premiar a competência, o esforço e a qualidade. Tudo começa no exemplo que vem da Administração Pública que chega a ter horários de 12 horas semanais de trabalho e que herdou da União Soviética a igualdade salarial para quem trabalha muito se esforça e se dedica, e para quem se passeia entre o cafezinho e as "baixas". A legislação laboral criou uma teia de direitos que retirou em muitos casos a noção de dever de quem trabalha e criou absurdos, da mais cruel injustiça para quem ousa investir e arriscar em Portugal e, direi mesmo, trabalhar em Portugal.
Neste mesmo dia, chegam pelos mesmos noticiários imagens das manifestações estudantis em Inglaterra. A mais velha democracia europeia viveu momentos dramáticos de violência nas ruas de Londres. Violência como não se via há muitos anos na Europa democrática. Não foi só o ataque ao carro e ao Príncipe de Gales que as nossas televisões não se cansaram de mostrar. Foi o ataque ao Parlamento, a casa que no Mundo inteiro simboliza a democracia, que foi o seu berço e onde cresceu ao longo de séculos. É evidente que a crise social que estamos a viver provoca, traz na sua gene, violência, como estamos a ver. Nas pedras dos estudantes ingleses contra o Parlamento, ou na greve com "baixa" falsa dos controladores espanhóis.
Desta violência não estão isentas nem as velhas democracias nem as novas democracias, com governos de direita, ou com governos de esquerda. É assim. A Europa caminha para que aquelas imagens que chegam de Inglaterra ou dos aeroportos espanhóis sejam o nosso triste dia de amanhã.
ZITA SEABRA
(Fonte: JN online)
Cheguei a casa, depois de um dia de trabalho, liguei a televisão e, subitamente, ouvi a notícia do dia: o Governo propunha criar um fundo para as empresas poderem despedir trabalhadores. Não acreditei. Achei que ouvi mal. Mantive-me em frente da televisão para ver a repetição de tão absurda ideia. Era mesmo verdade. Tratava-se de uma cópia de uma proposta vinda do governo espanhol.
Em crise, com as empresas a atravessar na sua maioria um momento muito difícil e com dificuldades reais em aguentar os postos de trabalho face à diminuição da sua actividade e à constante subida de impostos, a medida anunciada é a pior de todas e não lembra a ninguém. Ou melhor, só lembra a quem já não tem baias políticas e princípios éticos para governar o país em momentos muito difíceis como este.
Criar um fundo para despedir mais e melhor pessoas é uma imoralidade. Os trabalhadores não são recursos humanos ou números, ou postos de trabalho, mas são pessoas com vidas duras que dependem do seu salário para viver. Criar um fundo significa alocar verbas dos nossos impostos que não servirão para apoiar as vítimas, as pessoas despedidas, as famílias que vivem o drama do desemprego, ou os jovens que procuram trabalho, mas as empresas para poderem despedir colectivamente pessoas. Um fundo para despedimentos que vem no seguimento de cortes em direitos sociais que existiam para apoiar quem precisa na velhice, na infância, na doença, ou no desemprego. Por exemplo, cortou-se no abono de família de crianças filhas de jovens casais, independentemente do número de filhos, com o argumento de que não há possibilidade de os manter porque não temos os meios para aguentar esses fundos e anuncia-se agora outro fundo para despedimentos colectivos?
Tento perceber melhor o que dizem os membros do Governo de tão absurda ideia e ouço explicar que o fundo para despedir vai servir para criar postos de trabalho. Criar postos de trabalho através de um fundo público para despedir pessoas? Estranha coisa, raciocínio ousado e, sobretudo, estranha forma de criar emprego.
O país precisa de alterar a legislação de trabalho e de a simplificar. A legislação laboral que temos não é compatível com as necessidades das empresas e em muitos casos premeia a preguiça, o desleixo em vez de premiar a competência, o esforço e a qualidade. Tudo começa no exemplo que vem da Administração Pública que chega a ter horários de 12 horas semanais de trabalho e que herdou da União Soviética a igualdade salarial para quem trabalha muito se esforça e se dedica, e para quem se passeia entre o cafezinho e as "baixas". A legislação laboral criou uma teia de direitos que retirou em muitos casos a noção de dever de quem trabalha e criou absurdos, da mais cruel injustiça para quem ousa investir e arriscar em Portugal e, direi mesmo, trabalhar em Portugal.
Neste mesmo dia, chegam pelos mesmos noticiários imagens das manifestações estudantis em Inglaterra. A mais velha democracia europeia viveu momentos dramáticos de violência nas ruas de Londres. Violência como não se via há muitos anos na Europa democrática. Não foi só o ataque ao carro e ao Príncipe de Gales que as nossas televisões não se cansaram de mostrar. Foi o ataque ao Parlamento, a casa que no Mundo inteiro simboliza a democracia, que foi o seu berço e onde cresceu ao longo de séculos. É evidente que a crise social que estamos a viver provoca, traz na sua gene, violência, como estamos a ver. Nas pedras dos estudantes ingleses contra o Parlamento, ou na greve com "baixa" falsa dos controladores espanhóis.
Desta violência não estão isentas nem as velhas democracias nem as novas democracias, com governos de direita, ou com governos de esquerda. É assim. A Europa caminha para que aquelas imagens que chegam de Inglaterra ou dos aeroportos espanhóis sejam o nosso triste dia de amanhã.
ZITA SEABRA
(Fonte: JN online)
CEIA DE SANTA ISABEL - "Não é só um sítio onde se dá de comer"
No centro de Lisboa, um grupo de católicos "preocupados com a crise" organiza, há um ano, jantares "de porta aberta". "Comida muito boa" e um acolhimento caloroso atraem cada vez mais gente às ceias com nome de rainha milagreira
"Comer quentinho"
Sopa de ervilhas, carne de porco com castanhas, baba de camelo e doce do céu. A ementa está escrita num quadro à porta do salão paroquial da igreja de Santa Isabel, em Campo de Ourique, cuja porta abriu às 19.30. Qualquer pessoa - muito, pouco ou nada necessitada - pode aparecer. A acolhê-la, está um "dono da casa", espécie de chefe de sala deste restaurante sui generis onde todo o serviço (confecção, compra e recolha de alimentos) é feito por voluntários e financiado por dádivas diversas. Tão diversificadas como se desejam os clientes - de idosos da zona a gente que "vem de autocarro de Benfica e de Belém"; de reformados e desempregados a crianças de um colégio privado que esta noite vêm, no âmbito da disciplina de "Solidariedade", passar uma noite com "pessoas que não têm a possibilidade de ter uma refeição destas todos os dias" (Joaquim, 10 anos); de sem abrigo a paroquianos entre rezas e reflexões comunais que vêem nisto uma parte da sua prática religiosa; ou, simplesmente, quem goste do ambiente e da comida e do preço e faça disto um hábito.
Hoje a dona da casa é Mafalda Folque. 45 anos, funcionária do Ministério da Cultura, católica mas da "equipa" da capela do Rato ("O meu marido é que costuma vir a Santa Isabel"), dirige a sala esta noite. É dela que Maria de São José Tavares, 54 anos, médica, em estreia nestas lides, recebe instruções de como orientar o serviço de café e chá. "Venho porque acho que devemos ter um papel de solidariedade e de partilha. E que é preciso multiplicar as iniciativas, em vez de ficarmos à espera que alguém faça", diz a novata. "Isto em vez de ser a excepção devia ser uma rotina."
Está tudo no lugar - os pratos e as velas acesas nas mesas, a sopa em caldeirões ao fundo do lado direito mais os jarros de água, os tabuleiros com a carne e o arroz do lado esquerdo - quando chega o primeiro conviva, Agostinho Machado, 83, ex-pintor da construção civil. Um homem pequenino, com uma reforma de 240 euros, que vive com o filho, "empregado numa casa qualquer". "Ele ganha pouco, se eu não precisasse não vinha cá. E aqui como o comer quentinho, é bom. Ao menos enche a barriga." Soube da ceia na igreja ("Moro aqui ao pé, sou católico. Casei aqui. Há muitos anos") e sobre a clientela é reservado. "Há de tudo. Conheço pessoas, mas há pessoas com quem não se pode ter muita conversa. A gente nunca deve dar confiança."
"Fazer comunidade"
Confiança, dir-se-ia, é exactamente o que se oferece aqui, nesta ideia de mistura, de sentar toda a gente na mesma mesa. Isso que exalta a voz de Maria Cortez de Lobão, 49 anos, auto classificada "mãe de família" (sete filhos entre os 20 e os 4): "Não é só um sítio onde se dá de comer. É dar o que somos, fazer comunidade". Maria é a pessoa que na Igreja de Santa Isabel referem como a certa para explicar o que é isto, esta ceia de que se ouviu falar e onde qualquer pessoa pode ir, lançada em Janeiro deste ano às quintas e, desde Outubro, também aos domingos. "A ideia disto era prover a outro grupo de pessoas que não aquelas para as quais já há respostas organizadas. Não sabemos quando as pessoas precisam... Vem aqui gente que à partida não pareceria precisar e só ao fim de muitos dias se abre - se se abrir - e ficamos a saber que tem necessidades. É isso que queremos: que ninguém fique sozinho com as suas aflições." A construção da ideia levou mais ou menos seis meses. Foi preciso fazer obras e equipar uma pequena cozinha (frigorífico, máquina de lavar loiça industrial, fogão) e organizar equipas de voluntários que, entre os que recolhem os géneros, os que cozinham e os que ajudam na sala e arrumam no fim, somam cerca de 130 pessoas. E foi preciso, claro, arranjar dinheiro para pagar o que tem de ser pago. "Nunca se gasta menos de 400 euros por jantar, mesmo com tudo o que é oferecido." A sopa das quintas-feiras (hoje de ervilha, 20 litros), por exemplo, vem do restaurante Avis, recolhida por um administrador de uma empresa da área da comunicação que se apresenta como "sopeiro" (noutros dias é "dono da casa") e prefere ser identificado só como "António". O pão, 50 "bolinhas de mistura" com o valor de venda de 8,50 euros, é oferta da Panificação Mecânica, da Rua Silva Carvalho, cujo proprietário, António Martins Gaspar, 64 anos, se preocupa "com as pessoas que têm necessidade de ir à ceia e não vão por vergonha, enquanto outras com dinheiro no banco vão lá", e "levantado" pela voluntária Rosália Tatone, 69 anos, que, reformada com 360 euros e a pagar 200 de renda, acumula com a frequência das ceias. O minimercado Aba, onde se compram "os frescos", ofereceu um saco de alfaces e cheiros no valor de 20 euros, correspondente a mais de um terço da conta, que inclui de legumes e fruta a ovos e leite condensado e é recolhida por Pedro Andrade e Sousa, 57 anos, empresário da construção. "Temos um apoio do Recheio Cash & Carry que vamos buscar uma vez por mês, mas quisemos fazer as compras no bairro não só para ajudar o comércio local e insistir nesta ideia de comunidade, como porque é mais fácil assim; para ir buscar coisas a um hipermercado ou ao Banco Alimentar era preciso outra logística, mais complicada", explica ainda Maria.
E o dinheiro vem de onde? "Dádivas diversas", que incluem um escritório de advogados, uma fundação e variados anónimos. E o produto das contribuições que nas noites da ceia são depositadas numa caixa colocada na sala para o efeito, e que pode ficar vazia ("Só aconteceu uma vez") ou meio cheia mas que raramente ultrapassa os 40 euros - um décimo do custo estimado para os 80 jantares (uns 700 por mês) que têm sido a regra.
"Uns dos outros"
Podia sair muito mais barato, mas a resolução de partida era "dar uma boa refeição", com sopa, carne ou peixe e sobremesa. Comida de que todos gostassem, receitas escolhidas pelos voluntários entre aquilo para que "tivessem jeito". Comida que todos comem, incluindo, no fim da noite (que acaba às 9 e tal), quem cozinha - hoje Amélia Nogueira Pinto, 46 anos, neurologista, Cristina Melo Vieira, 49, fisioterapeuta, Maria João Robalo, 47, educadora de infância e Mafalda Folque (filha da dona da casa de serviço), 15 anos, estudante. Desde as cinco da tarde que se afadigam à volta do tacho onde 13 quilos de carne, quatro de castanhas e outros tantos litros de vinho borbulham.
Um espaço interdito a quem não esteja fardado de toca e bata, como Duarte, Miguel e Tomás, 15/16 anos, que ajudam a pôr as mesas, dispõem a fruta em taças e depois andam de mesa em mesa, a distribuir piropos e beijos às senhoras. Como a artista gráfica Maria Adelaide Nobre, 79 anos joviais malgrado de uma trombose há 10, que conta histórias dos jornais e "daquele do laço" (Baptista Bastos) e vive desde que nasceu na mesma casa de Campo de Ourique. Ou Maria Cândida de Marques Antunes, 78 anos, reformada da casa de tintas Varela, que só recebe 200 euros de reforma porque nunca descontou para a Segurança Social: "Antes do 25 e Abril não descontávamos. Nem eu nem ninguém."
Noutra mesa, Hélder Lopes, 42 anos, e Elsa Teixeira, de 46 são, descontando as crianças que hoje vieram, dos clientes mais novos. Já se conheciam antes e vêm, dizem, "para conviver, passar o tempo" - ele identifica-se como funcionário público, ela como trabalhando nas Amoreiras. Não frequentadores das igrejas da zona, souberam disto pela mãe dele. E acham bem: "Toda a gente precisa uns dos outros."
"O amor de Deus"
Há quem apareça só para falar, garante António, o "sopeiro". Mesmo se "no princípio as pessoas, nem imagina, iam a correr para a comida. Levavam aos seis bocados de pão, com medo que acabasse. E enchiam os pratos de tal modo que depois não comiam tudo, era um desperdício. Tivemos que explicar que podiam voltar a servir-se e que tinha de haver regras. Agora já sabem: levanta-se uma mesa de cada vez."
A ordem está bem interiorizada. Mal a dona da casa toca um sino, toda a gente se levanta, em silêncio. Já sabem o que se segue: uma oração, um ritual breve antes que seja dado o sinal de partida para os tabuleiros onde fumegam as cheirosas vitualhas. "Nada lhes é pedido, nem sequer imposto", responde Maria Cortez de Lobão à pergunta sobre este momento de proselitismo. "Não obrigamos ninguém a rezar, mas nunca pusemos sequer a hipótese de isto não acontecer. É o que somos, a nossa identidade. O que nos move é o amor de Deus e Deus ama todos, não só aos seus. Não fazer isto era como chegar aqui e falar outra língua. E nunca ninguém protestou."
Há às vezes, claro, uma outra arruaça. Uma porta escancarada tem desses riscos. Hoje é um homem que entra, muito zangado. Quando lhe oferecem comida, recusa: "Eu não como, fico o dia sem comer!" Interpela António Serrano, 62 anos, um dos voluntários, que está sentado a jantar: "Ó senhor padre, desculpe lá, onde é que está a D. Teresa, que me prometeu dar dinheiro?" Serrano nega ser padre e diz que a D. Teresa não está. O homem berra: "Prometem mundos e fundos e não ajudam as pessoas." No meio da sala cheia, saciada, agora nas sobremesas (e nada para prender a atenção como os doces) a irrupção desenha sorrisos complacentes, perplexos.
"Tão difícil imaginar"
Junto aos tabuleiros agora quase vazios, José Pinto, 51 anos, desempregado desde 1987, tira de um saco de plástico um recipiente. São nove e pouco, as portas estão quase a fechar e o costume é dar o que resta a quem quiser levar para casa. Ex-secretário de advogado, licenciado em Filosofia, mestre em Direito, 3º ano de económicas, José vive "das reservas". Vem às ceias sempre. "E tento levar alguma coisa. Como vê."
Há quem deixe qualquer coisa. Maria da Glória, 52 anos, e Jorge Neves, 72, ele "desenhador", ela "que toma conta de idosos" (e, explica ele num sorriso maroto, "Por isso está a tomar conta de mim, vamos casar"), não saem sem visitar o mealheiro. Já na rua, de braço dado e o passo ligeiro de quem passou um bom bocado, acedem às perguntas. "Moramos aqui mesmo ao pé, viemos pela primeira vez há três meses e sentimo-nos bem. Mais pelo convívio mas também pela comida, que é espectacular. Isto é para pessoas mais carenciadas, mas deixamos qualquer coisa. O que podemos." Hoje deixaram quatro euros, às vezes, garantem, deixam cinco.
No dia seguinte, as contas revelam uma noite em cheio: 93.10 euros. Ao telefone, a sempre enérgica Maria festeja: "Foi das melhores. Devem ter sido os miúdos, havia muitas notas de cinco. Tinham-lhes dito na escola que só davam se quisessem e, pelos vistos, deram." O preço de um bilhete de cinema. Talvez, como diz o louríssimo Faustino, de 12 anos, aluno do liceu Rainha D. Amélia que veio com o irmão Luís, de 10, do colégio de Santa Maria, "porque é tão difícil imaginar o que será não ter sempre uma refeição a horas." E os milagres, de pães, rosas ou euros, não são assim tão frequentes.
FERNANDA CÂNCIO
(Fonte: DN online)
"Comer quentinho"
Sopa de ervilhas, carne de porco com castanhas, baba de camelo e doce do céu. A ementa está escrita num quadro à porta do salão paroquial da igreja de Santa Isabel, em Campo de Ourique, cuja porta abriu às 19.30. Qualquer pessoa - muito, pouco ou nada necessitada - pode aparecer. A acolhê-la, está um "dono da casa", espécie de chefe de sala deste restaurante sui generis onde todo o serviço (confecção, compra e recolha de alimentos) é feito por voluntários e financiado por dádivas diversas. Tão diversificadas como se desejam os clientes - de idosos da zona a gente que "vem de autocarro de Benfica e de Belém"; de reformados e desempregados a crianças de um colégio privado que esta noite vêm, no âmbito da disciplina de "Solidariedade", passar uma noite com "pessoas que não têm a possibilidade de ter uma refeição destas todos os dias" (Joaquim, 10 anos); de sem abrigo a paroquianos entre rezas e reflexões comunais que vêem nisto uma parte da sua prática religiosa; ou, simplesmente, quem goste do ambiente e da comida e do preço e faça disto um hábito.
Hoje a dona da casa é Mafalda Folque. 45 anos, funcionária do Ministério da Cultura, católica mas da "equipa" da capela do Rato ("O meu marido é que costuma vir a Santa Isabel"), dirige a sala esta noite. É dela que Maria de São José Tavares, 54 anos, médica, em estreia nestas lides, recebe instruções de como orientar o serviço de café e chá. "Venho porque acho que devemos ter um papel de solidariedade e de partilha. E que é preciso multiplicar as iniciativas, em vez de ficarmos à espera que alguém faça", diz a novata. "Isto em vez de ser a excepção devia ser uma rotina."
Está tudo no lugar - os pratos e as velas acesas nas mesas, a sopa em caldeirões ao fundo do lado direito mais os jarros de água, os tabuleiros com a carne e o arroz do lado esquerdo - quando chega o primeiro conviva, Agostinho Machado, 83, ex-pintor da construção civil. Um homem pequenino, com uma reforma de 240 euros, que vive com o filho, "empregado numa casa qualquer". "Ele ganha pouco, se eu não precisasse não vinha cá. E aqui como o comer quentinho, é bom. Ao menos enche a barriga." Soube da ceia na igreja ("Moro aqui ao pé, sou católico. Casei aqui. Há muitos anos") e sobre a clientela é reservado. "Há de tudo. Conheço pessoas, mas há pessoas com quem não se pode ter muita conversa. A gente nunca deve dar confiança."
"Fazer comunidade"
Confiança, dir-se-ia, é exactamente o que se oferece aqui, nesta ideia de mistura, de sentar toda a gente na mesma mesa. Isso que exalta a voz de Maria Cortez de Lobão, 49 anos, auto classificada "mãe de família" (sete filhos entre os 20 e os 4): "Não é só um sítio onde se dá de comer. É dar o que somos, fazer comunidade". Maria é a pessoa que na Igreja de Santa Isabel referem como a certa para explicar o que é isto, esta ceia de que se ouviu falar e onde qualquer pessoa pode ir, lançada em Janeiro deste ano às quintas e, desde Outubro, também aos domingos. "A ideia disto era prover a outro grupo de pessoas que não aquelas para as quais já há respostas organizadas. Não sabemos quando as pessoas precisam... Vem aqui gente que à partida não pareceria precisar e só ao fim de muitos dias se abre - se se abrir - e ficamos a saber que tem necessidades. É isso que queremos: que ninguém fique sozinho com as suas aflições." A construção da ideia levou mais ou menos seis meses. Foi preciso fazer obras e equipar uma pequena cozinha (frigorífico, máquina de lavar loiça industrial, fogão) e organizar equipas de voluntários que, entre os que recolhem os géneros, os que cozinham e os que ajudam na sala e arrumam no fim, somam cerca de 130 pessoas. E foi preciso, claro, arranjar dinheiro para pagar o que tem de ser pago. "Nunca se gasta menos de 400 euros por jantar, mesmo com tudo o que é oferecido." A sopa das quintas-feiras (hoje de ervilha, 20 litros), por exemplo, vem do restaurante Avis, recolhida por um administrador de uma empresa da área da comunicação que se apresenta como "sopeiro" (noutros dias é "dono da casa") e prefere ser identificado só como "António". O pão, 50 "bolinhas de mistura" com o valor de venda de 8,50 euros, é oferta da Panificação Mecânica, da Rua Silva Carvalho, cujo proprietário, António Martins Gaspar, 64 anos, se preocupa "com as pessoas que têm necessidade de ir à ceia e não vão por vergonha, enquanto outras com dinheiro no banco vão lá", e "levantado" pela voluntária Rosália Tatone, 69 anos, que, reformada com 360 euros e a pagar 200 de renda, acumula com a frequência das ceias. O minimercado Aba, onde se compram "os frescos", ofereceu um saco de alfaces e cheiros no valor de 20 euros, correspondente a mais de um terço da conta, que inclui de legumes e fruta a ovos e leite condensado e é recolhida por Pedro Andrade e Sousa, 57 anos, empresário da construção. "Temos um apoio do Recheio Cash & Carry que vamos buscar uma vez por mês, mas quisemos fazer as compras no bairro não só para ajudar o comércio local e insistir nesta ideia de comunidade, como porque é mais fácil assim; para ir buscar coisas a um hipermercado ou ao Banco Alimentar era preciso outra logística, mais complicada", explica ainda Maria.
E o dinheiro vem de onde? "Dádivas diversas", que incluem um escritório de advogados, uma fundação e variados anónimos. E o produto das contribuições que nas noites da ceia são depositadas numa caixa colocada na sala para o efeito, e que pode ficar vazia ("Só aconteceu uma vez") ou meio cheia mas que raramente ultrapassa os 40 euros - um décimo do custo estimado para os 80 jantares (uns 700 por mês) que têm sido a regra.
"Uns dos outros"
Podia sair muito mais barato, mas a resolução de partida era "dar uma boa refeição", com sopa, carne ou peixe e sobremesa. Comida de que todos gostassem, receitas escolhidas pelos voluntários entre aquilo para que "tivessem jeito". Comida que todos comem, incluindo, no fim da noite (que acaba às 9 e tal), quem cozinha - hoje Amélia Nogueira Pinto, 46 anos, neurologista, Cristina Melo Vieira, 49, fisioterapeuta, Maria João Robalo, 47, educadora de infância e Mafalda Folque (filha da dona da casa de serviço), 15 anos, estudante. Desde as cinco da tarde que se afadigam à volta do tacho onde 13 quilos de carne, quatro de castanhas e outros tantos litros de vinho borbulham.
Um espaço interdito a quem não esteja fardado de toca e bata, como Duarte, Miguel e Tomás, 15/16 anos, que ajudam a pôr as mesas, dispõem a fruta em taças e depois andam de mesa em mesa, a distribuir piropos e beijos às senhoras. Como a artista gráfica Maria Adelaide Nobre, 79 anos joviais malgrado de uma trombose há 10, que conta histórias dos jornais e "daquele do laço" (Baptista Bastos) e vive desde que nasceu na mesma casa de Campo de Ourique. Ou Maria Cândida de Marques Antunes, 78 anos, reformada da casa de tintas Varela, que só recebe 200 euros de reforma porque nunca descontou para a Segurança Social: "Antes do 25 e Abril não descontávamos. Nem eu nem ninguém."
Noutra mesa, Hélder Lopes, 42 anos, e Elsa Teixeira, de 46 são, descontando as crianças que hoje vieram, dos clientes mais novos. Já se conheciam antes e vêm, dizem, "para conviver, passar o tempo" - ele identifica-se como funcionário público, ela como trabalhando nas Amoreiras. Não frequentadores das igrejas da zona, souberam disto pela mãe dele. E acham bem: "Toda a gente precisa uns dos outros."
"O amor de Deus"
Há quem apareça só para falar, garante António, o "sopeiro". Mesmo se "no princípio as pessoas, nem imagina, iam a correr para a comida. Levavam aos seis bocados de pão, com medo que acabasse. E enchiam os pratos de tal modo que depois não comiam tudo, era um desperdício. Tivemos que explicar que podiam voltar a servir-se e que tinha de haver regras. Agora já sabem: levanta-se uma mesa de cada vez."
A ordem está bem interiorizada. Mal a dona da casa toca um sino, toda a gente se levanta, em silêncio. Já sabem o que se segue: uma oração, um ritual breve antes que seja dado o sinal de partida para os tabuleiros onde fumegam as cheirosas vitualhas. "Nada lhes é pedido, nem sequer imposto", responde Maria Cortez de Lobão à pergunta sobre este momento de proselitismo. "Não obrigamos ninguém a rezar, mas nunca pusemos sequer a hipótese de isto não acontecer. É o que somos, a nossa identidade. O que nos move é o amor de Deus e Deus ama todos, não só aos seus. Não fazer isto era como chegar aqui e falar outra língua. E nunca ninguém protestou."
Há às vezes, claro, uma outra arruaça. Uma porta escancarada tem desses riscos. Hoje é um homem que entra, muito zangado. Quando lhe oferecem comida, recusa: "Eu não como, fico o dia sem comer!" Interpela António Serrano, 62 anos, um dos voluntários, que está sentado a jantar: "Ó senhor padre, desculpe lá, onde é que está a D. Teresa, que me prometeu dar dinheiro?" Serrano nega ser padre e diz que a D. Teresa não está. O homem berra: "Prometem mundos e fundos e não ajudam as pessoas." No meio da sala cheia, saciada, agora nas sobremesas (e nada para prender a atenção como os doces) a irrupção desenha sorrisos complacentes, perplexos.
"Tão difícil imaginar"
Junto aos tabuleiros agora quase vazios, José Pinto, 51 anos, desempregado desde 1987, tira de um saco de plástico um recipiente. São nove e pouco, as portas estão quase a fechar e o costume é dar o que resta a quem quiser levar para casa. Ex-secretário de advogado, licenciado em Filosofia, mestre em Direito, 3º ano de económicas, José vive "das reservas". Vem às ceias sempre. "E tento levar alguma coisa. Como vê."
Há quem deixe qualquer coisa. Maria da Glória, 52 anos, e Jorge Neves, 72, ele "desenhador", ela "que toma conta de idosos" (e, explica ele num sorriso maroto, "Por isso está a tomar conta de mim, vamos casar"), não saem sem visitar o mealheiro. Já na rua, de braço dado e o passo ligeiro de quem passou um bom bocado, acedem às perguntas. "Moramos aqui mesmo ao pé, viemos pela primeira vez há três meses e sentimo-nos bem. Mais pelo convívio mas também pela comida, que é espectacular. Isto é para pessoas mais carenciadas, mas deixamos qualquer coisa. O que podemos." Hoje deixaram quatro euros, às vezes, garantem, deixam cinco.
No dia seguinte, as contas revelam uma noite em cheio: 93.10 euros. Ao telefone, a sempre enérgica Maria festeja: "Foi das melhores. Devem ter sido os miúdos, havia muitas notas de cinco. Tinham-lhes dito na escola que só davam se quisessem e, pelos vistos, deram." O preço de um bilhete de cinema. Talvez, como diz o louríssimo Faustino, de 12 anos, aluno do liceu Rainha D. Amélia que veio com o irmão Luís, de 10, do colégio de Santa Maria, "porque é tão difícil imaginar o que será não ter sempre uma refeição a horas." E os milagres, de pães, rosas ou euros, não são assim tão frequentes.
FERNANDA CÂNCIO
(Fonte: DN online)
Bom Dia!
Da Melhoria Pessoal e da Vida Interior
Clique em "Bom Dia!" e acederá directamente ao blogue NUNC COEPI e ao texto. Obrigado!
Clique em "Bom Dia!" e acederá directamente ao blogue NUNC COEPI e ao texto. Obrigado!
S. Josemaría Escrivá nesta data em 1931
Escreve: “Ontem almocei em casa dos Guevara. Estando ali, sem fazer oração, dei comigo – como outras vezes – dizendo: “Inter medium montium pertransibunt aquae”. Creio que, nestes dias tenho tido outras vezes na minha boca essas palavras, porque sim, mas não lhes dei importância. Ontem disse-as com tanta força, que senti o desejo de as anotar: entendi-as”. Anos mais tarde, esclarecerá: “Eu recordo o consolo de uma alma que tinha de fazer algo que estava acima das forças do homem e ouviu dizer na intimidade do seu coração: Inter medium montium pertransibunt aquae; não te preocupes, as águas passarão através dos montes”.
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
A Parábola dos talentos…
Não desperdicemos as faculdades que Deus nos deu, cada um dentro das suas possibilidades e conhecimentos, mas com a ajuda do Espírito Santo, encontramo-nos apetrechados para O servir.
Ele certamente nos concedeu algum talento que podemos e devemos doar em prol do próximo, cada um com o seu, está ética e moralmente obrigado a fazê-lo e compartilhá-lo.
Essa partilha e doação, poderá ser em silêncio e em oração, cujo valor, na permanente poluição sonora em que vivemos, não deverá ser esquecido, mas antes enaltecido.
(JPR)
«Hoje em dia, nós no Ocidente andamos ocupados a enterrar o tesouro, seja por cobardia – ante a exigência de, ao pormo-lo a render na contenda da nossa história, podermos vim assim a perdê-lo (tal é a mais pura falta de fé) -, seja também por indolência; e enterramo-lo por, nós próprios, também não querermos ser por ele importunados, uma vez que gostaríamos de levar a nossa vida sem andarmos incomodados com o fardo da responsabilidade que tal tesouro acarreta».
(A Caminho de Jesus Cristo – Joseph Ratzinger)
Ele certamente nos concedeu algum talento que podemos e devemos doar em prol do próximo, cada um com o seu, está ética e moralmente obrigado a fazê-lo e compartilhá-lo.
Essa partilha e doação, poderá ser em silêncio e em oração, cujo valor, na permanente poluição sonora em que vivemos, não deverá ser esquecido, mas antes enaltecido.
(JPR)
«Hoje em dia, nós no Ocidente andamos ocupados a enterrar o tesouro, seja por cobardia – ante a exigência de, ao pormo-lo a render na contenda da nossa história, podermos vim assim a perdê-lo (tal é a mais pura falta de fé) -, seja também por indolência; e enterramo-lo por, nós próprios, também não querermos ser por ele importunados, uma vez que gostaríamos de levar a nossa vida sem andarmos incomodados com o fardo da responsabilidade que tal tesouro acarreta».
(A Caminho de Jesus Cristo – Joseph Ratzinger)
Crer
«Crer é o acto da inteligência que presta o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela graça de Deus»
(Summa theologiae II-II. q. 2. a. 9. C - São Tomás de Aquino)
Que alegria sabermo-nos seguros da nossa fé, não há lugar a angústias e a dúvidas; que maravilha sabê-Lo junto de nós, é enorme a segurança que nos transmite, saibamos pois, ser dignos das Suas promessas, sem nunca nos esquecermos, que amá-Lo verdadeiramente significa, assumirmos riscos e não nos acomodarmos burguesmente.
Bom Domingo!
(JPR)
(Summa theologiae II-II. q. 2. a. 9. C - São Tomás de Aquino)
Que alegria sabermo-nos seguros da nossa fé, não há lugar a angústias e a dúvidas; que maravilha sabê-Lo junto de nós, é enorme a segurança que nos transmite, saibamos pois, ser dignos das Suas promessas, sem nunca nos esquecermos, que amá-Lo verdadeiramente significa, assumirmos riscos e não nos acomodarmos burguesmente.
Bom Domingo!
(JPR)