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Um Santa Páscoa de Jesus Cristo Nosso Senhor!
JPR
sábado, 3 de abril de 2010
Em memória de João Paulo II (Editorial)
A cinco anos da morte de João Paulo II, o aniversário coincide com os dias mais sagrados do calendário cristão, quase como que a ressaltar não só a associação com a paixão de Cristo durante o doloroso declínio físico das últimas semanas de vida terrena, mas sobretudo a fidelidade a seguir o Senhor durante toda a existência. Quem o recordou foi Bento XVI na homilia durante a missa de sufrágio do Papa polaco "grande polaco", assim o definiu escolhendo "para delinear o seu perfil essencial" duas comparações escriturísticas.
A primeira é a firmeza do "servo de Deus" no livro profético de Isaías, que Bento XVI viu reflectida na proclamação do direito por parte do Papa Wojtyla, "sobretudo quando tinha que se medir com resistências, hostilidades e rejeições". A segunda comparação é a que o Pontífice evocou quando celebrou o vigésimo quinto aniversário da sua eleição e meditou sobre a pergunta radical de Jesus a Pedro: "Tu amas-Me? Amas-Me mais do que a estes?". Palavras às quais João Paulo II confidenciou ter respondido como o apóstolo "Senhor, tu sabes tudo; tu bem sabes que te amo" e declarando-se consciente quer da própria fragilidade quer das responsabilidades que lhe foram confiadas pelo próprio Cristo.
Eleito à sede romana relativamente jovem, o Papa eslavo impôs-se depressa como um dos protagonistas dos últimos vinte anos do século XX, assumindo plenamente a tarefa que o primaz polaco Stefan Wyszynski tinha previsto: "introduzir a Igreja no Terceiro Milénio". Foi o próprio Pontífice que o recordou no testamento, um texto escrito em várias etapas mas sempre durante os exercícios espirituais da quaresma que documenta a sua visão mística da história e o itinerário pessoal, corajoso e dramático. Em tempos definidos por ele mesmo "indizivelmente difíceis e atormentados", entre perseguições ferozes, o atentado à sua vida, o receio do conflito nuclear e, depois da derrocada do comunismo europeu, "novos problemas e dificuldades".
Do Papa Wojtyla muitíssimas mulheres e homens, na Igreja católica e fora dos seus confins visíveis, conservam uma recordação viva, devida sobretudo à força e à tenacidade, mantidas até aos últimos dias terrenos, com que soube tornar presente e visível a mensagem de Cristo em todo o mundo, fazendo-se em toda a parte como sintetizou eficazmente Bento XVI "companheiro de viagem para o homem de hoje". Em particular através das viagens a um grande número de países, que pela primeira vez foram visitados por um sucessor de Pedro; nas pegadas de Paulo VI, o Papa que depois da peregrinação à Terra Santa foi aos cinco continentes.
No testamento João Paulo II, além da importância atribuída à causa da "salvação dos homens" e da "salvaguarda da família humana", declarou-se in medio Ecclesiae devedor pelo "grande dom" do concílio, convicto da necessidade de o realizar, necessidade que define "grandíssima causa" servida durante o pontificado. Nisto a preservação da fé é uma das características principais: "Exprimo lê-se no texto a mais profunda confiança em que, apesar de toda a minha debilidade, o Senhor me concederá todas as graças necessárias para enfrentar segundo a Sua vontade qualquer tarefa, prova ou sofrimento". E ainda: "Tenho também confiança de que nunca permitirá, com qualquer atitude minha, palavras, obras ou omissões, que eu possa trair as minhas obrigações nesta santa Sé Petrina".
Neste serviço prestado sem se poupar pela unidade da Igreja, o Papa Wojtyla quis ao seu lado, já desde os primeiros anos, Joseph Ratzinger, que Paulo VI tinha criado cardeal no seu último consistório e que hoje é o seu sucessor. Na continuidade que distingue nas variações históricas e na diversidade natural das pessoas a vocação e a história da Igreja de Roma.
Giovanni Maria Vian – Director
(© L'Osservatore Romano - 3 de Abril de 2010)
A primeira é a firmeza do "servo de Deus" no livro profético de Isaías, que Bento XVI viu reflectida na proclamação do direito por parte do Papa Wojtyla, "sobretudo quando tinha que se medir com resistências, hostilidades e rejeições". A segunda comparação é a que o Pontífice evocou quando celebrou o vigésimo quinto aniversário da sua eleição e meditou sobre a pergunta radical de Jesus a Pedro: "Tu amas-Me? Amas-Me mais do que a estes?". Palavras às quais João Paulo II confidenciou ter respondido como o apóstolo "Senhor, tu sabes tudo; tu bem sabes que te amo" e declarando-se consciente quer da própria fragilidade quer das responsabilidades que lhe foram confiadas pelo próprio Cristo.
Eleito à sede romana relativamente jovem, o Papa eslavo impôs-se depressa como um dos protagonistas dos últimos vinte anos do século XX, assumindo plenamente a tarefa que o primaz polaco Stefan Wyszynski tinha previsto: "introduzir a Igreja no Terceiro Milénio". Foi o próprio Pontífice que o recordou no testamento, um texto escrito em várias etapas mas sempre durante os exercícios espirituais da quaresma que documenta a sua visão mística da história e o itinerário pessoal, corajoso e dramático. Em tempos definidos por ele mesmo "indizivelmente difíceis e atormentados", entre perseguições ferozes, o atentado à sua vida, o receio do conflito nuclear e, depois da derrocada do comunismo europeu, "novos problemas e dificuldades".
Do Papa Wojtyla muitíssimas mulheres e homens, na Igreja católica e fora dos seus confins visíveis, conservam uma recordação viva, devida sobretudo à força e à tenacidade, mantidas até aos últimos dias terrenos, com que soube tornar presente e visível a mensagem de Cristo em todo o mundo, fazendo-se em toda a parte como sintetizou eficazmente Bento XVI "companheiro de viagem para o homem de hoje". Em particular através das viagens a um grande número de países, que pela primeira vez foram visitados por um sucessor de Pedro; nas pegadas de Paulo VI, o Papa que depois da peregrinação à Terra Santa foi aos cinco continentes.
No testamento João Paulo II, além da importância atribuída à causa da "salvação dos homens" e da "salvaguarda da família humana", declarou-se in medio Ecclesiae devedor pelo "grande dom" do concílio, convicto da necessidade de o realizar, necessidade que define "grandíssima causa" servida durante o pontificado. Nisto a preservação da fé é uma das características principais: "Exprimo lê-se no texto a mais profunda confiança em que, apesar de toda a minha debilidade, o Senhor me concederá todas as graças necessárias para enfrentar segundo a Sua vontade qualquer tarefa, prova ou sofrimento". E ainda: "Tenho também confiança de que nunca permitirá, com qualquer atitude minha, palavras, obras ou omissões, que eu possa trair as minhas obrigações nesta santa Sé Petrina".
Neste serviço prestado sem se poupar pela unidade da Igreja, o Papa Wojtyla quis ao seu lado, já desde os primeiros anos, Joseph Ratzinger, que Paulo VI tinha criado cardeal no seu último consistório e que hoje é o seu sucessor. Na continuidade que distingue nas variações históricas e na diversidade natural das pessoas a vocação e a história da Igreja de Roma.
Giovanni Maria Vian – Director
(© L'Osservatore Romano - 3 de Abril de 2010)
Vigília Pascal: símbolos e significado
Na noite, em que Jesus Cristo passou da morte à vida, a Igreja convida os seus filhos a reunirem-se em vigília e oração. Na verdade, a Vigília pascal foi sempre considerada a mãe de todas a vigílias e o coração do Ano litúrgico. A sensibilidade popular poderia pensar que a grande noite fosse a noite de Natal, mas a teologia e a liturgia da Igreja adverte que é a noite da Páscoa, «na qual a Igreja espera em vigília a Ressurreição de Cristo e a celebra nos sacramentos» (Normas gerais sobre o Ano litúrgico, 20). No texto do Precónio pascal, chamado o hino “Exsultet” e que se canta nesta celebração, diz-se que esta noite é «bendita», porque é a «única a ter conhecimento do tempo e da hora em que Cristo ressuscitou do sepulcro! Esta é a noite, da qual está escrito: a noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Por isso, desde o início a Igreja celebrou a Páscoa anual, solenidade das solenidades, com um vigília nocturna.
A celebração da Vigília pascal articula-se em quatro partes:
1) a liturgia da luz ou “lucernário”;
2) a liturgia da Palavra;
3) a liturgia baptismal;
4) a liturgia eucarística.
1) A liturgia da luz consiste na bênção do fogo, na preparação do círio e na proclamação do precónio pascal. O lume novo e o círio pascal simbolizam a luz da Páscoa, que é Cristo, luz do mundo. O texto do precónio evidencia-o quando afirma que «a luz de Cristo (...) dissipa as trevas de todo o mundo» e convida a «celebrar o esplendor admirável desta luz (...) na noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!».
2) A liturgia da Palavra propõe sete leituras do Antigo Testamento, que recordam as maravilhas de Deus na história da salvação e duas do Novo Testamento, ou seja, o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinópticos, e a leitura apostólica sobre o Baptismo cristão como sacramento da Páscoa de Cristo. Assim, a Igreja, «começando por Moisés e seguindo pelos Profetas» (Lc 24,27), interpreta o mistério pascal de Cristo. Toda a escuta da Palavra é feita à luz do acontecimento-Cristo, simbolizado no círio colocado no candelabro junto ao Ambão ou perto do Altar.
3) A liturgia baptismal é parte integrante da celebração. Quando não há Baptismo, faz-se a bênção da fonte baptismal e a renovação das promessas do Baptismo. Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal. A Igreja antiga baptizava os catecúmenos nesta noite e hoje permanece a liturgia baptismal, mesmo sem a celebração do Baptismo.
4) A liturgia eucarística é o momento culminante da Vigília, qual sacramento pleno da Páscoa, isto é, a memória do sacrifício da Cruz, a presença de Cristo Ressuscitado, o ápice da Iniciação cristã e o antegozo da Páscoa eterna.
Estes quatro momentos celebrativos têm como fio condutor a unidade do plano de salvação de Deus em favor dos homens, que se realiza plenamente na Páscoa de Cristo por nós. Por consequência, a Ressurreição de Cristo é o fundamento da fé e da esperança da Igreja.
Gostaria de destacar dois elementos expressivos desta solene vigília: a luz e a água.
A Vigília na noite santa abre com a liturgia da luz, evocando a ressurreição de Cristo e a peregrinação de Israel guiado pela coluna de fogo. A liturgia salienta a potência da luz, como o símbolo de Cristo Ressuscitado, no círio pascal e nas velas que se acendem do mesmo, na iluminação progressiva das luzes da igreja, ao acender das velas do altar e com as velas acesas na mão para a renovação das promessas baptismais. O símbolo mais iluminador é o círio, que deve ser de cera, novo cada ano e relativamente grande, para poder evocar que Cristo é a luz dos povos. Ao acender o círio pascal do lume novo, o sacerdote diz: «A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito» e depois apresenta o círio como «lumen Christi=a luz de Cristo». Quando alguém nasce, costuma-se dizer que «veio à luz» ou que «a mãe deu à luz». Podemos, por isso dizer que a Igreja veio à luz na Páscoa de Cristo. De facto, toda a vida da Igreja encontra a sua fonte no mistério da Páscoa de Cristo.
A água na liturgia é, igualmente, um símbolo muito significativo. «A água é rica de mistério» (R. Guardini). Ela é simples, pura, limpa e desinteressada. Símbolo perfeito da vida, que Deus preparou, ao longos dos tempos, para manifestar melhor o sentido do Baptismo. A oração da bênção da água faz memória da acção salvífica de Deus na história através da água. Com efeito, a água é benzida, para que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, «no sacramento do Baptismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo». Na tradição eclesial, a fonte baptismal é comparada ao seio materno e a Igreja à mãe que dá à luz.
O simbolismo fundamental da celebração litúrgica da Vigília é o de ser uma “noite clara”, ou melhor «a noite que brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Esta noite inaugura o “Hodie=Hoje” da liturgia, como se tratasse de um único dia de festa sem ocaso (o dia da celebração festiva da Igreja que se prolonga pela oitava pascal e pelos cinquenta dias do Tempo pascal), no qual se diz «eis o dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos» (Sl 118).
P. José Cordeiro
Reitor do Pontifício Colégio Português
(Fonte: site Radio Vaticana)
A celebração da Vigília pascal articula-se em quatro partes:
1) a liturgia da luz ou “lucernário”;
2) a liturgia da Palavra;
3) a liturgia baptismal;
4) a liturgia eucarística.
1) A liturgia da luz consiste na bênção do fogo, na preparação do círio e na proclamação do precónio pascal. O lume novo e o círio pascal simbolizam a luz da Páscoa, que é Cristo, luz do mundo. O texto do precónio evidencia-o quando afirma que «a luz de Cristo (...) dissipa as trevas de todo o mundo» e convida a «celebrar o esplendor admirável desta luz (...) na noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!».
2) A liturgia da Palavra propõe sete leituras do Antigo Testamento, que recordam as maravilhas de Deus na história da salvação e duas do Novo Testamento, ou seja, o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinópticos, e a leitura apostólica sobre o Baptismo cristão como sacramento da Páscoa de Cristo. Assim, a Igreja, «começando por Moisés e seguindo pelos Profetas» (Lc 24,27), interpreta o mistério pascal de Cristo. Toda a escuta da Palavra é feita à luz do acontecimento-Cristo, simbolizado no círio colocado no candelabro junto ao Ambão ou perto do Altar.
3) A liturgia baptismal é parte integrante da celebração. Quando não há Baptismo, faz-se a bênção da fonte baptismal e a renovação das promessas do Baptismo. Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal. A Igreja antiga baptizava os catecúmenos nesta noite e hoje permanece a liturgia baptismal, mesmo sem a celebração do Baptismo.
4) A liturgia eucarística é o momento culminante da Vigília, qual sacramento pleno da Páscoa, isto é, a memória do sacrifício da Cruz, a presença de Cristo Ressuscitado, o ápice da Iniciação cristã e o antegozo da Páscoa eterna.
Estes quatro momentos celebrativos têm como fio condutor a unidade do plano de salvação de Deus em favor dos homens, que se realiza plenamente na Páscoa de Cristo por nós. Por consequência, a Ressurreição de Cristo é o fundamento da fé e da esperança da Igreja.
Gostaria de destacar dois elementos expressivos desta solene vigília: a luz e a água.
A Vigília na noite santa abre com a liturgia da luz, evocando a ressurreição de Cristo e a peregrinação de Israel guiado pela coluna de fogo. A liturgia salienta a potência da luz, como o símbolo de Cristo Ressuscitado, no círio pascal e nas velas que se acendem do mesmo, na iluminação progressiva das luzes da igreja, ao acender das velas do altar e com as velas acesas na mão para a renovação das promessas baptismais. O símbolo mais iluminador é o círio, que deve ser de cera, novo cada ano e relativamente grande, para poder evocar que Cristo é a luz dos povos. Ao acender o círio pascal do lume novo, o sacerdote diz: «A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito» e depois apresenta o círio como «lumen Christi=a luz de Cristo». Quando alguém nasce, costuma-se dizer que «veio à luz» ou que «a mãe deu à luz». Podemos, por isso dizer que a Igreja veio à luz na Páscoa de Cristo. De facto, toda a vida da Igreja encontra a sua fonte no mistério da Páscoa de Cristo.
A água na liturgia é, igualmente, um símbolo muito significativo. «A água é rica de mistério» (R. Guardini). Ela é simples, pura, limpa e desinteressada. Símbolo perfeito da vida, que Deus preparou, ao longos dos tempos, para manifestar melhor o sentido do Baptismo. A oração da bênção da água faz memória da acção salvífica de Deus na história através da água. Com efeito, a água é benzida, para que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, «no sacramento do Baptismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo». Na tradição eclesial, a fonte baptismal é comparada ao seio materno e a Igreja à mãe que dá à luz.
O simbolismo fundamental da celebração litúrgica da Vigília é o de ser uma “noite clara”, ou melhor «a noite que brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Esta noite inaugura o “Hodie=Hoje” da liturgia, como se tratasse de um único dia de festa sem ocaso (o dia da celebração festiva da Igreja que se prolonga pela oitava pascal e pelos cinquenta dias do Tempo pascal), no qual se diz «eis o dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos» (Sl 118).
P. José Cordeiro
Reitor do Pontifício Colégio Português
(Fonte: site Radio Vaticana)
Sábado Santo: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor
O Papa Bento XVI presidirá esta noite na Basílica de São Pedro a Vigília Pascal e neste Domingo de Páscoa, na Praça de São Pedro presidirá a celebração da Missa. Depois ao meio dia, da varanda central da Basílica de São Pedro dirigirá ao mundo a sua mensagem pascal que se concluirá com a bênção à cidade de Roma e ao mundo.
Os nossos ouvintes do continente africano poderão seguir a cerimonia em reportagem directa com comentários em português a partir das 10h10 (hora de Roma) na frequência de 17.720 kHz.
O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor. A única celebração primitiva parece ter sido o jejum.
A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja. Celebra-se a Ressurreição de Cristo, a Luz que ilumina o mundo, e para transmitir esse simbolismo deve ser celebrada não antes do anoitecer e terminada antes da aurora. Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Baptismo e, por fim, a liturgia Eucarística. Ainda hoje continua a ser a noite por excelência do Baptismo.
O ano litúrgico como hoje o conhecemos pretende levar os católicos a celebrar sacramentalmente a pessoa de Jesus Cristo como "memória", "presença", "profecia". Na Igreja primitiva, o mistério, a celebração, a pregação, a vida cristã tiveram um único centro: a Páscoa - o culto da Igreja primitiva nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa. No início da vida cristã encontra-se o Domingo como única festa, com a única denominação de "Dia do Senhor". Por influência das comunidades cristãs provenientes do judaísmo, surgiu depois um "grande Domingo", como celebração anual da Páscoa.
(Fonte: site Radio Vaticana)
Os nossos ouvintes do continente africano poderão seguir a cerimonia em reportagem directa com comentários em português a partir das 10h10 (hora de Roma) na frequência de 17.720 kHz.
O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor. A única celebração primitiva parece ter sido o jejum.
A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja. Celebra-se a Ressurreição de Cristo, a Luz que ilumina o mundo, e para transmitir esse simbolismo deve ser celebrada não antes do anoitecer e terminada antes da aurora. Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Baptismo e, por fim, a liturgia Eucarística. Ainda hoje continua a ser a noite por excelência do Baptismo.
O ano litúrgico como hoje o conhecemos pretende levar os católicos a celebrar sacramentalmente a pessoa de Jesus Cristo como "memória", "presença", "profecia". Na Igreja primitiva, o mistério, a celebração, a pregação, a vida cristã tiveram um único centro: a Páscoa - o culto da Igreja primitiva nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa. No início da vida cristã encontra-se o Domingo como única festa, com a única denominação de "Dia do Senhor". Por influência das comunidades cristãs provenientes do judaísmo, surgiu depois um "grande Domingo", como celebração anual da Páscoa.
(Fonte: site Radio Vaticana)
Comentário ao Evangelho de Domingo feito por:
Proclo de Constantinopla (c. 390-446), bispo
Sermão 14; PG 65, 796 (trad. a partir de coll. Icthus, vol. 10, p. 149 rev.)
«Este é o dia [...] do Senhor: cantemos e alegremo-nos nele!» [Sl 118 (117), 24]
Que bela festa de Páscoa! E que bela assembleia! Este dia tem tantos mistérios, antigos e novos! Nesta semana de festa, ou antes, de alegria, por toda a terra os homens rejubilam e até as forças celestes se juntam a nós para celebrar com alegria a Ressurreição do Senhor. Exultam os anjos e os arcanjos que esperam que o Rei dos Céus, Cristo nosso Deus, regresse vencedor à terra; exultam os coros dos anjos que aclamam Aquele que foi elevado «das entranhas da madrugada, como orvalho» [Sl (110) 109, 3], Cristo. A terra exulta: o sangue de Deus a lavou. O mar exulta: os passos do Senhor o honraram. Que exulte todo o homem renascido da água e do Espírito Santo; que exulte o primeiro homem, Adão, liberto da antiga maldição. [...]
A ressurreição de Cristo não somente instaurou este dia de festa como também nos alcançou, em vez do sofrimento, a Salvação, em vez da morte, a imortalidade, em vez das feridas, a cura, em lugar do fracasso, a Ressurreição. Outrora, o mistério da Páscoa cumpriu-se no Egipto segundo os ritos indicados pela lei; o sacrifício do cordeiro era disso apenas um sinal. Mas hoje celebramos, segundo o Evangelho, uma Páscoa espiritual, que é o dia da Ressurreição. Antes, imolava-se um cordeiro do rebanho [...]; agora, é Cristo em pessoa que Se oferece como cordeiro de Deus. Dantes, era um animal do aprisco; agora já não é um cordeiro mas o próprio bom pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas (Jo 10, 11) [...] Nessa altura, os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho e entoaram um hino de vitória em honra do seu Defensor: «Cantarei ao Senhor que é verdadeiramente grande» (Ex 15, 1). Nos nossos dias, aqueles que foram julgados dignos do baptismo cantam nos seus corações o hino da vitória: «Só vós sois o santo, só vós o Senhor, só vos o altíssimo Jesus Cristo [...] na glória de Deus Pai. Amen». «O Senhor é rei, vestido de majestade», aclama o profeta [Sl 93 (92), 1]. Os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho e comeram o maná no deserto. Hoje, saindo das fontes baptismais, nós comemos o pão descido do céu (Jo 6, 51).
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
Sermão 14; PG 65, 796 (trad. a partir de coll. Icthus, vol. 10, p. 149 rev.)
«Este é o dia [...] do Senhor: cantemos e alegremo-nos nele!» [Sl 118 (117), 24]
Que bela festa de Páscoa! E que bela assembleia! Este dia tem tantos mistérios, antigos e novos! Nesta semana de festa, ou antes, de alegria, por toda a terra os homens rejubilam e até as forças celestes se juntam a nós para celebrar com alegria a Ressurreição do Senhor. Exultam os anjos e os arcanjos que esperam que o Rei dos Céus, Cristo nosso Deus, regresse vencedor à terra; exultam os coros dos anjos que aclamam Aquele que foi elevado «das entranhas da madrugada, como orvalho» [Sl (110) 109, 3], Cristo. A terra exulta: o sangue de Deus a lavou. O mar exulta: os passos do Senhor o honraram. Que exulte todo o homem renascido da água e do Espírito Santo; que exulte o primeiro homem, Adão, liberto da antiga maldição. [...]
A ressurreição de Cristo não somente instaurou este dia de festa como também nos alcançou, em vez do sofrimento, a Salvação, em vez da morte, a imortalidade, em vez das feridas, a cura, em lugar do fracasso, a Ressurreição. Outrora, o mistério da Páscoa cumpriu-se no Egipto segundo os ritos indicados pela lei; o sacrifício do cordeiro era disso apenas um sinal. Mas hoje celebramos, segundo o Evangelho, uma Páscoa espiritual, que é o dia da Ressurreição. Antes, imolava-se um cordeiro do rebanho [...]; agora, é Cristo em pessoa que Se oferece como cordeiro de Deus. Dantes, era um animal do aprisco; agora já não é um cordeiro mas o próprio bom pastor que dá a vida pelas Suas ovelhas (Jo 10, 11) [...] Nessa altura, os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho e entoaram um hino de vitória em honra do seu Defensor: «Cantarei ao Senhor que é verdadeiramente grande» (Ex 15, 1). Nos nossos dias, aqueles que foram julgados dignos do baptismo cantam nos seus corações o hino da vitória: «Só vós sois o santo, só vós o Senhor, só vos o altíssimo Jesus Cristo [...] na glória de Deus Pai. Amen». «O Senhor é rei, vestido de majestade», aclama o profeta [Sl 93 (92), 1]. Os Hebreus atravessaram o Mar Vermelho e comeram o maná no deserto. Hoje, saindo das fontes baptismais, nós comemos o pão descido do céu (Jo 6, 51).
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
O Evangelho de Domingo dia 4 de Abril de 2010 - Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor
São João 20,1-9
1 No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do sepulcro.2 Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram».3 Partiu, pois, Pedro com o outro discípulo e foram ao sepulcro.4 Corriam ambos juntos, mas o outro discípulo corria mais do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.5 Tendo-se inclinado, viu os lençóis no chão, mas não entrou.6 Chegou depois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro e viu os lençóis postos no chão,7 e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, que não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte.8 Entrou também, então, o outro discípulo que tinha chegado primeiro ao sepulcro. Viu e acreditou.9 Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos.
Padre Cantalamessa: “A violência esta derrotada”
“Cristo não veio com sangue de outros, mas com o próprio. Não colocou os próprios pecados nas costas dos outros; colocou os pecados dos outros sobre suas próprias costas”. Foi o que sublinhou Padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, durante a celebração da Paixão do Senhor.
Nesta óptica, portanto, “o sacrifício de Cristo contém uma mensagem formidável para o mundo de hoje”, que condena a violência, mas, ao mesmo tempo, a favorece e a exalta. “Escandalizamo-nos diante de certos factos violentos - precisou o religioso -, mas não percebemos que eles são consequência do propagado pela publicidade, o gosto pela notícia descrita de modo cru, a difusão de alguns filmes e jogos de vídeo. “Uma geração de jovens que teve o raríssimo privilégio de não conhecer uma verdadeira guerra – insistiu Padre Cantalamessa – diverte-se a inventar pequenas guerras, levados pelo mesmo instinto que movia a horda primitiva”.
O pregador da Casa Pontifícia não deixou de apontar o dedo contra a violência perpetrada contra crianças, “das quais se mancharam desgraçadamente – disse - também elementos do clero”; assim como a violência contra as mulheres. Trata-se de uma violência “muito mais grave enquanto se verifica dentro dos muros do lar, sem que ninguém saiba, quando em muitos casos é justificada com preconceitos pseudo-religiosos e culturais”; uma violência que condena as vítimas à solidão e ao desespero. “Esta é uma ocasião – conclui o religioso – para fazer compreender às pessoas e às instituições que lutam contra ela que Cristo é o seu melhor aliado”.
(Fonte: H2O News)
Da Cruz do Senhor, amor sem limites, brota a graça, a salvação, a paz: Bento XVI no final da Via Sacra do Coliseu de Roma
O amor que Deus nos tem - e nos deu sobre a Cruz - é a única força capaz de transformar o mundo. Sabemos que é precisamente na Cruz do Senhor, no amor sem limites, que está a nascente da graça, do libertação, da paz, da salvação: palavras de Bento XVI, nesta Sexta-Feira Santa, na conclusão da Via Sacra do Coliseu de Roma.
“Desde quando Jesus desceu ao sepulcro, o túmulo e a morte já não são um lugar sem esperança, onde a história se conclui na falência total, onde o homem toca o extremo limite da sua impotência” – observou o Papa. “A Sexta-Feira Santa é o dia da esperança maior, a esperança que maturou na Cruz”.
“Jesus é o grão de trigo que cai na terra, se rompe, morre e por isso pode dar fruto. Desde o dia em que Cristo aí foi elevado, a Cruz, que aparece como o sinal do abandono, da solidão, da falência – tornou-se um novo início: da profundidade da morte se eleva a promessa da vida eterna. Na Cruz brilha já o esplendor vitorioso da alva do dia de Páscoa”.
“No silêncio que envolve o Sábado Santo – observou ainda o Papa – tocados pelo amor ilimitado de Deus, vivemos na expectativa do amanhecer do terceiro dia, a alva da vitória do Amor de Deus, o alvorecer da luz que permite aos olhos do coração ver de modo novo a vida, as dificuldades, o sofrimento”.
“Os nossos insucessos, as nossas desilusões, as nossas amarguras, que parecem marcar o desabar de tudo, estão iluminados pela esperança. O Pai confirma o acto de amor da Cruz, e a luz resplandecente da Ressurreição tudo envolve e transforma: da traição pode nascer a amizade; da negação, o perdão; do ódio, o amor”.
Ao longo do percurso da Via Sacra no Coliseu de Roma , a cruz foi levada, entre outros, por uma família, um doente, dois haitianos, dois iraquianos, uma vietnamita e uma congolesa, para além de dois franciscanos da Custódia da Terra Santa.
No final, o Cardeal Agostino Vallini, vigário papal para Roma, entregou-a a Bento XVI.
(Fonte: site Radio Vaticana)
“Desde quando Jesus desceu ao sepulcro, o túmulo e a morte já não são um lugar sem esperança, onde a história se conclui na falência total, onde o homem toca o extremo limite da sua impotência” – observou o Papa. “A Sexta-Feira Santa é o dia da esperança maior, a esperança que maturou na Cruz”.
“Jesus é o grão de trigo que cai na terra, se rompe, morre e por isso pode dar fruto. Desde o dia em que Cristo aí foi elevado, a Cruz, que aparece como o sinal do abandono, da solidão, da falência – tornou-se um novo início: da profundidade da morte se eleva a promessa da vida eterna. Na Cruz brilha já o esplendor vitorioso da alva do dia de Páscoa”.
“No silêncio que envolve o Sábado Santo – observou ainda o Papa – tocados pelo amor ilimitado de Deus, vivemos na expectativa do amanhecer do terceiro dia, a alva da vitória do Amor de Deus, o alvorecer da luz que permite aos olhos do coração ver de modo novo a vida, as dificuldades, o sofrimento”.
“Os nossos insucessos, as nossas desilusões, as nossas amarguras, que parecem marcar o desabar de tudo, estão iluminados pela esperança. O Pai confirma o acto de amor da Cruz, e a luz resplandecente da Ressurreição tudo envolve e transforma: da traição pode nascer a amizade; da negação, o perdão; do ódio, o amor”.
Ao longo do percurso da Via Sacra no Coliseu de Roma , a cruz foi levada, entre outros, por uma família, um doente, dois haitianos, dois iraquianos, uma vietnamita e uma congolesa, para além de dois franciscanos da Custódia da Terra Santa.
No final, o Cardeal Agostino Vallini, vigário papal para Roma, entregou-a a Bento XVI.
(Fonte: site Radio Vaticana)
É arriscado escrever sobre estas coisas. Não estão na moda
Bento XVI é parte da solução, e não parte do problema, na crise que os casos de pedofilia abriram na Igreja Católica
Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados "escândalos de pedofilia" na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal - no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante "A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos".
Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, "a destruição da religião comportou a destruição da razão", a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso "não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie". Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.
Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais - um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador - tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.
Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária - a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas - como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado - até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.
Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes "escândalos" é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.
Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto - Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela - de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de "tolerância zero".
Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem "protectores" nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos - um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções - para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.
Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como "um crime" e não apenas como "um pecado", ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.
De facto - e este aspecto é muito importante - a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma "Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual" que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales "optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados".
Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos "murmúrios da opinião dominante", e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.
Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, "para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução".
Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de "eros", o termo grego para êxtase sexual, e de "ágape", a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma "relação crispada" entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do "eros", mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.
Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.
(Fonte: José Manuel Fernandes – Jornalista in ‘Público’, na sua edição de 2 de Abril de 2010)
Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados "escândalos de pedofilia" na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal - no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante "A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos".
Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, "a destruição da religião comportou a destruição da razão", a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso "não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie". Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.
Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais - um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador - tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.
Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária - a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas - como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado - até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.
Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes "escândalos" é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.
Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto - Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela - de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de "tolerância zero".
Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem "protectores" nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos - um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções - para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.
Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como "um crime" e não apenas como "um pecado", ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.
De facto - e este aspecto é muito importante - a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma "Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual" que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales "optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados".
Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos "murmúrios da opinião dominante", e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.
Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, "para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução".
Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de "eros", o termo grego para êxtase sexual, e de "ágape", a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma "relação crispada" entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do "eros", mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.
Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.
(Fonte: José Manuel Fernandes – Jornalista in ‘Público’, na sua edição de 2 de Abril de 2010)
Felizmente nem todos estamos à venda - McDonough recusou filmar cenas de sexo e foi despedido
Actor é católico e é conhecido por 'Donas de Casa Desesperadas'.
Neal McDonough, actor americano de ascendência irlandesa, foi despedido pela ABC do papel principal na série Scoundrels por se ter recusado a filmar cenas de teor sexual. A consciência católica custou-lhe cerca de 730 mil euros (valor do contrato com a estação americana).
McDonough, que ganhou maior projecção mediática com a participação na série Donas de Casa Desesperadas - apesar de já ter tido papéis relevantes em filmes como Minority Report, de Steven Spielberg -, foi substituído três dias depois de se iniciar a rodagem da série. Antes, tinha-se manifestado indisponível para entrar em cenas tórridas, de acordo com a imprensa americana, com a actriz Virginia Madsen.
"Não era só não fazer as cenas amorosas, tratava-se de não querer fazer sequer cenas em que tinha de beijar na boca. E essas eram cenas que estavam no guião quando aceitou o papel", disse uma fonte anónima da ABC. "Não avisou ninguém de que não fazia este tipo de cenas. E é uma pena, é muito talentoso", concluiu a fonte.
O actor que em Donas de Casa Desesperadas deu corpo a Edie, marido da personagem interpretada por Nicolette Sheridan, foi substituído por David James Elliott. McDonough entendeu que as referidas cenas poriam em causa as suas convicções religiosas e a sua reputação de homem de família. E para ele isso vale mais do que 730 mil euros.
(Fonte: DN online de 03.04.2010)
Neal McDonough, actor americano de ascendência irlandesa, foi despedido pela ABC do papel principal na série Scoundrels por se ter recusado a filmar cenas de teor sexual. A consciência católica custou-lhe cerca de 730 mil euros (valor do contrato com a estação americana).
McDonough, que ganhou maior projecção mediática com a participação na série Donas de Casa Desesperadas - apesar de já ter tido papéis relevantes em filmes como Minority Report, de Steven Spielberg -, foi substituído três dias depois de se iniciar a rodagem da série. Antes, tinha-se manifestado indisponível para entrar em cenas tórridas, de acordo com a imprensa americana, com a actriz Virginia Madsen.
"Não era só não fazer as cenas amorosas, tratava-se de não querer fazer sequer cenas em que tinha de beijar na boca. E essas eram cenas que estavam no guião quando aceitou o papel", disse uma fonte anónima da ABC. "Não avisou ninguém de que não fazia este tipo de cenas. E é uma pena, é muito talentoso", concluiu a fonte.
O actor que em Donas de Casa Desesperadas deu corpo a Edie, marido da personagem interpretada por Nicolette Sheridan, foi substituído por David James Elliott. McDonough entendeu que as referidas cenas poriam em causa as suas convicções religiosas e a sua reputação de homem de família. E para ele isso vale mais do que 730 mil euros.
(Fonte: DN online de 03.04.2010)
S. Josemaría nesta data em 1955
Diz aos que o escutam neste dia em Roma: “Jesus Cristo, o mesmo que foi ontem para os Apóstolos e para as pessoas que o procuravam, vive hoje para nós e viverá pelos séculos sem fim. Nós, homens, é que, às vezes não conseguimos descobrir o seu rosto, perenemente actual, porque olhamos com olhos cansados ou turvos. Agora, ao começar este tempo de oração junto ao Sacrário, pede-lhe como aquele cego do Evangelho: Domine, ut videam!, Senhor, que eu veja!”.
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
Bispo de Aveiro convida conhecer melhor o pensamento do Papa
D. António Francisco dos Santos deixa apelo na sua mensagem de Páscoa
D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, convidou os fiéis da sua Diocese a “conhecer melhor”o pensamento de Bento XVI, para preparar a sua viagem ao nosso país.
Segundo o prelado, esta visita “constitui um acontecimento de enorme importância por várias razões”, devido à “pessoa e o ministério do Papa”, à “situação cultural da sociedade portuguesa” e aos “desafios com que se debate a Igreja em Portugal”.
“Vamos aproveitar esta oportunidade singular para estarmos próximos, acompanhar o seu percurso, acolher a sua mensagem, saborear a sua presença. Vamos procurar conhecer melhor o seu pensamento e demonstrar-lhe a nossa comunhão agradecida”, pede o Bispo de Aveiro na sua mensagem de Páscoa.
Segundo D. António Francisco dos Santos “Bento XVI vem até nós como peregrino”.
“Vem como pastor da Igreja universal a confirmar-nos na fidelidade a Jesus Cristo, no amor à Igreja e no serviço aos irmãos em humanidade”, acrescenta.
(Fonte: site Agência Ecclesia)
D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, convidou os fiéis da sua Diocese a “conhecer melhor”o pensamento de Bento XVI, para preparar a sua viagem ao nosso país.
Segundo o prelado, esta visita “constitui um acontecimento de enorme importância por várias razões”, devido à “pessoa e o ministério do Papa”, à “situação cultural da sociedade portuguesa” e aos “desafios com que se debate a Igreja em Portugal”.
“Vamos aproveitar esta oportunidade singular para estarmos próximos, acompanhar o seu percurso, acolher a sua mensagem, saborear a sua presença. Vamos procurar conhecer melhor o seu pensamento e demonstrar-lhe a nossa comunhão agradecida”, pede o Bispo de Aveiro na sua mensagem de Páscoa.
Segundo D. António Francisco dos Santos “Bento XVI vem até nós como peregrino”.
“Vem como pastor da Igreja universal a confirmar-nos na fidelidade a Jesus Cristo, no amor à Igreja e no serviço aos irmãos em humanidade”, acrescenta.
(Fonte: site Agência Ecclesia)
Sábado Santo, textos de S. Josemaría Escrivá - Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe
Chegada já a tarde, como era a parasceve, isto é, a véspera do sábado, José de Arimateia, responsável membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediulhe o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se d’Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, preguntou-lhe se já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. Este, depois de comprar um lençol; tirou Jesus da cruz e envolveu-O nele. Em seguida, depositou-O num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra contra a porta do sepulcro (Mc 15, 42-46).
Situados agora no Calvário, quando Jesus já morreu e não se manifestou ainda a glória do seu triunfo, temos uma boa ocasião para examinar os nossos desejos de vida cristã, de santidade para reagir com um acto de fé perante as nossas debilidades e, confiando no poder de Deus, fazer o propósito de pôr amor nas coisas do nosso dia-a-dia. A experiência do pecado tem de nos conduzir à dor, a uma decisão mais madura e mais profunda de sermos fiéis, de nos identificarmos deveras com Cristo, de perseverarmos, custe o que custar, nessa missão sacerdotal que Ele encomendou a todos os seus discípulos sem excepção, que nos impele a sermos sal e luz do mundo.
Cristo que passa, 96
É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe, esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te sussurrarem: isso? Mas se se trata de uma circunstância tonta, insignificante! Tu responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas. Normalmente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.
Amigos de Deus, 134
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
Situados agora no Calvário, quando Jesus já morreu e não se manifestou ainda a glória do seu triunfo, temos uma boa ocasião para examinar os nossos desejos de vida cristã, de santidade para reagir com um acto de fé perante as nossas debilidades e, confiando no poder de Deus, fazer o propósito de pôr amor nas coisas do nosso dia-a-dia. A experiência do pecado tem de nos conduzir à dor, a uma decisão mais madura e mais profunda de sermos fiéis, de nos identificarmos deveras com Cristo, de perseverarmos, custe o que custar, nessa missão sacerdotal que Ele encomendou a todos os seus discípulos sem excepção, que nos impele a sermos sal e luz do mundo.
Cristo que passa, 96
É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe, esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te sussurrarem: isso? Mas se se trata de uma circunstância tonta, insignificante! Tu responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas. Normalmente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.
Amigos de Deus, 134
(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)
Temas para reflexão - Vigília Pascal
«Procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou» (Mc 16, 6). Deste modo se dirige às mulheres, que vão ao túmulo procurar o corpo de Jesus, o mensageiro de Deus, revestido de luz. Mas, nesta noite santa, o evangelista diz o mesmo a nós: Jesus não é um personagem do passado. Ele está vivo, e como vivente caminha à nossa frente; chama-nos a segui-Lo a Ele, o Vivente, e a encontrar deste modo também nós o caminho da vida.
«Ressuscitou… Não está aqui». A primeira vez que Jesus falou da cruz e da ressurreição aos discípulos, estes, enquanto desciam do monte da Transfiguração, interrogavam-se o que queria dizer «ressuscitar dos mortos» (Mc 9, 10). Na Páscoa, alegramo-nos porque Cristo não ficou no sepulcro, o seu corpo não conheceu a corrupção; pertence ao mundo dos vivos, não ao dos mortos; alegramo-nos porque – como proclamamos no rito do Círio Pascal – Ele é o Alfa e simultaneamente o Ómega, e portanto a sua existência é não apenas de ontem, mas de hoje e por toda a eternidade (cf. Heb 13, 8). Todavia, a ressurreição está de tal modo colocada fora do nosso horizonte, que, reentrando em nós mesmos, damos connosco a continuar a discussão dos discípulos: Em que consiste propriamente o «ressuscitar»? Que significado tem para nós? Para o mundo e a história no seu todo? Uma vez, um teólogo alemão afirmou ironicamente que o milagre dum cadáver reanimado – se é que isso verdadeiramente se verificou, facto em que ele, porém, não acreditava – seria, tudo somado, irrelevante precisamente porque não nos diria respeito. Com efeito, se tivesse sido reanimado uma vez apenas um tal, e nada mais… de que modo isso teria a ver connosco? Mas, a ressurreição de Cristo é exactamente algo mais, é uma realidade diversa. É – se nos é permitido por uma vez usar a linguagem da teoria da evolução – a maior «mutação», em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova, como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos seus avanços: um salto para uma ordem completamente nova, que tem a ver connosco e diz respeito a toda a história.
A discussão, que teve início com os discípulos, incluiria, pois, as seguintes questões: O que é que sucedeu então? Que significado tem isso para nós, para o mundo no seu todo e para mim pessoalmente? Antes de mais nada: o que é que aconteceu? Jesus já não está no sepulcro. Está numa vida inteiramente nova. Mas, como foi possível acontecer isso? Que forças intervieram lá? Decisivo é o facto de que este homem Jesus não estava só, não era um Eu fechado em si mesmo. Ele era um só com o Deus vivo, unido de tal modo a Ele que formava com Ele uma única pessoa. Encontrava-Se, por assim dizer, num abraço com Aquele que é a própria vida, um abraço não apenas sentimental, mas que englobava e penetrava o seu ser. A sua própria vida não era própria apenas d’Ele, era uma comunhão existencial com Deus e um ser inserido em Deus, e por isso não podia realmente ser-Lhe tirada. Por amor, pôde deixar-Se matar, mas precisamente assim rompeu o carácter definitivo da morte, porque n’Ele estava presente a dimensão definitiva da vida. Ele era um só com a vida indestrutível, de modo que esta, através da morte, desabrochou de novo. Podemos exprimir a mesma coisa uma vez mais, mas partindo de outro lado. A sua morte foi um acto de amor. Na Última Ceia, Ele antecipou a morte e transformou-a no dom de Si mesmo. A sua comunhão existencial com Deus era, em concreto, uma comunhão existencial com o amor de Deus, e este amor é a verdadeira força contra a morte, é mais forte do que a morte. A ressurreição foi como que uma explosão de luz, uma explosão do amor que desfez o nó até então indissolúvel entre «morre e transforma-se». Aquela inaugurou uma nova dimensão do ser, da vida, na qual, de modo transformado, se integrou também a matéria, e através da qual surge um mundo novo.
É claro que este acontecimento não é um milagre qualquer do passado, cuja realização ou não, no fundo, nos pudesse ser indiferente. É um salto de qualidade na história da «evolução» e da vida em geral para uma nova vida futura, para um mundo novo que, a começar de Cristo, incessantemente penetra já neste nosso mundo, transforma-o e atrai-o a si. Mas, como se verifica isto? Como pode este acontecimento chegar efectivamente até mim e atrair a minha vida para si e para o alto? A resposta, à primeira vista talvez surpreendente mas totalmente real, é: tal acontecimento chega até mim através da fé e do Baptismo. Por isso, o Baptismo faz parte da Vigília Pascal, como se evidencia também nesta celebração com a administração dos Sacramentos da Iniciação cristã a alguns adultos originários de vários Países. O Baptismo significa precisamente isto: que não está em questão um facto do passado, mas que um salto de qualidade da história universal chega até mim envolvendo-me para me atrair. O Baptismo é algo muito diverso de um acto de socialização eclesial, de um rito um pouco fora de moda e complicado para acolher as pessoas na Igreja. É também mais do que uma simples lavagem, do que uma espécie de purificação e embelezamento da alma. É realmente morte e ressurreição, renascimento, transformação numa vida nova.
Como podemos compreendê-lo? Penso que será mais fácil de esclarecer o que acontece no Baptismo se formos ver a parte final da breve autobiografia espiritual, que São Paulo nos ofereceu na sua Carta aos Gálatas. De facto, as suas palavras conclusivas encerram o núcleo desta biografia: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Vivo, mas já não sou eu. O próprio eu, a identidade essencial do homem – deste homem, Paulo – foi modificada. Ele existe ainda, e já não existe. Atravessou um «não» e encontra-se continuamente neste «não»: Eu, mas já «não» eu. Com estas palavras, Paulo não descreve qualquer experiência mística que porventura lhe tivesse sido concedida e que poderia interessar-nos, quando muito, sob o ponto de vista histórico. Não, esta frase é a expressão do que aconteceu no Baptismo. O meu eu próprio é-me tirado e inserido num novo sujeito maior. Tenho de novo o meu eu, mas agora transformado, trabalhado, aberto por meio da inserção no Outro, no Qual adquire o seu novo espaço de existência. Paulo explica-nos a mesma coisa, uma vez mais e sob outro aspecto, quando, no terceiro capítulo da Carta aos Gálatas, fala da «promessa» dizendo que esta foi feita no singular – a um só: a Cristo. Só Ele traz consigo toda a «promessa». Mas o que é feito então de nós? Vós tornastes-vos um em Cristo – responde Paulo (Gal 3, 28). Não um só, mas um, um único, um único sujeito novo. Esta libertação do nosso eu do seu isolamento, este achar-se num novo sujeito é encontrar-se na imensidão de Deus e ter sido arrebatado para uma vida que saiu, já agora, do contexto do «morre e transforma-se». A grande explosão da ressurreição agarrou-nos no Baptismo para nos atrair. Deste modo ficamos associados a uma nova dimensão da vida, na qual nos encontramos já de algum modo inseridos, no meio das tribulações do nosso tempo. Viver a própria vida como um contínuo entrar neste espaço aberto: tal é o significado do ser baptizado, do ser cristão. É esta a alegria da Vigília Pascal. A ressurreição não passou, a ressurreição alcançou-nos e agarrou-nos. A ela, isto é, ao Senhor ressuscitado nos agarramos, sabendo que Ele nos segura firmemente, mesmo quando as nossas mãos se debilitam. Agarramo-nos à sua mão, e assim seguramos também as mãos uns dos outros, tornamo-nos um único sujeito, não apenas um só. Eu, mas já não eu: tal é a fórmula da existência cristã fundada no Baptismo, a fórmula da ressurreição dentro do tempo. Eu, mas já não eu: se vivemos deste modo, transformamos o mundo. É a fórmula que contrasta todas as ideologias da violência, e o programa que se opõe à corrupção e à ambição do poder e do possuir.
«Eu vivo, e vós vivereis» – diz Jesus no Evangelho de João (14, 19) aos seus discípulos, isto é, a nós. Viveremos através da comunhão existencial com Ele, através do estar inseridos n’Ele que é a própria vida. A vida eterna, a bem-aventurada imortalidade, não a possuímos por nós mesmos nem a temos em nós mesmos, mas ao invés por meio duma relação – por meio da comunhão existencial com Aquele que é a Verdade e o Amor e, consequentemente, é eterno, é o próprio Deus. A mera indestrutibilidade da alma não poderia por si só dar um sentido a uma vida eterna, não poderia torná-la uma vida verdadeira. A vida vem-nos de ser amados por Aquele que é a Vida; vem-nos de viver com Ele e de amar com Ele. Eu, mas já não eu: é este o caminho da cruz, o caminho que «cruza» uma existência fechada apenas no eu, abrindo assim precisamente a estrada para a alegria verdadeira e duradoura.
Deste modo podemos, cheios de alegria, juntamente com a Igreja cantar no Precónio: «Exulte de alegria a multidão dos anjos (…). Rejubile também a terra». A ressurreição é um acontecimento cósmico, que engloba céu e terra e os associa um à outra. E ainda com o Precónio podemos proclamar: «Jesus Cristo vosso Filho (…), ressuscitando de entre os mortos, iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos». Ámen! (BENTO XVI, homília na vigília da noite de Páscoa, 16 de Abril de 2006)
Agradecimento: António Mexia Alves
«Ressuscitou… Não está aqui». A primeira vez que Jesus falou da cruz e da ressurreição aos discípulos, estes, enquanto desciam do monte da Transfiguração, interrogavam-se o que queria dizer «ressuscitar dos mortos» (Mc 9, 10). Na Páscoa, alegramo-nos porque Cristo não ficou no sepulcro, o seu corpo não conheceu a corrupção; pertence ao mundo dos vivos, não ao dos mortos; alegramo-nos porque – como proclamamos no rito do Círio Pascal – Ele é o Alfa e simultaneamente o Ómega, e portanto a sua existência é não apenas de ontem, mas de hoje e por toda a eternidade (cf. Heb 13, 8). Todavia, a ressurreição está de tal modo colocada fora do nosso horizonte, que, reentrando em nós mesmos, damos connosco a continuar a discussão dos discípulos: Em que consiste propriamente o «ressuscitar»? Que significado tem para nós? Para o mundo e a história no seu todo? Uma vez, um teólogo alemão afirmou ironicamente que o milagre dum cadáver reanimado – se é que isso verdadeiramente se verificou, facto em que ele, porém, não acreditava – seria, tudo somado, irrelevante precisamente porque não nos diria respeito. Com efeito, se tivesse sido reanimado uma vez apenas um tal, e nada mais… de que modo isso teria a ver connosco? Mas, a ressurreição de Cristo é exactamente algo mais, é uma realidade diversa. É – se nos é permitido por uma vez usar a linguagem da teoria da evolução – a maior «mutação», em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova, como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos seus avanços: um salto para uma ordem completamente nova, que tem a ver connosco e diz respeito a toda a história.
A discussão, que teve início com os discípulos, incluiria, pois, as seguintes questões: O que é que sucedeu então? Que significado tem isso para nós, para o mundo no seu todo e para mim pessoalmente? Antes de mais nada: o que é que aconteceu? Jesus já não está no sepulcro. Está numa vida inteiramente nova. Mas, como foi possível acontecer isso? Que forças intervieram lá? Decisivo é o facto de que este homem Jesus não estava só, não era um Eu fechado em si mesmo. Ele era um só com o Deus vivo, unido de tal modo a Ele que formava com Ele uma única pessoa. Encontrava-Se, por assim dizer, num abraço com Aquele que é a própria vida, um abraço não apenas sentimental, mas que englobava e penetrava o seu ser. A sua própria vida não era própria apenas d’Ele, era uma comunhão existencial com Deus e um ser inserido em Deus, e por isso não podia realmente ser-Lhe tirada. Por amor, pôde deixar-Se matar, mas precisamente assim rompeu o carácter definitivo da morte, porque n’Ele estava presente a dimensão definitiva da vida. Ele era um só com a vida indestrutível, de modo que esta, através da morte, desabrochou de novo. Podemos exprimir a mesma coisa uma vez mais, mas partindo de outro lado. A sua morte foi um acto de amor. Na Última Ceia, Ele antecipou a morte e transformou-a no dom de Si mesmo. A sua comunhão existencial com Deus era, em concreto, uma comunhão existencial com o amor de Deus, e este amor é a verdadeira força contra a morte, é mais forte do que a morte. A ressurreição foi como que uma explosão de luz, uma explosão do amor que desfez o nó até então indissolúvel entre «morre e transforma-se». Aquela inaugurou uma nova dimensão do ser, da vida, na qual, de modo transformado, se integrou também a matéria, e através da qual surge um mundo novo.
É claro que este acontecimento não é um milagre qualquer do passado, cuja realização ou não, no fundo, nos pudesse ser indiferente. É um salto de qualidade na história da «evolução» e da vida em geral para uma nova vida futura, para um mundo novo que, a começar de Cristo, incessantemente penetra já neste nosso mundo, transforma-o e atrai-o a si. Mas, como se verifica isto? Como pode este acontecimento chegar efectivamente até mim e atrair a minha vida para si e para o alto? A resposta, à primeira vista talvez surpreendente mas totalmente real, é: tal acontecimento chega até mim através da fé e do Baptismo. Por isso, o Baptismo faz parte da Vigília Pascal, como se evidencia também nesta celebração com a administração dos Sacramentos da Iniciação cristã a alguns adultos originários de vários Países. O Baptismo significa precisamente isto: que não está em questão um facto do passado, mas que um salto de qualidade da história universal chega até mim envolvendo-me para me atrair. O Baptismo é algo muito diverso de um acto de socialização eclesial, de um rito um pouco fora de moda e complicado para acolher as pessoas na Igreja. É também mais do que uma simples lavagem, do que uma espécie de purificação e embelezamento da alma. É realmente morte e ressurreição, renascimento, transformação numa vida nova.
Como podemos compreendê-lo? Penso que será mais fácil de esclarecer o que acontece no Baptismo se formos ver a parte final da breve autobiografia espiritual, que São Paulo nos ofereceu na sua Carta aos Gálatas. De facto, as suas palavras conclusivas encerram o núcleo desta biografia: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Vivo, mas já não sou eu. O próprio eu, a identidade essencial do homem – deste homem, Paulo – foi modificada. Ele existe ainda, e já não existe. Atravessou um «não» e encontra-se continuamente neste «não»: Eu, mas já «não» eu. Com estas palavras, Paulo não descreve qualquer experiência mística que porventura lhe tivesse sido concedida e que poderia interessar-nos, quando muito, sob o ponto de vista histórico. Não, esta frase é a expressão do que aconteceu no Baptismo. O meu eu próprio é-me tirado e inserido num novo sujeito maior. Tenho de novo o meu eu, mas agora transformado, trabalhado, aberto por meio da inserção no Outro, no Qual adquire o seu novo espaço de existência. Paulo explica-nos a mesma coisa, uma vez mais e sob outro aspecto, quando, no terceiro capítulo da Carta aos Gálatas, fala da «promessa» dizendo que esta foi feita no singular – a um só: a Cristo. Só Ele traz consigo toda a «promessa». Mas o que é feito então de nós? Vós tornastes-vos um em Cristo – responde Paulo (Gal 3, 28). Não um só, mas um, um único, um único sujeito novo. Esta libertação do nosso eu do seu isolamento, este achar-se num novo sujeito é encontrar-se na imensidão de Deus e ter sido arrebatado para uma vida que saiu, já agora, do contexto do «morre e transforma-se». A grande explosão da ressurreição agarrou-nos no Baptismo para nos atrair. Deste modo ficamos associados a uma nova dimensão da vida, na qual nos encontramos já de algum modo inseridos, no meio das tribulações do nosso tempo. Viver a própria vida como um contínuo entrar neste espaço aberto: tal é o significado do ser baptizado, do ser cristão. É esta a alegria da Vigília Pascal. A ressurreição não passou, a ressurreição alcançou-nos e agarrou-nos. A ela, isto é, ao Senhor ressuscitado nos agarramos, sabendo que Ele nos segura firmemente, mesmo quando as nossas mãos se debilitam. Agarramo-nos à sua mão, e assim seguramos também as mãos uns dos outros, tornamo-nos um único sujeito, não apenas um só. Eu, mas já não eu: tal é a fórmula da existência cristã fundada no Baptismo, a fórmula da ressurreição dentro do tempo. Eu, mas já não eu: se vivemos deste modo, transformamos o mundo. É a fórmula que contrasta todas as ideologias da violência, e o programa que se opõe à corrupção e à ambição do poder e do possuir.
«Eu vivo, e vós vivereis» – diz Jesus no Evangelho de João (14, 19) aos seus discípulos, isto é, a nós. Viveremos através da comunhão existencial com Ele, através do estar inseridos n’Ele que é a própria vida. A vida eterna, a bem-aventurada imortalidade, não a possuímos por nós mesmos nem a temos em nós mesmos, mas ao invés por meio duma relação – por meio da comunhão existencial com Aquele que é a Verdade e o Amor e, consequentemente, é eterno, é o próprio Deus. A mera indestrutibilidade da alma não poderia por si só dar um sentido a uma vida eterna, não poderia torná-la uma vida verdadeira. A vida vem-nos de ser amados por Aquele que é a Vida; vem-nos de viver com Ele e de amar com Ele. Eu, mas já não eu: é este o caminho da cruz, o caminho que «cruza» uma existência fechada apenas no eu, abrindo assim precisamente a estrada para a alegria verdadeira e duradoura.
Deste modo podemos, cheios de alegria, juntamente com a Igreja cantar no Precónio: «Exulte de alegria a multidão dos anjos (…). Rejubile também a terra». A ressurreição é um acontecimento cósmico, que engloba céu e terra e os associa um à outra. E ainda com o Precónio podemos proclamar: «Jesus Cristo vosso Filho (…), ressuscitando de entre os mortos, iluminou o género humano com a sua luz e a sua paz e vive glorioso pelos séculos dos séculos». Ámen! (BENTO XVI, homília na vigília da noite de Páscoa, 16 de Abril de 2006)
Agradecimento: António Mexia Alves
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Uma homilia do séc. V, atribuída a Eusébio Galicano
Homilia 12 A; CCL 101, 145 (a partir da trad. Solesmes, Lectionnaire, vol. 3, p. 21 rev.)
«Tu fazes resplandecer esta noite santíssima pela glória da ressurreição do Senhor» (Colecta)
«Alegrem-se os céus, exulte a terra!» (Sl 95, 11). Este dia resplandece para nós com o esplendor do túmulo, que para nós brilhou com raios de sol. Que os infernos aclamem, pois abriu-se neles uma saída; que se alegrem, pois chegou para eles o dia da visita; que exultem, pois viram, após séculos e séculos, uma luz que não conheciam, e na escuridão da sua noite profunda puderam enfim respirar! Oh luz bela, que vimos despontar do alto do céu [...], tu revestiste, com a tua súbita claridade, «aqueles que se encontravam nas trevas e na sombra da morte» (Lc 1,79). Porque, à descida de Cristo, a noite eterna dos infernos resplandeceu e os gritos de aflição cessaram; as correntes dos condenados foram quebradas e caíram por terra; os espíritos malfeitores foram tomados pelo estupor e como que abalados por um trovão. [...]
Quando Cristo desceu aos infernos, os porteiros sombrios, cegos pelo negro silêncio e curvando as costas ao peso do temor, murmuraram entre si: «Quem é Este temível, exuberante de brancura? Nunca o nosso inferno recebeu coisa semelhante; nunca o mundo rejeitou coisa semelhante para a nossa toca. [...] Se fosse culpado, não teria semelhante audácia. Se estivesse manchado por algum delito, não poderia dissipar as trevas com o seu brilho. Mas, se é Deus, o que está a fazer no túmulo? Se é homem, como ousa? Se é Deus, a que vem? Se é homem, como tem poder para libertar os cativos? [...] Esta cruz nos destroça os prazeres e faz nascer para nós a dor! O lenho nos tinha enriquecido, o lenho nos destrói. Este grande poder, sempte temido pelos povos, pereceu!»
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
Homilia 12 A; CCL 101, 145 (a partir da trad. Solesmes, Lectionnaire, vol. 3, p. 21 rev.)
«Tu fazes resplandecer esta noite santíssima pela glória da ressurreição do Senhor» (Colecta)
«Alegrem-se os céus, exulte a terra!» (Sl 95, 11). Este dia resplandece para nós com o esplendor do túmulo, que para nós brilhou com raios de sol. Que os infernos aclamem, pois abriu-se neles uma saída; que se alegrem, pois chegou para eles o dia da visita; que exultem, pois viram, após séculos e séculos, uma luz que não conheciam, e na escuridão da sua noite profunda puderam enfim respirar! Oh luz bela, que vimos despontar do alto do céu [...], tu revestiste, com a tua súbita claridade, «aqueles que se encontravam nas trevas e na sombra da morte» (Lc 1,79). Porque, à descida de Cristo, a noite eterna dos infernos resplandeceu e os gritos de aflição cessaram; as correntes dos condenados foram quebradas e caíram por terra; os espíritos malfeitores foram tomados pelo estupor e como que abalados por um trovão. [...]
Quando Cristo desceu aos infernos, os porteiros sombrios, cegos pelo negro silêncio e curvando as costas ao peso do temor, murmuraram entre si: «Quem é Este temível, exuberante de brancura? Nunca o nosso inferno recebeu coisa semelhante; nunca o mundo rejeitou coisa semelhante para a nossa toca. [...] Se fosse culpado, não teria semelhante audácia. Se estivesse manchado por algum delito, não poderia dissipar as trevas com o seu brilho. Mas, se é Deus, o que está a fazer no túmulo? Se é homem, como ousa? Se é Deus, a que vem? Se é homem, como tem poder para libertar os cativos? [...] Esta cruz nos destroça os prazeres e faz nascer para nós a dor! O lenho nos tinha enriquecido, o lenho nos destrói. Este grande poder, sempte temido pelos povos, pereceu!»
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
O Evangelho do dia 3 de Abril de 2010
São Lucas 24,1-12
1 No primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, levando os perfumes que tinham preparado.2 Encontraram removida a pedra do sepulcro.3 Entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus.4 Aconteceu que, estando perplexas com isso, eis que apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes.5 Estando elas medrosas e com os olhos no chão, disseram-lhes: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?6 Ele não está aqui, ressuscitou. Lembrai-vos do que Ele vos disse quando estava na Galileia:7 Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia».8 Então lembraram-se das Suas palavras.9 Tendo voltado do sepulcro, contaram todas estas coisas aos onze e a todos os outros.10 As que diziam aos Apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas.11 Mas estas palavras pareciam-lhes como que um delírio e não lhes deram crédito.12 Todavia, Pedro levantou-se, correu ao sepulcro e, inclinando-se, viu só os lençois e retirou-se para casa, admirado com o que sucedera.
1 No primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, levando os perfumes que tinham preparado.2 Encontraram removida a pedra do sepulcro.3 Entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus.4 Aconteceu que, estando perplexas com isso, eis que apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes.5 Estando elas medrosas e com os olhos no chão, disseram-lhes: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?6 Ele não está aqui, ressuscitou. Lembrai-vos do que Ele vos disse quando estava na Galileia:7 Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia».8 Então lembraram-se das Suas palavras.9 Tendo voltado do sepulcro, contaram todas estas coisas aos onze e a todos os outros.10 As que diziam aos Apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas.11 Mas estas palavras pareciam-lhes como que um delírio e não lhes deram crédito.12 Todavia, Pedro levantou-se, correu ao sepulcro e, inclinando-se, viu só os lençois e retirou-se para casa, admirado com o que sucedera.