Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Nunca actueis por medo ou por rotina

Atravessas uma etapa crítica: um certo vago temor; dificuldade em adaptares o plano de vida; um trabalho angustiante, porque não te chegam as vinte e quatro horas do dia para cumprir todas as tuas obrigações... Já experimentaste seguir o conselho do Apóstolo: "Faça-se tudo com decoro e com ordem", quer dizer, na presença de Deus, com Ele, por Ele e só para Ele? (Sulco 512)

E como é que vou conseguir – parece que me perguntas – actuar sempre com esse espírito, que me leve a concluir com perfeição o meu trabalho profissional? A resposta não é minha. Vem de S. Paulo: Trabalhai varonilmente, sede fortes. Que tudo, entre vós, se realize na caridade. Fazei tudo por Amor e livremente. Nunca actueis por medo ou por rotina: servi ao Nosso Pai Deus.

Gosto muito de repetir – porque tenho experimentado bem a sua mensagem – aqueles versos pouco artísticos, mas muito gráficos: Minha vida é toda amor / Se em amor sou entendido, / Foi pela força da dor, / Pois ninguém ama melhor / Que quem muito haja sofrido.

Ocupa-te dos teus deveres profissionais por Amor. Faz tudo por Amor – insisto – e comprovarás as maravilhas que produz o teu trabalho, precisamente porque amas, embora tenhas de saborear a amargura da incompreensão, da injustiça, da ingratidão e até do próprio fracasso humano. Frutos saborosos, sementes de eternidade!

Acontece, porém, que algumas pessoas – são boas, bondosas – afirmam por palavras que aspiram a difundir o formoso ideal da nossa fé, mas se contentam na prática com uma conduta profissional superficial e descuidada, própria de cabeças-no-ar. Se nos encontrarmos com alguns destes cristãos de fachada, temos de ajudá-los com carinho e com clareza e recorrer, quando for necessário, a esse remédio evangélico da correcção fraterna: Irmãos, se porventura alguém for surpreendido nalguma falta, vós, os espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão; e tu, acautela-te a ti mesmo, não venhas também a cair na tentação. Levai os fardos uns dos outros e desse modo cumprireis a lei de Cristo. (Amigos de Deus, 68–69)

São Josemaría Escrivá

Um coração vazio

«Quanto mais vazio está o coração, mais necessita comprar, possuir e consumir» (LS 204). São palavras do Papa Francisco na sua última encíclica “Laudato Si”.

Só um estilo de vida contemplativo é capaz de gerar uma profunda alegria, sem ficarmos obcecados pelo consumo. A acumulação desordenada de bens distrai o coração. Impede que demos o devido apreço a cada pessoa, cada coisa e a cada momento. Por isso, a espiritualidade cristã propõe um crescimento na virtude da sobriedade.

Resumindo: «A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é profundamente libertadora» (LS 223).

Todas estas ideias enunciadas procedem da mesma encíclica. São importantes, em primeiro lugar, para nos educarmos a nós próprios. Só quem se esforça por viver a sobriedade se dá conta de que ela é um bem que é importantíssimo transmitir aos mais jovens.

Como educar na sobriedade no ambiente familiar?

Duas palavras-chave a ter em conta: exemplo e fortaleza.

Exemplo: porque quem não vive o que ensina não ensina nada. Quem não se educa a si próprio não possui capacidade de educar ninguém. As palavras podem iluminar, mas é sempre o exemplo que arrasta.~

Fortaleza: porque é necessária para propor a virtude da sobriedade aos filhos como um estilo de vida bom e desejável. Porque não será fácil não transigir com os caprichos que os filhos apresentem como indispensáveis para serem felizes.

O consumo não se refere somente àquilo que compramos. É vivamente actual a necessidade de os pais ensinarem os filhos a usarem o telemóvel, o computador, a televisão com sobriedade, por muito bons que sejam os conteúdos. O uso indiscriminado ― às vezes, compulsivo ― desses bens, gera muitas das doenças modernas.

As virtudes não se educam somente evitando o mal, mas moderando os prazeres que, em princípio, são bons em si mesmos.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

A virtude que protege o tesouro

A virtude da temperança é vista, muitas vezes, como o caminho da infelicidade. Isso porque a alegria está, na cabeça de muitos, relacionada directamente com o consumo: «compra e serás feliz!». Ou com o aproveitamento da vida “ao máximo”: «quanto mais puderes gozar deste mundo, melhor!».

Para compreender esta virtude e vivê-la, é fundamental captarmos a sua beleza e grandeza, sem nos deixarmos arrastar por uma visão reducionista. A temperança não é a simples negação daquilo que atrai: trata-se de dizer que “não” a um bem menor, para ter capacidade de dizer que “sim” a um bem maior.

A temperança permite ao homem ser mais humano. Ele não é um “animal” criado somente para consumir enquanto há luz debaixo do sol. É alguém chamado à existência para amar, para realizar grandes façanhas por amor a Deus e aos outros. Isso é o que o fará feliz aqui e depois.

A temperança põe ordem nas tendências mais íntimas do “eu”: sensibilidade e afectividade, gostos e desejos. A temperança ― como o próprio nome indica ― tempera a vida de uma pessoa. Protege da degradação ― da dispersão, da frivolidade ― todo o mundo interior, que é a fonte da qual procedem os nossos pensamentos, palavras, acções e omissões.

Mas existe um ponto fundamental sem o qual esta virtude ― que é um meio e não um fim em si mesma ― perde todo o seu sentido.

Para aprender a dizer que “não” a nós mesmos ― essência da temperança ― é necessário recordarmo-nos de que levamos dentro um “tesouro” que vale a pena guardar com fidelidade. Ou seja, nascemos para coisas maiores do que aquelas a que os apetites nos inclinam. Valemos por aquilo que somos e não por aquilo que temos.

Quem não é consciente desse “tesouro”, acaba por identificar a felicidade com tudo aquilo que o atrai à primeira vista. E, com esta identificação, a temperança torna-se um absurdo. Uma loucura. Uma aberração. Algo que, evidentemente, não vale a pena ― porque não há nada dentro que proteger e guardar.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria