Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 17 de agosto de 2014

Portugal em contramão

Pembroke College - University of Cambridge
Escrevo de Glasgow, nas latitudes frias e chuvosas da Escócia. Não é o círculo polar Ártico, mas em Agosto há sol até muito tarde: uma luz suave, a iluminar esta paisagem de relva e verdura, sulcada todo o ano por regatos. Com outra luminosidade e com menos vento, os Açores lembram este germinar de vida, que só é possível em terras onde escorre água em tanta abundância.

Passo as manhãs a assistir a umas conferências magistrais sobre história da Igreja na Grã-Bretanha. Além da biblioteca que nos rodeia, o professor trouxe dois caixotes de livros, que considerou «essenciais». Cada um começou por uma ponta, mas ninguém tem dúvidas de que vamos chegar ao fim do mês sem ter esgotado a colectânea do «indispensável». As aflições do Almada Negreiros!

Não vou contar numa página o que tão grandes autoridades académicas condensaram em dezenas de volumes, mas atrevo-me a partilhar impressões.

A principal é que o Reino Unido está a assistir a uma revolução cultural empolgante, que acelerou na última década. Há 200 anos, os católicos desta ilha eram uma minoria ínfima, à beira da mendicidade, considerados pela população como gente suja, com doenças e iletrada. De facto, eram geralmente imigrantes muito pobres. A lei proibia o acesso dos católicos ao funcionalismo público, à universidade e a outras instituições.

No século XIX, a Igreja católica voltou a ter bispos, vários deles recém-convertidos, por exemplo o Cardeal Manning, que tinha sido um pastor anglicano, casado e depois viúvo. Por volta de 1850, começou um conjunto de conversões de grandes intelectuais, artistas e escritores: Henry Benson, John H. Newman, G. Manley Hopkins, G. K. Chesterton, Ronald Knox, Siegfried Sassoon, Evelyn Waugh, Edith Sitwell, Graham Greene, Muriel Spark, além de outros que já nasceram em famílias católicas como o realizador Hitchcock, ou os escritores Hilaire Belloc e J.R.R. Tolkien, o célebre político Lord Acton, o compositor Edward Elgar.

No período até à Segunda Guerra Mundial, o número de católicos ingleses multiplicou-se por muito e começaram a notar-se na vida pública. Aos poucos, foram admitidos nalgumas repartições do Estado. O tempo do imediato pós-Guerra e do Concílio foi uma época atribulada, embora não tanto como para outras confissões religiosas.

Actualmente, está em curso uma transformação acelerada. Neste princípio do século XXI, já chegaram ao Governo alguns católicos, inclusive de Missa diária. As escolas católicas são consideradas as melhores do país. Nunca houve tantas conversões.

Ainda assim, o que chama a atenção é a reacção dos que não são católicos. Uma sacerdotisa anglicana declara que o seu principal livro é o Catecismo da Igreja Católica. As autoridades protestantes entusiasmam-se com as recentes Encíclicas papais. O Chefe da Igreja Anglicana anuncia publicamente que escolheu um director espiritual católico. A «speaker» do Parlamento (a Presidente do Parlamento) recebeu o Papa Bento XVI declarando que eles o consideravam a maior autoridade moral do mundo. Bastantes jornais, que há poucos anos criticavam duramente a Igreja católica, exprimem agora um respeito sem precedentes.

Isto não quer dizer que a população das ilhas britânicas tenha passado a ser católica ou compreenda bem a doutrina da Igreja, mas é algo que não se via desde há 400 anos.

Sobretudo, o que impressiona é a mudança na Universidade. Por exemplo, os maiores historiadores ingleses – de Cambridge, de Oxford, das outras universidades –, a maioria não católicos, são «revisionistas», isto é, ensinam a história da Reforma Católica exactamente ao contrário do que ensinaram até agora. Referindo-se a si próprio, um dos convertidos ingleses mais conhecidos dizia: «to deepen in history is to cease to be protestant» (aprofundar o conhecimento da história é deixar de ser protestante). De facto, é isso o que está a acontecer nestas ilhas.

Olho com pena para o nosso Portugal em contramão, alheio a este fenómeno de evolução no mundo britânico. Porque não é a cultura do Reino Unido que vai em contramão, apesar de aqui os carros andarem pela esquerda.

José Maria C. S. André

«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», 17-VIII-2014

Homilia do Santo Padre na Missa de encerramento das Jornadas Asiáticas da Juventude

Queridos jovens amigos!

«A glória dos mártires resplandece sobre vós»: estas palavras, que fazem parte do tema da VI Jornada Asiática da Juventude, são de consolação para todos nós e dão-nos força. Jovens da Ásia, vós sois herdeiros dum grande testemunho, duma preciosa confissão de fé em Cristo. Ele é a luz do mundo, é a luz da nossa vida! Os mártires da Coreia, e tantos outros em toda a Ásia, entregaram seus corpos aos perseguidores; mas, a nós, entregaram um testemunho perene de que a luz da verdade de Cristo afugenta todas as trevas e o amor de Cristo triunfa glorioso. Com a certeza da sua vitória sobre a morte e da nossa participação nela, podemos enfrentar o desafio de ser seus discípulos hoje, nas nossas situações de vida e no nosso tempo.

As palavras, sobre as quais acabamos de reflectir, são uma consolação. A outra parte do tema desta Jornada – «Juventude da Ásia, levanta-te!» – fala-vos de um dever, de uma responsabilidade. Consideremos brevemente cada uma destas palavras. Antes de mais nada, a expressão «da Ásia». Reunistes-vos aqui, na Coreia, vindos de toda a parte da Ásia. Cada um de vós possui um lugar e um contexto próprios, onde sois chamados a espelhar o amor de Deus. O Continente Asiático, permeado de ricas tradições filosóficas e religiosas, continua a ser uma grande delimitação que espera o vosso testemunho de Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo 14, 6). Como jovens que não apenas vivem na Ásia, mas são filhos e filhas deste grande Continente, tendes o direito e o dever de tomar parte plena na vida das vossas sociedades. Não tenhais medo de levar a sabedoria da fé a todos os campos da vida social!

Além disso, como jovens asiáticos, vedes e amais, a partir de dentro tudo o que é belo, nobre e verdadeiro nas vossas culturas e tradições. Ao mesmo tempo, como cristãos, sabeis também que o Evangelho tem a força de purificar, elevar e aperfeiçoar este património. Através da presença do Espírito Santo, que vos foi dado no Baptismo e selado na Crisma, podeis, em união com os vossos pastores, apreciar os inúmeros valores positivos das diferentes culturas da Ásia. Além disso, sois capazes de discernir aquilo que é incompatível com a vossa fé católica, o que é contrário à vida da graça enxertada em vós com o Baptismo, e os aspectos da cultura contemporânea que são pecaminosos, corruptos e levam à morte.

Voltando ao tema desta Jornada, detenhamo-nos agora sobre a palavra: «Juventude». Vós e os vossos amigos estais cheios do optimismo, de energia e de boa vontade, característicos desta estação da vossa vida. Deixai que Cristo transforme o vosso natural optimismo em esperança cristã, a vossa energia em virtude moral, a vossa boa vontade em amor genuíno que sabe sacrificar-se! Este é o caminho que sois chamados a empreender. Este é o caminho para vencer tudo o que ameaça a esperança, a virtude e o amor na vossa vidas e na vossa cultura. Assim a vossa juventude será um presente para Jesus e para o mundo.

Como jovens cristãos – quer sejais trabalhadores ou estudantes, quer tenhais já iniciado uma profissão ou respondido à chamada para o matrimónio, a vida religiosa ou o sacerdócio –, não constituís parte apenas do futuro da Igreja: sois uma parte necessária e amada também do presente da Igreja! Permanecei unidos uns aos outros, aproximai-vos cada vez mais de Deus, e, juntamente com os vossos Bispos e sacerdotes, gastai estes anos na edificação duma Igreja mais santa, mais missionária e humilde, uma Igreja que ama e adora a Deus, procurando servir os pobres, os abandonados, os doentes e os marginalizados.

Muitas vezes, na vossa vida cristã, sereis tentados – como os discípulos no Evangelho de hoje – a afastar o estrangeiro, o necessitado, o pobre e quem tem o coração despedaçado. E no entanto são sobretudo pessoas como estas que repetem o grito da mulher do Evangelho: «Senhor, ajuda-me!» A invocação da mulher cananeia é o grito de toda a pessoa que está à procura de amor, aceitação e amizade com Cristo. É o gemido de tantas pessoas nas nossas cidades anónimas, a súplica de muitos dos vossos contemporâneos, e a oração de todos os mártires que ainda hoje sofrem perseguição e morte pelo nome de Jesus: «Senhor, ajuda-me!» Muitas vezes, é um grito que brota dos nossos próprios corações: «Senhor, ajuda-me!» Dêmos resposta a esta invocação, não como aqueles que afastam as pessoas que pedem, como se a atitude de servir os necessitados se contrapusesse a estar mais perto do Senhor. Não! Devemos ser como Cristo, que responde a cada pedido de ajuda com amor, misericórdia e compaixão.

Finalmente, a terceira parte do tema desta Jornada – «Levanta-te!» - fala duma responsabilidade que o Senhor vos confia. É o dever de estarmos vigilantes, para não deixar que as pressões, as tentações e os pecados – os nossos ou os dos outros – entorpeçam a nossa sensibilidade à beleza da santidade, à alegria do Evangelho. O Salmo Responsorial de hoje convida-nos repetidamente a «estar alegres e cantar com alegria». Ninguém que esteja a dormir pode cantar, dançar, alegrar-se. Queridos jovens, «o Senhor nosso Deus nos abençoou» (Sal 67, 8); d’Ele, «alcançamos misericórdia» (cf. Rom 11, 30). Com a certeza do amor de Deus, ide pelo mundo, fazendo com que, «em consequência da misericórdia usada convosco» (Rom 11, 31), os vossos amigos, os colegas de trabalho, os concidadãos e todas as pessoas deste grande Continente «alcancem finalmente misericórdia» (cf. Rom 11, 31). É justamente por esta misericórdia que somos salvos.

Queridos jovens da Ásia, faço votos de que, unidos a Cristo e à Igreja, possais seguir por esta estrada que certamente vos encherá de alegria. E agora que estamos para nos aproximar da mesa da Eucaristia, dirijamo-nos a Maria nossa Mãe, que deu ao mundo Jesus: Sim, ó Maria nossa Mãe, desejamos receber Jesus! No vosso carinho maternal, ajudai-nos a levá-Lo aos outros, a servi-Lo fielmente e a honrá-Lo em todo tempo e lugar, neste país e na Ásia inteira. Ámen.

Bom Domingo do Senhor!

Mais uma vez o Senhor no Evangelho de hoje nos faz sentir a sua infinita bondade (Mt 15, 21-28) tenhamos fé como a da cananeia e não hesitemos em usar a oração de súplica.

Obrigado Senhor pela Tua bondade e misericórdia!

Prometer um amor que dure para sempre é possível

No caminho de Abraão para a cidade futura, a Carta aos Hebreus alude à bênção que se transmite dos pais aos filhos (cf. 11, 20-21). O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminado pela fé é a família; penso, antes de mais nada, na união estável do homem e da mulher no matrimónio. Tal união nasce do seu amor, sinal e presença do amor de Deus, nasce do reconhecimento e aceitação do bem que é a diferença sexual, em virtude da qual os cônjuges se podem unir numa só carne (cf. Gn 2, 24) e são capazes de gerar uma nova vida, manifestação da bondade do Criador, da sua sabedoria e do seu desígnio de amor. Fundados sobre este amor, homem e mulher podem prometer-se amor mútuo com um gesto que compromete a vida inteira e que lembra muitos traços da fé: prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projectos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada. Depois, a fé pode ajudar a individualizar em toda a sua profundidade e riqueza a geração dos filhos, porque faz reconhecer nela o amor criador que nos dá e nos entrega o mistério de uma nova pessoa; foi assim que Sara, pela sua fé, se tornou mãe, apoiando-se na fidelidade de Deus à sua promessa (cf. Heb 11, 11).

Lumen Fidei, 52

«Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.»

Papa Francisco 
Homilia de 07/04/2013, Tomada de posse da cátedra de bispo de Roma (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana, rev.)


Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na misericórdia paciente de Deus!
Pensemos nos dois discípulos de Emaús: rosto triste, passos vazios, sem esperança. Mas Jesus não os abandona: percorre a estrada com eles. E não só; com paciência, explica as Escrituras que a Si se referiam e pára em casa deles, partilhando a sua refeição. Este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas. Deus é paciente connosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar. Recordemo-lo na nossa vida de cristãos: Deus espera sempre por nós, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está longe e, se voltarmos para Ele, está pronto a abraçar-nos.

A leitura da parábola do Pai misericordioso impressiona-me sempre muito; impressiona-me pela grande esperança que me proporciona. Pensai naquele filho mais novo, que estava na casa do Pai, era amado; e todavia […] abandona a casa. […] E o Pai? Teria esquecido o filho? Não, nunca! […] Tinha esperado por ele todos os dias, todos os momentos: ele esteve sempre no seu coração como filho, apesar de o ter deixado. […] E logo que o vê, ainda ao longe, corre ao seu encontro e abraça-o com ternura – a ternura de Deus –, sem uma palavra de censura: voltou! Isto é a alegria do pai. […] Deus espera sempre por nós e não Se cansa. Jesus mostra-nos esta paciência misericordiosa de Deus, para reencontrarmos sempre a confiança e a esperança.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)