Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 30 de novembro de 2014

Texto integral da Declaração conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Bartolomeu I

Nós, Papa Francisco e Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, expressamos a nossa profunda gratidão a Deus pelo dom deste novo encontro, que nos permite celebrar juntos a Festa de São André, o primeiro-chamado e irmão do apóstolo Pedro, na presença dos membros do Santo Sínodo, do clero e dos fiéis do Patriarcado Ecuménico. A nossa recordação dos Apóstolos, que proclamaram ao mundo a feliz notícia do Evangelho através da sua pregação e do testemunho do martírio, revigora em nós o desejo de continuar a caminhar juntos a fim de superarmos, com amor e confiança, os obstáculos que nos dividem.

Por ocasião do encontro de Maio passado em Jerusalém, no qual recordámos o abraço histórico entre os nossos venerados predecessores Paulo VI e Patriarca Ecuménico Atenágoras, assinámos uma declaração conjunta. Hoje, na feliz ocasião dum novo encontro fraterno, queremos reafirmar, juntos, as nossas intenções e preocupações comuns. Expressamos a nossa intenção sincera e firme de, em obediência à vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, intensificar os nossos esforços pela promoção da unidade plena entre todos os cristãos, e sobretudo entre católicos e ortodoxos. Além disso, queremos apoiar o diálogo teológico promovido pela Comissão Mista Internacional – instituída, exactamente há trinta e cinco anos, pelo Patriarca Ecuménico Dimitrios e o Papa João Paulo II aqui, no Fanar –, a qual se encontra actualmente a tratar das questões mais difíceis que marcaram a história da nossa divisão e que requerem um estudo cuidadoso e profundo. Por esta finalidade, asseguramos a nossa oração fervorosa como Pastores da Igreja, pedindo aos fiéis que se unam a nós na imploração comum por que «todos sejam um só (...) para que o mundo creia» (Jo 17, 21). Expressamos a nossa preocupação comum pela situação no Iraque, na Síria e em todo o Médio Oriente. Estamos unidos no desejo de paz e estabilidade e na vontade de promover a resolução dos conflitos através do diálogo e da reconciliação.

Ao mesmo tempo que reconhecemos os esforços que já estão a ser feitos para dar assistência à região, apelamos a quantos têm a responsabilidade dos destinos dos povos que intensifiquem o seu empenho a favor das comunidades que sofrem, consentindo a todas, incluindo as cristãs, de permanecerem na sua terra natal. Não podemos resignar-nos com um Médio Oriente sem os cristãos, que ali professaram o nome de Jesus durante dois mil anos. Muitos dos nossos irmãos e irmãs são perseguidos e, com a violência, foram forçados a deixar as suas casas. Até parece que se perdeu o valor da vida humana e que a pessoa humana já não tem importância alguma, podendo ser sacrificada a outros interesses. E, tragicamente, tudo isto se passa perante a indiferença de muitos. Ora, como nos lembra São Paulo, «se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26). Esta é a lei da vida cristã e, neste sentido, podemos dizer que há também um ecumenismo do sofrimento. Tal como o sangue dos mártires foi semente de fortaleza e fecundidade para a Igreja, assim também a partilha dos sofrimentos diários pode ser um instrumento eficaz de unidade. A dramática situação dos cristãos e de todos aqueles que sofrem no Médio Oriente exige não só uma oração constante, mas também uma resposta apropriada por parte da comunidade internacional.

Os grandes desafios, que o mundo enfrenta na situação actual, exigem a solidariedade de todas as pessoas de boa vontade. Por isso, reconhecemos a importância também da promoção dum diálogo construtivo com o Islão, assente no respeito mútuo e na amizade. Inspirados por valores comuns e animados por um genuíno sentimento fraterno, muçulmanos e cristãos são chamados a trabalhar, juntos, por amor da justiça, da paz e do respeito pela dignidade e os direitos de cada pessoa, especialmente nas regiões onde durante séculos viveram em coexistência pacífica e agora, tragicamente, sofrem juntos os horrores da guerra. Além disso, como líderes cristãos, exortamos todos os líderes religiosos a continuarem com maior intensidade o diálogo inter-religioso e fazerem todo o esforço possível para se construir uma cultura de paz e solidariedade entre as pessoas e entre os povos.

Recordamos também todos os povos que sofrem por causa da guerra. Em particular, rezamos pela paz na Ucrânia, país com uma antiga tradição cristã, e apelamos às partes envolvidas no conflito para que procurem o caminho do diálogo e do respeito pelo direito internacional para pôr fim ao conflito e permitir que todos os ucranianos vivam em harmonia.

Os nossos pensamentos voltam-se para todos os fiéis das nossas Igrejas no mundo, que saudamos, confiando-os a Cristo, nosso Salvador, para que possam ser incansáveis testemunhas do amor de Deus. Erguemos a nossa fervorosa oração a Deus, pedindo-Lhe que conceda o dom da paz, no amor e na unidade, a toda a família humana.

«O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares. O Senhor esteja com todos vós» (2 Ts 3,16).

Fanar, 30 de Novembro de 2014

Bom Domingo do Senhor!

Não nos acomodemos por detrás da nossa terrena arrogância e façamos como o Senhor nos recomenda no Evangelho de hoje (Mc 13, 33-37) e estejamos sempre de vigília com a alegria própria de um cristão à Sua espera.

Vinde Senhor Jesus para que possamos, se for esse o Vosso juízo, ir para o Reino de Deus!

Advento

O Advento significa a presença iniciada do próprio Deus. Por isso, recorda-nos duas coisas: primeiro, que a presença de Deus no mundo já começou, e que Ele já está presente de uma maneira oculta; em segundo lugar, que essa presença de Deus acaba de começar, ainda não é total, mas está em processo de crescimento e maturação.

A sua presença já começou, e somos nós, os seus fiéis, que, por sua vontade, devemos torná-lo presente no mundo. É por meio da nossa fé, esperança e amor que Ele quer fazer brilhar a luz de forma contínua na noite do mundo. Assim, as luzes que acendermos nas noites escuras do inverno serão ao mesmo tempo consolo e advertência: certeza consoladora de que "a luz do mundo" já se acendeu na noite escura de Belém e transformou a noite do pecado humano na noite santa do perdão divino; e, por outro lado, a consciência de que essa luz só pode - e só quer - continuar a brilhar se for sustentada por aqueles que, por serem cristãos, continuam através dos tempos a obra de
Cristo.

A luz de Cristo quer iluminar a noite do mundo através da luz que somos nós; a sua presença já iniciada deve continuar a crescer por nosso intermédio. Quando, na Noite Santa, ressoar uma e outra vez o hino Hodie Christus natus est, devemos lembrar-nos de que o começo que se deu em Belém há-de ser em nós um começo permanente, que aquela noite santa volta a ser um "hoje" cada vez que um homem permite que a luz do bem faça desaparecer nele as trevas do egoísmo [...]. O Menino-Deus nasce onde se actua por inspiração do amor do Senhor, onde se faz algo mais do que trocar presentes.

Advento significa presença de Deus já começada, mas também apenas começada. Isto implica que o cristão não olha somente para o que já foi e já passou, mas também para o que está por vir. No meio de todas as desgraças do mundo, tem a certeza de que a semente da luz continua a crescer oculta, até que um dia o bem triunfará definitivamente e tudo lhe estará submetido: no dia em que Cristo voltar. O cristão sabe que a presença de Deus, que acaba de começar, um dia será presença total. E essa certeza torna-o livre, presta-lhe um apoio definitivo.

(Cardeal Joseph Ratzinger em Licht, das uns leuchtet. Besinnungen zu Advent und Weihnachten‘, 5a- ed., Herder, Friburgo, 1978)

As três vindas de Cristo

Pedro de Blois (c. 1130-1211), arcediago em Inglaterra 
Sermão para o Advento 3


Há três vindas do Senhor, a primeira na carne, a segunda à alma, a terceira pelo juízo. A primeira ocorreu a meio da noite, de acordo com as palavras do Evangelho: «A meio da noite, ouviu-se um grito: “Aqui está o Noivo!”» (Mt 25,6) E esta primeira vinda já aconteceu, porque Cristo foi visto na terra e conversou com os homens (Br 3,38).

Estamos agora na segunda vinda, desde que sejamos tais, que Ele possa vir até nós, porque Ele disse que, se O amarmos, virá a nós e fará em nós sua morada (Jo 14,23). No entanto, esta segunda vinda é para nós uma coisa envolvida em incerteza, porque só o Espírito de Deus conhece aqueles que pertencem a Deus (1Cor 2,11). Aqueles em quem o desejo das coisas celestiais transporta para fora de si mesmos sabem bem quando Ele vem; no entanto, «não sabem de onde Ele vem, nem para onde vai» (Jo 3,8).

Quanto à terceira vinda, é certo que acontecerá, muito incerto quando acontecerá, pois nada é mais certo do que a morte e nada mais incerto do que o dia da morte. «Quando falarmos de paz e segurança, então a morte aparecerá de repente, como as dores de parto à mulher grávida, e ninguém poderá escapar-lhe» (1Tess 5,3). O primeiro advento foi portanto humilde e escondido, o segundo é misterioso e cheio de amor, o terceiro será luminoso e terrível. Na sua primeira vinda, Cristo foi julgado pelos homens com injustiça; na segunda, faz-nos justiça pela sua graça; na última, vai julgar todas as coisas com equidade – Cordeiro no primeiro advento, Leão no último, Amigo cheio de ternura no segundo.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

sábado, 29 de novembro de 2014

6 Dez 20h - Évora - IV Jantar Solidário DAR Alentejo - Messe dos Oficiais do Exército

Convite

Jantar Solidário DAR Alentejo
6 Dezembro 20.00h | Messe dos Oficiais do Exército | Évora

 

Associação Alentejo de Excelência promove Jantar Solidário para apoiar programa de inovação social em Serpa
 

Em Serpa, jovens em situação de extrema exclusão social são "resgatados" por uma associação desportiva, a Boxerpa, que através de uma metodologia de boxe educativo onde a "coragem, disciplina, respeito e frontalidade são base", reencontram um novo sentido para a sua vida e se promove a sua inclusão na comunidade.

Com este programa denominado "CUIDAR DE MIM", cuja finalidade é ajudar e reeducar jovens com dificuldades de adaptação social, de abandono escolar, com dificuldades psicológicas ou de difícil aptidão física, a Boxerpa envolve a sociedade civil e auxilia na integração social e profissional destes jovens, constituindo um novo projeto de vida. Com a participação de dois psicólogos e terapeutas, e usando tarefas de responsabilidade na associação para desenvolver competências para a vida, esta associação está promover inovação social no Alentejo, que importa valorizar e apoiar.

Esta é a causa social que a Associação Alentejo de Excelência elegeu para apoiar através do IV Jantar Solidário Dar Alentejo. Recorde-se que nos três anos anteriores, instituições como o Chão dos Meninos, a Pão e Paz ou duas creches também em Serpa, foram apoiadas através da recolha de fundos por esta iniciativa.

A Associação Alentejo de Excelência tem vindo também desenvolver iniciativas para promoção do empreendedorismo, reunido especialistas e decisores em debates e conferências sobre temas atuais, e tem ainda apostado na constituição de uma rede de alentejanos, de nascença ou de coração, que desejam contribuir para transformar o destino desta região.

Programa:
  • 19h30 – Visita guiada ao Museu do Marceneiro – Móveis de S. Francisco, por Maria Luisa Silva
  • 20h00 – Receção participantes na Messe dos Oficiais do Exercito de Évora
  • 20h30 – Jantar e animação musical com o Alentejano Luis Melro
  • 21h30 – Boas Vindas e apresentação do Programa “Cuidar de Mim”
    • Carlos Sezões, Presidente da Alentejo de Excelência
    • Carlos Gaspar, Presidente da Boxerpa - programa Cuidar de Mim
  • 22h00 – Espaço para Network

Organização: Associação Alentejo de Excelência

Local: Messe dos Oficiais do Exército de Évora

Preço do Jantar: 12,50 euros (tudo incluído), ao qual acresce 5,00 euros para o programa “Cuidar de Mim”

Gostaríamos de contar com a vossa presença!

Confirmações para info@alentejodeexcelencia.com

Evento no Facebook: 
https://www.facebook.com/events/1463508250564937/?ref=br_tf

 

A Direcção da Associação Alentejo de Excelência

Homilia do Santo Padre na Catedral do Espírito Santo em Istambul

No Evangelho, ao homem sedento de salvação, Jesus apresenta-Se como a fonte onde saciar a sede, a rocha da qual o Pai faz brotar rios de água viva para todos os que crêem n'Ele (cf. Jo 7, 38). Com esta profecia, proclamada publicamente em Jerusalém, Jesus pre-anuncia o dom do Espírito Santo que os seus discípulos hão-de receber após a sua glorificação, isto é, depois da sua morte e ressurreição (cf. v. 39).

O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diversos carismas que enriquecem o povo de Deus e sobretudo cria a unidade entre os crentes: de muitos faz um único corpo, o corpo de Cristo. Toda a vida e missão da Igreja dependem do Espírito Santo; Ele tudo realiza.
A própria profissão de fé, como nos recorda São Paulo na primeira Leitura de hoje, só é possível porque sugerida pelo Espírito Santo: «Ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, senão pelo Espírito Santo» (1 Cor 12, 3b). Quando rezamos, fazemo-lo porque o Espírito Santo suscita a oração no coração. Quando rompemos o círculo do nosso egoísmo, saímos de nós mesmos e nos aproximamos dos outros para encontrá-los, escutá-los, ajudá-los, foi o Espírito de Deus que nos impeliu. Quando descobrimos em nós uma capacidade inusual de perdoar, de amar a quem não gosta de nós, foi o Espírito que Se empossou de nós. Quando deixamos de lado as palavras de conveniência e nos dirigimos aos irmãos com aquela ternura que aquece o coração, fomos de certeza tocados pelo Espírito Santo.

É verdade! O Espírito Santo suscita os diversos carismas na Igreja; à primeira vista, isto parece criar desordem, mas na realidade, sob a sua guia, constitui uma imensa riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidade, que não significa uniformidade. Só o Espírito Santo pode suscitar a diversidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Quando somos nós a querer fazer a diversidade e fechamo-nos nos nossos particularismos e exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós a querer fazer a unidade de acordo com os nossos projectos humanos, acabamos por trazer a uniformidade e a homologação. Se, pelo contrário, nos deixamos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade não se tornam jamais conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade na comunhão da Igreja.

A multidão dos membros e dos carismas tem o seu princípio harmonizador no Espírito de Cristo, que o Pai enviou, e continua a enviar, para realizar a unidade entre os crentes. O Espírito Santo faz a unidade da Igreja: unidade na fé, unidade na caridade, unidade na coesão interior. A Igreja e as Igrejas são chamadas a deixarem-se guiar pelo Espírito Santo, colocando-se numa atitude de abertura, docilidade e obediência.

Trata-se de uma visão de esperança, mas ao mesmo tempo cansativa, pois em nós está sempre presente a tentação de opor resistência ao Espírito Santo, porque perturba, porque revolve, faz caminhar, impele a Igreja a avançar. E é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de O regular e domesticar. E nós, cristãos, tornamo-nos autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos conduzir pelo Espírito. Ele é frescor, criatividade, novidade.

As nossas defesas podem manifestar-se com a excessiva fixação nas nossas ideias, nas nossas forças – mas assim resvalamos no pelagianismo – ou então com uma atitude de ambição e vaidade. Estes mecanismos defensivos impedem-nos de compreender verdadeiramente os outros e abrir-nos a um diálogo sincero com eles. Mas a Igreja, nascida do Pentecostes, recebe em herança o fogo do Espírito Santo, que não enche tanto a mente de ideias, como sobretudo faz arder o coração; é investida pelo vento do Espírito, que não transmite um poder, mas habilita para um serviço de amor, uma linguagem que cada um é capaz de compreender.

No nosso caminho de fé e de vida fraterna, quanto mais nos deixarmos guiar humildemente pelo Espírito do Senhor, tanto mais superaremos as incompreensões, as divisões e as controvérsias, tornando-nos sinal credível de unidade e de paz.

Com esta jubilosa certeza, abraço a todos vós, queridos irmãos e irmãs: o Patriarca Siro-Católico, o Presidente da Conferência Episcopal, o Vigário Apostólico D. Pelâtre, os outros Bispos e Exarcas, os presbíteros e os diáconos, as pessoas consagradas e os fiéis leigos, pertencentes às várias comunidades e aos diversos ritos da Igreja Católica. Desejo saudar, com afecto fraterno, o Patriarca de Constantinopla, Sua Santidade Bartolomeu I, o Metropolita Siro-Ortodoxo, o Vigário Patriarcal Arménio Apostólico e os responsáveis das Comunidades Protestantes, que quiseram rezar connosco durante esta celebração. Exprimo-lhes a minha gratidão por este gesto fraterno. Um pensamento afectuoso dirijo ao Patriarca Arménio Apostólico Mesrob II, assegurando-lhe a minha oração.

Irmãos e irmãs, voltemos o nosso pensamento para a Virgem Maria, Mãe de Deus. Unidos a Ela, que no Cenáculo rezou com os Apóstolos à espera do Pentecostes, peçamos ao Senhor que envie o seu Santo Espírito aos nossos corações e nos torne testemunhas do seu Evangelho em todo o mundo. Amen!

A vinda do Senhor

Eis que chegou para nós, irmãos muito caros, o tempo em que devemos «cantar o amor e a justiça; para ti, Senhor» (Sl 100,1). É o advento do Senhor, a vinda do Mestre todo-poderoso, d'Aquele que é, que era e que há-de vir (Ap 1,8). Mas como e onde há-de vir; como e onde vem? Não disse Ele: «Porventura não sou Eu que encho o céu e a terra?» (Jr 23,24) Como virá então ao céu e à terra Aquele que enche o céu e a terra? Escuta o Evangelho: «Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não O reconheceu». (Jo 1,10). Ele estava, pois, simultaneamente presente e ausente; presente pois estava no mundo; ausente porque o mundo não O conheceu. [...] Como não estaria distante Aquele que não era reconhecido, em Quem não se acreditava, que não era venerado, que não era amado? [...]

Ele vem, pois, para conhecermos Aquele que não foi reconhecido; para acreditarmos n'Aquele em Quem não se acreditava; para venerarmos Aquele que não foi venerado; para amarmos Aquele que não era amado. Aquele que estava presente pela Sua natureza vem na Sua misericórdia. [...] Pensai um pouco em Deus e vede o que representa para Ele abdicar de tão grande poderio, como Se humilha tão grande poder, como Se fragiliza tão grande força, como Se torna insensata tão grande sabedoria. Será por dever de justiça para com o homem? Certamente que não! [...]

Na verdade, Senhor, não foi minha justiça, mas a Tua misericórdia, que Te guiou; não foi a Tua indigência, mas a minha necessidade. Efectivamente, Tu disseste: «a Sua fidelidade é eterna como o céu» (Sl 88,3). E assim é, porque a miséria abundava sobre a terra. Eis porque «cantarei, Senhor, a misericórdia» que manifestaste aquando da Tua vinda. [...] Quando Te mostraste humilde na Tua humanidade, poderoso nos Teus milagres, forte contra a tirania dos demónios, indulgente no acolhimento dos pecadores, tudo isso proveio da Tua profunda bondade. Eis porque «cantarei, Senhor, a misericórdia» que manifestaste aquando da Tua primeira vinda. E merecidamente, pois «Senhor, a terra está cheia da Tua bondade» (Sl 118,64).

Santo Aelredo de Rievaulx (1110-1167), monge cisterciense
Sermão para o Advento

O Evangelho de Domingo dia 30 de novembro de 2014

Estai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o momento. Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo de repente, não vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!»

Mc 13, 33-37

«Velai, pois, orando continuamente»

Afraates (?-c. 345), monge e bispo perto de Mossul 
Exposições, n°4; SC 349


Meu amigo, quando queremos agradar a Deus, oramos, e isso parece-me muito belo. […] Acima de tudo, sê assíduo na oração sem te cansares, como está escrito, pois Nosso Senhor disse: «orai continuamente.» Sê assíduo nas vigílias, afasta de ti a sonolência, vigia dia e noite sem te desencorajares.

Vou-te mostrar os modos de oração; com efeito, existe a oração de súplica, de acção de graças e de louvor (cf Fil 4,6): de súplica, quando pedimos misericórdia pelos nossos pecados; de acção de graças, quando agradeces a teu Pai que está no céu; e de louvor, quando O louvas pelas suas obras. Quando estiveres em perigo, apresenta a tua súplica; quando estiveres provido de bens, dá graças Àquele que tos dá; e quando te sentires de humor alegre, apresenta o teu louvor.

Deves levar todas as tuas preces diante de Deus segundo as circunstâncias. Vê o que o próprio David dizia constantemente: «A meio da noite levanto-me para Te louvar, por causa das tuas justas sentenças» (Sl 119,62). Noutro salmo diz também: «Louvai ao Senhor do alto dos céus; louvai-O nas alturas!» (148,1). E diz ainda: «Em todo o tempo bendirei o Senhor; o seu louvor estará sempre nos meus lábios» (34,2). Pois não deves rezar só de uma maneira, mas de acordo com as circunstâncias.

E eu, meu amigo, tenho a firme convicção de que tudo o que os homens pedem com assiduidade, Deus lho dá. Mas aquele que oferece com hipocrisia não é aprovado, segundo o que está escrito: aquele que faz uma oração, que olhe bem para ela, para ver se não lhe encontra defeito, e só depois a ofereça, pois de outro modo a sua oferenda ficará por terra (cf Mt 5,23-24; Mc 11,25). E o que são as oferendas, senão orações? […] De todas as oferendas, com efeito, a oração pura é a melhor.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 29 de novembro de 2014

«Velai, pois, sobre vós, para que não suceda que os vossos corações se tornem pesados com o excesso do comer e do beber e com os cuidados desta vida, e para que aquele dia não vos apanhe de improviso; porque ele virá como uma armadilha sobre todos os que habitam a superfície de toda a terra. Vigiai, pois, orando sem cessar, a fim de que vos torneis dignos de evitar todos estes males que devem suceder, e de aparecer com confiança diante do Filho do Homem».

Lc 21, 34-36

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

3 Dez - Almada - 5ª Edição do Revelar-Te - Ciclo de cinema católico


Discurso integral do Papa Francisco no encontro inter-religioso ao Dyanet

Senhor Presidente,
Autoridades religiosas e civis,
Senhoras e senhores!

É para mim motivo de alegria encontrar-vos hoje, durante a minha visita ao vosso país. Agradeço ao Senhor Presidente deste importante Departamento o cordial convite, que me dá ocasião de falar com líderes políticos e religiosos, muçulmanos e cristãos.

É tradição que os Papas, quando visitam os diversos países no desempenho da própria missão, encontrem também as autoridades e as comunidades de outras religiões. Sem esta abertura ao encontro e ao diálogo, uma visita papal não corresponderia plenamente às suas finalidades, tal como as entendo eu na esteira dos meus venerados Antecessores. Nesta perspectiva, recordo com prazer de modo especial o encontro que o Papa Bento XVI teve, neste mesmo local, em Novembro de 2006.

Na verdade, as boas relações e o diálogo entre líderes religiosos revestem-se de grande importância. Constituem uma mensagem clara dirigida às respectivas comunidades, manifestando que, apesar das diferenças, são possíveis o respeito mútuo e a amizade. Esta, além de ser um valor em si mesma, adquire significado especial e importância acrescida num tempo de crises como o nosso; crises que se tornam, em algumas áreas do mundo, verdadeiros dramas para populações inteiras.

Com efeito, há guerras que semeiam vítimas e destruições, tensões e conflitos interétnicos e inter-religiosos, fome e pobreza que afligem centenas de milhões de pessoas, danos ao meio ambiente, ao ar, à água, à terra.

Verdadeiramente trágica é a situação no Médio Oriente, especialmente no Iraque e na Síria. Todos sofrem com as consequências dos conflitos, e a situação humanitária é angustiante. Penso em tantas crianças, nos sofrimentos de tantas mães, nos idosos, nos deslocados e refugiados, nas violências de todo o género. Particularmente preocupante é o facto de que, sobretudo por causa de um grupo extremista e fundamentalista, comunidades inteiras – especialmente de cristãos e yazidis, mas não só – sofreram, e ainda sofrem, violências desumanas por causa da sua identidade étnica e religiosa. Foram expulsos à força das suas casas, tiveram de abandonar tudo para salvar a sua vida e não renegar a fé. A violência abateu-se também sobre edifícios sagrados, monumentos, símbolos religiosos e o património cultural, como se quisessem apagar todo o vestígio, qualquer memória do outro.

Como chefes religiosos, temos a obrigação de denunciar todas as violações da dignidade e dos direitos humanos. A vida humana, dom de Deus Criador, possui um carácter sagrado. Por isso, a violência que busca uma justificação religiosa merece a mais forte condenação, porque o Omnipotente é Deus da vida e da paz. O mundo espera, de todos aqueles que afirmam adorá-Lo, que sejam homens e mulheres de paz, capazes de viver como irmãos e irmãs, apesar das diferenças étnicas, religiosas, culturais ou ideológicas.

A denúncia deve ser acompanhada pelo trabalho comum para se encontrarem soluções adequadas. Isto requer a colaboração de todas as partes: governos, líderes políticos e religiosos, representantes da sociedade civil e todos os homens e mulheres de boa vontade. Em particular, os responsáveis das comunidades religiosas podem oferecer a valiosa contribuição dos valores presentes nas respectivas tradições. Nós, muçulmanos e cristãos, somos depositários de tesouros espirituais inestimáveis, entre os quais reconhecemos elementos de convergência, embora vividos segundo as tradições próprias: a adoração de Deus misericordioso, a referência ao patriarca Abraão, a oração, a esmola, o jejum... elementos que, vividos sinceramente, podem transformar a vida e dar uma base segura para a dignidade e a fraternidade dos homens. Reconhecer e desenvolver esta convergência espiritual – através do diálogo inter-religioso – ajuda-nos também a promover e defender, na sociedade, os valores morais, a paz e a liberdade (cf. João Paulo II, Discurso à comunidade católica de Ancara, 29 de Novembro de 1979). O reconhecimento conjunto da sacralidade da pessoa humana sustenta a compaixão comum, a solidariedade e a ajuda efectiva aos mais atribulados. A este respeito, queria exprimir o meu apreço por quanto está a fazer o povo turco inteiro, muçulmanos e cristãos, pelas centenas de milhares de pessoas que fogem dos seus países por causa dos conflitos. Isto é um exemplo concreto de como trabalhar em conjunto para servir os outros, um exemplo que deve ser incentivado e apoiado.

Com satisfação, soube das boas relações e da cooperação entre o Diyanet e o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Espero que aquelas continuem e se consolidem para bem de todos, porque toda a iniciativa de diálogo autêntico é sinal de esperança para um mundo tão necessitado de paz, segurança e prosperidade.

Senhor Presidente, de novo exprimo a minha gratidão a Vossa Excelência e seus colaboradores por este encontro, que enche o meu coração de alegria. Além disso agradeço a todos vós pela vossa presença e pelas orações que tereis a bondade de oferecer pelo meu serviço. Pela minha parte, igualmente vos garanto que rezarei por vós. Que o Senhor nos abençoe!

São Josemaría Escrivá nesta data em 1937

São Josemaría celebrou a sua última Missa antes de atravessar os Pirinéus. Anos mais tarde, um dos que então o acompanhava reconstituiu os factos e tirou esta fotografia. São Josemaría celebrou a Missa sobre a rocha plana do centro. António Dalmases, que fazia parte de outro grupo que se juntou a eles na fuga, assistiu a essa Missa e recolheu as suas impressões no seu diário: «…Nunca ouvi Missa como hoje, não sei se pelas circunstâncias ou porque o celebrante é um santo. A Sagrada Comunhão é comovente, como quase não nos podemos mover há dificuldade para a administrar. Todos vamos andrajosos, com a barba por fazer de vários dias, despenteados, cansados. As mãos sangrando pelos arranhões, os olhos brilhantes pelas lágrimas contidas, e sobretudo Deus está entre nós numas Hóstias».

(Fonte: http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/28-11-5)

«Conhecereis que o Reino de Deus está próximo»

São Gregório Magno (c. 540-604), papa e doutor da Igreja 
Homilias sobre os evangelhos, nº 1


«Reparai na figueira e nas restantes árvores. Quando começam a deitar rebentos, ao vê-los, ficais a saber que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes essas coisas, conhecereis que o Reino de Deus está próximo.» É como se o nosso Redentor dissesse claramente: «Se sabemos que o Verão está a chegar ao ver os frutos nas árvores, assim também podemos reconhecer, pela ruína do mundo, que o Reino de Deus está próximo.» Estas palavras mostram-nos que o fruto do mundo é a sua ruína; só cresce para depois cair; não brota senão para fazer perecer com calamidades tudo o que nele desponta. É por isso que o Reino de Deus é comparado com o Verão, pois nessa altura as nuvens da nossa tristeza passarão e os dias da vida brilharão com a claridade do Sol eterno. […]

«O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.» Nada na natureza das coisas materiais é mais duradoiro que o céu e a terra e nada aqui na terra passa mais depressa que uma palavra pronunciada. […] Assim, o Senhor declara: «O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.» É como se dissesse claramente: «Tudo o que é duradoiro à vossa volta é perecedouro face à eternidade; e tudo o que em Mim parece passar é na verdade fixo, e não passa, pois a minha palavra que passa exprime pensamentos que permanecem imutáveis.» […]

Assim, meus irmãos, não ameis este mundo, que não pode durar muito tempo, como vedes. Fixai no vosso espírito este mandamento que o apóstolo João nos dá para nos alertar: «Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele» (1Jo 2,15).

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 28 de novembro de 2014

Acrescentou esta comparação: «Vede a figueira e todas as árvores. Quando começam a desabrochar, conheceis que está perto o Verão. Assim, também, quando virdes que acontecem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas se cumpram. Passará o céu e a terra, mas as Minhas palavras não hão-de passar.

Lc 21, 29-33

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

1 Dez 18h30 Lançamento CD Volume II - Natal - FigoMaduro - El Corte Inglês Lisboa


Campanha online do Banco Alimentar Contra a Fome - Contamos uma vez mais consigo para alimentar quem mais precisa

Banco Alimentar Contra a Fome
Campanha Online até 7 de dezembro de 2014

Com um simples clique, volte a ajudar o Banco Alimentar a alimentar quem mais precisa.


Ou, ajude-nos a divulgar esta Campanha: se tem pessoas da sua família, amigos, conhecidos, relações… em Portugal ou no estrangeiro, mobilize-os para a Campanha Online do Banco Alimentar.

E está a alimentar quem mais precisa. A solidariedade não tem fronteiras.

Muito obrigado por alimentar esta ideia. 

Hão-de ver o Filho do Homem vir

Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV, Livraria Moraes, 1959 
Livro 2, § 1


«O Reino de Deus está dentro de vós», diz o Senhor (Lc 17,21). Volta-te com todo o teu coração para o Senhor e deixa este mundo miserável; e a tua alma achará repouso. Aprende a desprezar as coisas exteriores e a entregar-te às interiores, e verás chegar para ti o Reino de Deus. Na verdade, «o Reino de Deus é a paz e a alegria no Espírito Santo» (Rom 14,17), que não é dado aos ímpios.

Cristo virá junto de ti, mostrando-te a sua consolação, se Lhe tiveres preparado interiormente uma morada digna. Toda a sua glória e beleza são de dentro, e é aí que Ele Se compraz. Ele visita frequentemente o homem recolhido, a sua conversa é doce, a sua consolação agradável, a sua paz imensa, o seu convívio admirável.

Vai, alma fiel, prepara o teu coração para este Esposo, para que Se digne vir a ti e em ti habitar. Na verdade, Ele diz assim: «Se alguém Me ama, ouvirá a minha palavra, e viremos a ele, e nele faremos morada» (Jo 14,23). […] O homem interior depressa se recolhe, pois nunca se dispersa totalmente nas coisas exteriores. O trabalho exterior não o prejudica, nem as ocupações, por vezes necessárias; mas, tal como sucedem as coisas, assim a elas se acomoda. Aquele que é bem formado e ordenado interiormente não se importa com as acções admiráveis ou perversas dos homens. […] Se renunciares às consolações exteriores, poderás contemplar as coisas do céu e alegrar-te frequentemente em teu coração.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 27 de novembro de 2014

«Mas quando virdes que Jerusalém é sitiada por exércitos, então sabei que está próxima a sua desolação. Os que então estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, retirem-se; os que estiverem nos campos, não entrem nela; porque estes são dias de vingança, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. Ai das mulheres grávidas, e das que amamentarem naqueles dias!, porque haverá grande angústia sobre a terra e ira contra este povo. Cairão ao fio da espada, serão levados cativos a todas as nações e Jerusalém será calcada pelos gentios, até se completarem os tempos dos gentios. «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra haverá consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das ondas, morrendo os homens de susto, na expectativa do que virá sobre toda a terra, porque as próprias forças celestes serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade.Quando começarem, pois, a suceder estas coisas, erguei-vos e levantai as vossas cabeças, porque está próxima a vossa libertação».

Lc 21, 20-28

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Quer Ajudar África a Ajudar-se? - Postais de Natal - Ajude-nos a ajudar!

POSTAIS DE NATAL HARAMBEE

1.00 euro cada

Papa Francisco na Audiência geral (resumo em português)

Locutor: A Igreja não é uma realidade estática, imóvel, finalizada em si mesma, mas vive na história caminhando continuamente para a meta última e maravilhosa que é o Reino dos Céus, do qual a Igreja na terra é o gérmen e o início. Tal meta é a «nova Jerusalém», o Paraíso: este, mais do que um lugar, é um «estado» no qual se hão-de realizar, de forma superabundante, as nossas expectativas mais profundas e alcançará pleno amadurecimento o nosso ser de criaturas e filhos de Deus. Então contemplaremos a Deus face a face, ficando envolvidos completamente pela sua alegria, a sua paz e o seu amor. E quando terá lugar esta passagem final? Ignoramos o tempo, mas sabemos que há continuidade e comunhão entre a Igreja celeste e a Igreja que ainda caminha sobre a terra, porque, na visão cristã, a distinção fundamental não é entre quem está morto e quem está vivo, mas entre quem está em Cristo e quem não está n’Ele. Está aqui o elemento determinante e verdadeiramente decisivo para a nossa salvação, para a nossa felicidade: estar em Cristo. E que sucederá a este universo que nos abriga e sustenta? Como escreve São Paulo, também ele será libertado da escravidão da corrupção, para entrar na liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Portanto a transformação prometida – aliás já começou a realizar-se a partir da morte e ressurreição de Cristo – não será uma aniquilação do universo e de tudo o que nos rodeia, mas é uma nova criação que levará todas as coisas à sua plenitude de ser, de verdade e de beleza.

Santo Padre:
Con grande affetto saluto i pellegrini di lingua portoghese, augurando a voi tutti di rendervi sempre conto di quanto l’appartenenza alla Chiesa sia davvero un dono meraviglioso. Vegli sul vostro cammino la Vergine Maria e vi aiuti ad essere segno di fiducia e di speranza in mezzo ai vostri fratelli. Su di voi e sulle vostre famiglie scenda la Benedizione di Dio.

Locutor: Com grande afecto, saúdo os peregrinos de língua portuguesa, com votos de que possais vós todos dar-vos sempre conta do dom maravilhoso que é pertencer à Igreja. Vele sobre o vosso caminho a Virgem Maria e vos ajude a ser sinal de confiança e esperança no meio dos vossos irmãos. Sobre vós e vossas famílias desça a Bênção de Deus.

«Não se perderá um só cabelo da vossa cabeça»

São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago, mártir 
Carta aos confessores da fé, 6, 1-2 (trad. breviário, comum de vários mártires)


Exorto-vos a que persevereis fortes e constantes na confissão da glória celeste e […] sigais com energia espiritual até receber a coroa, tendo como protector e guia o Senhor que disse: «Estou convosco todos os dias até ao fim do mundo» (Mt 28,20). […] Feliz cárcere, que leva ao céu os homens de Deus! […]

Nada mais ocupe agora os vossos corações e os vossos espíritos senão os preceitos divinos e os mandamentos celestes, por meio dos quais sempre o Espírito Santo vos animou a suportar os tormentos. Ninguém pense na morte, mas na imortalidade; nem no suplício transitório, mas na glória eterna, pois está escrito: «É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis» (Sl 115,15). […] E, noutro passo, a Sagrada Escritura fala dos tormentos que consagram os mártires de Deus e os santificam pela prova do sofrimento: «Embora tenham suportado tormentos perante os homens, a sua esperança está cheia de imortalidade. Julgarão as nações e dominarão os povos e o Senhor reinará sobre eles para sempre» (Sab 3,4.8). E assim, quando pensais que haveis de julgar e reinar com Cristo Senhor, deveis exultar com a alegria dos bens futuros, calcando aos pés os suplícios presentes. […]

O mesmo Senhor Se propôs como exemplo, ao ensinar que não podiam entrar no Reino senão os que O tivessem seguido pelo seu caminho, dizendo: «Aquele que ama a sua vida neste mundo perdê-la-á; e aquele que odeia a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna» (Jo, 12,25). […] Também o apóstolo Paulo nos exorta a que, se desejamos alcançar as promessas do Senhor, devemos imitá-Lo em tudo: «Nós somos filhos de Deus; e, se somos filhos, também somos herdeiros de Deus com Cristo; se tivermos sofrido com Ele, também com Ele seremos glorificados» (Rom 8,16ss.).

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

O Evangelho do dia 26 de novembro de 2014

Mas antes de tudo isto, lançar-vos-ão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões e vos levarão à presença dos reis e dos governadores por causa do Meu nome. Isto vos será ocasião de dardes testemunho. Gravai, pois, nos vossos corações o não premeditar como vos haveis de defender, porque Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria à qual não poderão resistir, nem contradizer, todos os vossos inimigos. Sereis entregues por vossos pais, irmãos, parentes e amigos, e farão morrer muitos de vós; e sereis odiados de todos por causa do Meu nome; mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.

Lc 21, 12-19

terça-feira, 25 de novembro de 2014

27 Nov 18h30 Lançamento " 80 novos filmes para vencer na vida " Paulo Miguel Martins - FNAC Colombo


Quer ajudar um mosteiro de clausura?


Intervenção do Santo Padre no Conselho da Europa aonde aborda a Paz, as raízes da Europa e muitos outros aspectos relevantes de atualidade

Senhor Secretário-Geral, Senhora Presidente,
Excelências, Senhoras e Senhores!

Sinto-me feliz por poder tomar a palavra nesta Sessão que vê reunida uma representação significativa da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, os representantes dos países membros, os juízes do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, bem como as diferentes instituições que compõem o Conselho da Europa. De facto, quase toda a Europa está aqui presente, com os seus povos, as suas línguas, as suas expressões culturais e religiosas, que constituem a riqueza deste Continente. De modo particular agradeço ao Secretário-Geral do Conselho da Europa, Senhor Thorbjørn Jagland, o convite gentil e as amáveis palavras de boas-vindas que me dirigiu. Saúdo também a Senhora Anne Brasseur, Presidente da Assembleia Parlamentar. De coração agradeço a todos o empenhamento profuso e a contribuição prestada à paz na Europa através da promoção da democracia, dos direitos humanos e do estado de direito.

Na intenção de seus Pais fundadores, o Conselho da Europa –que celebra este ano o seu sexagésimo quinto aniversário – dava resposta àquela tensão ideal para a unidade que tem animado, repetidamente, a vida do Continente desde a antiguidade. Ao longo dos séculos, porém, muitas vezes prevaleceram ímpetos particularistas conotados com as diversas vontades hegemónicas que se iam sucedendo. Basta pensar que dez anos antes daquele 5 de Maio de 1949, quando se assinou em Londres o Tratado que instituía o Conselho da Europa, tivera início o mais sangrento e dilacerante conflito que estas terras recordam e cujas divisões perduraram por muitos anos sucessivos com a chamada cortina de ferro que dividia em dois o Continente desde o Mar Báltico até ao Golfo de Trieste. O projecto dos Pais fundadores era reconstruir a Europa num espírito de mútuo serviço, que ainda hoje, num mundo mais inclinado a reivindicar do que a servir, deve constituir o fecho da abóbada da missão do Conselho da Europa em favor da paz, da liberdade e da dignidade humana.

Aliás o caminho privilegiado para a paz – para evitar que volte a acontecer o que sucedeu nas duas guerras mundiais do século passado – é reconhecer no outro, não um inimigo a combater, mas um irmão a acolher. Trata-se de um processo contínuo, que não se pode jamais dar como plenamente alcançado. Isto mesmo intuíram os Pais fundadores quando compreenderam que a paz era um bem que se devia conquistar continuamente e exigia uma vigilância absoluta. Estavam cientes de que as guerras se alimentam da vontade de apoderar-se dos espaços, cristalizar os processos e procurar detê-los; eles, ao invés, procuravam a paz, que se pode realizar apenas com a constante disposição de iniciar processos e levá-los por diante.

Afirmavam, assim, a vontade de caminhar maturando no tempo, porque é precisamente o tempo que governa os espaços, iluminando-os e transformando-os numa cadeia de crescimento contínuo que não volta atrás. Por isso, a construção da paz exige privilegiar as acções que geram novos dinamismos na sociedade e envolvem outras pessoas e grupos que hão-de desenvolvê-los até frutificar em importantes acontecimentos históricos .

Foi por esta razão que eles deram vida a este Organismo estável. Como recordava alguns anos depois o Beato Paulo VI, «as próprias instituições que, na ordem jurídica e no concerto internacional, têm a função e o mérito de proclamar e de conservar a paz, alcançam o seu próvido objectivo se estiverem a operar continuamente, se souberem a cada momento gerar a paz, fazer a paz» . É preciso um caminho constante de humanização, pelo que «não basta conter a guerra, suspender as lutas, (...) não basta uma Paz imposta, uma Paz utilitária e provisória. É necessário tender para uma Paz amada, livre e fraterna, isto é, fundada sobre a reconciliação dos espíritos» . Por outras palavras, é preciso levar por diante os processos sem ansiedade, mas certamente com convicções claras e tenacidade.

Para conquistar o bem da paz é preciso, antes de mais nada, educar para ela, desterrando uma cultura do conflito que visa amedrontar o outro, marginalizar quem pensa ou vive de forma diferente. É verdade que o conflito não pode ser ignorado ou dissimulado; deve ser aceitado. Mas, se ficamos bloqueados nele, perde-se perspectiva, os horizontes reduzem-se e a própria realidade fica fragmentada. Quando estagnamos na situação de conflito, perdemos o sentido da unidade profunda da realidade , paramos a história e caímos no desgaste interior de contradições estéreis.

Infelizmente, a paz é ferida ainda muitas vezes. Isto é verdade em muitas partes do mundo, onde enfurecem conflitos de diverso género. É verdade também aqui na Europa, onde não cessam as tensões. Quanto sofrimento e quantos mortos há ainda neste Continente, que anseia pela paz e contudo volta facilmente a cair nas tentações de outrora! Por isso, é importante e encorajador o trabalho do Conselho da Europa na busca de uma solução política para as crises em acto.

Mas a paz é posta à prova também por outras formas de conflito, como o terrorismo religioso e internacional que nutre profundo desprezo pela vida humana e ceifa, de forma indiscriminada, vítimas inocentes. Infelizmente este fenómeno é alimentado por um tráfico de armas, muitas vezes sem qualquer entrave. A Igreja considera que «a corrida aos armamentos é um terrrível flagelo para a humanidade e prejudica os pobres de uma forma intolerável» . A paz é violada também pelo tráfico de seres humanos, a nova escravatura do nosso tempo que transforma as pessoas em mercadoria de troca, privando as vítimas de toda a dignidade. Depois, não raro damo-nos conta de como estão interligados estes fenómenos. O Conselho da Europa, através das suas Comissões e grupos de peritos, desempenha um papel importante e significativo no combate a tais formas de desumanidade.

A paz, porém, não é a simples ausência de guerras, conflitos e tensões. Na óptica cristã, é simultaneamente dom de Deus e fruto da acção livre e racional do homem, que se propõe perseguir o bem comum na verdade e no amor. «Esta ordem racional e moral assenta precisamente na decisão da consciência dos seres humanos de buscar a harmonia nas suas relações recíprocas sobre a base do respeito da justiça para todos» .
Então como perseguir este ambicioso objectivo da paz?

A estrada escolhida pelo Conselho da Europa é, antes de mais nada, a promoção dos direitos humanos, a que se liga o desenvolvimento da democracia e do estado de direito. É um trabalho particularmente precioso, com notáveis implicações éticas e sociais, já que, de um recto entendimento destes termos e de uma reflexão constante sobre eles, depende o desenvolvimento das nossas sociedades, a sua pacífica convivência e o seu futuro. Este estudo é uma das grandes contribuições que a Europa ofereceu e continua a oferecer ao mundo inteiro.

Por isso, nesta sede, sinto o dever de lembrar a importância da contribuição e responsabilidade europeias para o desenvolvimento cultural da humanidade. E gostaria de o fazer partindo de uma imagem que tomo dum poeta italiano do século XX, Clemente Rebora, que, numa das suas poesias , descreve um álamo com os seus ramos erguidos para o céu e movidos pelo vento, o seu tronco sólido e firme e as raízes profundas que penetram na terra. Em certo sentido podemos, à luz desta imagem, imaginar a Europa.

Ao longo da sua história, sempre se ergueu para o alto, para metas novas e ambiciosas, animada por um desejo insaciável de conhecimento, desenvolvimento, progresso, paz e unidade. Mas a elevação do pensamento, da cultura, das descobertas científicas só é possível graças à solidez do tronco e à profundidade das raízes que o alimentam. Se se perdem as raízes, o tronco lentamente se esvai e morre, e os ramos – antes vigorosos e direitos – dobram-se para a terra e caem. Aqui está talvez um dos paradoxos mais incompreensíveis para uma mentalidae científica isolada: para caminhar para o futuro serve o passado, são necessárias raízes profundas e serve também a coragem de não se esconder face ao presente e seus desafios. Servem memória, coragem e utopia sadia e humana.

Entretanto – observa Rebora - «o tronco penetra onde é mais verdadeiro» . As raízes nutrem-se da verdade, que constitui o alimento, a seiva vital de toda e qualquer sociedade que queira ser verdadeiramente livre, humana e solidária. Por outro lado, a verdade faz apelo à consciência, que é irredutível aos condicionamentos e, por isso, é capaz de conhecer a sua própria dignidade e de se abrir ao absoluto, tornando-se fonte das opções fundamentais guiadas pela procura do bem para os outros e para si mesma e lugar duma liberdade responsável.

Além disso, é preciso ter presente que, sem esta busca da verdade, cada um torna-se medida de si mesmo e do seu próprio agir, abrindo a estrada à afirmação subjectivista dos direitos, de tal modo que o conceito de direito humano, que de per si tem valência universal, é substituído pela ideia de direito individualista. Isto leva a ser substancialmente descuidado para com os outros e favorecer a globalização da indiferença, que nasce do egoísmo, fruto duma concepção do homem incapaz de acolher a verdade e viver uma autêntica dimensão social.

Um tal individualismo torna-nos humanamente pobres e culturalmente estéreis, porque corta realmente aquelas raízes fecundas sobre as quais se enxerta a árvore. Do individualismo indiferente nasce o culto da opulência, a que corresponde a cultura do descarte onde estamos imersos. Na realidade, temos demasiadas coisas, muitas vezes desnecessárias, mas já não somos capazes de construir relações humanas autênticas, caracterizadas pela verdade e o respeito mútuo. E assim temos hoje diante dos olhos a imagem duma Europa ferida pelas inúmeras provações do passado, mas também pelas crises do presente que parece incapaz de enfrentar com a vitalidade e a energia de outrora; uma Europa um pouco cansada e pessimista, que se sente assediada pelas novidades provenientes dos outros Continentes.

À Europa, podemos perguntar: Onde está o teu vigor? Onde está aquela tensão ideal que animou e fez grande a tua história? Onde está o teu espírito de curiosidade e empreendimento? Onde está a tua sede de verdade, que comunicaste com paixão ao mundo até agora?

Da resposta a estas perguntas dependerá o futuro do Continente. Aliás, voltando à imagem de Rebora, um tronco sem raízes pode continuar a ter aparência de vida, mas por dentro esvai-se e morre. A Europa deve reflectir se o seu imenso património humano, artístico, técnico, social, político, económico e religioso é um simples legado de museu do passado, ou se ainda é capaz de inspirar a cultura e descerrar os seus tesouros à humanidade inteira. Na resposta a esta questão, tem um papel de primária importância o Conselho da Europa, com as suas instituições.
Penso particularmente no papel do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que constitui de certo modo a «consciência» da Europa no respeito dos direitos humanos. A minha esperança é que esta consciência mature cada vez mais, não por um mero consenso entre as partes, mas como fruto da tensão para aquelas raízes profundas que constituem os alicerces sobre os quais escolheram edificar os Pais fundadores da Europa contemporânea.
Juntamente com as raízes – que é preciso procurar, encontrar e manter vivas com o exercício diário da memória, pois constituem o património genético da Europa –, existem os actuais desafios do Continente que nos obrigam a uma criatividade contínua, para que estas raízes sejam fecundas nos dias de hoje e se projectem para as utopias do futuro. Permitam-me mencionar dois apenas: o desafio da multipolaridade e o da transversalidade.

A história da Europa pode levar-nos a concebê-la ingenuamente como uma bipolaridade ou, no máximo, um tripolaridade (pensemos na antiga concepção: Roma - Bizâncio - Moscovo) e, dentro deste esquema fruto de reducionismos geopolíticos hegemónicos, movermo-nos na interpretação do presente e na projecção para a utopia do futuro.

Hoje as coisas não estão assim e podemos, legitimamente, falar de uma Europa multipolar. As tensões – tanto aquelas que constroem como as que desagregam – verificam-se entre múltiplos pólos culturais, religiosos e políticos. Hoje, a Europa enfrenta o desafio de «globalizar» de forma original esta multipolaridade. As culturas não se identificam necessariamente com os países: alguns deles têm várias culturas, e algumas culturas exprimem-se em vários países. E o mesmo acontece com as expressões políticas, religiosas e associativas.

Globalizar de forma original a multipolaridade implica o desafio de uma harmonia construtiva, livre de hegemonias que, embora pragmaticamente pareçam facilitar o caminho, acabam por destruir a originalidade cultural e religiosa dos povos.

Falar da multipolaridade europeia significa falar de povos que nascem, crescem e se projectam para o futuro. A tarefa de globalizar a multipolaridade da Europa não a podemos imaginar com a figura da esfera – onde tudo é igual e ordenado, mas redutora porque cada ponto é equidistante do centro –, mas sim com a do poliedro, onde a unidade harmoniosa do todo conserva a singularidade de cada uma das partes. Hoje, a Europa é multipolar nas suas relações e tensões; não se pode pensar nem construir a Europa sem assumir profundamente esta realidade multipolar.
O outro desafio que gostaria de mencionar é a transversalidade. Parto duma experiência pessoal: nos encontros com os políticos de vários países da Europa, pude notar que os políticos jovens encaram a realidade duma perspectiva diferente da dos seus colegas mais idosos. Talvez digam coisas aparentemente semelhantes, mas a abordagem é diferente. Isto verifica-se nos jovens políticos dos diferentes partidos. Este dado empírico indica uma realidade da Europa actual, de que não se pode prescindir no caminho da consolidação do Continente e da sua projecção futura: ter em conta esta transversalidade que se observa em todas as áreas. Isto não se pode conseguir sem recorrer ao diálogo, nomeadamente intergeracional. Se hoje quiséssemos definir o Continente, deveríamos falar duma Europa dialogante que faz com que a transversalidade de opiniões e reflexões esteja ao serviço dos povos harmoniosamente unidos.

Assumir este caminho de comunicação transversal implica não só empatia geracional, mas também metodologia histórica de crescimento. No mundo político actual da Europa, resulta estéril o diálogo circunscrito apenas aos organismos (políticos, religiosos, culturais) a que se pertence. Hoje, a história pede a capacidade de sair para o encontro a partir das estruturas que «contêm» a própria identidade a fim de a tornar mais forte e mais fecunda no confronto fraterno da transversalidade. Uma Europa que dialogue apenas dentro dos grupos fechados a que se pertence fica a meia estrada; há necessidade do espírito juvenil que aceite o desafio da transversalidade.

Nesta perspectiva, congratulo-me com a vontade do Conselho da Europa de investir no diálogo intercultural, incluindo a sua dimensão religiosa, através dos Encontros sobre a dimensão religiosa do diálogo intercultural. Trata-se de uma ocasião profícua para um intercâmbio aberto, respeitoso e enriquecedor entre pessoas e grupos de diferente origem, tradição étnica, linguística e religiosa, num espírito de compreensão e respeito mútuo.

Tais encontros parecem ser particularmente importantes no actual ambiente multicultural, multipolar, em busca de um rosto próprio para conjugar, sapientemente, a identidade europeia formada ao longo dos séculos com as solicitações que chegam dos outros povos que agora assomam ao Continente.

Nesta lógica, se deve entender a contribuição que o cristianismo pode proporcionar, actualmente, ao desenvolvimento cultural e social europeu no âmbito duma correcta relação entre religião e sociedade. Na óptica cristã, razão e fé, religião e sociedade são chamadas a iluminar-se reciprocamente, apoiando-se uma à outra e, se necessário, purificando-se mutuamente dos extremismos ideológicos em que podem cair. A sociedade europeia inteira só pode beneficiar de uma revitalizada conexão entre os dois âmbitos, tanto para enfrentar um fundamentalismo religioso que é inimigo sobretudo de Deus, como para obstar a uma razão «reduzida» que não honra o homem.

Estou convencido de que pode haver mútuo enriquecimento num grande número de temas actuais, em que a Igreja Católica – especialmente através do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) – pode colaborar com o Conselho da Europa e prestar uma contribuição fundamental. Em primeiro lugar, à luz do que disse anteriormente, temos o âmbito duma reflexão ética sobre os direitos humanos, acerca dos quais muitas vezes a vossa Organização é chamada a reflectir. Penso, em particular, nos temas relacionados com a protecção da vida humana, questões sensíveis que precisam de ser submetidas a um exame cuidadoso que tenha em conta a verdade do ser humano integral, sem se limitar a específicos âmbitos médicos, científicos ou jurídicos.

De igual modo são numerosos os desafios do mundo contemporâneo que necessitam de estudo e de um empenhamento comum, a começar pelo acolhimento dos imigrantes, que precisam primariamente do essencial para viver, mas sobretudo que lhes seja reconhecida a sua dignidade de pessoas. Temos depois o grave problema do trabalho em toda a sua amplitude, especialmente pelos altos níveis de desemprego juvenil que se registam em muitos países – uma real hipoteca que grava sobre o futuro – mas também pela questão da dignidade do trabalho.

Espero vivamente que se instaure uma nova cooperação social e económica, livre de condicionalismos ideológicos, que saiba encarar o mundo globalizado, mantendo vivo o sentimento de solidariedade e caridade mútua que tanto caracterizou o rosto da Europa, graças à obra generosa de centenas de homens e mulheres – alguns considerados Santos pela Igreja Católica – que, ao longo dos séculos, se esforçaram por desenvolver o Continente seja através da actividade empresarial seja com obras de educação, de assistência e de promoção humana. Especialmente estas últimas constituem um importante ponto de referência para os numerosos pobres que vivem na Europa. E há tantos nas nossas estradas! Pedem não só o pão para se sustentarem, que é o mais elementar dos direitos, mas também para se redescobrir o valor da sua vida, que a pobreza tende a fazer esquecer, e reencontrar a dignidade conferida pelo trabalho.

Por fim, entre os temas que requerem a nossa reflexão e a nossa colaboração, temos a defesa do meio ambiente, desta nossa amada Terra, o grande recurso que Deus nos deu e está à nossa disposição, não para ser deturpada, explorada e vilipendiada, mas para que, gozando da sua beleza imensa, possamos viver com dignidade.

Senhora Presidente, Senhor Secretário-Geral, Excelências, Senhoras e Senhores!

O Beato Paulo VI definiu a Igreja «perita em humanidade» . No mundo, à imitação de Cristo, ela – apesar dos pecados dos seus filhos – nada mais procura que servir e dar testemunho da verdade . Nada mais, à excepção deste espírito, nos guia no apoio dado ao caminho da humanidade.
Com esta disposição de espírito, a Santa Sé pretende continuar a colaborar com o Conselho da Europa, que desempenha actualmente um papel fundamental para forjar a mentalidade das futuras gerações de europeus. Trata-se de realizar, juntos, uma reflexão a todo o campo, para que se estabeleça uma espécie de «nova ágora», na qual cada instância civil e religiosa possa livremente confrontar-se com as outras, naturalmente na separação dos âmbitos e na diversidade das posições, animada exclusivamente pelo desejo de verdade e de construir o bem comum. De facto, a cultura nasce sempre do encontro mútuo, tendente a estimular a riqueza intelectual e a criatividade de quantos nele participam; e isto, além de ser a actuação do bem, é beleza. Os meus votos à Europa são de que, redescobrindo o seu património histórico e a profundidade das suas raízes, assumindo a sua viva multipolaridade e o fenómeno da transversalidade dialogante, encontre novamente aquela juventude de espírito que a tornou fecunda e grande.

Obrigado!