Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 31 de maio de 2008

Testemunho

A fé não se reduz a um sentimento privado, porventura a esconder quando se torna incómodo, mas implica a coerência e o testemunho público a favor do Homem, da justiça e da verdade.

(Angelus – 09/X/2005 - Bento XVI)

É premente através do nosso exemplo dar testemunho da nossa fé, para tal basta agirmos com alegria, correcção, e, nos momentos certos, com as palavras apropriadas, deixarmos bem claro a quem connosco contacta, que a temos e nos sentimos abençoados e privilegiados por tal.

Bom Domingo!

(JPR)

Visitação de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel

«Caríssimos Irmãos e Irmãs

1. É sempre sugestivo este momento de fé e de devota homenagem a Maria, que conclui o mês mariano de Maio. Recitastes o Santo Rosário, caminhando rumo a esta Gruta de Lourdes, que se encontra no centro dos Jardins do Vaticano. Aqui, diante da imagem da Virgem Imaculada, depusestes nas suas mãos as vossas intenções de oração, meditando sobre o mistério que hoje se celebra: a Visitação de Maria a Santa Isabel.
Neste evento, narrado pelo Evangelista Lucas, transparece uma "visitação" mais profunda: aquela que Deus faz ao seu povo, saudada pela exultação do pequeno João o maior dos que nasceram de mulher (cf. Mt 11, 11) ainda no ventre da mãe. Assim, o mês mariano conclui-se no sinal do gozo segundo mistério "gozoso" ou seja, no sinal da alegria, do júbilo.

"Magnificat anima mea Dominum / et exultavit meus in Deo salutari meo" (Lc 1, 46-47). Assim canta a Virgem de Nazaré, que contempla o triunfo da divina misericórdia. Ela é imbuída da íntima exultação pelos desígnios de Deus, que prefere os humildes e os pequeninos e os cumula com os Seus bens. Esta é a alegria no Espírito Santo, que fará exultar o coração mesmo do Redentor, comovido porque apraz ao Pai revelar aos pequeninos os mistérios do Reino dos céus.

2. "Magnificat anima mea Dominum!". Assim cantamos também nós nesta tarde, com a alma repleta de reconhecimento a Deus. Damos-lhe graças porque neste mês de Maio do grande Jubileu nos fez experimentar com especial intensidade a presença da Mãe do Redentor, presença assídua e orante, como na primeira Comunidade de Jerusalém. Possa o seu cântico de louvor tornar-se o canto de cada alma cristã pelo grande mistério do amor de Deus que, em Cristo, "visitou e redimiu o seu povo" (Lc 1, 68)!
Estes são os meus bons votos, na conclusão do mês mariano e nesta vigília da Ascensão de Jesus, que nos convida a dirigir o olhar para o Céu, onde Ele nos espera, sentado à direita do Pai.Ao regressardes aos vossos lares, levai a alegria deste encontro e conservai o olhar fixo na alma de Jesus, na esperança de poderdes um dia estar com Ele, unidos na mesma glória. Acompanhe-vos Maria com materna solicitude no vosso caminho!
Com estes sentimentos, concedo do íntimo do coração a Bênção apostólica a todos vós aqui presentes e aos vossos entes queridos».

(Palavras proferidas nos Jardins do Vaticano no dia 31/V/2000 – João Paulo II)


«Isabel aclama, agradecida, a Mãe do Redentor: Bendita és tu, entre todas as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! - A que devo eu tamanho bem, que venha visitar-me a Mãe do meu Senhor? (Lc I, 42 e 43).O Baptista, ainda por nascer, estremece... (Lc I, 41)... A humildade de Maria verte-se no Magnificat... E tu e eu, que somos - que éramos - uns soberbos, prometemos ser humildes»

(S. Rosário – Mistérios Gozosos 2 – S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Magnificat

Magnificat anima mea Dominum, et exsultavit spiritus meus in Deo salvatore meo, quia respexit humilitatem ancillae suae. Ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes, quia fecit mihi magna, qui potens est, et sanctum nomen eius, et misericordia eius in progenies et progenies timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo, dispersit superbos mente cordis sui; deposuit potentes de sede et exaltavit humiles; esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes.
Suscepit Israel, puerum suum, recordatus misericordiae, sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini eius in saecula.

Virgem Maria - Pietro Lorenzetti

«Mestra de fé! Bem-aventurada és tu, porque acreditaste! Assim a saúda Isabel, sua prima, quando Nossa Senhora sobe à montanha para a visitar. Tinha sido maravilhoso aquele acto de fé de Santa Maria: eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra»


(Amigos de Deus 284 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Orar pelos Sacerdotes

«Vivamos para as almas, sejamos apóstolas, salvemos sobretudo as almas dos sacerdotes [...]. Rezemos, soframos por eles e, no último dia, Jesus será grato»

(Carta a Irmã Celina 94 - Santa Teresa de Lisieux)


«Se eu já tivesse um pé no Céu e se me viessem dizer para voltar para a terra para trabalhar pela conversão dos pecadores, voltaria de bom grado. E se para isto fosse necessário permanecer na terra até ao fim do mundo, levantando-me sempre à meia-noite, e sofresse como sofro, estaria disposto a fazê-lo de coração»

(Frère Athanase, Padroeiro dos Párocos, Procès de l'Ordinaire, p. 993)


Todos os cristãos têm o dever e a obrigação de acarinhar os Sacerdotes, mesmo quando erram, e quem somos nós para lhes atirar a primeira pedra… não se trata ser clericalista, mas de lhes reconhecer, que através do Sacramento da Ordem ficaram investidos como representantes de Jesus Cristo Deus Nosso Senhor em unidade com Pai e o Espírito Santo e que é através deles, que o Senhor nos acolhe pelo Baptismo, nos confirma, Se oferece na Sagrada Eucaristia, nos abençoa e perdoa os nossos pecados, além de serem seus intermediários no ministério de outros Sacramentos.

S. Josemaría no ponto 66 do Caminho ensina-nos “O Sacerdote - seja quem for - é sempre outro Cristo”.

(JPR)

Festa do Sagrado Coração de Jesus

«Deus Pai dignou-Se conceder-nos, no Coração do Filho, infinitos dilectionis thesauros, tesouros inesgotáveis de amor, de misericórdia, de ternura. Se quisermos descobrir com evidência que Deus nos ama - que não só escuta as nossas orações, mas até Se nos antecipa - basta-nos seguir o mesmo raciocínio de S. Paulo: Aquele que nem ao seu próprio Filho perdoou, mas O entregou à morte por nós, corno não nos dará, com Ele, todas as coisas?»

(Cristo que Passa, 162 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Virgem Maria - Masolino da Panicale

«Porque Maria está bem unida à maior manifestação de amor de Deus, a Encarnação do Verbo, que se fez homem como nós e carregou com as nossas misérias e pecados. Maria, fiel à missão divina para que foi criada entregou-se e entrega-se continuamente em serviço dos homens, chamados todos eles a serem irmãos do seu Filho Jesus. E assim a Mãe de Deus é realmente agora a Mãe dos homens também»

(Cristo que Passa 140 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

“A fé é o acto fundamental da existência cristã”

«Nem todas as religiões são "fé". O budismo, por exemplo, na sua forma clássica, não visa este acto de autotranscendência, de encontro com o Totalmente Outro, Deus que me fala e me convida ao amor. Característico para o budismo é, pelo contrário, um acto de radical interiorização, não sair de si (ex-ire) mas descer até ao interior, o que deve conduzir à libertação do jugo da individualidade, do peso de ser pessoa, ao retorno à identidade comum a todo o ser. E isto, em confronto com a nossa experiência existencial, pode ser definido como não-ser, como nada, se quisermos exprimir toda a sua alteridade.»

(Olhar para Cristo – Joseph Ratzinger)


«É São Paulo quem to diz, alma de apóstolo: "Justus ex fide vivit" - O justo vive da fé.- Que fazes tu, que deixas apagar esse fogo?»

(Caminho 578 – S. Josemaría Escrivá de Balaguer)


«Ensinar alguém, para o trazer à fé, [...] é dever de todo o pregador e, mesmo, de todo o crente»

(Summa theologiae, 3 q. 71, a. 4, ad 3 – S. Tomás de Aquino)


Elemento fundamental, tão ou mais importante que o pão para a boca, “O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4).

Quando rezamos o Pai Nosso e dizemos "o pão nosso de cada dia nos dai hoje", incluamos como parte desse pão, a fé que já temos dentro de nós, para que a sentíamos aumentada a cada dia que passa, diria mesmo, a cada micro segundo da nossa vida.

(JPR)

Santa Maria Mãe do Amor Formoso - Universidade de Navarra


«Toda a bondade, toda a formosura, toda a majestade, toda a beleza, toda a graça adornam a nossa Mãe. - Não te enamora ter uma Mãe assim?»

(Forja 491 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Fonte: site Opus Dei - Espanha

Agradecimento: António Faure

terça-feira, 27 de maio de 2008

Maria e as Bodas de Caná

«Fazei tudo o que Ele vos disser. Isto significa, para nós: conformai a vossa vontade à vontade de Deus. Escutai e estai prontos para o Seu chamamento. Reconhecei-O como o Senhor, que vos indica o caminho e vos conduz rectamente. Com estas palavras, convida os criados e convida-nos também a nós à fé. Maria não pediu o milagre do vinho como tal mas aguardou inteiramente o que o Senhor iria fazer. Porém ela chamou à fé e conduziu para o verdadeiro milagre. Por isso, Isabel saudou Maria, por ocasião da sua visita, com as palavras: "Bem-aventurada és tu porque acreditaste" (Luc.1,45).»

(Homília no Santuário de Fátima em 13-X-1996 – Joseph Ratzinger)

Regresso de Fátima

Terça-feira, portanto dia de semana, tempo chuvoso, mas o Terço ao meio-dia e a Santa Missa que se lhe seguiu na Capelinha cheios de portugueses maioritariamente e alguns estrangeiros.
Sacerdote celebrante da Paróquia de Carcavelos com uma belíssima homilia, que mais precisaria para dizer que tive um dia cheio, cheio de Maria e de Jesus Cristo Nosso Senhor.

Ao regressar confrontado como uma decisão complexa a nível empresarial, mas a paz que sentia deu-me a tranquilidade para a enfrentar como muita calma, consciente que a decisão tomada era a mais correcta, pelo que a remeto totalmente ao Senhor e à Sua Santíssima Mãe.

Obrigado por tudo o que me ofereces-Te Terça-feira, aliás, obrigado por tudo o que me ofereceis todos os dias!

(JPR)

Salve Regina

Virgem Maria - Campus Universidade de Navarra

«Maria Santíssima, Mãe de Deus, passa despercebida, como uma qualquer, entre as mulheres do seu povo.- Aprende d'Ela a viver com "naturalidade"»




(Caminho 499 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Uma boa notícia vinda de Espanha

O Congresso de Deputados chumbou por 309 votos contra, nove a favor e seis abstenções, uma proposta que visava eliminar o Crucifixo e a Bíblia nas cerimónias de posse para os cargos públicos, nomeadamente do Presidente e Ministros do Governo.

Parabéns Senhores Deputados!

(JPR)


Fonte: ‘El Mundo’ online

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Oração a Nossa Senhora de Fátima

Permanecei firmes na fé

A exortação encerrada nestas palavras dirige-se a todos nós que formamos a comunidade dos discípulos de Cristo, dirige-se a cada um de nós individualmente.
A fé é um acto humano muito pessoal que se realiza em duas dimensões.
Crer significa antes de tudo aceitar como verdade aquilo que a nossa mente não compreende totalmente.

(Creio em um só Deus – comentado por Bento XVI)

Que bom é vir a Fátima, à nossa casa Mariana, até o ar parece mais puro.

(JPR)

Virgem Maria - Perugino

«"Quomodo fiet istud quoniam virum non cognosco?". Como poderá realizar-se este prodígio, se não conheço varão? Pergunta de Maria ao Anjo, que é reflexo do seu Coração sincero.
Olhando para a Virgem Santa, confirmei-me numa norma clara: para ter paz e viver em paz, temos de ser muito sinceros com Deus, com aqueles que dirigem a nossa alma e connosco próprios»

(Forja 328 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

domingo, 25 de maio de 2008

Virgem Maria - Botticelli



«Confia. - Torna. - Invoca a Senhora e serás fiel»

(Caminho 514 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Deus é exigente…

Mas infinitamente misericordioso e ama-nos mais do que nós na nossa pequena dimensão terrena conseguimos imaginar, ainda assim, se Lhe remetermos todas as graças que nos concede, poderemos vislumbrar uma ínfima parte da Sua bondade e generosidade, tudo quanto Lhe oferecermos e dedicarmos será sempre pouco, mas Ele, apesar disso, compreende as nossas fraquezas e debilidades e continua a amar-nos.

Bom Domingo!

(JPR)
Não vos contenteis com uma religiosidade externa. Deus não Se contenta com um povo que O venera com os lábios. Ele quer o coração e, em troca, dá-nos a sua graça, desde que não nos afastemos ou separemos d’Ele.

(Discurso aos Bispos da Áustria em visita ‘ad limina’ – 02/XI/2005 – Bento XVI)

Missa da Coroação - Gloria – Mozart

sábado, 24 de maio de 2008

Glória in excélsis Deo

Glória in excélsis Deo

et in terra pax homínibus bonae voluntátis.

Laudámus te, benedícimus te, adorámus te, glorificámus te,

grátias ágimus tibi propter magnam glóriam tuam,

Dómine Deus, Rex caeléstis,

Deus Pater omnípotens.

Dómine Fili unigénite, Iesu Christe,

Dómine Deus, Agnus Dei, Fílius Patris,

qui tollis peccáta mundi, miserére nobis;

qui tollis peccáta mundi, súscipe deprecatiónem nostram.

Qui sedes ad déxteram Patris, miserere nobis.

Quóniam tu solus Sanctus, tu solus Dóminus, tu solus Altíssimus,

Iesu Christe, cum Sancto Spíritu: in glória Dei Patris.

Amen.

Virgem Maria - Borgognone

«O amor a Nossa Senhora é prova de bom espírito, nas obras e nas pessoas singulares.- Desconfia do empreendimento que não tenha esse sinal»



(Caminho 505 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Esperança no futuro e alegria – 36 novos Sacerdotes ordenados hoje em Roma por D. Javier Echevarría




















Apesar de a maior parte viver há já bastante tempo longe dos respectivos Países, mantêm muito viva a recordação da sua terra natal. “Tenho um grande desejo de contribuir na formação dos jovens do meu País – disse Dominique Hélou, libanês -. Infelizmente, frequentemente abandonam o País ou deixam-se levar pelo desencorajamento. Penso que naquela região os cristãos devem dar testemunho e que a sua presença seja fundamental para o futuro do Líbano”.

Dominique ensinou em algumas escolas em França e no Líbano. Agora compete-lhe “ajudar espiritualmente as almas, pregar, confessar e ministrar os outros Sacramentos”.

As novas tarefas emocionam-no, mas em simultâneo sente-se encorajado: “Uma máquina de café poderá ser de ouro, prata ou latão. É indiferente: o importante é que faça o café. Ora, eu vejo-me como uma máquina de café, e será Deus a servir-se de mim para fazer chegar a Sua graça às almas. Basta que o café seja bom e isso deixa-me tranquilo”.

A actividade pastoral de Dominique Hélou desenvolver-se-á no Líbano, aonde o trabalho apostólico do Opus Dei se iniciou há dez anos. “Como em outras áreas do mundo – afirma Dominique – a actividade da Prelatura consiste em dar formação humana e espiritual, através de actividades que se dirigem a pessoas das mais diversas condições sociais. Gostaria também de salientar, que o trabalho apostólico mais relevante é aquele realizado por cada fiel do Opus Dei entre os próprios colegas de trabalho”.

José Antonio Brage é um outro dos ordenados. Ingressou na escola Naval de Pontevedra (Espanha) há 18 anos e em pouco tempo tocou os portos de mais de vinte países. “Apercebi-me assim – explica -, que a maior pobreza que existe no mundo, é a ausência de Deus. Levar as pessoas até Cristo é o maior bem que se pode realizar, e esta é a missão do Sacerdote”.

Durante os dois anos passados na Marinha, a navegação – diz – jamais foi um obstáculo para dar passos em frente na vida Cristã, mas sim uma grande oportunidade.

“Frequentemente os meus amigos e conhecidos perguntavam-me se não achava difícil manter uma vida de proximidade com Deus, com práticas de piedade como a Oração mental, a Santa Missa ou rezar o Terço durante dias tão cansativos. Na verdade é exactamente o oposto. Digo sempre que a melhor oração da minha vida fi-la passeando no convés, em alto mar…”

“O mar diz-nos tanta coisa sobre Deus. Vem-me à memória uma recordação dos meus primeiros anos na Marinha: ao lado da porta de entrada na Capela da Escola Naval Militar, existe uma lápide com a inscrição ‘Quem não souber rezar percorra os mares e verá que aprende logo’. É uma grande verdade: sucede assim que abrimos os olhos à alma”

Os novos Sacerdotes provêm de 15 países: Argentina, Brasil, Costa Rica, Espanha, Filipinas, França, Guatemala, Itália, Quénia, Líbano, México, Peru, Polónia, Portugal e Venezuela

(Tradução a partir do site do Opus Dei – Itália da responsabilidade do autor do blogue)


Pedro Regojo, ordenado hoje em Roma, celebrará Missa Nova pelas 16h00 de Domingo, dia 8 de Junho no Mosteiro dos Jerónimos

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Jornada de Oração pela China - 24 de Maio de 2008













Oração a Nossa Senhora de Sheshan

Virgem Santíssima, Mãe do Verbo encarnado e Mãe nossa,
venerada com o título de «Auxílio dos cristãos» no Santuário de Sheshan,
para o qual, com devoto afecto, levanta os olhos toda a Igreja que está na China,
vimos hoje junto de Vós implorar a vossa protecção.
Lançai o vosso olhar sobre o Povo de Deus e guiai-o com solicitude materna
pelos caminhos da verdade e do amor, para que, em todas as circunstâncias, seja fermento de
harmoniosa convivência entre todos os cidadãos.

Com o «sim» dócil pronunciado em Nazaré, Vós consentistes
que o Filho eterno de Deus encarnasse no vosso seio virginal
e assim desse início na história à obra da Redenção,
na qual cooperastes depois com solícita dedicação,
aceitando que a espada da dor trespassasse a vossa alma,
até à hora suprema da Cruz, quando no Calvário permanecestes
de pé junto do vosso Filho, que morria para que o homem vivesse.

Desde então tornastes-Vos, de forma nova, Mãe
de todos aqueles que acolhem na fé o vosso Filho Jesus
e aceitam segui-Lo carregando a própria Cruz sobre os ombros.
Mãe da esperança, que na escuridão do Sábado Santo caminhastes,
com inabalável confiança, ao encontro da manhã de Páscoa,
concedei aos vossos filhos a capacidade de discernirem em cada situação,
mesmo na mais escura, os sinais da presença amorosa de Deus.

Nossa Senhora de Sheshan, sustentai o empenho de quantos na China
continuam, no meio das canseiras diárias, a crer, a esperar, a amar,
para que nunca temam falar de Jesus ao mundo e do mundo a Jesus.
Na imagem que encima o Santuário, levantais ao alto o vosso Filho,
apresentando-O ao mundo com os braços abertos em gesto de amor.
Ajudai os católicos a serem sempre testemunhas credíveis deste amor,
mantendo-se unidos à rocha de Pedro sobre a qual está construída a Igreja.
Mãe da China e da Ásia, rogai por nós agora e sempre. Amen.

(Bento XVI)

Nossa Senhora do Carmo

«Que em cada um de vós, escrevia Santo Ambrósio, esteja a alma de Maria, para louvar o Senhor; que em cada um esteja o espírito de Maria, para se regozijar em Deus. E este Padre da Igreja acrescenta umas considerações, que à primeira vista parecem atrevidas, mas que têm um sentido espiritual claro para a vida do cristão: Segundo a carne, uma só é Mãe de Cristo; segundo a fé, Cristo é fruto de todos nós»

(Amigos de Deus 281 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A doutrina moral cristã no Catecismo

«Para o Catecismo, e na esteira dos Padres, especialmente Agostinho, a moral é a doutrina da vida afortunada; é, por assim dizer, a explicitação das regras do jogo para alcançar a felicidade. O livro liga esta tendência humana inata com as Bem-Aventuranças de Jesus, que soltam o conceito de felicidade de todo o tipo de banalizações, enquanto lhe conferem a sua verdadeira profundidade e, desse modo, manifestam a ligação entre a felicidade, o bem em geral, e o bem em pessoa – Deus»

(Estará o Catecismo da Igreja Católica à altura do seu tempo? Algumas considerações dez anos após a sua publicação – Joseph Ratzinger)


Que pena, que muitos o vejam como um calhamaço desinteressante e inclusivamente se permitam a ter ideias pré-concebidas sobre o seu conteúdo, que falta faz uma “reconversão” de tantos.
Deixo-vos como sugestão: a leitura de diária de 5 dos seus pontos, não chega a duas páginas, e em pouco mais de um ano e meio tê-lo-ão lido na totalidade nos seus § 2865 e até o podem fazer online
http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html
Também o poderão ler por temas, pelo menos coloquem este link em favoritos e pontualmente dêem uma espreitadela e ficarão surpreendidos.

(JPR)

«Se Vós, Senhor, no final das vossas obras tão boas…, descansaste ao sétimo dia, foi para nos dizer de antemão, pela voz do vosso Livro, que no termo das nossas obras, que são verdadeiramente “muito boas” pelo facto de terdes sido Vós que no-las destes, também nós repousaremos em Vós, no sábado da vida eterna»

(Confissões, Livro XIII, 36, 51 – Santo Agostinho)

Ler o Evangelho - S. Josemaría Escrivá de Balaguer

A Virgem dos Rochedos - Leonardo da Vinci

«Não estás sozinho. Nem tu nem eu podemos encontrar-nos sozinhos. E, menos ainda, se vamos a Jesus por Maria, pois é uma Mãe que nunca nos abandona»




(Forja 249 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

‘Ave Verum Corpus’ de Mozart, coro e orquestra dirigidos por Leonard Bernstein

Corpo de Deus...

Ele não pode viver ao nosso lado enclausurado no Sacrário, mas no nosso meio, no nosso dia a dia. Para onde quer que vamos; Ele deve ir: onde quer que vivamos, Ele deve viver. O mundo, o dia a dia devem tornar-se no seu Templo. O Corpo de Deus mostra-nos o que significa comungar: acolhê-l’O, recebê-l’O com a totalidade do nosso ser.

(A Caminho de Jesus Cristo – Joseph Ratzinger)

«Caríssimos Irmãos e Irmãs, revivemos esta maravilhosa realidade na hodierna solenidade do Corpus Christi, em que a Igreja não apenas celebra a Eucaristia, mas também a leva de forma solene em procissão, anunciando publicamente que o Sacrifício de Cristo é para a salvação do mundo inteiro.
Reconhecido por este dom imenso, ela reúne-se em redor do Santíssimo Sacramento, porque ali estão a fonte e o ápice do próprio ser e agir. Ecclesia de Eucharistia vivit! A Igreja vive da Eucaristia e sabe que esta verdade não exprime apenas uma experiência quotidiana de fé, mas encerra de modo sintético o núcleo do mistério que ela mesma é».

(Homilia ‘Corpus Christi’ em 10/VI/2004 – João Paulo II)

Viva a Santa Eucaristia!

Nossa Senhora dos Peregrinos - Caravaggio

«... porque a Trindade Santíssima, ao escolher Maria para Mãe de Cristo, homem como nós, pôs cada um de nós sob o seu manto maternal. É Mãe de Deus e nossa Mãe»


(Amigos de Deus, 275 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Bento XVI na Audiência geral desta Quarta Feira

“Foi do contacto do coração com a verdade que é amor que nasceu toda a cultura cristã – afirmou Bento XVI. Se a fé permanece viva, esta herança cultural não se torna uma coisa morta, mas continua viva e presente. Para o crente, as imagens e os ícones não são coisas do passado, as catedrais não são monumentos medievais, mas edifícios vivos onde nós encontramos Deus e nos encontramos uns com os outros”.

A grande música como o gregoriano, Bach ou Mozart, nas igrejas – prosseguiu o Papa –não são coisas do passado, mas vivem da vitalidade da liturgia e da nossa fé. Se a fé está viva, então permanece também viva e presente a cultura cristã”

(Fonte Radio Vaticana)

Prece

«Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!. Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) – eis o teu corpo.Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai.
Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa parecer diante de ti como um filho que volta ao lar.Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.
Senhor, protege-me e ampara-me.
Dá-me que eu me sinta teu.
Senhor, livra-me de mim»

(Fernando Pessoa in "Eu Profundo")

terça-feira, 20 de maio de 2008

Imprudência e dever da perenidade

«... é de suma imprudência o abandonar ou rejeitar ou privar do seu valor tantas e tão importante noções e expressões (…), e (…) substituí-las com noções ou expressões flutuantes e vagas da nova filosofia (…)»

(Humani generis, nº 11 – Pio XII)

D. José Policarpo na sua recente Carta Pastoral e em perfeita sintonia com o Santo Padre chama-nos à atenção para os “modernismos” , expressão da responsabilidade do signatário, quando escreve “Identificamos facilmente aqueles elementos que empobrecem algumas das nossas celebrações, tornando-as demasiadamente acção humana e ofuscando o carácter de acção de Deus a favor do Seu Povo: má proclamação da Palavra de Deus; demasiados discursos durante a celebração, abundância de palavra humana que ofusca a Palavra de Deus; isto inclui, por vezes, a própria homilia, destinada a ajudar a escutar a Palavra do Deus vivo e a descobrir os caminhos de resposta, na fidelidade; má qualidade e a falta de mensagem religiosa dos cânticos, que deveriam ser uma expressão da oração e do louvor; a ausência quase total de silêncios; o exagero de gestos simbólicos de má qualidade, como é o caso de certos ofertórios; a introdução de textos profanos durante a própria acção litúrgica” (n. 14).

É pela inovação consciente e cautelosa, mas sobretudo pela sua perenidade, que a Igreja nos assegura a fidelidade na transmissão da Palavra de Deus e da Sacralidade das Escrituras.

(JPR)

Nossa Senhora do Rosário - Caravaggio

«O Terço não se pronuncia só com os lábios, mastigando as Ave-Marias umas atrás das outras. Assim cochicham as beatas e os beatos. Para um cristão, a oração vocal há-de enraizar-se no coração, de modo que, durante a recitação do Terço, a mente possa penetrar na contemplação de cada um dos mistérios»



(Sulco 477 - S. Josemaría Escrvivá de Balaguer)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

A defesa dos valores

Façamos como S. Paulo sugeriu na sua 1ª Carta a Timóteo “guarda o bem que te foi confiado! Evita as conversas frívolas e mundanas, assim como as contradições de pretensa ciência. Alguns, por segui-las, se transviaram da fé” (1 Tim 6, 20-21).
Diria mesmo, estamos ética e moralmente obrigados a além dos guardar, a defender e divulgar com paixão e convicção os valores da nossa fé e da nossa civilização fruto da mesma, aliás como defende e muitíssimo bem D. José Policarpo na sua Carta Pastoral.

(JPR)

«É certo que os valores que a Igreja defende não são apenas os valores religiosos, mas também os valores universais humanos, a que a vivência cristã acrescentará profundidade e radicalidade. Quando a Igreja se bate pela defesa desses valores, como, por exemplo, a dignidade inviolável da pessoa humana, a defesa da vida, desde o seu início até à morte natural, a defesa da estabilidade da família, a Igreja não o faz por serem valores estritamente religiosos, mas por serem valores universais humanos profundamente radicados nas tradições culturais da humanidade. Há um combate inevitável na defesa desses valores e esse combate a Igreja trava-o porque é um combate pelo futuro do homem»

(Excerto Carta Pastoral, n. 18 de 18/V/2008 à Diocese de Lisboa – D. José Policarpo)

Convergência

«O Verbo de Deus, por Quem tudo foi feito, encarnou para que, homem perfeito, salvasse todos e recapitulasse todas as coisas. O Senhor é o fim da história humana, ponto de convergência para o qual tendem desejos da história e da civilização, centro da humanidade, gozo do coração humano e plenitude total das suas aspirações»

(Alocução – 02-II-1965 – Paulo VI)

Papas, de Leão XIII a Bento XVI

Virgem Maria - Pskov

«Quando te vires com o coração seco, sem saber o que hás-de dizer, recorre com confiança a Nossa Senhora. Diz-Lhe: "Minha Mãe Imaculada, intercede por mim!".Se a invocares com fé, Ela far-te-á saborear - no meio dessa secura - a proximidade de Deus»


(Sulco 695 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

domingo, 18 de maio de 2008

Hierarquia

Pois é, dir-me-ão alguns, é ai “que a porca torce o rabo”, para mim não; basta termos a humildade de a ver e saber constituída por seres humanos e de nos lembrarmos de S. Pedro, “Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo, antes de me teres negado três vezes!” (Jo 13,38) e sabermos compreender e perdoar “Se te ofender sete vezes ao dia e sete vezes te vier dizer: 'Arrependo-me', perdoa-lhe” (Lc 17,4).
Já repararam que como com fé, humildade, ou seja, sem soberba e arrogância, com respeito e o conhecimento das Sagradas Escrituras encontramos resposta para tudo?

(JPR)

«Os que mandam servem aqueles que a quem mandam. A razão é que não mandam por afã de poder, mas porque têm o ministério de cuidar dos outros; não são os primeiros por soberba, mas por amor, para os atender»

(De civitate Dei, XIX, 14 - Santo Agostinho)

«Amai-os [aos pastores da Igreja] como um filho ao seu pai! Por eles recebeis o sinal da regeneração sobrenatural e divina; eles abrem-nos as portas do céu, e por eles recebeis todos os bens (…). Quem ama a Jesus Cristo, ama o Seu pastor, quem quer que seja, pois pelas suas mãos recebe os sagrados mistérios»

(Homilia sobre 1 Tessalonicenses, ad loc. – São João Crisóstomo)

Ave, María


Ave, María, grátia pléna, Dóminus técum;

benedícta tu in muliéribus,

et benedíctus frúctus ventris túi, Jésus.

Sáncta María, Máter Déi,

óra pro nóbis peccatóribusnunc

et in hóra mórtis nóstrae.

Amen.

Virgem Maria - Paolo di Giovanni da Siena

«Se eu fosse leproso, a minha mãe abraçar-me-ia. Sem medo nem hesitações, beijar-me-ia as chagas.E, então, a Virgem Santíssima? Ao sentir que temos lepra, que estamos chagados, temos de gritar: - Mãe! E a protecção da nossa Mãe é como um beijo nas feridas, que nos consegue a cura»


(Forja 190 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

“A IGREJA NO TEMPO E EM CADA TEMPO” - Carta Pastoral do Cardeal-Patriarca à Igreja de Lisboa

Introdução

1. Quando se completam trinta anos do meu ministério episcopal ao serviço da Igreja de Lisboa, os últimos dez como Patriarca, resolvi escrever-vos esta Carta, talvez inspirado pelo Apóstolo Paulo, de quem vamos celebrar os 2000 anos de nascimento e que escrevia frequentemente cartas às Igrejas nascidas do seu ministério apostólico. Nela, quero falar-vos da nossa Igreja diocesana, como eu a vejo, como eu a desejo, como eu a amo, na firme certeza de que é o Senhor, através do Seu Espírito, quem a ama e constrói, através do nosso ministério e da fidelidade de todos os cristãos.
Porque estamos já em ambiente do “Ano Paulino”, permiti que vos saúde como Paulo saudava as Igrejas no início das suas Cartas: “Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à Igreja de Deus, que está em Corinto, e também a todos os cristãos que se encontram por toda a Acaia. A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (2Co. 1,1-2). E como Paulo saúda os cristãos de Corinto também em nome de Timóteo, seu colaborador, muito estimado por aquela comunidade, saúdo-vos também em nome dos Senhores Bispos Auxiliares, que comigo exercem o ministério episcopal, para bem desta Igreja. Saudamos todos os sacerdotes, os diáconos, os religiosos e religiosas, os cristãos leigos, espalhados nesta vasta Diocese, de Lisboa a Alcobaça, da Azambuja a Torres Vedras, de Cascais à Nazaré. Saúdo com particular ternura as famílias, as crianças, os jovens, os doentes e todos aqueles que sofrem bem como os que chegaram ao ocaso da vida, que dão testemunho de coragem e de esperança. Saúdo, as nossas irmãs mulheres, que são chamadas a ser, na Igreja, a expressão da principal novidade do Evangelho: a primazia absoluta do amor sobre a lógica das situações e das conveniências.


O Concílio Vaticano II também aconteceu para nós

2. Iniciei o meu ministério sacerdotal nesta Diocese, pelas mãos do saudoso Cardeal Cerejeira, em pleno entusiasmo da renovação conciliar. Havia dois anos, o Papa João XXIII surpreendera a Igreja com a convocação de um Concílio Ecuménico. Eram passados quase cem anos do encerramento precipitado do último, interrompido bruscamente pelas mutações sociais e políticas em Roma e em toda a Itália. Na Basílica de São Paulo fora de Muros, no dia 25 de Janeiro de 1959, Festa da Conversão de São Paulo, o Papa explicou as razões da sua decisão: o mundo mudou; a Igreja, para continuar a ser fiel à sua missão de enviada ao mundo, como mensageira da salvação, precisa de mudar, de se adaptar às exigências dessa missão. O desafio à mudança aparece como exigência da fidelidade da Igreja. “Aggiornamento”, o pôr-se em dia para a missão, tornou-se a palavra de ordem.
Foi uma ousadia corajosa convidar a Igreja à mudança. Mas, afinal, a Igreja também pode mudar? Tanto na Igreja, como na sociedade, quando os acontecimentos marcantes convidam à mudança, desencadeiam-se processos históricos incontornáveis: uns querem mudar rapidamente aquilo com que não concordam, e lançam-se em aventuras de cariz revolucionário, do mudar por mudar, em que a mudança é a única coisa que interessa; outros procuram generosamente intuir o futuro das instituições, redescobrir a sua verdade profunda, porque está em questão o futuro do homem e da humanidade.
Isto também aconteceu na Igreja. Enquanto a Assembleia Conciliar rezava e trabalhava para perceber, à luz da Fé e da Tradição, esse novo rosto da Igreja, preparada para a missão, para ser enviada de novo, muitos, por toda a parte, entusiasmados com esse ambiente de mudança, lançaram-se numa “euforia conciliar”, em que era legítimo tudo mudar em nome do Concílio, talvez sem nunca terem escutado os ensinamentos conciliares, esse monumento, belo e harmonioso, de doutrina e desafios pastorais, dos mais notáveis que a Igreja produziu em toda a sua história.
Este duplo dinamismo, melhor, esta maneira diferente de entender o convite à mudança, está ainda hoje na origem de muitos problemas na Igreja. Os que não perceberam que a mudança era exigida pela fidelidade à missão, que é manifestação de fé na Igreja e no Espírito que a conduz, quiseram mudar por mudar, ao sabor de visões subjectivas e provocaram tensões, e levaram outros à tentação de regressar aos tempos antes do Concílio, como se todo ele tivesse sido uma aventura. Por outro lado, a Igreja, conduzida pelos seus pastores, à cabeça dos quais está o Sucessor de Pedro, procuraram, bebendo na verdadeira fonte os ensinamentos conciliares, conduzir a Igreja à necessária e sólida mudança para a missão.

3. Todos estes ventos conciliares agitaram, também, a Igreja de Lisboa. Senti-os na carne, porque vivi, durante meio século, esta busca da fidelidade em tempos de mudança, na Igreja e na sociedade. Esta acelerou o ritmo das mudanças e a essa aceleração da mudança a Igreja não pode responder caso a caso, sector a sector. A Igreja não muda porque o mundo muda; a Igreja muda para poder ser mensageira da esperança num mundo em mudança. Este não lhe é indiferente, pode mesmo sugerir-lhe, no ritmo alucinante da aventura humana, sinais para a adaptação da Igreja à sua missão. Foi o desafio lançado a toda a Igreja pelo Concílio, saber discernir, na actual aventura humana, “sinais dos tempos”, sugestões à mudança na Igreja, exigida pela missão.
Quero dizer claramente à Igreja de Lisboa que não mudamos por mudar, mas que protagonizaremos e apoiaremos todas as mudanças, compatíveis com a fé que recebemos dos Apóstolos, e que sejam exigidas pela missão, pelo serviço da Igreja à sociedade, em nome de Jesus Cristo. Não vemos que o caminho sugerido pelo Espírito seja, em nenhum aspecto, um regresso ao antes do Concílio, mas sim continuar a aprofundar os seus ensinamentos, completados e iluminados pelo Magistério posterior, para sermos fiéis, hoje, à renovação exigida à Igreja pela complexidade do mundo. A intuição de João XXIII, em 1959, ao convocar o Concílio, mantém uma actualidade impressionante: o mundo mudou, continua a mudar, e a Igreja precisa de estar atenta às mudanças dentro dela própria, sugerida pela sua missão no mundo. A Igreja não copia as mudanças do mundo, por vezes tem mesmo de denunciá-las: só a sua verdade interna e o imperativo da sua missão a podem fazer mudar.


O mundo mudou

4. A mudança do mundo a que João XXIII foi sensível aprofundou-se e acelerou. A Gaudium et Spes assumiu-o claramente: “verificam-se transformações profundas nos nossos dias, nas estruturas e nas instituições dos povos, que acompanham a sua evolução cultural, económica e social” (G.S. nº 73). Meio século depois, os efeitos da mudança contínua alteraram o rosto da comunidade humana, mudaram os valores das civilizações e traçaram um novo quadro para o sentido da vida, individual e colectiva. E os cristãos não ficaram imunes a esta transformação. Mudaram ao ritmo da sociedade, encontrando, em geral, a chave da interpretação da vida e da história na mudança da sociedade e não no Evangelho e na fé como fonte de uma compreensão global da existência. Tudo isto levou progressivamente a uma ruptura entre a religiosidade praticada e o sentido ético que inspira os comportamentos pessoais e fornece os critérios da busca do sentido, do discernimento dos acontecimentos e da história. A Igreja, pela mudança global e pela mudança interna com critérios culturais profanos, foi perdendo espaço na sociedade como principal fonte inspiradora de valores da humanidade. Ao contrário, a sua palavra e doutrina é frequentemente vista com desconfiança ou mesmo rejeitada por uma sociedade que considera ter encontrado a sua autonomia na construção da verdade.
Neste quadro, de pouco servem à Igreja, na realização da sua missão no mundo, lutas frontais com poderes estabelecidos ou outras compreensões estruturadas da sociedade. Tais reacções da Igreja não estão isentas do que resta de uma lógica de poder na sociedade. Ela não pode cruzar os braços e renunciar à sua mensagem, mas deve fazê-lo por outro caminho: o da fidelidade interna a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho e o do serviço à sociedade, à pessoa humana, suscitando pelo amor e pelo serviço, as sementes de esperança que ainda não morreram no coração dos homens. A autenticidade do seu serviço à humanidade deve impor-se por si, e não por mera lógica de poder.


A mutação cultural

5. Todas estas profundas alterações na comunidade humana se repercutem na cultura, concebida esta como sabedoria, isto é, como quadro de princípios e de intuições, que se constrói, não no plano de cada indivíduo, mas ao nível das comunidades, e que inspira espontaneamente a evolução das sociedades e o exercício individual da liberdade. É um erro considerar a fé cristã como uma atitude estritamente individual. Quer no seu dinamismo interno, quer na sua missão no mundo, a Igreja situa-se necessariamente num quadro cultural. Há uma relação inevitável entre cristianismo e cultura: a experiência cristã veicula uma antropologia, propõe uma vivência humana que acentua valores fundamentais de humanidade, constitutivos da cultura. Esta é a experiência de 2000 anos: a fé cristã transformou-se em cultura, encontrou convergências entre os seus valores e os de outras culturas, foi elemento importante de mutação cultural, porque as culturas podem mudar ao ritmo da mutação das sociedades.
Na acelerada mutação cultural do nosso tempo, a Igreja pode ser vítima ou interveniente activo, se não permanecer numa atitude fixista e intransigente sobre a cultura, mas lutar conscientemente pela presença da dimensão cristã na evolução da cultura que hoje se processa e se decide ao nível do todo da sociedade, cada vez mais plural e mais interdependente de outras culturas, em horizonte global. Sem descurar a importância do diálogo inter-cultural e da participação no debate cultural, é sobretudo através da autenticidade do testemunho cristão das opções de vida, em tudo, mas sobretudo acerca das grandes questões hoje em debate, que a Igreja se torna elemento activo e interveniente no processo dinâmico da evolução cultural. Sem a radicalidade evangélica autêntica da vida, a Igreja será, sobretudo, vítima da mutação cultural. Só isso lhe dará autoridade para, no inevitável debate cultural, afirmar a diferença de modo a interpelar e rasgar novos horizontes de esperança.


As grandes questões em debate na mutação cultural

6. Verifica-se que as grandes questões em debate na evolução cultural dos últimos dois séculos, sobretudo no Ocidente, são aquelas em que a Igreja marcou a sua influência cultural, o que faz aparecer as alterações culturais como uma luta contra a Igreja e a sua marca decisiva na cultura. Não nego que por vezes o tenha sido, mas é também preciso reconhecer que muitas vezes a Igreja lidou mal com a evolução cultural.
Essas grandes questões andam à volta do homem e da sua dignidade, da sua relação com Deus, da autonomia da sua razão como caminho de verdade, do carácter absoluto da sua liberdade, em todas as suas expressões. Ao desenvolver os direitos da liberdade, caiu-se numa dimensão individualista do homem, relativizando a sua inevitável dimensão dialogal e comunitária, único quadro em que se podem compatibilizar liberdade e responsabilidade para com os outros.
A esse triunfalismo da razão, única fonte da verdade, chamou-se modernidade, o que levou à alteração da maneira de compreender e assumir a relação do homem com Deus. Este começou por ser combatido e negado, em nome da autonomia do homem e acabou por ser circunscrito a um espaço de inutilidade, porque não decisivamente interveniente na vida do homem e da sua história. Este Deus “inútil” daqueles que, mesmo admitindo que Ele existe, vivem como se não existisse, é um estádio da evolução cultural mais grave do que o ateísmo racional e militante.
Retirado Deus da vida do homem, em termos culturais, este ficou dependente de si mesmo, da sua inteligência, da sua liberdade, da sua criatividade e perdeu algo de muito importante na auto-compreensão de si mesmo, que é a consciência da sua precariedade e incapacidade. O poder do homem não é absoluto, no seu coração coexistem o desejo do bem e a inclinação para o mal e para vencer o mal e realizar o bem que deseja, o homem precisa da força do Alto e da ajuda dos irmãos, em comunidade.
Quando o homem rejeitou a exigência de viver a sua vida com Deus, sem medo de que Este lhe atrofie a razão e diminua a liberdade, perdeu, pouco a pouco, o horizonte de transcendência e de eternidade da sua própria existência. A vida neste mundo valer por si, vale o que vale, mas não é concebida como um aprender a saborear a beleza e a plenitude da vida.
A absolutização da liberdade individual levou ao relativismo ético. Cada um decide a orientação da sua vida, o que é bem e o que é mal, progressivamente insensível aos valores de uma cultura comunitária. A chamada “post-modernidade”, afirmação radical da perspectiva individual no domínio ético e da precariedade do presente, deixou de ser cultura e transformou-se em anti-cultura.


A maneira de estar da Igreja na mutação cultural

7. Antes de mais, a Igreja tem de assumir claramente que não coincide com a sociedade, embora, entre nós, o elevado número de baptizados não praticantes ou, porventura, não crentes, possa ainda alimentar essa confusão. Isso não deve levar os cristãos a relativizar a sua pertença à sociedade e a empenhar-se, com todos os outros, na construção de uma sociedade mais digna do homem, reconhecendo-se como força significativa de humanização da sociedade. Os cristãos são membros de duas cidades, o Povo de Deus e a Cidade dos homens, cuja densidade se cruza na busca da transformação da sociedade.
Só porque a sociedade não se identifica com a Igreja, esta não pode ser condenada no seu todo; deve aprender-se a reconhecer os caminhos de bem, objecto das mais nobres lutas da humanidade: a busca da paz, a procura da justiça, a afirmação da dignidade do homem, a defesa da vida humana, a solidariedade como expressão da convivência fraterna, a defesa da natureza. São tomadas de consciência colectiva, sinal positivo da evolução da cultura, com as quais a Igreja se identifica e em cuja luta pode participar, acrescentando-lhe, porventura, como contributo específico, a radicalidade do Evangelho e de toda a Palavra de Deus. Este quadro de valores constitui um “universal humano” que se tem vindo a afirmar na própria evolução da humanidade, o melhor fruto da transformação cultural, e que a Igreja assume como expressões do seu universo ético. Eles não são, necessariamente, valores religiosos, mas valores humanos que o cristianismo sempre propôs e cultivou.
Esta visão clara do rosto positivo da sociedade levará a Igreja a ter uma consciência clara de dinamismos e realidades que na sociedade contemporânea são contra o homem: a violência e a guerra escolhidos conscientemente como caminhos para alcançar certos objectivos; os egoísmos e a primazia do lucro nos processos de desenvolvimento económico; a relativização da consciência moral; o relativismo da verdade; a alteração dos modelos de felicidade, marcada pelo hedonismo, o consumismo e a incapacidade de integrar as dificuldades e o sofrimento.
Porque não coincide com a sociedade, a Igreja tem de aprender a viver numa sociedade que não se identifica com ela. A Igreja deve anunciar a esperança e marcar a diferença pela maneira como vive. Ela não domina a sociedade, mas acredita que pode ajudar a transformá-la. Não pode esquecer que as sociedades democráticas e pluralistas, como a nossa, se organizam a partir da evolução cultural que descrevemos.
A Igreja deve afirmar-se pela força do seu testemunho e pela qualidade do seu serviço. É através da Igreja que resplandece, para toda a sociedade, a verdade do Evangelho e do Senhor Jesus Cristo como resposta para todas as buscas e inquietações do homem. Homem divino ou Deus humanizado, Cristo é o testemunho vivo de que o homem não encontrará a plenitude sem Deus e de que Ele é um Deus connosco, a caminhar connosco na luta da vida. A Igreja deve ser o testemunho vivo de que Deus não ofusca a grandeza e a dignidade do homem, não diminui a sua liberdade, nem põe em questão o seu direito de procurar a verdade. A vivência cristã autêntica testemunha que só com a força de Deus o homem pode desenvolver todas as suas capacidades de busca da verdade, de exercício da sua liberdade, de construção da sua felicidade, porque em Jesus Cristo Deus manifestou-Se como aliado do homem, com um amor infinito.


O natural e o sobrenatural

8. Com a negação ou relativização de Deus na vida, na busca da verdade e no exercício da liberdade, o homem fica reduzido às suas capacidades naturais. Da evolução cultural já descrita, faz parte uma euforia por tudo o que é capacidade da natureza, aliás melhor conhecida através do progresso da ciência. Tudo o que é natural é bom e, portanto, legítimo.
É um facto que a natureza é bela, dotada de capacidades maravilhosas. À luz da nossa fé em Deus criador, essa beleza da natureza é indesligável da maravilha de Deus. Toda a natureza, em nós e à nossa volta, proclama as maravilhas de Deus criador. Só Ele, agindo connosco, nos pode ajudar a levar à plenitude todas essas capacidades naturais.
Mas é também um facto que a natureza ficou ferida pelo pecado do homem, mais uma manifestação da unidade profunda entre o homem e a criação, para o bem e para o mal. E nesse quadro de desvio e de decadência, só com a graça redentora de Jesus Cristo o homem pode viver plenamente os dons naturais de que foi dotado por Deus criador. Este ensinamento é já claro na Carta do Apóstolo Paulo aos Romanos: “A criação também será liberta da escravidão da corrupção para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus” (Rom. 8,21). A compreensão da existência cristã é essa: só com a acção do Espírito de Jesus ressuscitado, o homem pode viver plenamente as suas capacidades naturais, de amar, de criar e construir, de buscar a verdade, de viver o presente, sabendo que está já a construir o futuro, pleno e definitivo. Ser discípulo de Cristo é viver com Ele, pôr em prática, momento a momento, esta interacção de Deus e do homem na realização da vida e da felicidade. É por isso que a Igreja, na sua acção pastoral, dá uma prioridade absoluta a esta intervenção de Deus na nossa vida, dons sobrenaturais que levam à plenitude dos dons naturais.
Esta complementaridade entre a ordem natural e a sobrenatural está a desaparecer da cultura envolvente, mesmo entre alguns cristãos. Esquecemos a afirmação de Cristo: sem Mim nada podereis (cf. Jo. 15,5). A abertura à acção de Deus, na vida pessoal e comunitária, é componente essencial de uma cultura cristã. Desconhecê-la ou desvalorizá-la é introduzir na visão cristã do homem elementos da cultura profana.


A Igreja também mudou

9. Neste meio século decorrido depois do Concílio Vaticano II, a Igreja também mudou. Trata-se de saber se mudou bem e se mudou o suficiente, naquilo que era exigido pelo exercício da sua missão neste mundo em mudança acelerada.
As grandes transformações no rosto visível da Igreja têm a sua origem no espírito de renovação proposto pelo Concílio, cuja visão da Igreja, embora tendo em conta as características e os problemas do mundo contemporâneos, se inspira especialmente na Igreja apostólica e do primeiro milénio do cristianismo. A modernidade levou a Igreja a um regresso às fontes, sugerindo assim o caminho a seguir para se transformar para a missão. Só regressando ao seu mistério a Igreja encontrará a forma, a força e a linguagem para anunciar ao mundo de hoje, o Evangelho da esperança. A inculturação, na Igreja, não pode significar, para ela, a perda do seu mistério, do vigor da sua fé, valores que a cultura secularizada perdeu. Inculturação só pode significar melhor conhecimento dos homens aos quais anuncia a salvação, esforço de proximidade amorosa, sem o qual a Igreja se distancia inevitavelmente.
Mas houve mudanças na Igreja que significaram cedência ao espírito do mundo. Adoptar, para estar próxima dos homens, os critérios do mundo é, para a Igreja, o caminho menos indicado para mudar ao ritmo das exigências da missão. E a sociedade pressiona-a continuamente a mudanças segundo as exigências da cultura secularizada: casamento dos padres, ordenação de mulheres, aceitação de segundos casamentos, etc. E há, hoje, dentro da Igreja, vozes a exigir essas e outras mudanças, sob pressão da cultura envolvente. Essas ou outras grandes mudanças só poderiam acontecer na Igreja, ao ritmo do Espírito, porque o Senhor, que dirige a Igreja, a desafiava a mudar para anunciar melhor a mensagem de salvação. Em tudo, mesmo na mudança, a Igreja é chamada a agir com critérios de fé, ouvindo a Palavra de Deus, escutando o Magistério e fiel à Tradição contínua da Igreja ao longo de 2000 anos de confronto com as mais variadas situações humanas.
Mas esta rejeição da mudança por motivações profanas da cultura envolvente, não deve significar, para a Igreja, a recusa de toda e qualquer mudança. Ela é exigida pela natureza da sua missão, foi sugerida pelo Concílio Vaticano II, continuamente lembrada pelos Papas de então para cá. A Igreja de Lisboa tem o direito de escutar do seu Pastor orientações claras dos caminhos da missão, nestes tempos exigentes para a sociedade e para a própria Igreja.


Prioridade clara aos meios sobrenaturais da graça

10. A Igreja é um Povo de crentes. Pertencem a ela aqueles e aquelas que acreditam em Cristo morto e ressuscitado, se uniram a Ele e com Ele querem viver a vida. A fé é a atitude constitutiva da Igreja, por ela nos deixamos possuir por Jesus Cristo, acreditando que Ele nos enriquece continuamente com a força transformadora do Seu Espírito, que nos fez renascer e nos faz viver a vida nova. Todo o dinamismo da Igreja, de mudança e transformação, de anúncio e de evangelização, de caridade fraterna, de comportamentos dignos de Jesus Cristo, de diálogo e convivência com toda a sociedade, tem a sua motivação na fé, só pode ser inspirado pela fé.
A acção transformadora do Espírito realiza-se, na Igreja, através do seu poder sacramental, ou seja, a capacidade que lhe foi dada por Jesus Cristo de, através da sua acção, realizar o poder transformador do próprio Deus. Na Igreja os instrumentos da acção do Espírito são a Palavra de Deus, continuamente proclamada; os sete sacramentos; os sacramentais. A esta acção de Deus, a Igreja e cada cristão respondem adorando e vivendo segundo a vontade do Senhor, dando glória a Deus em tudo o que são e fazem.
Para responder a uma cultura imanentista, em que o homem decide o seu caminho e conta só com as forças humanas, pessoais e sociais, a nossa acção pastoral tem de dar prioridade a estes meios da graça, em que nos abrimos à acção de Deus em nós. Fazê-lo é acreditar que a renovação da Igreja que procuramos e à qual dedicámos as nossas vidas, não é o efeito da nossa acção humana, mas obra maravilhosa de Deus, que ama e conduz o Seu Povo.
Esta prioridade pastoral aos meios sobrenaturais da graça exige, porventura, correcções de rota. Foram, sobretudo, elementos da cultura ambiente que influenciaram as alterações na prática sacramental. Para além do abandono dos sacramentos, mesmo na maneira de os celebrar introduziram-se elementos humanos, que não ajudam a vivê-los como momentos da acção de Deus em nós, e lhe enfraquecem a densidade sobrenatural do encontro do homem com Deus.


A Palavra de Deus

10. Não sendo um dos sete sinais sacramentais, a Palavra de Deus, sobretudo a Palavra inspirada da Escritura, continuamente proclamada pela Igreja, tem dinamismo sacramental. É um meio humano através do qual podemos escutar a Palavra do Deus vivo. É maravilhosa a intimidade que se gera entre nós e Deus quando escutamos a Sua Palavra.
O inquérito feito à Diocese, preparatório do próximo Sínodo dos Bispos, que terá como tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”, dá-nos indicadores preocupantes. Embora muitos cristãos declarem ter a Bíblia em casa, são poucos os que a lêem frequentemente; na Liturgia a proclamação da Palavra é uma parte do rito, e nem sempre tem a densidade de uma escuta do Senhor. Porque a fé é uma adesão confiante a Deus que Se nos revela, o não escutar a Palavra viva de Deus compromete toda a autenticidade cristã. A escuta da Palavra é a experiência que torna possível tudo: a celebração dos sacramentos, a fidelidade de viver segundo os mandamentos de Deus, a busca da oração e da adoração, a sinceridade do anúncio do Evangelho, a força para viver profundamente em união com Jesus Cristo.
O Sínodo dos Bispos e o Ano Paulino convidam-nos a cuidar desta escuta da Palavra. Que quem a proclama na Liturgia procure primeiro escutá-la pessoalmente; que os diversos itinerários de catequese sejam conduzidos pela Palavra; que quem se prepara para os sacramentos, o faça escutando a Palavra do Senhor. Ajudemos os doentes a escutá-la, pois a doença é uma circunstância em que o Senhor tem muito para nos dizer, se nós aprendermos a escutá-l’O. A Palavra é o princípio de uma intimidade a construir, e prepara-nos para desejar a acção de Deus em nós através dos sacramentos.


Os sacramentos da iniciação cristã

12. Para sublinhar e promover esta dimensão sobrenatural da vida cristã, a Igreja deve, na sua acção pastoral, redescobrir o ritmo da iniciação cristã e dos três sacramentos que a objectivam como descoberta de Jesus Cristo: o Baptismo, a Confirmação, a Eucaristia.
Chama-se iniciação cristã ao início da vida da fé. É aquele “nascer de novo” de que fala Jesus a Nicodemos (cf. Jo. 3,3). É início, não apenas no sentido temporal do termo, mas porque significa a tal mudança radical, em que ao nosso desejo e disposição de vontade, corresponde a acção de Deus em nós, enriquecendo-nos com uma nova capacidade vital de viver a nossa vida, seguindo e imitando Jesus Cristo. Nós queremos, e Deus torna possível a realização da nossa decisão, que Deus também quer, porque a nossa vontade é fruto de uma vocação, de um chamamento do Senhor. Esta nova capacidade sobrenatural é-nos conferida pelos três sacramentos da iniciação: no Baptismo, Deus identifica-nos com o Seu Filho Jesus Cristo, numa união para a vida e para a morte; na Confirmação, confere-nos o Espírito Santo, experiência pessoal de Jesus que encontrava no facto de Se saber amado por Deus a força para a missão que o Pai Lhe confiou; na Eucaristia, participamos no acto decisivo de Jesus Cristo, a Sua morte e ressurreição e descobrimo-nos membros da Igreja, Povo sacerdotal, que louva a Santíssima Trindade em uníssono com Jesus Cristo, o verdadeiro adorador de quem brota o louvor perfeito.
Toda a caminhada da iniciação cristã é dinamizada pela fé. Esta é uma atitude decisiva na vida cristã, e sendo atitude humana, é dom de Deus. Se desejamos acreditar, Deus dá-nos a força para acreditar, porque nos atrai, nos ensina e nos ama. Os três sacramentos, sem a fé, não fazem a iniciação cristã, porque toda a acção de Deus supõe a procura do homem.

13. Na nossa Diocese, é urgente redescobrir este dinamismo da iniciação cristã. Muitos dos nossos cristãos baptizados nunca percorreram esse caminho que é início de uma vida nova. Muitos nem sequer se confirmaram, não celebram a Eucaristia e os actos religiosos que ainda procuram têm outras motivações e não o desejo de fidelidade a viver com Cristo, a vida nova segundo o Espírito. A sua fé é expressão de religiosidade, mas não é decisão firme e apaixonada por Jesus Cristo. O verdadeiro encontro pessoal com Jesus Cristo ressuscitado ainda não se deu, de modo a mudar o rumo da sua vida, como aconteceu a Saulo de Tarso na Estrada de Damasco.
Esta poderá a ser a grande revolução da nossa Igreja diocesana: encontrar caminhos novos, inventivos e, porventura, ousados, de anunciar Jesus Cristo aos que nunca se encontraram com Ele e fazer com eles, com o ritmo sugerido pelas suas vidas, essa caminhada fundamental de enraizamento em Jesus Cristo e na Sua Igreja. Este caminho pode concretizar-se em iniciativas pastorais já em curso: catequese de adultos, catecumenado para os adultos não baptizados, preparação séria para os sacramentos, como a Confirmação e o Matrimónio, os pais e padrinhos dos bebés que vão baptizar-se, Movimentos que valorizam o ritmo catecumenal na sua proposta de evangelização, etc. Mas é possível inventar caminhos novos. Em todos eles é preciso valorizar o anúncio querigmático de Cristo, nosso Redentor, aquele primeiro anúncio que desencadeira a opção da fé e muda radicalmente a perspectiva da vida. Muitas das crianças que frequentam as nossas catequeses, a grande maioria dos jovens, muitos adultos que ainda se apresentam como cristãos, precisam desse primeiro anúncio, prévio à caminhada de iniciação cristã. E este é, sobretudo, testemunhal, feito por aqueles que encontraram o Senhor e decidiram segui-l’O, fortalecidos com a graça de Deus através dos sacramentos. Quanto menos forem os cristãos verdadeiramente possuídos por Jesus Cristo, menos serão os que O podem anunciar. Poucos ou muitos, é preciso fortalecer neles o desejo de anunciar, a tempo e a contratempo.
Na nossa Diocese estão já a ser preparados alguns documentos que ajudarão a aprofundar os caminhos da iniciação cristã. Desde há muito pedidas, estão em preparação as Normas Pastorais para a celebração dos Sacramentos e Sacramentais. A primeira parte deste documento sobre os sacramentos da iniciação cristã, está pronta e dada a sua urgência, será já publicada. Faz parte de um documento global que, assim o esperamos, estará pronto durante o próximo Ano Pastoral. É mais do que um resumo das normas canónicas, claramente expressas no Código de Direito Canónico e nos diversos Rituais. Pretende-se, isso sim, aplicar essas Normas no contexto de uma criatividade pastoral, na verdade teologal que elas supõem, assumindo-as, não como preceitos frios, mas como garantias da qualidade dinâmica de um processo de crescimento da fé e da identificação com Cristo.
O nosso Departamento da Evangelização tem em preparação alguns instrumentos de trabalho, na linha do aprofundamento dos caminhos da iniciação cristã, particularmente o ritmo da caminhada catecumenal dos adultos que se preparam para os sacramentos da iniciação cristã.


A Liturgia como vivência e expressão do mistério de Cristo

14. A Liturgia é sempre a celebração, pela comunidade dos crentes, do mistério de Cristo Redentor. Ela deve exprimir esse mistério e envolver os participantes no seu carácter sagrado. O Santo Padre Bento XVI, na Carta que dirigiu aos Bispos de todo o mundo a propósito do Motu Próprio “Summorum Pontificum Cura”, que define as condições em que se poderá celebrar a Sagrada Liturgia pelo Missal e Rituais anteriores à Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II, aponta como motivação para esse regressar aos antigos textos litúrgicos, os cristãos sentirem neles mais afirmada a sacralidade e o carácter transcendente do mistério que se celebra, e considera que isto pode alertar-nos para a maneira de celebrar a Liturgia segundo os actuais textos oficiais, também eles capazes e preparados para transmitir esse carácter sagrado dos sagrados mistérios.
Este é um desejo que não pode deixar de nos interpelar e levar-nos a não abrandar o esforço pela renovação da Liturgia. Identificamos facilmente aqueles elementos que empobrecem algumas das nossas celebrações, tornando-as demasiadamente acção humana e ofuscando o carácter de acção de Deus a favor do Seu Povo: má proclamação da Palavra de Deus; demasiados discursos durante a celebração, abundância de palavra humana que ofusca a Palavra de Deus; isto inclui, por vezes, a própria homilia, destinada a ajudar a escutar a Palavra do Deus vivo e a descobrir os caminhos de resposta, na fidelidade; má qualidade e a falta de mensagem religiosa dos cânticos, que deveriam ser uma expressão da oração e do louvor; a ausência quase total de silêncios; o exagero de gestos simbólicos de má qualidade, como é o caso de certos ofertórios; a introdução de textos profanos durante a própria acção litúrgica. Que os sacerdotes tenham consciência que aquele que preside à celebração é o principal responsável da sua qualidade.

15. A Liturgia é a oração da comunidade e, por isso mesmo, a principal escola de oração pessoal. Um dos elementos que nos permite aferir da qualidade da Liturgia que celebramos é verificar se ela é, em si mesma, momento de oração comunitária e se motiva os cristãos para a prática da oração pessoal. Uma Igreja onde os cristãos não rezam, não é a Igreja que Deus quer e torna-se incapaz de ser sinal de esperança no mundo de hoje. O Espírito fez surgir na Igreja de hoje um conjunto de dinamismos e movimentos que têm como carisma próprio a iniciação á oração e a prática da oração. É preciso garantir nessas pedagogias da oração a relação fundamental entre a oração pessoal e a oração litúrgica comunitária e de ambas com a Palavra de Deus.
Das tradicionais formas de oração pessoal a que melhor garante a relação entre a oração pessoal e a oração litúrgica comunitária é a adoração, sobretudo a adoração do Santíssimo Sacramento. Forma sacramental da presença real de Cristo vivo, ela prolonga a celebração eucarística, onde o Senhor se tornou realmente presente sob as espécies do pão e do vinho. Adorá-l’O é expressão espontânea da nossa fé na Sua presença real.
A adoração eucarística tem uma longa tradição na piedade do povo português. Ao ter caído em desuso ou diminuído em intensidade não foi, certamente, um resultado positivo da Reforma Litúrgica. Não hesitemos: a adoração eucarística ensina as pessoas e as comunidades a bem celebrarem a Eucaristia. É a forma de oração onde a dimensão pessoal e comunitária se cruzam espontaneamente.

A Igreja é o Povo de Deus

16. Esta foi uma das riquezas doutrinais do Concílio Vaticano II: retomar a compreensão da Igreja da época apostólica e dos primeiros séculos como o “novo Povo de Deus”, povo escolhido e adquirido por alto preço, o sangue de Cristo. Este Povo participa de todas as dimensões da missão de Jesus Cristo: é um Povo de profetas, é um Povo sacerdotal e participa da realeza de Jesus Cristo. Todos os seus membros, leigos, religiosos e sacerdotes, os “fiéis em Cristo”, estão revestidos da mesma dignidade fundamental e partilham a responsabilidade da missão. A Igreja, Povo de Deus, é o verdadeiro sujeito da missão, foi a ela que o Senhor enviou a anunciar o Evangelho a toda a criatura.
Esta visão da Igreja, um pouco esquecida pelas vicissitudes históricas da mesma Igreja, vem corrigir um rosto demasiadamente clerical da Igreja, sobretudo em termos de missão. Houve um longo período em que a vitalidade da Igreja, da sua missão e da sua estrutura interna, se ficou muito a dever ao serviço dos sacerdotes, seculares e religiosos, o que acabou por relativizar a participação dos outros membros da Igreja na estrutura interna e na missão. Quem via a Igreja de fora, sobretudo os seus inimigos, via a Igreja como assunto de padres e de bispos. Ainda hoje é frequente ver na linguagem da comunicação social a identificação da Igreja com os bispos e os padres. O anti-clericalismo foi também uma reacção contra um rosto clerical da Igreja.
É preciso reconhecer que, na sequência do Concílio, muita coisa mudou. Hoje é preciso andar distraído ou não conhecer a Igreja para a identificar com o clero. A Acção Católica e outros Movimentos laicais tornaram a Igreja visível e activa no seio da sociedade através dos seus membros leigos. E mesmo na missão interna da Igreja os leigos ganharam uma preponderância crescente: basta pensar na catequese, no ensino da religião nas escolas, nas estruturas sociais de vivência da caridade, nos movimentos de espiritualidade, na participação activa na Liturgia. Será isso suficiente para construir o modelo de Igreja protagonizado pelo Concílio? É que não se trata apenas de os leigos fazerem aquilo que faziam os sacerdotes e tantas vezes à maneira deles. Trata-se de uma fisionomia nova do rosto da Igreja, que supõe, disse Bento XVI aos Bispos Portugueses, uma contínua mudança de mentalidade.
Neste aspecto há, também para a Igreja de Lisboa, um caminho a percorrer. E se isso depende dos sacerdotes na forma de exercerem o seu ministério de pastores, depende também dos cristãos leigos, na medida da sua capacidade, tomarem iniciativas e levarem-nas por diante, em comunhão com toda a Igreja, a que preside o Bispo diocesano, unido aos seus presbíteros. Enquanto os leigos só fizerem aquilo que os sacerdotes mandam e nada fizerem sem o Senhor Prior dizer como é, pouco se avança na desclericalização da Igreja. Penso no vasto campo da presença da Igreja no seio das realidades terrestres, da interpretação e busca de sentido dessas realidades, campo próprio das iniciativas apostólicas dos leigos. Mas também na estrutura interna da Igreja e na criatividade da sua missão é preciso continuar a valorizar o carisma laical, através da corresponsabilidade e da construção da comunhão.


A comunhão deve ser o rosto visível da Igreja

17. A Igreja concebida como um Povo, exige que a comunhão seja o seu rosto visível. “Vede como eles se amam” (Tertuliano, Apol. 39,9), deveria continuar a ser a reacção de quem olha a Igreja de fora, como o foi nos primeiros séculos. A comunhão põe no centro o amor-caridade, exige uma primazia absoluta da caridade. E a caridade não é, nem natural, nem espontânea. É dom de Deus, acção do Espírito Santo na Igreja e no coração de cada cristão. Conhecemos bem as expressões naturais do amor, fruto das capacidades da natureza e conhecemos também as suas fragilidades e precariedade. Só a vivência sobrenatural da graça leva os cristãos a transformar todo o amor em caridade e a amar aqueles que nenhuma força humana nos levaria a amar: os nossos inimigos, os que dizem mal de nós, os mais marginalizados da sociedade. A Igreja só é a “casa da comunhão”, porque é o “Templo do Espírito Santo”.
A caridade é o grande desafio para a vida interna da Igreja. A sua primeira expressão é o amor a Deus e ao Seu Filho Jesus Cristo, o que nos levará a amar todos os homens como nossos irmãos. É a caridade que nos leva a anunciar o amor, Evangelho da vida, a respeitar as diferenças, a escutar os que pensam de maneira diferente de nós, a perdoar os que nos ofendem, a considerar os dons dos outros complementares dos nossos próprios dons. Sem a caridade, a Igreja torna-se um simples fenómeno de convivência humana, com as fragilidades e limites de toda a convivência humana.
Nesta vivência da caridade, a Igreja dará prioridade aos mais pobres, aos mais frágeis da sociedade. Desde a publicação do nosso Plano de Acção Pastoral, há trinta anos, que a Igreja de Lisboa elegeu como uma das suas opções fundamentais a opção pelos pobres. Esta opção não pode ser teórica, exige que se conheça, em cada tempo, a realidade da pobreza na nossa Diocese e que se vá ao seu encontro, através das pessoas e das instituições. Esse será o nosso título de glória: fazer dos pobres o nosso tesouro.

A Igreja neste tempo

18. A Igreja vive e realiza a sua missão, não numa situação ideal, mas num tempo concreto, a sociedade actual, com as suas características muito marcadas, como vimos, pela mutação cultural. Embora a relação primordial da Igreja seja com a sociedade, a quem é enviada, ela não coincide com a sociedade. Esta é plural, variada, aceitando cada vez mais dificilmente qualquer primazia da Igreja, quer na afirmação dos valores morais, quer mesmo na proposta da verdade. A Igreja mestra da verdade, princípio que inspirou, durante séculos, a relação da Igreja com a sociedade, é cada vez menos aceite. O mais claro e essencial do seu Magistério é facilmente relegado para o nível da opinião. Duas atitudes da Igreja são, hoje, melhor aceites: a generosidade do serviço, sobretudo dos mais pobres, e a força do testemunho.
Neste quadro, a Igreja não deve relacionar-se com a sociedade em termos de poder. A sua autenticidade cristã e a consciência viva da missão são as atitudes que devem prevalecer na relação da Igreja com a sociedade. A sua mensagem é de esperança e de salvação, e a sua vivência sincera do Evangelho e do amor fraterno são forças humanizantes de toda a sociedade.
Hoje há uma fronteira de tensão entre a Igreja e a sociedade na afirmação dos valores morais, inspiradores da dignidade do homem e do sentido último da existência humana. A sociedade pressiona a Igreja para que adopte a sua dimensão secular de valores, evolutiva e pouco sensível à dimensão perene da vida humana. Esta tensão faz-se sentir mesmo entre os cristãos. Os valores da Igreja não são os da sociedade; são inspirados no Evangelho e na dignidade do homem restaurada em Jesus Cristo. É certo que os valores que a Igreja defende não são apenas os valores religiosos, mas também os valores universais humanos, a que a vivência cristã acrescentará profundidade e radicalidade. Quando a Igreja se bate pela defesa desses valores, como, por exemplo, a dignidade inviolável da pessoa humana, a defesa da vida, desde o seu início até à morte natural, a defesa da estabilidade da família, a Igreja não o faz por serem valores estritamente religiosos, mas por serem valores universais humanos profundamente radicados nas tradições culturais da humanidade. Há um combate inevitável na defesa desses valores e esse combate a Igreja trava-o porque é um combate pelo futuro do homem.
Mas a força da Igreja é a vivência coerente desses valores, a conversão é exigência contínua, o anúncio do Evangelho e de toda a doutrina cristã acerca do homem em sociedade é desafio a aceitar continuamente. A Igreja não exige que os poderes públicos protejam ou imponham os seus valores específicos. Mas espera que esses mesmos poderes defendam e promovam tais valores universais. E nesse campo, frente a esses poderes, a Igreja tanto pode ser força de colaboração como voz de denúncia.
No nosso caso nunca podemos esquecer que os membros da Igreja são parte significativa da sociedade, o que faz com que os desvios desta signifiquem também fragilidade da própria Igreja. Esta deve estar atenta aos dinamismos positivos que surgem na sociedade e reconhecer a convergência entre esses dinamismos e a missão da Igreja. É o que significa o desafio lançado pelo Concílio, de ler continuamente “os sinais dos tempos” e de identificar neles portas abertas ao Reino de Deus. Também assim a Igreja realizará a sua missão na sociedade, de a ir transformando pelo anúncio da mensagem de Jesus Cristo.


A Igreja e o Estado

19. O Estado é uma estrutura ao serviço da sociedade, mas também não se identifica com ela. Qualquer tentativa de identificação entre o Estado e a sociedade é génese de poder ditatorial, anti-democrático. Cada um na sua esfera específica, a Igreja e o Estado têm em comum o estarem ao serviço da sociedade. Os pontos de convergência e de possível colaboração entre o Estado e a Igreja, procurando o bem-comum, são de assumir positivamente pelo Estado e pela Igreja. Esse é o espírito da Concordata recentemente celebrada entre a Santa Sé e o Estado Português.
A sociedade portuguesa é uma sociedade democrática, regida pela Constituição, que obriga toda a sociedade e, por conseguinte, também a Igreja. Esta respeita a Constituição, reconhece que ela se aplica a todos os portugueses e respeita e colabora com todos os órgãos do Estado legítimos, isto é, constituídos segundo as normas constitucionais.
Lembro aos cristãos da Diocese de Lisboa que a Igreja aceita as principais características de que se reveste, hoje, o Estado democrático:

* A sua laicidade. Longe vão os tempos em que o Estado português se afirmava como católico e reconhecia no catolicismo a sua religião. A sociedade é plural do ponto de vista religioso e, por isso, o Estado não pode ter religião, respeita todas, reconhece-lhe os seus direitos, e reconhece também os que não têm religião. A laicidade afirma-se, assim, como uma neutralidade em matéria religiosa, neutralidade que exige também que a não religião ou o laicismo não se transformem em doutrina do Estado.

* A separação entre a Igreja e o Estado. É uma exigência da laicidade e pôs termos à mistura de esferas, frequente no estatuto de Estado confessional. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, ensinou Jesus (Mt. 22,21). As únicas áreas de convergência, que não podem ser de confusão, entre a acção da Igreja e do Estado, são o serviço da sociedade e a busca do bem-comum. Embora a Lei de 1911 fosse uma má Lei, a Igreja aceita e respeita este estatuto de separação.

* A sua democraticidade. O Estado Português é democrático. As regras da democracia participativa repercutem-se no Estado, quer na sua composição, quer na definição e exercício dos seus poderes. A sociedade democrática, na qual a Igreja se integra, é o sujeito supremo dessa definição. No que aos órgãos eleitos diz respeito, é a sociedade no seu todo, na pluralidade da sua realidade, que os elege. Os católicos devem assumir a responsabilidade cívica de participarem conscientemente nessa eleição. O único caminho democraticamente legítimo de a Igreja influir nas estruturas do Estado é a participação consciente dos membros da Igreja nos processos democráticos. A Hierarquia respeita a pluralidade de opções partidárias por parte dos católicos. Deve entretanto ajudá-los a formar a sua consciência cívica e a visão dos problemas da sociedade em chave cristã. Também aqui o caminho da Igreja é a evangelização, em ordem a uma visão de todas as coisas iluminada pela fé. A Hierarquia não deve intervir no processo democrático com os métodos do confronto. Os católicos sim, esses podem e devem fazê-lo.

20. A Constituição do nosso Estado democrático garante à Igreja as condições fundamentais para o exercício da sua missão:

* A liberdade de consciência, cujo âmbito é mais vasto que a prática de uma religião e que garante que nenhum cidadão pode ser violentado na sua consciência, quer pelas leis, quer pela prática processual da governação.

* A liberdade religiosa e de culto. No que à Igreja Católica diz respeito, esta liberdade nunca esteve em questão. Ela deve incluir, e isso está explicitamente expresso na Concordata, a liberdade de exercer a sua missão, que não se reduz ao culto. Mas a natureza da missão da Igreja na sociedade é a Igreja que a define e não o Estado. Neste aspecto podem surgir divergências, pois há quem considere intervenção política da Igreja ou exigência de privilégios, o que na nossa óptica é apenas exercício da missão da Igreja e que, segundo o Concílio, pode incluir, em certos casos, a denúncia da forma como o poder político é exercido.
Todos os “dossiers” presentemente em análise no diálogo da Hierarquia com o Governo Português, dizem exactamente respeito às condições dadas à Igreja para o exercício da sua missão: é o caso das capelanias, hospitalares e prisionais, nas forças armadas e de segurança, o ensino da religião nas escolas públicas, a escola católica.
Neste diálogo, a Igreja não reivindica privilégios, mas reconhecimento da sua missão e espaço de liberdade. Temos consciência de que em democracia os valores fundamentais são a competência, a disposição para servir e o diálogo. Este deve ser persistente, competente, aberto às razões dos interlocutores. É o espaço da insistência e da persuasão. A Hierarquia católica não segue normalmente o caminho de pressionar o Estado na praça pública, embora esse seja um meio utilizado em democracia por outras forças sociais.


O quadro legal das relações da Igreja com o Estado

21. Além da Constituição, o principal instrumento legal é a Concordata celebrada entre o Estado Português e a Santa Sé. Para as outras confissões religiosas existe a Lei da Liberdade Religiosa. Tem-se verificado ultimamente, a tendência de reger à base desta Lei as relações da Igreja Católica com o Estado. Assim seria se não houvesse Concordata. E esta foi tão querida pelo Estado como pela Igreja. Instituto legal de grande tradição na História de Portugal, praticamente desde o início da nacionalidade, decorre das relações bilaterais entre o Estado Português e a Santa Sé tendo, por isso, o estatuto de Tratado Internacional, reconhece a internacionalidade da Igreja Católica e tem em consideração a presença particularmente significativa da Igreja Católica em Portugal, quer pelo número de fiéis, quer pela quantidade de serviços que a Igreja presta à sociedade. É por isso que a actual Concordata consagra o princípio da cooperação entre a Igreja e o Estado, ao serviço da sociedade, e que preside a todo o articulado do documento.
A Concordata de 2004, tal como já tinha acontecido com a de 1940, precisa de legislação complementar da competência da Assembleia da República ou do Governo, através de Decretos-Lei, processo agora em curso e que deve respeitar o espírito inspirador de toda a Concordata. Enquanto esses novos diplomas não entrarem em vigor, a actual legislação aplicativa da Concordata de 1940, nos assuntos que permanecerem na presente Concordata, continua válida. Isso decorre de um princípio legal, segundo o qual as leis só cessam quando são explicitamente revogadas por quem de direito ou substituídas por outras que as revogam. Este princípio foi explicitado e aceite como garantia, pela Comissão negocial e pelo Governo de então. Não há vazio legal nem espaço para as ambiguidades que têm surgido, aqui e acolá, nas diversas estruturas do Estado.


O desafio da santidade

22. Neste tempo e em todos os tempos, o grande desafio posto à Igreja é o da santidade e esta tem na identificação com Cristo, o grande Servo e nosso Bom Pastor, o seu princípio. A Igreja é Santa porque participa da santidade de Jesus Cristo. Torná-l’O presente, proclamar a Sua Palavra, deixar-se conduzir por Ele, fazer com Ele a caminhada da vida, manifestar em nós o Seu poder de salvar e de transformar, eis o desafio da Igreja. Jesus Cristo é a verdade da Igreja, a sua força e a sua promessa.

Lisboa, 18 de Maio de 2008, Solenidade da Santíssima Trindade, Dia da Igreja Diocesana

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

(Fonte: site do Patriarcado de Lisboa)

Santíssima Trindade

«Entre todas as criaturas, a obra-prima da Santíssima Trindade é a Virgem Maria: no seu Coração humilde e repleto de fé, Deus preparou para si uma morada digna, para completar o mistério da salvação. O Amor divino encontrou nela uma correspondência perfeita e foi no seu seio que o Filho Unigénito se fez homem. Dirijamo-nos com confiança filial a Maria para que, com a sua ajuda, possamos progredir no amor e fazer da nossa vida um cântico de louvor ao Pai, por meio do Filho no Espírito Santo»

(Angelus 11/VI/2006 - Bento XVI)

«A meditação do mistério da Santíssima Trindade deveria ser alimento habitual das almas cristãs. Santo Agostinho afirma que «este é o nosso gozo consumado e não há outro maior: gozar da Trindade de Deus, a cuja imagem fomos feitos» (Sobre a Trindade, I, 18). Como a Sagrada Escritura expõe de modo gráfico, os que procuram nortear-se, nos seus pensamentos e acções, pela Vontade de Deus, são como a árvore plantada à beira da água corrente: dá fruto na estação própria e a sua folhagem não murcha (Sl. 1,3). Com uma clara e constante referência ao Deus Uno e Trino, fim último da nossa vida, tudo o que fizermos na terra, por pouco importante que pareça aos olhos humanos, adquire um grande valor. Ao Senhor, interessa-lhe tudo o que é nosso, segue-nos com a infinita delicadeza do Seu Amor e da Sua Misericórdia».

(Carta do Prelado do Opus Dei de Junho de 2007 - D. Javier Echevarría)

Verdadeiro arrependimento

«Entrar na Igreja e honrar as imagens sagradas e as veneradas cruzes, não basta por si só para agradar a Deus, como tão-pouco lavar as mãos é suficiente para estar completamente limpo. O que verdadeiramente é grato a Deus, é que o homem fuja do pecado e limpe as suas manchas pela confissão e pela penitência. Que quebre as cadeias das suas culpas com humildade do coração»

(Sermo de Sancta Synaxis – Santo Atanásio Sinaita)

Termos a humildade de nos sabermos pecadores e de recorrer frequentemente ao Sacramento da Penitência é um bom caminho, mas ainda que a misericórdia de Deus Nosso Senhor seja infinita, é nosso profundo dever e obrigação lutarmos pela eliminação dos nossos erros.
Sejamos modestos e criemos propósitos alcançáveis e como diz o ditado ‘devagar se vai ao longe’, sempre sabendo que a nossa luta é interminável.

Bom Domingo!

(JPR)
«O poder de Deus manifesta-se na nossa fraqueza, e incita-nos a lutar, a combater os nossos defeitos, mesmo sabendo que nunca obteremos completamente a vitória durante este caminhar terreno. A vida é um constante começar e recomeçar, uma renovação em cada dia»

(Cristo que passa, nº 114 – S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

Gloria in excelsis Deo

Gloria Patri

Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio et nunc et semper,et in saecula saeculorum. Amen.

Virgem Maria - Leonardo da Vinci

«Ampara-te em Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho, para que da tua boca nunca saiam ofensas a Deus»




(Sulco, 944 - S. Josemaría Escrivá de Balaguer)

sábado, 17 de maio de 2008

Aniversário Beatificação em 1992 de S. Josemaría Escrivá de Balaguer

«O Fundador do Opus Dei recordou que a universalidade do chamamento à plenitude da união com Cristo implica também que qualquer actividade humana se pode converter em lugar de encontro com Deus. (...) Foi um autêntico mestre de vida cristã e soube alcançar o cume da contemplação com a oração contínua, a mortificação constante, o esforço quotidiano de um trabalho realizado com exemplar docilidade às moções do Espírito Santo, a fim de servir a Igreja como a Igreja quer ser servida»

(Do Breve Apostólico da Beatificação do Venerável Servo de Deus Josemaría Escrivá de Balaguer, Sacerdote, Fundador do Opus Dei)

«Tendemos a deixar a santidade para uns poucos, desconhecidos, e a contentarmo-nos em ser como somos, Josemaría Escrivá veio despertar-nos dessa apatia espiritual. Não! A santidade não é o extraordinário, mas o que é ordinário, aquilo que é normal para todos os baptizados (…). A santidade apresenta mil formas, pode ser levada a cabo em todos os lugares e em todas as profissões; é a atitude normal: consiste em viver a vida corrente na presença de Deus, impregnando-a com o espírito da fé. Realizando essa missão, chegou a ser um grande homem de acção, que vivia a vontade de Deus e que chamava os homens a amar a vontade de Deus.»

(Homilia Basílica dos Santos Doze Apóstolos em 19-V-1992 – Joseph Ratzinger)